• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

"O Capital no Século 21" (por Thomas Piketty) - Pensando o problema da desigualdade

Mercúcio

Usuário
Pessoal de direita e de esquerda começou a polemizar na minha timeline sobre as novas contribuições de um economista chamado Thomas Piketty, que supostamente revolucionam a nossa compreensão sobre o problema da desigualdade social. O texto trata de um livro, mas peço à moderação que mantenha o tópico no Atualidades, por considerar que aqui a discussão possa render mais.

Não consegui copiar o texto, que está protegido por "direitos autorais", mas deixo aqui o link: http://www1.folha.uol.com.br/mercad...633696746707251&fb_action_types=og.recommends
 
Muito interessante. Confesso que economia não é meu forte e não costuma despertar meu interesse mas acabei lendo o texto todo de uma vez pois é muito interessante.
O ponto sobre super salários de executivos e o duvidoso mérito que esses possam ter é bem real. Tem muita gente ganhando dinheiro alto que na prática são maus gestores e puxa sacos.
Achei interessantes a mensagem de dia do trabalho que o líder republicano teria mandado aos empresários e não aos trabalhadores e a repercussão que isso teve. Obviamente ambas as classes mereceriam essa mensagem.
Me intriga porém ver isso como é considerado conservador ou de alguma forma ruim se alinhar com os detentores de capital. Veja bem, é óbvio que as tributações deveriam ser revistas pois o trabalhador paga muito mais imposto que o dono de uma grande empresa, ou a própria empresa enquanto entidade financeira.
Porém, não deixa de ser verdade a importância que pessoas que, tendo saído de uma situação de classe média-baixa construíram com seu próprio trabalho grandes corporações que hoje empregam milhares de pessoas. Vide Google. Claro que uma reforma tributária tornaria a vida mais justa para todos, mas Atlas Shrugged de Ayn Rand mostra o que acontece se os gigantes da indústria do nada deixarem a sociedade.
Outro ponto interessante é a transição futura do capital acumulado por detentores de super salários de capital gerado por trabalho para capital de herança, quando esse dinheiro passar a seus herdeiros.
Há um ponto questionável e incerto ai que talvez seja difícil considerar mas vou falar, parte dessa fortuna, discutívelmente grande parte, acaba se diluindo e se perdendo. Parto para uma análise social, muitas dessas pessoas com grandes fortunas trabalha demais e acaba não criando direito os filhos, Thor Batista não me deixa mentir. Quando os herdeiros colocarem a mão na bufunfa, vários deles certamente serão maus administradores e acabarão com uma fração do que ganharam. Assim nem todo capital se manterá por muito tempo numa cadeia de sucessão por gerações. Isso poderia até levar a um equilíbrio entre capital e trabalho, mas isso é piteco de leigo.

Estou realmente me aventurando a falar sobre esse tipo de assunto com pouco conhecimento, sejam gentis comigo. :P
 
Última edição:
Como o livro rapidamente se tornou um fenômeno de vendas, com as pessoas comentando muito, acabei voltando um pouco minha atenção para ele. Ainda não pude lê-lo, mas li vários reviews (inclusive esse do Paul Krugman, quando ele publicou-o no NYT), tanto elogiando quanto criticando o livro. E, confesso, achei estes últimos mais coerentes (ao menos de acordo com meu senso crítico).

O Piketty tenta resgatar a antiga profecia Marxista - jamais concretizada - de que o capitalismo se autodestruiria, reformulando-a em novas bases. Mas existem alguns problemas na abordagem do Piketty, tanto do âmbito metodológico quanto do âmbito conceitual.

Em termos conceituais, ele ignora que os aumentos de desigualdade por ele verificados - que se dão justamente nos períodos pré-crise - se devem muito mais à distorções criadas pelos governos, sobretudo injetando liquidez em excesso na economia (foi o caso tanto em 1929 quanto em 2008). Esse liquidez em excesso acaba beneficiando justamente os indivíduos que detém mais renda, especialmente aqueles do meio financeiro (os banqueiros comemoram). E aí surge o problema conceitual: ações erradas do governo não são a expressão da lógica capitalista per se, mas sim da lógica política. E, associado à política, funciona outro sistema, vigente em maior ou menor grau em todas as economias contemporâneas: o crony capitalism (capitalismo clientelista), que é justamente o oposto do capitalismo: é anticoncorrencial, não é produtivo e não obedece à dinâmica de mercado. É impossível ignorar o papel nefasto da relação cronies-Estado sobre a sociedade, e aparentemente o Piketty sequer menciona tal aspecto em sua obra.

Recomendo esse artigo para entender um pouco melhor isso: Thomas Piketty’s Sensational New Book

O segundo ponto diz respeito à problemas de ordem metodológica, apontados por Kevin Hasset aqui. Basicamente, a predição dele de que o retorno do capital tende a assumir proporções cada vez maiores se baseia num pressuposto bastante errado, que não tem suporte algum da evidência empírica: a suposição de que a elasticidade de substituição entre capital e trabalho seja maior do que 1. Isso é demasiadamente problemático para ser ignorado. O Hasset faz outros apontamentos importantes, por exemplo, sobre as medidas de distribuição de renda que o Piketty levou em consideração. O vídeo do debate completo, para quem quer ver as respostas do Piketty, está aqui. Basicamente, não achei as respostas satisfatórias, e a questão da substituição capital-trabalho permaneceu em aberto.

Enfim, como eu ainda não li o livro, fico devendo uma análise mais detalhada e acabo dependendo do que outras pessoas escreveram sobre ele. Mas através de outros artigos e vídeos sobre o assunto, já dá pra ter uma boa ideia do conteúdo.
 
Muito interessante essa matéria que você postou sobre crony capitalism. Mesmo na minha leiguice entendo que nesses dois momentos de crise em 29 e 08 houve grande injeção de capital que obviamente desbalanceou a distribuição de renda, mas que posteriormente isso volta a se equilibrar. Pelo menos do ponto de vista de capital de grande instituições financeiras ajudadas pelo governo, pelo que entendi.
O que você acha do ponto que ele fala das fortunas pessoas feitas por empresários e pessoas com super salários e a hereditariedade do capital acumulado por essas pessoas que criaria novas grandes fortunas familiares?
 
Muito interessante essa matéria que você postou sobre crony capitalism. Mesmo na minha leiguice entendo que nesses dois momentos de crise em 29 e 08 houve grande injeção de capital que obviamente desbalanceou a distribuição de renda, mas que posteriormente isso volta a se equilibrar. Pelo menos do ponto de vista de capital de grande instituições financeiras ajudadas pelo governo, pelo que entendi.

Não é nem só pelas instituições ajudadas pelo governo, mas pelo descontrole da política monetária como um todo. Tem esse artigo aqui do George Reisman que explica bastante coisa, mas é um pouco longo. Nesse artigo aqui, bem mais sucinto, outro autor mostra os erros da atual política monetária da Austrália, que continua utilizando da expansão creditícia para manter a economia aquecida.

O que você acha do ponto que ele fala das fortunas pessoas feitas por empresários e pessoas com super salários e a hereditariedade do capital acumulado por essas pessoas que criaria novas grandes fortunas familiares?

Aqui é preciso atentar para a diferença entre o que aconteceria num mercado onde a concorrência fosse mais livre, e o que realmente ocorre, dado que vivemos sob o problema do crony capitalism.

Em um livre mercado, nada garante que aqueles que possuam capital acumulado vão continuar ganhando dinheiro ad infinitum. Obter lucros, no livre mercado, depende unicamente da capacidade do empresário de satisfazer as necessidades dos clientes. Aquele que satisfazer mais pessoas, estará melhor. Ora, um filho de um bilionário pode não herdar essa capacidade do pai, e facilmente levar os negócios da família à bancarrota. Se o mercado é livre, nada impede que outras empresas entrem na competição para tentar abocanhar parte dos negócios dessa empresa.

Se, por outro lado, o filho for sábio e souber gerenciar bem os negócios, ou souber indicar pessoas capazes para tal, a ponto de manter a empresa numa situação lucrativa, qual o problema? A empresa continua obtendo lucros pela satisfação do consumidor, não por outros motivos quaisquer. Não há nada de mágico no capital que permita a ele simplesmente se reproduzir sozinho. Riqueza só é obtida pelo empresário, em um mercado livre, se as pessoas se disporem a ceder seu dinheiro em troca dos bens por ele oferecidos. Obter dinheiro de outra forma que não por uma negociação mutuamente consensual seria espoliação.

Já sob o crony capitalism isso se torna um problema. O filho de um grande empresário não precisa necessariamente ter capacidade empresarial para continuar nadando no dinheiro. Se ele ou o pai dele se filiarem ao Estado, eles podem obter vantagens que perpetuem suas posições sem que precisem fazer algum esforço em um sistema de competição no mercado. Em outras palavras, eles contornam a necessidade de concorrer com seus produtos, utilizando do Estado para obter rendas que não advém da produção. É o chamado rent-seeking. E esse é o problema naturalmente gerado por qualquer Estado muito grande, burocrático, hipertrofiado, que quer se meter em todos aspectos da vida dos indivíduos e lhes negar liberdades econômicas. Esse Estado será facilmente capturado por interesses particulares, que utilizarão do mesmo para perpetuarem suas situações políticas e econômicas. E isso, definitivamente, não é capitalismo.
 
Muito legal Fëa! Valeu pelas informações!
Vou procurar ler os links que mandou. Economia sempre foi um mistério para mim que eu quero começar e entender um pouquinho melhor.
 
@Fëanor falou praticamente tudo. Quando comecei a ler o artigo citado pelo post, mesmo sem conhecer o autor, só pelo discurso já disconfiava que uma das conclusões seria "punir" as heranças. O contra-argumento principal é exatemente o que o Fëa falou no último post: No livre mercado, a meritocracia do herdeiro é o que fará manter ou multiplicar a herança. No mundo real, sabemos que há muitas facilidades para a perpetuação das heranças, mas não necessariamente através do mérito. A solução do autor é punir as herança, ao invés de desfazer os laços do crony capitalism. Estado metendo a mão em herança? Crime.
 
Isso de imposto sob fortunas me parece muito errado. Teoricamente o cara já pagou IR como todo mundo sob o dinheiro que tem.
 

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.434,79
Termina em:
Back
Topo