Parte VIII
..... - Liga pra alguém Zacchi. – pediu Bruno. Embora sem muitas esperanças.
..... - E eu vou ligar pra quem seu idiota? Pra polícia vir pra cá e prender a gente? – respondeu cheio de ódio.
..... - Tem uma idéia melhor seu velho caquético?
..... - Vamos arrombar a porta.
......E todos olharam instintivamente para Danilo que, apesar de acima do peso, ainda era o mais forte do grupo. Com um manejar do punho derrubaria qualquer um ali, e com uma investida certamente arrancaria o tronco de Bruno e Picolino fora. Ele mesmo consentiu com a decisão e afastou alguns caixotes para tomar distância e um impulso maior. Dos dois lados do pequeno corredor que ele armara, estavam os outros como numa torcida por ele. De muito atrás ele veio num pinote rápido e se jogou com toda força contra a parede de vidro que, recebendo o impacto do boi gordo nem se mexeu. Ele caiu no chão, como se o impacto tivesse sido devolvido, com o braço doendo, a porta nem se mexera, foi como se tivesse jogado contra uma montanha de aço.
..... - Nossa, é muito dura. – comentou ele gemendo de dor.
..... - Ihh... Mó fraquinho... Olha o franguinho... – falou Zacchi num novo surto seguido duma imitação até muito boa do cacarejar duma galinha.
......Todos riram novamente, mas continuavam trancafiados numa sala que não sabiam nem ao menos se tinha saída. Até quando ficariam ali rindo de Danilo estirado de dor no chão fazendo caras e bocas e de Zacchi imitando uma galinha, eles não sabiam e no momento nem se importavam. Tudo parecia engraçado, mas não se deram conta que estavam trancados numa sala onde não tinham chaves e certamente o que faziam era ilegal. E mais ainda, que suas famílias já deviam estar preocupadas. Zacchi, no entanto, lembrou de sua família, mas seu celular não tinha sinal.
..... - Hey... Olha isso. – disse ele mostrando o celular. O sinal não era a única coisa que faltava para o celular, o horário estava desregulado e corria e voltava sem contar direito o tempo. Ninguém jamais viu aquilo e logo imaginaram um relógio de ponteiro enlouquecendo em suas cordas, se alguém tivesse um destes tinham certeza que seria isto que veriam.
..... - Meu e agora? – perguntou Danilo.
..... - Nossa, o Yuji.
......A simples menção daquele nome era totalmente fora de contexto e fora da realidade. Picolino, o dono da exclamação, parecia embasbacado com a visão que logo todos puderam divisar. Felipe Yuji, um nippo-cearense de cor café-com-leite de olhos puxados e os cabelos arrepiados; grande e peludo feito um urso, apareceu agarrando uma jovem adolescente que todos conheciam. Mas Yuji estava beijando-a tão animalescamente que a face da coitada perdia-se nos lábios bestiais dele que, dizendo que tinha ido fazer um trabalho na Vergueiro, tapeara os Andarilhos, quando na verdade estava ali na frente deles pronto a bulir com uma amiga de todos. No entanto ficaram em dúvida da identidade da meretriz, tal era a animalidade do rapaz. Entraram os dois na sala de sorvetes e nada mais aconteceu.