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Em defesa da tradução

Volta e meia um crítico tão presunçoso quanto desinformado [espécime que proliferou de maneira particularmente rápida durante o bafafá criado pelo lançamento de "O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel" nos cinemas] inventa de criticar a tradução brasileira da obra-prima de Tolkien. Onde já se viu, vociferam, traduzir nomes próprios! Que heresia é esse negócio de Bolseiro, Valfenda e Passolargo! Por que não deixar tudo em inglês, que além de ser o idioma original é muito mais chique que o nosso pobre patuá luso-brasileiro, não é mesmo?

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Mesmo caras talentosos e bons conhecedores do universo tolkieniano, como o editor Rodrigo Salem, da revista Set, acabaram caindo nessa esparrela, sabe-se lá o porquê. Acontece, porém, que eles estão fundamentalmente errados. Diretrizes explícitas do próprio Tolkien, depois de verificar os erros e acertos de diversas traduções européias, mostram a necessidade de traduzir nomes próprios como forma de manter de pé a delicada arquitetura lingüística do livro.

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O esteio desse raciocínio é a elaborada "ficção" na qual Tolkien se coloca não como autor de "O Senhor dos Anéis", mas como mero tradutor do Livro Vermelho do Marco Ocidental [para mais detalhes a respeito, confira o Apêndice F de "O Senhor dos Anéis"]. Esse pressuposto dá ao autor um ponto de vista - o dos hobbits - como dominante, e faz do westron, o idioma de Frodo, o equivalente do inglês, sua língua materna. A necessidade de coerência faz com que todos os nomes em westron, inteligíveis e analisáveis para os hobbits, sejam passados para versões inglesas com essas mesmas características.

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Ora, manter numa tradução em português [ou para qualquer outra língua] nomes próprios em inglês seria quebrar essa regra, tirando do leitor a capacidade para entender o significado, muitas vezes essencial, dos nomes dos personagens e lugares - a não ser que houvesse um imenso glossário, desajeitado e nem sempre esclarecedor, no final dos volumes. Foi esse absurdo que Tolkien percebeu ao deixar suas indicações no "Guia para os nomes em O Senhor dos Anéis", publicado postumamente:

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"É DESEJÁVEL traduzir tais nomes, uma vez que deixá-los como estão perturbaria o cuidadosamente elaborado esquema de nomenclatura e introduziria um elemento inexplicado, sem lugar na história lingüística imaginária do período".

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Só essa citação já bastaria para derrubar o argumento dos pseudo-anglicistas [ahá! taí um ótimo nome de seita pros inimigos da tradução]. Mas uma análise detalhada de dois dos nomes mais criticados na versão da editora Martins Fontes - Bolseiro e Valfenda - mostra como a intenção de Tolkien foi seguida à risca. Abaixo, traduzo alguns trechos do guia criado pelo velho Professor:

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"BAGGINS - Feito com a intenção de lembrar a palavra "bolsa" - comparar com a conversa entre Bilbo e Smaug em "O Hobbit" - e de ser associado [pelos hobbits] com BAG END [...], o nome local para a casa de Bilbo. [Era o nome local da fazenda de minha tia em Worcestershire, que ficava no fim de uma estrada que levava até ela mas não ia adiante]. Comparar também com Sackville-Baggins. A tradução deveria conter um elemento com o significado de "saco, bolsa".- "Bolseiro" e "Bolsão" serviram como tradução de Baggins e Bag End. "Bolsão" dá a idéia de coisa aglomerada e se associa naturalmente a Bolseiro, como é necessário. Outra solução boa foi a da versão lusitana, que é "Fundo do Saco".

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"RIVENDELL - "Vale fendido". Tradução na Língua Comum de Imladris[t],"vale profundo da fenda". Traduzir de acordo com o sentido ou manter a forma original, da maneira que for melhor". Nesse caso, os tradutores foram ainda mais cuidadosos, já que a palavra "dell", um tanto arcaica em inglês, teve o correspondente Val-, que tem um sabor parecido em português.

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Mais exemplos poderiam ser citados ao infinito, mas esses devem ser suficientes para mostrar a necessidade da tradução e seu sucesso.

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PS - A partir de hoje, Tirith Aear passa a ter atualizações quinzenais. Torçam para que este cisne aqui consiga se disciplinar e escrever regularmente ;-]


Tradução de Reinaldo J. Lopes
 
Eu antes também achava errado isso de terem traduzido alguns nomes, principalmente o de Rivendell, mas agora lendo esse texto entendi o porquê.
 

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