Elrond Meio-Elfo disse:
Concordo contigo Fëaruin, foi Melkor quem "incitou" o mal dormente em Fëanor. Mas eu pago os seus nove LADRÃO! e digo que se não tivesse sido Melkor teria sido outro ou outra coisa. Se Melkor não tivesse nunca entrado em contato com Fëanor e tivesse simplesmente fugido para Endor, sem destruir as árvores, sem matar Finwë e nem roubar as silmarils, alguma coisa eventualmente iria fazer com que Fëanor se tornasse Fëanor. Não foi como se Melkor colocasse algo que não existisse dentro do elfo. O ainu foi apenas a fagulha que inflamou todo aquele combustível prestes a entrar em combustão. E se não tivesse sido ele teria sido outra fagulha, isso é certeza.
É verdade que talvez alguma coisa fizesse Fëanor explodir. Eu chuto que o Fingolfin, que não sei aonde vêem tanta nobreza nesse irmão do Fëanor que era quase tão orgulhoso e arrogante quanto ele, e no fundo o invejava por não ser o primogênito. Mas isso é tema para outra discussão.
O que eu defendo é o seguinte: Não, a mesma desgraça não ia acontecer. Ainda mais se Melkor fosse embora sem roubar as Silmarils e, principalmente, sem assassinar Finwë. Foi o assassinato de Finwë que foi o estopim da loucura de Fëanor, vocês bem sabem disso.
Elrond Meio-Elfo disse:
A terra de Aman era muito pouca coisa para Fëanor, ele não podia ser contido naquela terra, assim como a Galadriel. Então mesmo que se Melkor tivesse apenas fugido, sem perpetrar suas maldades no reino abençoado e concentrando tudo em Endor, o elfo com certeza teria ido atrás do ainu para realizar a sua "justiça".
Eu duvido. Se Melkor se fosse sem roubar as Silmarils e sem matar Finwë, Fëanor não teria o menor interesse. Ele queria vingança contra Melkor e atingiu um estado de loucura por causa disso que, se alguém se enfiasse na frente dele, ia levar bordoada. E foi exatamente o que aconteceu. Então se Melkor não tivesse feito o que fez, que atingiu diretamente Fëanor acima de qualquer outro em Aman, eu não acho que ele se tornasse cruel em sua loucura, como aconteceu.
Cësárin disse:
Ainda que o mar fosse violento, ainda que os noldor tenham se afogado: os teleri tinham todo o direito de se proteger, eles estavam sendo atacados, ora essa! Como não foram os noldor que começaram a briga!? Não foram eles que desencadearam o problema? A briga não é importante, é só conseqüência, pois o que importa é quem tomou a primeira atitude ofensiva.
Como assim a briga não é importante? Mais significativo é quem termina com a coisa, e não quem a começa. Vocês não estão defendendo que um assassinato não justifica outro? Pois bem. E eu concordo plenamente com isso. Eu nunca disse que os Teleri não deviam se defender nem coisa parecida; mas o fato de eles estarem ou não no direito deles não os faz corretos em sua atitude. Desculpável e correto estão a anos-luz de distância. Assim como os noldor também não estavam corretos. Vocês estão falando até agora que um assassinato não justifica outro, então porque defendem que os Teleri estavam certos? Isso é totalmente contraditório. Eles tinham o direito de se defender, mas não de matar. O mesmo acontece com os noldor.
Cësárin disse:
E segundo você, não é culpa de Fëanor se existe mal no mundo, não é? Pois o mal sempre existirá. Não podemos isentar as pessoas de seus crimes só porque elas foram instigadas ou porque os defeitos latentes nelas foram incitados, cada um tem a obrigação de aprender o que é mal e como filtrar as influências desse mal.
Eu não disse isso. Disse que Melkor é a origem do mal em Arda, isso é fato. Não disse que não há mal sem ele. Não disse que podemos isentar ninguém. Muito pelo contrário, eu sempre falei que Fëanor sempre fez muita besteira e DEVE pagar por isso. O que eu disse é que ele não levantou de uma hora pra outra e saiu matando. Foi um processo que o levou a isso, que começou lá atrás, quando a mãe dele morreu e não quis voltar. Eu só digo que o comportamento dele é justificável, não que ele não é culpado.
E conceitos moralistas não cabem tão bem num mundo onde o mal toma forma física na presença de deuses.
Se até Manwë, o Rei Mais Velho e teoricamente o mais sábio dentro dos Círculos do Mundo foi enganado e influenciado por Melkor, porque Fëanor haveria de resistir? E em verdade, ele resistiu, pois na única vez que falou com Melkor percebeu seu intento e o humilhou.
Cësárin disse:
Fora que, mesmo se isentássemos Fëanor no que condiz à influência de Melkor, temos ainda outro fator: ainda que nós acreditemos que não existe bem e mal, ou ainda que as pessoas não sejam culpadas num hâmbito universal, o fato é que a vida em sociedade pressupõe certas regras sem as quais ela não seria possível (e não perca seu tempo dizendo que essas regras não são democráticas, pois as leis sempre foram e sempre serão ditadas por quem tem o poder): é proibido matar, roubar ou atacar os outro é uma delas, presente em todas as sociedades conhecidas, já que essa regra não é mais do que um desdobramento da regra de ouro (não cometa crimes a não ser que cometam um contra você primeiro); se não fosse Melkor seria outro, e o fato é que Fëanor era muito inrascível, além de suscetível e arrogante.
Olho-por-olho, dente-por-dente. Esse é o Código de Hamurábi. Lá na Babilônia, se alguém matasse sua mulher, por exemplo, você poderia matar o cara. Existem sociedades onde você pode apedrejar sua mulher se ela te trair. Belo exemplo esse. As regras e as leis não querem dizer nada. A gente tem essa mentalidade de certo e errado por causa da nossa cultura ocidental, dos nossos conceitos morais. Essas mesmas regras e leis causam a morte de muitas pessoas, a desgraça de centenas de milhares.
Não são as regras ou leis que nos permitem viver em sociedade. E sim a nossa cultura. As regras e leis são desdobramentos da cultura, mas que quase nunca são justas e das quais sempre se aproveitam. Você nunca ouviu sobre o caso do ladrão que foi roubar a casa da mulher, caiu do telhado e processou a mulher porque quebrou o braço dele, porque o telhado era mal-feito? E o pior, ele ganhou a causa.
Bela lei, bela regra e bela justiça essa.
Cësárin disse:
Se ele fosse mais humilde (e lembre que humildes todos devemos ser), menos crente na própria força - que ele acreditava ser maior do que o era, grande parte do mal ocorrido não teria ocorrido. Sinto dizer, mas as pessoas quando atingem certo nível de cultura ou habilidade tendem a esquecer que ninguém é tão forte ou sábio que não possa ser superado, e Fëanor era exatamente esse tipo de cara.
Desse crime ele não é o único culpado e você bem sabe disso. A casa de Finwë tem pouquíssimos exemplo de humildade; Finarfin, Maglor, Fingon e Finrod; salvo esses não me vem ninguém na cabeça. Não era só com o Fëanor não.
Justiça seja feita, pois. Ele não ficava desfilando por Aman se achando o fodão coisa nenhuma. Pelo contrário, ele vivia recluso e isolado, explorando a terra e trabalhando, sempre sozinho.
Cësárin disse:
Desculpe-me se pareço arrogante, não é minha intenção, mas a honra a como estamos acostumados é um mal que felizmente tem sido abandonado: em nome dela os maridos matavam as mulheres por tolices ou possibilidades, ainda que remotas, de traição; pela honra pessoas matavam outras com frieza (uma coisa é reagir no calor do momento, o que não é crime ante à lei dourada ou ante à lei das sociedades; outra coisa e ser atacado e, ao invés de procurar o poder de justiça competente, você planejar vingança. Acho que você está confundindo desonra com orgulho ferido...
Justiça competente não existe.
É claro que Fëanor queria vingança. Morgoth roubou sua maior obra e matou seu pai, que ele amava mais do que qualquer coisa. E quando a tal da "justiça" se mostrou ociosa frente à gravidade dos fatos, ele quis fazer justiça com as próprias mãos. Eu não acho que como os fatos discorreram tenha sido bonito ou justo, mas eu não acho também que seja condenável o cara querer se vingar do cara que encheu sua cabeça de merda através de seus amigos, roubou a grande obra da vida dele e ainda matou o pai, que lhe era mais caro que qualquer outra coisa, lá onde teoricamente nada de ruim poderia acontecer e quando os Valar não mostraram nenhuma atitude até a ida de Eärendil até seus pés para suplicar. Bela justiça que só faz o que deve quando tem alguém aos pés implorando.
A propósito: crime passional não deixa de ser crime. Não importa se foi no calor do momento ou não. É crime e pronto, mesmo nas falhas leis da sociedades.