• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

[L] [Skylink] [Noites sem fim]

Tosse, enjôo, engasgo, fardos que trago como se fossem cruzes sobre minh’alma dilacerada. “Calma”, digo a mim mesmo mais uma vez por um instante. Meus ainda pensamentos se retraem, inconstantes e temerosos. O véu negro parece se adensar sobre meus olhos, prenunciando outro desmaio. Sento, sem intento, e espero, sem esperança.

Realmente não adianta, e aquilo que chamam de comida regurgitasse para fora mais uma vez. O desmaio não vem, e fica a velha dor esfuziante sobre todo o meu corpo; ela que ainda lembra que existo, embora nem eu mesmo lembre desse detalhe. Mas um marco novo surge, algo grosso que ainda insiste em abandonar meu corpo mesmo após os pútridos dejetos terem se acabado.

Fico pensando no tom e forma, se seria um simples acorde de interna ou eterna destruição, ou um mero desenho monocromático de coloração carmesim Os fantasmas de tantos dos velhos mortos me relembram a real significação daquela textura, e minhas mãos formigam como se os antigos pedaços de homens ainda lhes pousassem sobre as palmas. O sono deixa estes pensamentos de lado e vem como um velho atalho para sonhos menos terríveis.

Retalhos distantes ainda confundem meus olhos inúteis antes disso, a cegueira da escuridão se redefine sobre uma multiplicidade de planos imaginários sobre o chão, e agulhas rochosas continuam a picar toda a minha pele no antigo pesadelo interminável. “Queria ter esquecido tudo isso, mas nem isso posso, e eis que o que me resta é o medo”. O sono me esquece no limiar do tempo de um pensamento, e abandona-me perante o mar de torturas indistintas, sufocantes e nauseantes.

O cheiro da prisão permanece lúgubre como a morte, nefasto como cadáveres hediondos, dos quais tantos já vi e revi fenecerem à minha frente. A parede ainda continua pontuada por dezenas de pequenas elevações pontiagudas, embora a maioria tenha se quebrado ou encravado em meu corpo. A água, com seu cheiro de enxofre e seu gotejar moribundo, surge de uma pequena fenda obscura na face oposta à porta intransponível, numa espécie de inclinação acentuada. À direita ou esquerda, ou qualquer lado que ainda exista, se acumulam as pilhas de dejetos nauseabundos em montes imensos, e cada vez maiores.

Dos fantasmas, ainda resistem ao meu redor os que minguaram por minhas próprias mãos, há tempos talvez já esquecidos, ou aqueles que pintaram de sangue seus próprios corpos em um último sacrifício. Mas mesmo estes estão perdidos neste escuro impuro que o é o meu mundo, ainda que apareçam sobre fracas ilusões cada vez mais distantes.

De mim mesmo, não sei mais o que resta sobre o firmamento estraçalhado do tempo e do espaço. Há tempos que a percepção sobre o vazio das horas e a angústia dos dias e anos me deixou, nisto que ainda julgo como um inverno eterno Mas não sei mais o que me restam de momentos, de lamentos ou mesmo de sentimentos verdadeiros. Sei apenas que a dor ainda permanece, fria e pálida, sobre um altar coroado de trevas...
“Ainda...”
 
:clap:

Skylink, o que posso dizer? Os seus textos são sempre ótimos, mas nesse você se superou. Lindo, envolvente... Você tem mesmo um dom p/ escrever. Parabéns. :D

Ah, sim, até ler esse texto, eu achava que meus textos eram bons. :disgusti:
 
Puxa. Fiquei tanto tempo fora, que li tudo de novo. Mas valeu a pena, sem sombra de dúvida!
Realmente lindo, maravilhosamente bem escrito.
Da pra sentir uma agonia e desespero lendo o texto.
Mesmo estando na frente no meu computador, dá pra ser tranportada para o cenário descrito, ouvindo, sentindo e vendo tudo que se passa. :clap:
 

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.434,79
Termina em:
Back
Topo