E onde está que exista algum discurso 'puramente' geopolítico? Todas as forças políticas, como aliás tudo que é humano, são em si manifestações de forças espirituais ou, ao menos, anímicas. =D
É pura ilusão sua crer que, por mais profanas que possam ser as intenções dos líderes mundiais (não descartando, hipoteticamente, o ínclito Putin), que estes simplesmente controlem tamanhas forças humanas e infra-humanas, que estas não lhes influenciem, que todo e qualquer movimento nesse tabuleiro não seja expressão de lutas e elementos mais profundos.
Agora sobre a motivação tradicionalista do eurasianismo, isso resta ver. Putin é muito cauteloso: aprovou leis anti-gayzistas e tem sido o queridinho de muitos conservadores não envenenados pelo Olavão, mas ainda se move com cuidado. Não se proclamará nenhum Estado tsarista ortodoxo antes da Rússia estar bem estabelecida no cenário mundial e antes da 4TP estar bem articulada em termos orgânicos e religiosos, em termos de integração de forças tradicionais.
Concordo com praticamente tudo aqui. As oposições que levantei entre a Terceira Via e o modernismo existem sim, mas, infelizmente, ou não passaram de retórica inflamada no começo dos movimentos ou foram impedidos de se cristalizar em verdadeira resistência 'alternativa'. Existem bons exemplos disso: o fascismo foi concebido e mesmo defendido como um socialismo nacional, com uma ideologia anti-liberal e mesmo um novo projeto civilizacional. Mas como o Evola não cansava de repetir: faltou base, faltaram verdadeiros princípios metafísicos, as referências ao mundo da Tradição não passavam de diletantismo intelectual ou de mera superficialidade, de retórica, propaganda.
O mesmo aconteceu na Alemanha, o desvio que Hitler realizou no Partido Nacional-Socialista, suas divergências com os irmãos Strasser com relação ao anti-semitismo, à revolução nacional-socialista, à aplicação do sistema de guildas e corporações (também utilizado imperfeitamente na Itália fascista). Outro exemplo é o rumo que o legionarismo tomou na Romênia, sendo mero adorno de um regime pró-Eixo, autoritariamente policial, militarista e profano (e profanizador da cultura ortodoxa romena), se apartando dos rumos 'legionários' delineados por Corneliu Codreanu, com sua filosofia do novo homem, puro, santo, legionário.
Não que eu queira fazer futurologia e dizer que se X e Y não tivessem acontecido, talvez o nazi-fascismo tivesse sido um sucesso belo e moral. Não. Evola nunca cessou de dizer que o fascismo NUNCA teve nada de tradicional além da retórica, e isso vindo de quem tentou 'de fora' reformá-lo doutrinalmente. Mussolini poderia admirar Evola, mas nunca substituiria Gentile por ele. Nesse sentido, como em outros, o nazi-fascismo de tornou mais um refém embrutecido da modernidade do que um verdadeiro conservadorismo revolucionário, mas não se pode negar em suas figuras mais periféricas e em diversos de seus elementos e momentos muitos aspectos que, tradicionais ou não, apelavam ao mito como algo fundante de uma realidade social e política inteiramente novas e, no entanto, velhas. O anti-liberalismo salta aos olhos nesses casos.
O sentido não é histórico-temporal, visto que esse aspecto (que existe) é relativo. O sentido é ideal mesmo, as ideias que podemos chamar de individualistas e mesmo de coletivistas tendências apenas aparentemente opostas de uma mesma visão de sociedade, ou melhor, de tendências anti-tradicionais vigentes historicamente desde muito tempo. Na verdade, ainda que a anti-Tradição flutue desde sempre pelas Eras do mundo, é um fato que se pode rastrear temporalmente seus princípios de forma mais dissolutiva ao final da última época tradicional do Ocidente: a Idade média.
Por volta do século XIV-XV, já se podem identificar elementos regressivos, característicos de uma sociedade em involução, sob os mais diversos aspectos. Os exemplos abundam: o protestantismo, por exemplo, o que mais seria que uma das reações mais vigorosas do racionalismo e do individualismo contra uma tradição essencialmente anti-individualista pela sua valorização da ascese e anti-racionalista, pela sua fidelidade à óbvia superioridade do conhecimento (gnose) divino face ao meramente discursivo? E o que seria mais individualista que a decadência do ecúmeno imperial do medievo trazida pelas disputas e guerras fratricidas promovidas por orgulhosos Estados nacionais dos começos da Idade moderna? E não é igualmente individualista o aparecimento na história da burguesia como uma classe crescendo cada vez mais e mais em poder econômico, pervertendo aos poucos todas as tradicionais relações de trabalho e produção, economia e sociedade? E não é racionalista todo o pensamento que acompanha essas transformações louvadas pelos apóstolos do progresso? Não havia racionalismo nesses fenômenos de decadência antes mesmo de existir um pensamento filosófico propriamente 'racionalista'? Não é a perda do sentido espiritual da existência e a constante secularização racionalista anterior a Descartes?
Esse assunto é complicado demais, eu poderia gastar páginas, mesmo escrever livros sobre os processos que levaram do mundo da Tradição ao mundo moderno e diria que esses processos históricos nada mais são que a manifestação de forças espirituais ou sub-espirituais em revolta contra todo 'espírito' verdadeiro, contra toda ortodoxia, ordem, legitimidade hierárquica e iniciática. Poderia escrever muito mais, mas acho desnecessário: basta acompanhar a história para enxergar como o mundo moderno, muito anterior às suas consequências fatais de 1789 e 1848, sempre foi uma gradual erosão de princípios eternos e inumanos que já guiaram a humanidade.
Aí se pula para coletivismo. Não se pode dizer que as sociedades tradicionais sejam coletivistas, se pode dizer que eram anti-individualistas, porém, os processos coletivistas, de coletivização da vida com todo o seu arcabouço teórico e aplicações quiméricas são frutos, produtos do mesmo espírito que engendrou o liberalismo, o mesmo espírito 'esclarecido' do racionalismo que busca resgatar o mundo do abismo em que queda a civilização ocidental. Essa 'salvação', porém, não se dará com um retorno às fontes pré-modernas, mas pela confiança em forças ainda mais obscuras que as que engendraram a modernidade: forças de massificação, de concepção do homem enquanto máquina e engrenagem, destruição de sua liberdade e perda de sua identidade pelo auto-sacrifício forçado com fins ainda mais quiméricos: o comunismo total, a revolução permanente, a organicidade intelectual. Em tudo, o comunismo apresenta aspectos ainda mais 'satânicos', desagregadores, caóticos, espiritualmente destrutivos que o capitalismo que procura derrubar ou corrigir.
Certamente é mais aceitável, até porque reconhecer que a raça, ou que características psíquicas e espirituais porventura relacionados ao sangue ou a algo que o substitua de certa forma (casta, pátria, nação etc), influenciam sim, e fortemente, a cultura e a civilização de forma geral é um simples fato, por mais que o neguem os apóstolos do igualitarismo mais ingênuo. A raça é sim um fator importante, mas está longe de ser o principal, o mais importante e entender raça como mera raça biológica é um erro brutal: porque não apenas seria equiparar o homem com qualquer animal irracional como seria ignorar que as grandes realizações do mundo da Tradição andaram lado a lado com aspectos raciais mais profundos que o simples sangue.
O sangue em si nada conta a favor, se o tal sangue não for santificado pela iniciação, introduzido no cerne do segredo iniciatório, no Centro da Tradição Primordial, ou seja, se esse sangue não for transfigurado em sangue divino pela iniciação promovidas pela guerra santa, pelo ato impessoal, pela ascese, pela mais pura e solar virilidade espiritual.
Isso nenhum nazi jamais entendeu.
Ué, e você quer alguém mas tolerante do que eu? A quase totalidade dos membros desse fórum ou é aberta e conscientemente marxista, liberal ou partidária das mais diversas formas de progressismo e relativismo moral e religioso, ou seja, são quase todos clara e flagrantemente inimigos do tradicionalismo, assim como eu, de suas ideias. E ainda assim, estou aqui discutindo sobre eurasianismo, Tradição, 4TP, DUgin, Evola, Terceira Via e uma série de outras doidivanias com vancês, amados!
Claro que eu posso perder a cabeça, me estressar, falar muita merda, mas só o fato de estar aqui, falando, discutindo e os ouvindo, será que nem isso... nem isso me faz soar menos intolerante? Extremista sim! Sempre! Mas intolerante?
Não os tolerasse e os respeitasse não teria o que fazer aqui, minha Preta.
Faz diferença a forma que o fazem. Eu considero o imperialismo ianque muito pior que o soviético exatamente porque escravizam e tiranizam sem parecer que o fazem, sob um véu hipócrita de excepcionalismo moralista, superioridade científico-tecnológica, auto-exaltação e exportação de sua identidade e democracia e sua imposição de valores através de infiltração insidiosa. A URSS, pelo menos, atacava abertamente, forçava os cristãos ao martírio, acabava involuntariamente fortalecendo o cristianismo e a religião enquanto que os EUA a destruíram praticamente com suas 'liberdades individuais', 'civilização', 'democracia' ou alguma outra besteira masturbatória.
Não temei o inimigo que mata o corpo, mas o que mata a alma.
Talvez seja melhor você observar outras fontes, outras mídias, procurar conhecer o o utro lado, Clarinha, em vez de se alimentar com o que a Globo mostra, como aquele merda do William Waack. Estaria o Putin tão errado assim? Seria ele tão monstruoso? Desliga o Jornal Nacional e vá ver alguma outra coisa, no internet mesmo. Faça um esforcinho.
Assomam-me lágrimas aos olhos ao ler os posts do confrade @Bruce Torres nesse tópico! Admira-me ver tamanha defesa dos princípios metafísicos e arguta análise do mundo moderno e suas punhetas coletivistas e anárquicas através de referenciais tão solares, viris, imperiais!
Ô glória! É pra glorificar de pé, assembleia!!!
O LOL é pela última resposta.
Tô vendo que devo ter medo mesmo do Bruce, porque pelo jeito faz sentido o que nós, ignaros esquerdistas/liberais, achamos que era zoeira.
E não, @Paganus, eu não assisto um programa da rede globo (e nem leio a Veja) faz anos (acho que até décadas) o que leio é na internet mesmo, em portais de notícia ou jornais tipo Estadão e Folha de SP.
Não muda muita coisa, eu sei, mas é o que tenho disponível. =/