De novo, não precisa ser gigantesco para causar todos esses efeitos, ainda mais sendo ele um Vala, que certamente sabia como "manipular" esses elementos.
O corpo de Morgoth podia muito bem ser simplesmente denso, o que faria com que ele, mesmo com uns 4 metros, fizesse a terra tremer com suas passadas e conseguisse colocar o pé (não só o calcanhar) no pescoço de Fingolfin. Ah, e isso sem contar a armadura.
E o fato de CT não usar o termo "gigantesco" para Balrogs ou Ents não significa que eles não eram.
Não eram em relação à opinião de quem? Pra nós 4 metros é gigantesco, meu ponto é que, pra CT e Tolkien, não parece ser tanto o caso uma vez que eles não usaram o termo em relação a seres que tinham sabidamente essa escala de altura ( caso de Sauron que certamente era mais alto do que Elendil, ele nunca se sujeitaria a olhar pra cima estando na frente de alguém que ele queria ver subjugado. E Tolkien disse que ele tinha "estatura superior à humana mas
não era gigante".
The form that he took was that of a man of more than human stature, but not gigantic."
Contraste óbvio com o comentário de CT em Children of Húrin falando de Morgoth. Vamos quotar de novo:
Now become permanently incarnate, in form a gigantic and majestic, but terrible, King in the northwest of Middle-Earth.
E nada do que eles costumam fazer em termos de escolha vocabular é randômico. O uso da expressão por CT , a menção do "tamanho de ogre" de Tolkien sugere que Morgoth é que era o parâmetro pra se estabelecer o que Tolkien considerava gigantesco. Tudo leva a crer que Morgoth era maior do que Fangorn e se até mesmo ele já é "gigante" para os nossos padrões...
Além do mais um dos nomes de Melkor,
Geluin ,é também um nome de gigante que aparece em uma das versões da história de Lúthien, na forma Gillin." que era maior do que muitos olmos" e o contexto leva a crer que eles são a mesma coisa, Morgoth e o gigante invernal do gelo.
E vide aí o tamanho que essas árvores podem ter:
Sobre essa relação importantíssima de Morgoth como simbolizando o Gigante do Inverno vide transcrição de texto no meu blog extraído de Vinyar Tengwar 21:
Beren e Lúthien e o Mabinogion
Honestamente, não acho que Tolkien e CT são muito chegados nesse grau de variação semântica e, muito menos, na noção de Melkor fazer uso de seus poderes só pra conseguir dar a impressão de ser maior do que era, estilo efeitos cenográficos a la Mágico de Oz, especialmente considerando que ele iria ter que aparecer em carne e osso depois.
Não acho, tampouco, que os Tolkiens gostem de concepções modernas como incremento de densidade em desproporção ao tamanho, um conceito que só se popularizou em comics de superheróis pós anos cinquenta, sendo um poder do Visão dos Vingadores ou do Blob da Irmandade de Mutantes por exemplol.
Se o problema pra reconhecer o tamanho descomunal de Morgoth é a luta com Fingolfin onde a estatura gigantesca dele parece ser problemática, o mais correto em relação à obra como um todo ( onde TODAS as outras sequências sugerem tamanho gigantesco de forma bem clara )* , é imaginar que Tolkien meio que forçou a barra pra contar a luta como combate singular heróico e , por isso, os cronistas teriam exagerado um bocado ao dar a impressão de que a luta teria sido tão proporcionalmente equilibrada quanto foi.
*haja vista que Melkor entregou o tesouro de jóias de Formenos pra Ungoliant
com uma mão só DEPOIS dele estar preso a uma forma material definitiva e ter canalizado seu poder pra Ungoliant para que ela pudesse destruir as árvores. Uma boa parte do poder tb foi gasta na lança que feriu os troncos das árvores de Valinor. Ou seja, mesmo que consideremos a redução de "tamanho" literal à medida que Melkor emanava e dispersava poder e ficava "diminuído" esse processo já tinha ocorrido na época da luta com Ungoliant e o corpo já era o fána definitivo do vala rebelde. E, mesmo assim, ele ainda carregava o espólio de Formenos
numa mão só, a esquerda, enquanto na outra carregava o cofre com os silmarils.
Pra mim a narrativa da surtada de Fingolfin e de sua luta com Morgoth sempre foi, apesar da seriedade com que Tolkien narrou a coisa, uma concessão ao tipo de storytelling chamado, apropriadamente,
Tall Tale e não uma descrição literal e precisa do que aconteceu. Tall tale com uma pitada de homenagem metatextual ao capítulo do Faerie Queene tal como ilustrado pelo Walter Crane porque , em parte, Fingolfin fez o que fez por uma combinação de desespero com orgulho e o pecado maior do Diabo, de quem Morgoth é análogo, é o Orgulho. Ele é, de certa forma,
o gigante Orgoglio que levou os Noldor à sua Queda.
Orgoglio can be compared to the Biblical Satan, who is the eternal enemy of God and man. According to the Bible, Satan was once Lucifer Morningstar and he sat on the right hand of God. He was the most beautiful of all angels, but he was proud and jealous. Pride (Orgoglio’s name in Italian) is the reason Satan was cast down from heaven. Satan’s pride made him believe he could take the throne of heaven from God and make it his own; Satan then declared war upon heaven, was defeated and cast into hell. Orgoglio, like Satan, is a would-be usurper; swooping down and taking Duessa from the Red Cross Knight. Spenser uses classical references in order to reinforce Orgoglio’s nature as a usurper and thus tie him to Satan. The Spenser Encyclopedia says, “Spenser contrives further to associate Orgoglio with the rebellious giants of classical myth, looking ultimately to Hesiod and Ovid and immediately to Conti’s version of passion ridden and ambitious earthborn figures who instinctively seek to topple the just gods themselves” (518). This analogy, while not explicitly so, reinforces the rebellious and passionate nature of Satan inherent in Orgoglio.
Então, podemos considerar que Fingolfin estava mesmo enfrentando o gigante Orgoglio tanto dentro quanto fora de si mesmo e
perdendo. Esse subtexto possível do trabalho de Tolkien, uma dimensão moral estilo conto admonitório na história do Fingolfin, só fica mais claro vendo a analogia com Spenser e Crane combinados. Procurem a página 142 na visualização abaixo da versão ilustrada de Faerie Queene.
http://www.archive.org/stream/spensersfaeriequ01spenuoft?ui=embed' width='480px' height='430px'
Cautionary Tale
A tall tale is a story with unbelievable elements, related as if it were true and factual. Some such stories are exaggerations of actual events, fish stories ('the fish that got away') such as, "that fish was so big, why I tell ya', it nearly sank the boat when I pulled it in!" Other tall tales are completely fictional tales in a familiar setting, such as the American Old West or the beginning of the Industrial Age. Tall tales are often told so as to make the narrator seem to have been a part of the story.
Não seria a primeira vez em que uma versão poética de fato ocorrido no Legendarium não seria, necessariamente, a verdade literal. (Criação do Sol e da lua, história da Terra Média depois da Queda das lâmpadas, expulsão de Morgoth no fim da Primeira Era, Mudança do Mundo no fim da Segunda, primeira versão do Achado do Anel são todos eventos que não ocorreram literalmente da forma descrita na Quenta Silmarillion e no resto do Legendarium.)
Pessoalmente, eu prefiro compatibilizar as versões e imaginar mesmo que Fingolfin estava, de fato, enfrentando alguém um pouco menor do que o King Kong e que ele,sim, o lorde élfico, e não Morgoth, é que era, de fato , fisicamente mais forte do que a altura ensejaria e, por isso, o detalhe escabroso de Melkor ter que concentrar toneladas de peso numa parte do seu corpo pra conseguir quebrar seus ossos.