Terminei de ler esse livro faz uma semana. Me faz lembrar de que minha mente infantil, poluída pelos filmes americanos, acreditava que os alemães eram inimigos. Por terem iniciado a Primeira e a Segunda Guerra Mundiais, provavelmente estariam maquinando uma Terceira. Coisa de vilão que nunca desiste. Felizmente, para os alemães, os soviéticos tomaram o posto dos alemães.
De toda forma, a Primeira Guerra Mundial não é pop. Dificilmente se acha um filme sobre ela. Falta de judeus. Faltou um Hitler pra demonizá-la. Recentemente assisti um filme do Kubrick, Glória Feita de Sangue. Apesar de retratar o lado dos Aliados, foi baseado nas cenas das trincheiras que imaginei o cenário de Nada de Novo no Front. As guerras ficaram muito mais feias depois que inventaram as armas de fogo. Os combates corpo-a-corpo permitiam aos guerreiros pelo menos ver quem estavam matando. Depois, com as armas de fogo primitivas, com o longo tempo de carregamento, a vantagem era apenas contra combatentes sem elas. Massacres. Depois que ambos os lados começarama usá-las... bucha de canhão. Batalhões inteiros se enfrentavam, as fileiras atiravam, as fileiras caíam, outra fileira aparecia, e ganhava quem tinha mais soldados. Uma questão aritmética. Foi o advento da metralhadora que mudou as coisas. Inventou as trincheiras. Que resultou em armas químicas e no tanque de guerra. E há o problema humano. As armas de fogo são cada vez mais letais e mutilantes. A medicina também é mais avançada, o que talvez seja ruim, pois os sobrevivente subvivem mais, ou são obrigados a voltar para o front apesar de feridos.
O livro aborda muito a questão do nacionalismo e da juventude destruída pela guerra. Os militares de carreira tinham patente, tinham família pra voltar. Essa era a profissão deles. O soldados no front não. Isso até me lembra uma passagem de 300, em que os espartanos questionam aos atenienses quantos soldados eles tinham, e viram que aquele exército era composto de gente de outras profissões. No caso da Alemanha pré-guerra, eram apenas jovens recrutas que mal tinham saído da escola, onde foram doutrinados. Foram pra guerra para não serem chamados de covardes. A guerra combina muito bem com a mortalidade. As novas gerações que nunca presenciaram os horrores da guerra caem na proposta de glória que a guerra oferece. A expectativa de vitória. Mas quem sobrevive a guerra se torna um herói esquecido por quem nunca provou tanta brutalidade. E os mártires, a maioria não se torna nem mesmo nome de rua.
E é claro, do outro lado da linha, do lado inimigo, tudo se passa da mesma maneira. São jovens soldados lutando por desavenças que eles mesmos não criaram. Mas quando eles estão no campo de batalha, é matar ou morrer. A cena do soldado frances morto num combate corpo-a-corpo, levando horas pra morrer, companheiro de buraco de granada, é o que faz o protagonista pensar nos soldados inimigos como humanos. Eles também tem família, recebem cartas, tem fotos dos filhos na carteira, faziam outra coisa a não ser matar antes da guerra. A parte em que os soldados se encontram com as francesas na vila ocupada também mostra que os povos não eram exatamente inimigos. Mas quem não tem o que comer, dificilmente se pode dar o luxo de desdenhar a comida do inimigo. Os prisioneiros russos... uma lástima. Às vezes penso se a Primeira Guerra foi mais humana que a Segunda, até qual ponto foi a lavagem cerebral que os nazi-facistas fizeram.
O primeiro livro sobre a Primeira Guerra que eu li foi Adeus as Armas, provavelmente. A diferença é que Hemingway amava a guerra. Fico pensando se o sucesso de Hemingway foi em parte devido a essa posição, que agradava as potencias bélicas. Com certeza, Nada de Novo no Front e O Lobo da Estepe não eram interessantes aos senhores da guerra. Ainda assim, gosto do estilo do Hemingway, esse amante de touradas e pescarias.