• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

[L] [Kementari][Pequenos contos Morbidos]

Kementari

É só marca do fogão!
[Kementari][Pequenos contos Morbidos]

Os Contos Mórbidos para se ler no Supermercado.

Capitulo 1 – A manicure que roia as unhas.

A manicure chegou ao trabalho cedo naquele dia, arrastando o filho pelo braço, que chorava incessantemente. Mas ela, porém, não dizia uma palavra. Mantinha o olhar no vazio, introspectivo.
Trabalhou calada todo o dia, sem responder às perguntas de ninguém, nem falar com nenhuma cliente. Não comeu nem foi ao banheiro, apenas trabalhou, como se fosse algo irracional. E quando acabava ficava apenas sentada, sem se mover, olhando para frente.
Ninguém entendeu ao certo o que se passava, e o menino apenas chorava.
“Está doente”.
“O marido foi-se” – ele certamente o fez.
“Endoideceu”.
Ninguém entendeu.

*********************************************************************************

Estava trabalhando. Esqueci a manicure.
Uma menina de uns 11 anos entrou no salão. Estava vestida com uma camiseta lisa, uma bermuda sem etiqueta. Carregava no braço direito uma mochila sem marca. Calçava nos pés um tênis sem língua. Sentou-se no nosso sofá usado. Rejeitou nosso café caseiro.
Era uma menina interessante, com um olhar perdido, como o da manicure; todavia diferente. Ela não tinha a pele tão branca quanto eu imaginava. Nem a textura de porcelana, como eu almejava. Nem os cabelos tão negros, como eu sonhei. Ela era sim, muito mais complexa do que eu jamais entenderei.
Nos seus olhos via-se o reflexo do vazio. Em seus gestos, sentia-se a paz. Nenhum de seus movimentos eram em vão. Ninguém ouviu sua respiração. Tocava o sofá de uma maneira macia. Seus pés flutuavam sobre os azulejos cifrados.
Tirou da mochila dois fones, que colocou em seus ouvidos com uma suavidade sedosa. Pude notar também que suas unhas não eram negras como se falava – e ainda se fala. Ouviu seu réquiem em paz, e seguiu o ritmo com o olhar, decifrando os azulejos.

*********************************************************************************

Quando a menina chegou, a manicure ficou apreensiva. Continuou aparentemente vazia, mas o suor a preencheu. Ela agora tremia, e pela primeira vez naquele dia, a vi piscar os olhos. Mas continuava vazia.
A menina, a contraposto, transparecia a paz, e não inspirava medo, de uma forma que eu jamais cogitei.

Ela ficou com os fones no ouvido durante um tempo que eu jamais conseguirei contar, mas que me pareceu muito. Não mudou a expressão, nem a aura.
A manicure, a contraposto, tremia incessantemente, e suava. Como suava. Suava com tal intensidade que nunca mais conseguirei descrever da forma que me lembro ter descrito em minha mente naquele único momento confuso, do qual não me lembro. E o suor escorria por todo seu corpo, inanimado. Encharcava sua mente, incólume.

*********************************************************************************

A menina tirou os fones, como que por de súbito. Abotoou a mochila com suas suaves mãos mínimas. Levantou como uma pétala que desabrocha. Ficou imóvel como uma rocha. Esperando.
A cena me despertou uma paixão intelectual que eu desconhecia, olhando-a escondida, como Eco, mas sem Narciso. Ficaria ali até a terra me consumir.
A contraposto, a cena me incomodava, e eu desejava que ela se retirasse, e deixasse minha vida em paz. Mas ela jamais o fez.
Nem o fará jamais.

*********************************************************************************

A manicure sabia o que fazer.
Todos sabem.
Levantou-se desiludida. Beijou seu filho como se fosse o único. Se dirigiu ao sofá calmamente. Agarrou a mão da menina. Sua paixão intelectual se esvaeceu como que em segundos, sabiamente.
Pela primeira vez naquele dia lhe vi fixar os olhos em alguém, em vão. Afagou os cabelos da menina, que agora me pareciam negros, como eu sonhei. Ilusão.
Uma lágrima escorreu pelo seu rosto, até chegar ao queixo e cair no chão. A menina sorriu vagamente, olhando para a manicure, que suplicava.
A menina apertou ainda mais sua mão, com um olhar inocente, mas perdido. E começou a caminhar para fora do salão. A manicure chorou, e as lágrimas preencheram seu vazio, que agora estava preenchido. Mas a mão da menina o suprimia.
O menino chorou alto, mas a mão da menina não deixou a manicure olhar para trás.

Elas caminharam calmamente. Agora eram uma só. Sua paixão intelectual era agora fogo vivo, e a manicure se sentiu completa naquele momento sublime, que extravasava os limites da mente, e desprezava os sentimentos carnais. E a menina amava a todos, os envolvendo em uma atmosfera de desejo que os faziam caminhar. E esquecer as lágrimas. E os filhos.

Naquele momento eu compreendi os propósitos do Mundo.

O menino chorou. Foi adotado por rica senhora. Foi campeão de hipismo. E filho da manicure que desejou a menina.

Esqueci os propósitos do Mundo. Esqueci as pílulas para memória.
Nunca mais vi a manicure. Esqueci de sua face.

A contraposto, me lembraria perfeitamente da menina se a visse novamente, em qualquer lugar. Meus olhos caminhariam para ela. Para sua face única, que sempre me recordarei de uma forma tão pálida.
Mas eu nunca mais a vi.
Quando a vir me lembrarei. (...) Antes de a vir lembrarei. Seu cheiro chega às narinas antes da plástica aos olhos.
Nunca o senti.
Mas lembrarei.
A manicure lembrou.
Mas sua respiração dantiana é forte demais, quando temos o júbilo de senti-la, e nos perdemos em seu olhar. E desejamos a menina.
Eu desejarei.
A manicure desejou.

Mantenho minha paixão intelectual, e me considero sábia.
Sábio foi o bardo. Cantou a visão viva da face mórbida em construção. Sem a conhecer.
Como eu conheci.
Mas esqueci.

*********************************************************************************
 
Ual, que louco, gostei mto, mto mesmo, mto bem escrito!

Alem de deixar vc naquela expectativa do que vai acontecer...
Continua, continua!!
 
Valeu! :D
Valeu msm!! :D
Adorei o comentario :mrgreen:
Mas o segundo capitulo nao eh uma continuacao propriamente dita do primeiro. A continuacao, eu digo literal do primeiro capitulo so vem depois. :mrgreen:
Espere e vera :mrgreen:
 
Os Contos Mórbidos para se ler no Supermercado.

Capitulo 2 – A velha que digitava.

A velha estava digitando baixinho seu trabalho. E olhava esguiamente por cima dos óculos em formato de meia-lua, para checar a hora no relógio redondo, de ponteiros pretos, que ficava em cima da porta de vidro. Não que tivesse esperando a hora de almoço ou algo assim. – ela nunca almoçava – Apenas checava polidamente a hora.
Calçava lustrosos scarpins pretos. Sempre os mesmos scarpins. Os seus vestidos eram todos floridos e com a gola rendada. Sempre as mesmas estampas. Suas unhas estavam sempre impecavelmente cor de carmim. Sempre o mesmo carmim. Seu cabelo estava sempre num coque preso por grampos. Sempre o mesmo gel. Usava sempre um enjoativo perfume cítrico. Sempre das mesmas frutas. Seu rosto enrugado sempre estava coberto por uma espessa camada de pó de arroz, com bluch vermelho nas bochechas magras e flácidas, com um batom borrado na boca velha e as sobrancelhas ralas pintadas com lápis marrom. Sempre o mesmo carmim.

Digitava na sua máquina desde que sua memória velha se recordava. Digitava não sabia o que; de quem vinha; pra quem ia. Apenas digitava sem questionar. Era uma velha impecável. Falava pausadamente, com uma voz que já foi elegante, claramente e regulava educadamente o tom. Gostava de crianças, e de tempos em tempos levava uma de suas netas para conhecerem o seu trabalho. Limpava seu material e sua mesa sempre que possível, e mandava detetizarem todo mês. Tinha uma organização inglesa. Gavetas etiquetadas. Canetas com seu nome gravado – o que nunca a impediu de perde-las. Arquivo alfabético. Uma velha impecável. Porém, detestável. Não sei se eram os scarpins, os vestidos, as unhas, os cabelos, o cheiro, o rosto ou o carmim. Mas era detestável.

Sempre viveu numa ilusória felicidade, em seu apartamento num prédio vizinho a estação de trem. As paredes pareciam naftalina. Os móveis desfaleciam ao toque. A cozinha era infestada de baratas e ratos – que resistiam à detetização. O chuveiro soltava água enferrujada. As portas rangiam. (...) Mas a velha se achava incrivelmente feliz.

Suas filhas não eram de todo ruim. Perguntavam-se se seriam os scarpins, os vestidos, as unhas, os cabelos, o cheiro, o rosto, o carmim, a naftalina ou as portas. Mas concordavam que era uma velha detestável. Todavia contribuíam com a virtualidade em que vivia a velha, e procuravam ser agradáveis com ela. Deixavam suas filhas passearem com a avó. Mas as netas da velha eram muito pequenas. Nunca foram num cinema. Eram sinceras – como são todas as crianças. Mais tarde se perguntariam se eram os scarpins, os vestidos, as unhas, os cabelos, o cheiro, o rosto, o carmim, a naftalina, as portas ou as mães. Mas não agora. Eram muito pequenas. E somente sabiam que a velha era detestável. Esperneavam. Era fase, diziam as mães.

E a velha continuava achando que era feliz.

*********************************************************************************

Agora ela somente digitava e olhava as horas. Séria. Velha.
Seus dedos magros corriam sem agilidade por entre as teclas enferrujadas da máquina velha. A máquina e a velha. Velhas contemporâneas. Vivendo como dinossauros. (...) Mas um dia acabaria o óleo. Alguém esqueceria de lubrificar. E alguém viria. E elas iriam pro ferro-velho. Apodreceriam. Enferrujariam. Velhas. Sem uso. Amarga desilusão.

*********************************************************************************

Aconteceu num desses verões em que a velha digitava. E olhava as horas. Polidamente. Digitava algo sobre uma investigação. Trabalhava numa agência de investigação. E naquele dia viria uma testemunha conversar com o agente. – Se é que havia um, pois a velha nunca viu nenhum.
Viria às 5 horas. Estava atrasado, pensava a velha. O relógio de ponteiros pretos marcava três minutos de atraso. A velha o criticava em seu íntimo. Todos sabiam que ela o faria. Pois era uma velha detestável. Ninguém sabia se ela fazia isso pelos scarpins, pelos vestidos, pelas unhas, pelos cabelos, pelo cheiro, pelo rosto, pelo carmim, pela naftalina, pelas portas, pelas mães ou pelos Tiranossauros. Mas era detestável.

A testemunha chegou às 5:04h. E ao entrar no escritório da velha, ela olhou-a de cima a baixo por sobre a meia-lua das lentes. E a testemunha pôde captar. Não sabia se era por causa dos scarpins, dos vestidos, das unhas, dos cabelos, do cheiro, do rosto, do carmim, da naftalina, das portas, das mães, dos Tiranossauros ou pelo formato dos óculos. Mas sem duvida, era uma velha detestável. E a testemunha sabia disso.

Naquela noite, a velha digitava. Fazia hora-extra voluntária. Como era detestável. A noite estava escura. A lua estava cortada, combinando com os óculos da velha. O relógio marcava 9 horas. A velha sabia disso. Ela sabia de tudo. Era detestável.
As filhas sempre se perguntaram se alguém nunca se irritaria com seus scarpins, seus vestidos, suas unhas, seus cabelos, seu cheiro, seu rosto, seu carmim, sua naftalina, suas portas, suas filhas, seus Tiranossauros – a mente e a máquina –, seus óculos ou seus ponteiros pretos. Elas sabiam que esse dia ia chegar. Só não sabiam que seria naquela noite de verão.

A velha ainda digitava daquela forma detestável. Não sentia frio, não sentia nada. Tinha uma frieza detestável.
Foi quando a velha sentiu uma mão pousar sobre o seu ombro. Demorou a sentir. Mas não se virou. Mostrou-se detestavelmente covarde. Ou sabia o que lhe aguardava. Doce desilusão. A velha deve ter sentido o vazio triste que sempre houve dentro de si. Deve ter odiado a detestável morfina das filhas. Deve ter se achado detestável. Ou era simplesmente detestavelmente covarde. Nunca saberei dizer.

Tudo foi muito rápido, como a velha sempre sonhou. A mão fria se retirou, e a velha sentiu o ácido fluir na tênue linha entre o calor e o frio. Sem tropeçar. Ela engoliu seco, e fechou as pálpebras de uma maneira detestável. Ela jamais calçaria novamente seus scarpins, vestiria seus vestidos, lixaria suas unhas, pentearia seus cabelos, sentiria seu cheiro, pintaria seu rosto, abusaria de seu carmim, compraria sua naftalina, abriria suas portas, amaria suas filhas, alimentaria seus Tiranossauros, limparia seus óculos, olharia seus ponteiros pretos ou sentiria o ácido. Nunca mais. E naquela sala só se pôde ouvir os passos culpados de Velma dentro de seus próprios scarpins carmins. E o sangue da velha a acompanhou.

*********************************************************************************

Ninguém nunca soube ao certo o motivo do assassinato. Se foram os scarpins, os vestidos, as unhas, os cabelos, o cheiro, o rosto, o carmim, a naftalina, as portas, as filhas, os Tiranossauros, o óculos, os ponteiros pretos, o ácido ou a ré. Mas sabiam que certamente a pessoa deveria ter achado a velha detestável. Ninguém chorou em seu enterro. Nem se preocuparam com seus scarpins, seus vestidos, suas unhas, seus cabelos, seu cheiro, seu rosto, seu carmim, sua naftalina, suas portas, suas filhas, seus Tiranossauros, seus óculos, seus ponteiros pretos, seu ácido, sua ré ou suas baratas. Pouco se falou dela após sua morte. Raras eram as vezes que suas filhas iam detestavelmente a visitar no cemitério. Jogar flores medíocres com cheiro cítrico sobre a velha. Fazer as netas se lembrarem dos ratos.

A única certeza que se tem sobre a velha, é que esteja no ferro-velho que estiver, enferrujando e apodrecendo sem óleo, ela polidamente deve continuar a calçar seus scarpins, vestir seus vestidos, lixar suas unhas, pentear seus cabelos, sentir seu cheiro, pintar seu rosto, abusar de seu carmim, comprar sua naftalina, abrir suas portas, amar suas filhas, alimentar seus Tiranossauros, limpar seus óculos, olhar seus ponteiros pretos, sentir o ácido, condenar sua ré, matar suas baratas e ouvir os passos culpados de Velma, num eterno Eco. Pois apesar de desiludida e condenada, a velha continua a ser absolutamente detestável.

*********************************************************************************
 
Ei , legal essas gradações! Só acho que tem algumas coisas que ficaram insistentemente repetitivas. A ênfase na palavra detestável aos faz a gente querer não ler aquela palavra. Dá vontade de saber o final do conto o tempo todo, mas sem os durantes. Tem suspense e morbidez, definitivamente, mas cansa.

O primeiro ficou muito bom mesmo. Adorei. A manicure e a menina ficaram na minha cabeça um tempão. E a tensão da manicure me encheu de compaixão.
 
Gostei, do primeiro. E Inho, ela tornou a palavra detestável, simplesmente detestável então...! :lol:
 
WOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOWWWWWWWWWWWWWWWWW!!!!!!!!!!!
FANTÁSTICO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Faz tempo que eu não leio textos tão bons!!!!!!!
O 1° é sem dúvida o melhor, tá uma poesia! Mas o último tbm tá show! Só não entendi uma coisa: quem era Velma? Trabalhava no escritório?
 
Puxa gente obrigado! :D
Fiquei feliz de ouvir comentarios tao legais! :mrgreen:
Quanto a palavra detestavel, ela eh realmente detestavel...e bem... ela tira a compaixao da morte que existe no capitulo 1 entendem? eh uma visao da morte...
a Velma e uma apologia a algumas coisas, mas bem, no texto ela era como a testemunha, entendem? :obiggraz:
Vlwwwwwwwwww
 
Mais um capitulo...Espero que gostem :wink:

Os Contos Mórbidos para se ler no Supermercado.

Capitulo 3 – O Corpo.

A pele estava desnuda, e os cabelos negros, soltos. Seus olhos possuíam um brilho amarelado, e uma expressão horrorizada de amor. A pele estava pálida, e com uma textura macia.
Sua boca estava selada com a presença do carmim. Seu pescoço, perfumado por um cheiro forte que ninguém ousou sentir mais de perto. Suas unhas, pintadas, e que manteriam o esmalte vermelho, e continuariam crescendo.
Os lençóis de seda vermelha encobriam o corpo, não revelando o pudor. E também caíam no chão, num movimento doce, como mãos de fadas. A música das liras angelicais ecoava no ar, dançando nas ondas de aroma. A rosa que repousava sobre sua orelha combinava com a tonalidade da seda e com as pernas, e com os braços.
Seus movimentos eram imperceptíveis, a mulher de fato não os sentiu. E o suor salgado do Mar Português ainda lhe escorria pela testa, como que pintando com inocência o rosto de um assassino.
O corpo ressurrecto de sentimentos estava cercado pelos pipipasseiros nerudianos, que devoravam os lençóis com a fome do amor sem paixão; da paixão sem amor.

*********************************************************************************

O corpo estava aflito, mas a mulher não percebeu.
Sentada na borda da cama fumava a doença para se esquecer da hipocrisia. Da dor. E do prazer errôneo da morte.
Balançava seu scarpin.
Cheirava o corpo.
Alimentava os pipipasseiros.
Tocava a pele.
Penteava os cabelos.
Ajeitava a roupa.
Sem sair do lugar. Com movimentos imperceptíveis, o corpo de fato não os sentiu. Saciando a previsibilidade.

*********************************************************************************

As liras tocaram, incomodando a mulher. Que afligia com o toque das fadas. E alimentava os bichos. E as bestas.

*********************************************************************************

O corpo não ouvia o perdão.
E chorava lágrimas fórmicas.
De uma alma impura.
Esperando pela rendição.
Que deveria vir do outro lado.

Pois o corpo que recebeu a bênção humana, não teve a divina.
E esperava o sinal da mulher.

O limbo já não parecia tão ruim para o corpo de curvas adultas.
Mas a mulher não se preocupava com os dedos, que queimavam quando o cigarro acabava. Ela apenas fumava.

*********************************************************************************

A seda se encharcou.
O corpo parou de lamentar.
Por fim entendera os Propósitos.
E os Meios.
As Causas.
A Química.

E o sangue escorreu do lençol.
E revelou a voracidade do Mar.
Que derramava suas águas, que se misturavam ao sangue rubro, formando ondas de aroma, sentimento e verdade. Assemelhando-se ao amor da mulher pelo corpo.
Mas mais verdadeiro. Mais intenso. Mais chocante. Mais rubro. Mais legível.
Aquela mistura resumia a vida. O Amor. A Terra. O Corpo.
Aquela mistura. E somente aquela.
Cujas ondas fluidas atiçavam os bichos, que esperavam o sinal.
E todos os outros que não o faziam.

As gotas pingavam no chão.
Contando os momentos que regrediam a alforria divina e bestial.
Fazendo o corpo morto se contrair uma última vez.
E fazendo o cigarro apagar.

*********************************************************************************

E por fim a mulher se levantou, sacando do bolso um outro cigarro inesgotável, com uma pitada de humanidade hipócrita, para se fumar.
Balançou por mais uma vez o scarpin.
Guardou o terço.
Ajeitou o chapéu e os óculos.
E limpou com a mão o sangue da roupa, fazendo uma última lágrima escorrer do corpo, caindo nos lençóis ensangüentados, e despertando a fome apaixonante dos bichos servidores de Vênus, que levantaram o lençol, rasgaram a ferida aberta, e levaram o corpo inanimado, e sem redenção.

*********************************************************************************
 
Comentário SdL

Li o primeiro capitulo. Sem explicação, Kementarí. Você me abismou, não por ter 14 anos, porque idade nem sempre é o que importa, mas por escrever extremamente bem. Por seu texto ser tão maravilhoso, tão sublime. Eu não consigo parar de pensar na Menina, eu nem a vi e já a desejo... Hehehe :P
Sério, eu gostei muito. Queria escrever como você, nossa, ia ser demais ^^
Não vou citar os pontos positivos e negativos porque simplesmente não vejo nenhum. Continua assim, sério! ^^
 
A melhor maneira de ser direta sendo extremamente subjetiva... perfeita!!

Kementari... precisamos conversar melhor... :lol:
 
:oops: Nossa, nao sei nem o que falar!
MUITO OBRIGADO achoque seria bom! :D
Puxa, fiquei mt tocada com seu comentario :oops:
E com todos os outros tb! :D
:obiggraz: :obiggraz: :obiggraz:
 
Quando ou li o primeiro, eu não pensei que com seus 14 anos você ainda pudesse me tocar mais... no entanto, você se supera o tempo todo, menina! Muito bem!

Genial! :wink:
 
Eu não li o 2 e nem vou ler Kementari, pra mim simplesmente não existe continuação. Minha mente não aceita o fato de que há uma continuação, eu não consigo imaginar uma continuação que não tire a magia que ficou na minha imaginação... Desculpa, mas vou ficar só com primeiro que pra mim já é um conto inteiro... ^^
 
O objetivo de uma serie, e mostrar varios pontos de vista acerca da morte...
E realmente, uma continuacao para o primeiro conto ia quebrar totalmente o clima... :|
 

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.434,79
Termina em:
Back
Topo