Northern Lad
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[Laurelin Vox][Sob a Tempestade]
0-Tolice
Era um fim de tarde frio e cinzento. As luzes do cais começavam a se acender. Julianne permanecia de pé, pálida e terrível, andando contra o vento, em direção ao mar. Suas vestes escuras faziam contraste com sua pele branca, quase doentia. Consigo carregava uma cesta, cujo conteúdo era desconhecido. A cada passo que dava, seguindo em frente, sentia como se seu corpo ficasse mais e mais pesado. O navio estava ali, à sua frente. Não faltava muito. A chama de sua vida, que estava se apagando, conseguiria agüentar até lá.
Fez-se o sinal da partida da embarcação. Julianne sentiu um arrepio que por pouco não a fez tombar. Ali, ali estava o navio.
- A passagem, por favor, senhora... - disse o homem que fiscalizava a entrada para o navio.
Julianne lançou um olhar penetrante no homem. Ele, até então distraído, não havia contemplado com atenção o rosto da pessoa com a qual falava. Olhou em seus olhos, e não pôde suportar a dor com a qual eles o atormentavam. Desviou o olhar.
- Você... - disse ele. - Novamente você.
- Homem - disse ela. - Há muitos anos que temos contas a serem acertadas. Agora podemos colocar um ponto final nisso tudo.
- Como uma assombração você tem sido para mim durante todos esses anos. Um assombração cuja maldição não pode ser desfeita... Uma ameaça constante.
- Deveria me agradecer. - disse ela - Durante todos esses anos guardei o seu segredo, que se fosse revelado poderia custar-lhe a vida. Se sou uma assombração, este é o momento para que você se livre dela. Basta tomar isto para si. - Julianne mostrou-lhe a cesta. - Deixo aos seus cuidados, você, que atravessa o mar há tantos anos. Entregue isto ao Mago do Porto de além-mar... Este fruto de minha tolice... E de meu amor.
O homem acolheu a cesta em seus braços. Tirava o pano que cobria seu conteúdo, mas Julianne disse que ainda não era a hora de fazê-lo.
- E lembre-se que eu a tudo vejo...
- Lembrarei. Como também farei o que pede com prazer, pois o fardo que me atormenta durante todos estes anos será retirado.
Assim a Senhora permaneceu no cais de sua terra, e o barco foi-se. Mal sabia o homem que Julianne, mesmo com todo o seu poder de visão, jamais poderia exercer seus talentos naquelas condições doentias.
No cesto estava sua filha, Eris, que era fruto do amor dela com um ser iluminado, feito de pura energia, que está na Terra há eras incontáveis, muito antes do surgimento do país. Mas agora esse ser de luz não mais se encontrava sobre o solo dos homens. Violando a lei divina, que proíbe àquele povo a posse de um corpo mortal, Oron foi removido para sempre do mundo terreno; e no entanto, também não se encontra no reino celeste: permanece no Limbo, o Eterno Vazio, a espere do juízo final, que julgará mortais e imortais.
Em Julianne foi depositado um fogo que não poderia ser apagado. Desse fogo surgiu Eris, sua filha; mas ele também consumiu seu corpo de dentro para fora por todo esse tempo.
E era chegada a hora de seu fim. Ela sentia isso em si mesmo desde que Eris nasceu, que sua hora estava chegando. Depois que o navio cruzou a linha do horizonte, ela saiu sem rumo pelas praias da costa do continente, até que sentiu uma pontada no coração. E neste exato momento, nessa fração de segundos, o fogo celestial consumiu-a por completo, e ela queimou totalmente, mais rápido que a vista humana poderia contemplar. E assim, Julianne desapareceu para sempre face da Terra.
Agora Eris estava a caminho de uma Ilha abençoada, próxima ao continente. Mas este estava em guerra, enquanto a Ilha ainda vivia em paz. Lá, diziam, habitava um poder forte demais para ser vencido por armas humanas.
No navio estavam muitas mulheres e crianças, que fugiam da guerra do país para viver em paz na Ilha. Lá não havia governantes, e o povo só desejava a paz e a harmonia. Alguns temiam que o povo do continente pudesse trazer idéias novas - e nocivas - para aquele lugar abençoado; mas a verdade é que o povo do Cais de Erm, daonde vinha a maioria das pessoas do continente, era muito proximamente aparentado do povo da pequena ilha.
Para lá ia Eris, e de fato um destino maior que qualquer guerra a aguardava; pois era fruto da união dos mortais e dos iluminados, sendo assim uma última esperança para a salvação contra o o mal eminente. Assim acreditava aquele que estava destino a receber Eris.
Por muitos era chamado de bruxo, ou mago. Era, na verdade, um dos seres de luz, assim como Oron, pai de Eris. Mas Oron assumia forma de anjo, e era de ordem superior, pouco se manifestando aos mortais. Já Eren - assim era seu nome - era mais jovem e menos poderoso. Assumia uma forma humana, de um homem sábio e vivido. Seus cabelos eram compridos e grisalhos, e suas vestes eram sempre castanhas, assim como seus olhos profundos. Vivia entre os homens da Ilha de Brann há muito tempo, apesar de não estar sempre presente. Os eruditos reconheciam sua sabedoria e conhecimento sobre medicina, e sempre davam as boas-vindas quando ele chegava; alguns o temiam, mas também o amavam. Ninguém sabia ao certo daonde ele havia vindo.
Agora, o navio estava quase chegando na Ilha. O homem que carregava a cesta com Eris sentiu um alívio imenso ao contemplar a costa de Brann. Temia Julianne mais do que tudo, pois só ela sabia de seu crime terrível. E o tinha escondido por todo esse tempo. Mas agora, fazendo este favor, estaria livre.
Meio dia depois da partida e estavam na costa da Ilha. E no momento em que aquele homem a contemplou, foi envolvido na sina de Eris, e conseguiu perceber isso; no entanto não sabia se essa sina seria boa ou ruim.
0-Tolice
Era um fim de tarde frio e cinzento. As luzes do cais começavam a se acender. Julianne permanecia de pé, pálida e terrível, andando contra o vento, em direção ao mar. Suas vestes escuras faziam contraste com sua pele branca, quase doentia. Consigo carregava uma cesta, cujo conteúdo era desconhecido. A cada passo que dava, seguindo em frente, sentia como se seu corpo ficasse mais e mais pesado. O navio estava ali, à sua frente. Não faltava muito. A chama de sua vida, que estava se apagando, conseguiria agüentar até lá.
Fez-se o sinal da partida da embarcação. Julianne sentiu um arrepio que por pouco não a fez tombar. Ali, ali estava o navio.
- A passagem, por favor, senhora... - disse o homem que fiscalizava a entrada para o navio.
Julianne lançou um olhar penetrante no homem. Ele, até então distraído, não havia contemplado com atenção o rosto da pessoa com a qual falava. Olhou em seus olhos, e não pôde suportar a dor com a qual eles o atormentavam. Desviou o olhar.
- Você... - disse ele. - Novamente você.
- Homem - disse ela. - Há muitos anos que temos contas a serem acertadas. Agora podemos colocar um ponto final nisso tudo.
- Como uma assombração você tem sido para mim durante todos esses anos. Um assombração cuja maldição não pode ser desfeita... Uma ameaça constante.
- Deveria me agradecer. - disse ela - Durante todos esses anos guardei o seu segredo, que se fosse revelado poderia custar-lhe a vida. Se sou uma assombração, este é o momento para que você se livre dela. Basta tomar isto para si. - Julianne mostrou-lhe a cesta. - Deixo aos seus cuidados, você, que atravessa o mar há tantos anos. Entregue isto ao Mago do Porto de além-mar... Este fruto de minha tolice... E de meu amor.
O homem acolheu a cesta em seus braços. Tirava o pano que cobria seu conteúdo, mas Julianne disse que ainda não era a hora de fazê-lo.
- E lembre-se que eu a tudo vejo...
- Lembrarei. Como também farei o que pede com prazer, pois o fardo que me atormenta durante todos estes anos será retirado.
Assim a Senhora permaneceu no cais de sua terra, e o barco foi-se. Mal sabia o homem que Julianne, mesmo com todo o seu poder de visão, jamais poderia exercer seus talentos naquelas condições doentias.
No cesto estava sua filha, Eris, que era fruto do amor dela com um ser iluminado, feito de pura energia, que está na Terra há eras incontáveis, muito antes do surgimento do país. Mas agora esse ser de luz não mais se encontrava sobre o solo dos homens. Violando a lei divina, que proíbe àquele povo a posse de um corpo mortal, Oron foi removido para sempre do mundo terreno; e no entanto, também não se encontra no reino celeste: permanece no Limbo, o Eterno Vazio, a espere do juízo final, que julgará mortais e imortais.
Em Julianne foi depositado um fogo que não poderia ser apagado. Desse fogo surgiu Eris, sua filha; mas ele também consumiu seu corpo de dentro para fora por todo esse tempo.
E era chegada a hora de seu fim. Ela sentia isso em si mesmo desde que Eris nasceu, que sua hora estava chegando. Depois que o navio cruzou a linha do horizonte, ela saiu sem rumo pelas praias da costa do continente, até que sentiu uma pontada no coração. E neste exato momento, nessa fração de segundos, o fogo celestial consumiu-a por completo, e ela queimou totalmente, mais rápido que a vista humana poderia contemplar. E assim, Julianne desapareceu para sempre face da Terra.
Agora Eris estava a caminho de uma Ilha abençoada, próxima ao continente. Mas este estava em guerra, enquanto a Ilha ainda vivia em paz. Lá, diziam, habitava um poder forte demais para ser vencido por armas humanas.
No navio estavam muitas mulheres e crianças, que fugiam da guerra do país para viver em paz na Ilha. Lá não havia governantes, e o povo só desejava a paz e a harmonia. Alguns temiam que o povo do continente pudesse trazer idéias novas - e nocivas - para aquele lugar abençoado; mas a verdade é que o povo do Cais de Erm, daonde vinha a maioria das pessoas do continente, era muito proximamente aparentado do povo da pequena ilha.
Para lá ia Eris, e de fato um destino maior que qualquer guerra a aguardava; pois era fruto da união dos mortais e dos iluminados, sendo assim uma última esperança para a salvação contra o o mal eminente. Assim acreditava aquele que estava destino a receber Eris.
Por muitos era chamado de bruxo, ou mago. Era, na verdade, um dos seres de luz, assim como Oron, pai de Eris. Mas Oron assumia forma de anjo, e era de ordem superior, pouco se manifestando aos mortais. Já Eren - assim era seu nome - era mais jovem e menos poderoso. Assumia uma forma humana, de um homem sábio e vivido. Seus cabelos eram compridos e grisalhos, e suas vestes eram sempre castanhas, assim como seus olhos profundos. Vivia entre os homens da Ilha de Brann há muito tempo, apesar de não estar sempre presente. Os eruditos reconheciam sua sabedoria e conhecimento sobre medicina, e sempre davam as boas-vindas quando ele chegava; alguns o temiam, mas também o amavam. Ninguém sabia ao certo daonde ele havia vindo.
Agora, o navio estava quase chegando na Ilha. O homem que carregava a cesta com Eris sentiu um alívio imenso ao contemplar a costa de Brann. Temia Julianne mais do que tudo, pois só ela sabia de seu crime terrível. E o tinha escondido por todo esse tempo. Mas agora, fazendo este favor, estaria livre.
Meio dia depois da partida e estavam na costa da Ilha. E no momento em que aquele homem a contemplou, foi envolvido na sina de Eris, e conseguiu perceber isso; no entanto não sabia se essa sina seria boa ou ruim.