Museu Nacional resgata partes de múmia egípcia que nunca havia sido aberta
Foram achadas 200 das 700 peças da coleção egípcia; diretor diz que falta dinheiro para continuar buscas
Rio de Janeiro
Quando olhava para a múmia em seu escritório, o imperador Dom Pedro 2º não poderia imaginar que, mais de um século depois, a peça milenar que ele ganhou de presente durante uma viagem ao Egito passaria por tantas intempéries. Atingida pelo
incêndio que provocou a
maior perda científica do país, ela teve uma fração de seu conteúdo recuperado recentemente.
Partes do caixão, que tem mais de 2.700 anos e nunca havia sido aberto, foram encontradas pelos pesquisadores do
Museu Nacional entre os escombros do edifício destruído pelo fogo há oito meses, na zona norte do Rio de Janeiro.
A múmia é uma das 200 peças da coleção egípcia já achadas até agora, de um total de 700 —era a maior coleção da América Latina. Alguns desses itens, apresentados à imprensa nesta terça (7), ficavam expostos em uma sala no segundo andar do prédio. O restante estava guardado no primeiro andar.
Caixão de Sha-amun-em-su; em 1876, quando visitou o Egito, Dom Pedro II ganhou de presente, do Quediva (significa "Soberano" era o título equivalente a vice-rei dado ao paxá do Egito durante o Império Otomano) Ismail o esquife da dama Sha-amun-em-su, ricamente trabalhado
A múmia que pertenceu ao imperador ficava no centro dessa sala. Eram os restos mortais da sacerdotisa-cantora Sha-Amun-em-Su, datada por volta de 750 a.C. Apesar de nunca ter sido aberta, seu conteúdo já era conhecido pelos pesquisadores graças a uma tomografia realizada em 2005.
Entre esse conteúdo estavam um amuleto em formato de besouro, que ficava na altura do peito da mulher, e um pequeno saco com oito amuletos, para a proteção da cantora em outra vida. Eles foram achados, entre outros métodos, usando uma peneira nos escombros.
Segundo o arqueólogo Pedro Von Seehausen, integrante da equipe de resgate do museu, é a primeira vez que os itens são mostrados à luz do dia. "Quando os encontramos, pensei: acho que a última pessoa que tocou neles foi quem fechou o caixão", disse. Parte dos ossos da múmia e do caixão resistiram, mas os tecidos moles
se perderam com o fogo.