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Os Clássicos

Não há como discordar de que os clássicos são aqueles que resistem ao tempo. isso é inegável, é a verdade.

Mas uma coisa que me deixa um tanto irritado é querer estabelecer uma cartilha, uma série de elementos que um livro deve ter para ser classificado como "bom", e que pode um dia, se aceito pelos críticos, vir a se tornar um "clássico".
Em geral, ser muito influente, fazer uma análise psicológica das personagens e retratar a sociedade criticamente são os principais critérios que eu enxergo que são usados pela "crítica especializada".
Eu não quero ser o do contra e me colocar contra estudiosos, na verdade é o contrário, já que freqüentemente eu concordo com eles. Mas eu sinto que algumas vezes existe um prestígio grande da técnica e uma supervalorização da análise psicológica ou crítica em relação a sociedade.

Um livro pode muito bem não ser atual e nem quebrar com as tendências superinovadoras da época, e ser sensacional.

Eu acho que o objetivo de um crítico de arte deveria ser identificar valor e talento; em alguns casos pode-se achar gênios, e é isso o que eu valorizo, independente do contexto social em que esta inserida a obra, ou de como ela aborda as personagens.
 
Maglor, só para esclarecer: análise psicológica da personagem e crítica da sociedade não são os critérios que os críticos literários usam para avaliar obras. Uma obra normalmente se torna um clássico principalmente por ser de certa forma inovadora. Um exemplo? O que faz de Os Contos da Cantuária um clássico? O fato de que é a primeira obra da língua inglesa a apresentar esse estilo de narrativa (embora ainda não fosse o conto como conhecemos hoje).
Clássico é o que permanece, independente dos valores da sociedade. Se formos considerar um livro clássico só por fazer uma crítica social, em 100 anos essa obra perderia todo o valor, porque a crítica possivelmente não faria mais sentido para a sociedade da época, entende?
Bom, aqui estou sendo bem simplista. Os formalistas russos tem n critérios de avaliação, incluindo o quanto a obra contribui para o vocabulário da língua em que foi escrita. Não discordo de nenhum deles. Literatura como arte tem que possuir critérios, senão voltamos aquela questão da subjetividade: só porque você achou um livro bom, ele tem que ser um clássico?
 
Acontece que eu também fui muito simplista ali em cima, Joy.
Cheguei a citar "ser muito influente", mas dei ênfase ao que você disse. Acontece que essa "análise", pelo que eu percebi, é valorizada realmente quando atinge os tais "Valores Universais", e isso é, até por definição, atemporal, independente da sociedade ou do contexto. Dar grande valor a quem tem essa percepção é com toda certeza, merecimento. É isso que eu quis dizer com "análise psicológica". Há quem busque esses "valores" e isso sim é valorizado.

E eu também não defendo que não haja critérios, mas que eles não sejam restritos demais. Identificar valor e genialidade pode estar acima da habilidade de um escritor ou letrado.
 
Maglor disse:
E eu também não defendo que não haja critérios, mas que eles não sejam restritos demais. Identificar valor e genialidade pode estar acima da habilidade de um escritor ou letrado.

Ate porque tais critérios são subjetivos. Ainda assim eles são necessários para estabelecer um paramêtro de avaliação entre o que é clássico e o que não é. Acho que é uma questão complicada, estabelecer as prioridades, mas a permanencia da obra além do tempo que foi escrita é uma das características mais importantes. Claro que existem e não podem ser desmerecidas as influencias da obra em questão na literatura e na sociedade que estava inserida, isso é importante de ser lembrado.
 
Opa, opa...
Os critérios de um crítico literário não são subjetivos. A análise subjetiva muda de tempos em tempos, o que pensamos de uma obra é normalmente um reflexo do que vivemos. Mas no caso da crítica literária, existem uma série de valores estéticos fixos. Se formos traçar um paralelo com literatura e pintura, os valores analisados pela crítica são os tipos de valores que dizem que Mona Lisa é uma obra prima, e a Tempestade que eu desenhei ontem a tarde é só um desenho, por exemplo.
(Joy vai procurar o livro do Frye para tentar ser mais clara)
 
Joy, quando eu falei subjetivo eu não disse que é algo que depende da perspectiva pessoal de uma pessoa, mas do conjunto de regras que são pensados e transformados em uma perspectiva historica. Claro que eles nos parecem fixos, porque tendem a se manter inclusive para a legitimidade do mesmo, mas a partir do momento que respondem características culturais estabelecidas ao longo dos séculos por nós, seres humanos, essas regras podem ser consideradas subjetivas.
 
Hmm... dá para ser mais claro? Você deu voltas e voltas e eu não entendi absolutamente nada :(

(Joy feliz por estar falando de Literatura, mas não achou o livro do Frye)
 
Vou tentar usar outras palavras. Os parâmetros para determinar se uma obra é ou não de qualidade, apesar de obedecerem a uma determinada estética, não são totalmente estanques, pois essa mesma estética não é totalmente estanque. Sendo assim, existe uma dimensão subjetiva nessas análises. É interessante lembrar que eu estou afirmando isso inserindo os valores estéticos em uma perspectiva histórica. Hoje, talvez, possamos dizer de valores estabelecidos para nosso tempo, mas a palavra fixo eu acho forte demais.

Se eu usar como exemplo outro tipo de manifestação artística, como a música, é fácil de perceber. Não se faz mais música Monofônica, pelo menos no ocidente, mas antes da Plena Idade Média era esse o tipo de música que nós sabemos ter sido feita. Talvez uma Orquestra Sinfônica naquele tempo não seria bem vista. O Jazz, mesmo para quem não gosta, é considerado um estilo erudito nos dias atuais, mas em seus primórdios era apenas puro barulho, por quem apreciava Música Clássica. Acho que o exemplo máximo pode ser a música experimental, considerada por muitos como poluição sonora, mas que segue valores bem estabelecidos, apenas perverteu os estabelecidos anteriormente.
Creio que na Literatura esses tipos de mudança sejam bem mais lentos, imperceptíveis se não forem vistos sob o prisma da longa duração histórica.

Finalmente, quero dizer que não me entendam mal, não estou justificando obras de baixa qualidade ou legitimando qualquer opinião contra os sistemas vigentes estéticos que conhecemos hoje apenas pelo gosto pessoal, apenas ... ampliando a discussão para possíveis transformações culturais definidas pelo tempo e pelo espaço.

Bom ... estou conseguindo postar com gosto no Literatura :obiggraz:
 
Para se encontrar uma resposta para essa discussão entre Faramir e Ana Lovejoy sobre a definição de clássico e a validade dos critérios usados pela crítica, é necessário previamente responder outro questionamento de cunho filosófico. É preciso que se estabeleça se existem ou não valores absolutos, como o bem (que determina a moral), a verdade (que determina a ciência) e a beleza (que determina a arte). Duas respostas são possíveis:
1. Sim, existem esses valores em termos absolutos, ou seja têm uma base imutável através da história. Essa base pode ser Deus (como se acreditava na Idade Média), a razão (como se pregava na Idade Moderna), ou mesmo a própria natureza (como se dizia na Grécia Antiga). Caso se adote essa postura, é possível falar em um critério de beleza absoluto, que não pode jamais ser questionado. Isso acontece porque o critério de beleza não seria criado pelo homem, mas apenas percebido por ele. A beleza estaria no próprio objeto e não no sujeito. Portanto, seria possível afirmar que a crítica adota critérios objetivos de beleza que não podem ser questionados.

2. A outra resposta viável é não (não existem esses valores, ou não sabemos se eles existem). Nesse caso vai se buscar a idéia de beleza na cultura. É aquela célebre frase: “a beleza está nos olhos de quem vê”. Nessa perspectiva, a noção de “belo” é construída historicamente e varia no espaço e no tempo. Em outras palavras, ela é criada pelo homem, está no sujeito e não no objeto. Portanto, não se poderia dizer que um clássico é “mais belo”, em termos absolutos, do que um livro qualquer, mas apenas que ele é considerado mais belo em nossa própria cultura ou por um determinado grupo de notáveis (os críticos). Ora, como a cultura é mutante, o que é considerado belo hoje talvez não seja amanhã (mesmo que esse amanhã demore séculos).
Afinal, existem ou não valores absolutos? Respondida essa questão estará dado um grande passo para resolver o problema dos clássicos. Eu não tenho a resposta. Na maior parte do tempo, me inclino pela segunda corrente, embora às vezes ache que a primeira tem algum fundamento.
 
Sabe o que eu acho mais triste depois de ler essa reportagem?

É notar que o pessoal que não gosta de ler clássico é por pura questão de preguiça. No tópico sobre Machado de Assis aqui do Literatura muita gente já tinha reclamado da linguagem "muito antiga e complicada" que ele usa.

Aí, você lê coisas como:

David Amaral disse:
Os assuntos não são para os jovens e o vocabulário é difícil.

"Assuntos não são para jovens?"

Mas o que faz de um livro um clássico normalmente é por tratar de termos universais :eek:

Vocabulário difícil?

Ok, vai ler alguma coisa com as palavras inventadas do Guimarães Rosa, eu até admito que dá trabalho. Mas não chega a tirar o prazer. Além do mais, livro é para aprender, não?

Bah, povo folgado :disgusti:
 
~·*Ana Lovejoy*·~ disse:
Sabe o que eu acho mais triste depois de ler essa reportagem?

É notar que o pessoal que não gosta de ler clássico é por pura questão de preguiça. No tópico sobre Machado de Assis aqui do Literatura muita gente já tinha reclamado da linguagem "muito antiga e complicada" que ele usa.

Aí, você lê coisas como:

David Amaral disse:
Os assuntos não são para os jovens e o vocabulário é difícil.
(...)Ok, vai ler alguma coisa com as palavras inventadas do Guimarães Rosa, eu até admito que dá trabalho. Mas não chega a tirar o prazer. Além do mais, livro é para aprender, não?

Bah, povo folgado :disgusti:

Alguns acho que são folgados sim, mas a maioria não lê porque não sabe ler.

Acho que pra reconhecer e ler um clássico você precisa ter um pouquinho de uma educação específica, e um mínimo de conhecimento de literatura, de interpretação, às vezes até de existência.

Seja porque não tiveram acesso à educação apropriada, seja porque tiveram uma educação na qual prevalece, antes de tudo, o q é sucesso, o que é moda, o que "rlz!"... :tsc:, essas pessoas não reconheceriam um clássico nem que ele viesse lhe apertar a mão.

Levando em conta que "ler" significa interpretar, descobrir, compreender; bom, acho que poucas pessoas podem dizer que leram de verdade um clássico.
Eu diria até que esses são uns privilegiados.
 

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