Como o livro rapidamente se tornou um fenômeno de vendas, com as pessoas comentando muito, acabei voltando um pouco minha atenção para ele. Ainda não pude lê-lo, mas li vários reviews (inclusive esse do Paul Krugman, quando ele publicou-o no NYT), tanto elogiando quanto criticando o livro. E, confesso, achei estes últimos mais coerentes (ao menos de acordo com meu senso crítico).
O Piketty tenta resgatar a antiga profecia Marxista - jamais concretizada - de que o capitalismo se autodestruiria, reformulando-a em novas bases. Mas existem alguns problemas na abordagem do Piketty, tanto do âmbito metodológico quanto do âmbito conceitual.
Em termos conceituais, ele ignora que os aumentos de desigualdade por ele verificados - que se dão justamente nos períodos pré-crise - se devem muito mais à distorções criadas pelos governos, sobretudo injetando liquidez em excesso na economia (foi o caso tanto em 1929 quanto em 2008). Esse liquidez em excesso acaba beneficiando justamente os indivíduos que detém mais renda, especialmente aqueles do meio financeiro (os banqueiros comemoram). E aí surge o problema conceitual: ações erradas do governo não são a expressão da lógica capitalista per se, mas sim da lógica política. E, associado à política, funciona outro sistema, vigente em maior ou menor grau em todas as economias contemporâneas: o crony capitalism (capitalismo clientelista), que é justamente o oposto do capitalismo: é anticoncorrencial, não é produtivo e não obedece à dinâmica de mercado. É impossível ignorar o papel nefasto da relação cronies-Estado sobre a sociedade, e aparentemente o Piketty sequer menciona tal aspecto em sua obra.
Recomendo esse artigo para entender um pouco melhor isso:
Thomas Piketty’s Sensational New Book
O segundo ponto diz respeito à problemas de ordem metodológica, apontados por Kevin Hasset
aqui. Basicamente, a predição dele de que o retorno do capital tende a assumir proporções cada vez maiores se baseia num pressuposto bastante errado, que não tem suporte algum da evidência empírica: a suposição de que a elasticidade de substituição entre capital e trabalho seja maior do que 1. Isso é demasiadamente problemático para ser ignorado. O Hasset faz outros apontamentos importantes, por exemplo, sobre as medidas de distribuição de renda que o Piketty levou em consideração. O vídeo do debate completo, para quem quer ver as respostas do Piketty, está
aqui. Basicamente, não achei as respostas satisfatórias, e a questão da substituição capital-trabalho permaneceu em aberto.
Enfim, como eu ainda não li o livro, fico devendo uma análise mais detalhada e acabo dependendo do que outras pessoas escreveram sobre ele. Mas através de outros artigos e vídeos sobre o assunto, já dá pra ter uma boa ideia do conteúdo.