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Surreal

Fernando Giacon

[[[ ÚLTIMO CAPÍTULO ]]]
Surreal I - O Quarto

Um braço se desalinha rumo ao chão de folhas virgens. Parado alguém se encontra encostado à porta, repleto de agulhas enferrujadas. O chão se desdobra em uma sintonia que dilacera a cama embebecida de bálsamo, e a morte se adentra pela janela pisando em cascalhos remoídos. A hora se modifica, e o vento se destranca do armário... Bendita seja Nossa Senhora! Em nome do Pai, do filho, e até onde a memória se desintegra. O cabelo cai em direção ao próximo sepulcro, e as notas doces conquistam a imatura aura, enquanto os ossos se raspam num vingar permanente... Permanente a sombra será. Apodrecida se tornou a mão calejada, e de correntes se mistura ao banho desconexo de um rosto que se lava em cinzas aos pés do espelho. Envenenado... Pálido e sufocado, não respira mais ao pó da breve sensação que é sonhar. O cavalo negro se distorce pelo corredor que se estreita e se desloca para o alto... As figuras se embaralham numa grande vertigem envoltas de cones salinos e amargos. A erva se entorta e se prende ao caixão de alça velha, e já não sentimos aquele homem que se agrupa... Ele é negro, de olhar vermelho e denso, e aos pés da cama queima de vontade, pura vontade.

A luminária se apaga e derrama ao vulto de algo que se esfrega na quina mais próxima. Abençoado seja o terço! Os dedos se partem e se congelam rumo a vela gélida... Ela teme as altas e finas pernas que estão embaixo do colchão. Padecido está! Cordeiro... Que tirais o pecado do mundo. De um filho que se espeta na lança, de um senhor que sentado permanece e no escuro se rasga em seu leito. Me sufoca, me prende, me suspende. Depenado e sujo o pássaro mortifica-se atrás do quadro inerente, e ganha ao renascer com o bico fincado em uma fruta podre.

Ele se esconde, e não se percebe. Ofegante, irracional, perturba e cutuca a carne. Nada responde, somente o arco em chamas. A cabeça cai em direção ao cinzeiro, alí alguém se confunde, se consente, num censo sem razão nem sentido. A porta cai e revela o santo esquecido. De costas o caixão desaba, o velho se joga ao quinto réu, e o cavalo murcha em contradição ao bater perante a foice. Quebrada, a fé se recolhe na fonte caída. Silêncio... A peste reinando está.
Calado e ressentido o lendário se costura com a agulha diante do trono. O olho se aperta num curto espaço que lhe resta, e nada o salvará diante do passado seco. A figura obscura chama e clama pela criança... Ela corre murmurando em fel... Girando ao som de risos que se apoiam em tempestuosas cenas mórbidas. Em nome do Pai, do filho, e do Espírito Santo... Amém.


Escrito por Fernando Giacon
 
Gostei bastante de sua escrita, da narrativa baseada em sensações de um momento compatível com esse tipo de confusão surreal em que as idéias cedem lugar às sensações e temores.

Texto curto, porém de grande qualidade. Parabéns.
 
Gostei bastante de sua escrita, da narrativa baseada em sensações de um momento compatível com esse tipo de confusão surreal em que as idéias cedem lugar às sensações e temores.

Texto curto, porém de grande qualidade. Parabéns.

Muito obrigado pelo comentário! :)

Eu pensei em acrescentar mais coisas ao texto, porém por se tratar de algo sem uma ordem muito clara, creio que ficaria um pouco cansativo de ser lido e poderia se perder um pouco diante do objetivo. Não acha o mesmo?
 
Muito obrigado pelo comentário! :)

Eu pensei em acrescentar mais coisas ao texto, porém por se tratar de algo sem uma ordem muito clara, creio que ficaria um pouco cansativo de ser lido e poderia se perder um pouco diante do objetivo. Não acha o mesmo?
Acho que você acertou no tom porque caso estendesse muito o texto, ele passaria do ponto e ficaria intragável. Algumas frases a mais talvez fossem possíveis, mas, para meu gosto, não fizeram falta porque seu texto conseguiu transmitir bem esse sentimento mais sensorial do que racional. Achei que as sensações são tão intensas que afetaram o racional (ao menos foi essa minha leitura), algo que combinou perfeitamente com as situações (ou fragmentos delas) descritas.
 
Acho que você acertou no tom porque caso estendesse muito o texto, ele passaria do ponto e ficaria intragável. Algumas frases a mais talvez fossem possíveis, mas, para meu gosto, não fizeram falta porque seu texto conseguiu transmitir bem esse sentimento mais sensorial do que racional. Achei que as sensações são tão intensas que afetaram o racional (ao menos foi essa minha leitura), algo que combinou perfeitamente com as situações (ou fragmentos delas) descritas.

Eu tô pensando em renomear esse texto para "Surreal I - O Quarto", pois pretendo me aprofundar em escritos desse tipo, acho interessante.
 
Eu tô pensando em renomear esse texto para "Surreal I - O Quarto", pois pretendo me aprofundar em escritos desse tipo, acho interessante.
É uma boa. Acho que capítulos em seqüência que se mantiverem fieis a esse tipo de padrão estabelecido (curto, porém denso) é o ideal para esse tipo de representação mais sensorial. O filme "O cão andaluz", por exemplo, não seria tão bom caso fosse baseado em seqüências longas porque já é denso demais, mesmo tendo cenas curtas.
 
escrita interessante, diferente das outras suas q já li. à 1ª vista oq se destaca é o esmero na construção frasal, mostrando sua pesquisa e escolha das palavras com atenção aos detalhes. acho o estilo prosa-poética deslumbrante e como já comentaram, facilmente passa emoções do leitor.

mas é preciso atentar p 1 detalhe: evocar sentimentos genéricos d maneira ampla, mesmo q escritos graciosamente como vc fez, pode esvaziar o texto d lógica. faça 1 teste, pergunte individualmente aos leitores oq entenderam sobre a estória, o cenário, os personagens. sou capaz d apostar q nenhuma resposta será igual (inclusive à sua), pois a sua construção permitiu uma certa ambiguidade d interpretações.
 
O título do texto é um abre-alas sincero. Como dito acima, sua construção é bem bonita mesmo.... um certo beletrismo interessante... mas entender ficou em segundo plano aqui do meu supletivo. Abs.
 
mas é preciso atentar p 1 detalhe: evocar sentimentos genéricos d maneira ampla, mesmo q escritos graciosamente como vc fez, pode esvaziar o texto d lógica. faça 1 teste, pergunte individualmente aos leitores oq entenderam sobre a estória, o cenário, os personagens. sou capaz d apostar q nenhuma resposta será igual (inclusive à sua), pois a sua construção permitiu uma certa ambiguidade d interpretações.

Aí é que está, se eu tentar elevar os sentimentos de uma maneira ampla, perderia completamente a beleza do texto. A essência do escrito é justamente provocar inúmeras interpretações, até eu mesmo quando terminei e li pela primeira vez não consegui compreender muita coisa. Pode-se entender que existem frases que formam várias imagens sem sequência lógica, mas num todo acabam se completando. Aliás, não é pra ser lógico em nenhum instante e também não existe praticamente um personagem, eu diria. :dente:. Fico agradecido com suas palavras, abraço!

O título do texto é um abre-alas sincero. Como dito acima, sua construção é bem bonita mesmo.... um certo beletrismo interesante... mas entender ficou em segundo plano aqui do meu supletivo. Abs.

A meta do texto é justamente essa Vinnie, não ser entendido ou interpretado, pois não existe algo lógico. O que existe são imagens construídas, onde formam algo que sai totalmente fora de um padrão tradicional. Abraço!
 
mas se vc escrever 1 texto só p ser sentido, sem lógica, ñ acabaria falhando em pelo menos 1 dos elementos necessários listados na teoria da comunicação p q haja comunicação?

e se a comunicação for falha, pode-se dizer q ela aconteceu d verdade?
 
mas se vc escrever 1 texto só p ser sentido, sem lógica, ñ acabaria falhando em pelo menos 1 dos elementos necessários listados na teoria da comunicação p q haja comunicação?

e se a comunicação for falha, pode-se dizer q ela aconteceu d verdade?

Entendo o seu ponto de vista, e realmente, analisando dessa maneira podemos dizer que existe uma falha na comunicação, porém não podemos esquecer de que se trata de um texto ligado ao surreal. Então no caso desse ato, poderíamos dizer que ele nos leva a uma digamos "comunicação interpessoal", no caso ele o emissor, e nós como receptores. O quê ele nos passa? Mesmo que sejam sentidos, alguma coisa ele nos transmite, e isso não deixa de ser comunicação.

Quando eu estive em São Paulo dessa última vez, eu pedi pra minha mãe se deitar e me escutar lê-lo. Li bem devagar, e pedi pra ela tentar imaginar a situação. A reação dela? Horror/medo = mensagem recebida/entendimento.
 

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