Li o texto, @
Paganus, e tudo que vi foram argumentos geopolíticos. Nada espiritual parece guiar as ações da Rússia.
"Ou o país cai no colo do Oeste, tornando-se títere de tropas que apontarão mísseis para a Rússia a partir de uma posição estratégica em pleno coração eurasiático, ou o país manterá os laços históricos que o unem à civilização russa, sendo a vanguarda de resistência à expansão da OTAN. A terceira opção é a divisão do país entre os dois lados após uma sangrenta guerra civil com intervenção maciça, ainda que nem sempre direta, de países estrangeiros. Ou seja, balcanização da região."
E onde está que exista algum discurso 'puramente' geopolítico? Todas as forças políticas, como aliás tudo que é humano, são em si manifestações de forças espirituais ou, ao menos, anímicas. =D
É pura ilusão sua crer que, por mais profanas que possam ser as intenções dos líderes mundiais (não descartando, hipoteticamente, o ínclito Putin), que estes simplesmente controlem tamanhas forças humanas e infra-humanas, que estas não lhes influenciem, que todo e qualquer movimento nesse tabuleiro não seja expressão de lutas e elementos mais profundos.
Agora sobre a motivação tradicionalista do eurasianismo, isso resta ver. Putin é muito cauteloso: aprovou leis anti-gayzistas e tem sido o queridinho de muitos conservadores não envenenados pelo Olavão, mas ainda se move com cuidado. Não se proclamará nenhum Estado tsarista ortodoxo antes da Rússia estar bem estabelecida no cenário mundial e antes da 4TP estar bem articulada em termos orgânicos e religiosos, em termos de integração de forças tradicionais.
Concordo que tanto o comunismo quando o liberalismo são igualmente frutos da modernidade (pensamento contemporâneo, pós-iluminismo). Porém, pontuaria que:
- O fascismo (no sentido amplo do termo, conforme defini no meu post anterior) também é fruto dessa modernidade, ainda que, diferente do liberalismo e do comunismo, faça referências a elementos antigos e medievais. Essas referências porém não são profundas, são apenas vernizes mitológicos de uma ideologia que é profundamente ligada ao séc. XX.
- Ainda que aceitássemos que o fascismo fosse genuinamente reacionário ao modernismo (o que não acredito), para mim isso é insuficiente para colocar o fascismo como verdadeiramente oposto ao comunismo e ao liberalismo por causa disso. As semelhanças se dão nas estruturas psicológicas e institucionais que os movimentos propõe ou estabelecem (semelhanças que o artigo para o qual linkei no post explora), e não meramente na "árvore genealógica" desses movimentos, seja essa árvore montada segundo um parentesco histórico (segundo a ordem temporal do surgimento dos movimentos) ou cultural (quando um movimento clama descendência de um movimento localizado num passado distante, por exemplo).
É como dizer, por exemplo, que como Schopenhauer (liberalismo) e Hegel (comunismo) são ambos igualmente frutos de Kant (modernismo), por causa disso são muito parecidos e igualmente opostos a Marx ou Nietzsche (anti-kantianos, representam na metáfora o fascismo com seu suposto anti-modernismo). Enquanto sabemos que na realidade Schopenhauer e Hegel são como água e óleo, e Schopenhauer tem muito a ver com o Nietzsche, enquanto Hegel tem a ver com Marx (ignorando aqui as divergências óbvias existentes no interior dos dois pares).
Concordo com praticamente tudo aqui. As oposições que levantei entre a Terceira Via e o modernismo existem sim, mas, infelizmente, ou não passaram de retórica inflamada no começo dos movimentos ou foram impedidos de se cristalizar em verdadeira resistência 'alternativa'. Existem bons exemplos disso: o fascismo foi concebido e mesmo defendido como um socialismo nacional, com uma ideologia anti-liberal e mesmo um novo projeto civilizacional. Mas como o Evola não cansava de repetir: faltou base, faltaram verdadeiros princípios metafísicos, as referências ao mundo da Tradição não passavam de diletantismo intelectual ou de mera superficialidade, de retórica, propaganda.
O mesmo aconteceu na Alemanha, o desvio que Hitler realizou no Partido Nacional-Socialista, suas divergências com os irmãos Strasser com relação ao anti-semitismo, à revolução nacional-socialista, à aplicação do sistema de guildas e corporações (também utilizado imperfeitamente na Itália fascista). Outro exemplo é o rumo que o legionarismo tomou na Romênia, sendo mero adorno de um regime pró-Eixo, autoritariamente policial, militarista e profano (e profanizador da cultura ortodoxa romena), se apartando dos rumos 'legionários' delineados por Corneliu Codreanu, com sua filosofia do novo homem, puro, santo, legionário.
Não que eu queira fazer futurologia e dizer que se X e Y não tivessem acontecido, talvez o nazi-fascismo tivesse sido um sucesso belo e moral. Não. Evola nunca cessou de dizer que o fascismo NUNCA teve nada de tradicional além da retórica, e isso vindo de quem tentou 'de fora' reformá-lo doutrinalmente. Mussolini poderia admirar Evola, mas nunca substituiria Gentile por ele. Nesse sentido, como em outros, o nazi-fascismo de tornou mais um refém embrutecido da modernidade do que um verdadeiro conservadorismo revolucionário, mas não se pode negar em suas figuras mais periféricas e em diversos de seus elementos e momentos muitos aspectos que, tradicionais ou não, apelavam ao mito como algo fundante de uma realidade social e política inteiramente novas e, no entanto, velhas. O anti-liberalismo salta aos olhos nesses casos.
- Comunismo filho do individualismo? De novo, só se filho for no sentido histórico e temporal, porque comunismo pouco tem a ver com individualismo. Isso só mostra que o critério meramente histórico e temporal não fornece afinidades genuínas. Aliás, nem o comunismo em todas suas vertentes é economicista, como por exemplo a ideologia Juche da Coréia do Norte. Que o liberalismo seja economicista ou filho de 1789, bem, isso acho que não é verdade nem no sentido meramente histórico. Vide a Revolução Americana. Não enxergo nessas características que você mencionou o cerne do comunismo ou do liberalismo, parecem-me mais características levantadas tendo já de antemão o objetivo de criar uma contraposição ao fascismo.
O sentido não é histórico-temporal, visto que esse aspecto (que existe) é relativo. O sentido é ideal mesmo, as ideias que podemos chamar de individualistas e mesmo de coletivistas tendências apenas aparentemente opostas de uma mesma visão de sociedade, ou melhor, de tendências anti-tradicionais vigentes historicamente desde muito tempo. Na verdade, ainda que a anti-Tradição flutue desde sempre pelas Eras do mundo, é um fato que se pode rastrear temporalmente seus princípios de forma mais dissolutiva ao final da última época tradicional do Ocidente: a Idade média.
Por volta do século XIV-XV, já se podem identificar elementos regressivos, característicos de uma sociedade em involução, sob os mais diversos aspectos. Os exemplos abundam: o protestantismo, por exemplo, o que mais seria que uma das reações mais vigorosas do racionalismo e do individualismo contra uma tradição essencialmente anti-individualista pela sua valorização da ascese e anti-racionalista, pela sua fidelidade à óbvia superioridade do conhecimento (gnose) divino face ao meramente discursivo? E o que seria mais individualista que a decadência do ecúmeno imperial do medievo trazida pelas disputas e guerras fratricidas promovidas por orgulhosos Estados nacionais dos começos da Idade moderna? E não é igualmente individualista o aparecimento na história da burguesia como uma classe crescendo cada vez mais e mais em poder econômico, pervertendo aos poucos todas as tradicionais relações de trabalho e produção, economia e sociedade? E não é racionalista todo o pensamento que acompanha essas transformações louvadas pelos apóstolos do progresso? Não havia racionalismo nesses fenômenos de decadência antes mesmo de existir um pensamento filosófico propriamente 'racionalista'? Não é a perda do sentido espiritual da existência e a constante secularização racionalista anterior a Descartes?
Esse assunto é complicado demais, eu poderia gastar páginas, mesmo escrever livros sobre os processos que levaram do mundo da Tradição ao mundo moderno e diria que esses processos históricos nada mais são que a manifestação de forças espirituais ou sub-espirituais em revolta contra todo 'espírito' verdadeiro, contra toda ortodoxia, ordem, legitimidade hierárquica e iniciática. Poderia escrever muito mais, mas acho desnecessário: basta acompanhar a história para enxergar como o mundo moderno, muito anterior às suas consequências fatais de 1789 e 1848, sempre foi uma gradual erosão de princípios eternos e inumanos que já guiaram a humanidade.
Aí se pula para coletivismo. Não se pode dizer que as sociedades tradicionais sejam coletivistas, se pode dizer que eram anti-individualistas, porém, os processos coletivistas, de coletivização da vida com todo o seu arcabouço teórico e aplicações quiméricas são frutos, produtos do mesmo espírito que engendrou o liberalismo, o mesmo espírito 'esclarecido' do racionalismo que busca resgatar o mundo do abismo em que queda a civilização ocidental. Essa 'salvação', porém, não se dará com um retorno às fontes pré-modernas, mas pela confiança em forças ainda mais obscuras que as que engendraram a modernidade: forças de massificação, de concepção do homem enquanto máquina e engrenagem, destruição de sua liberdade e perda de sua identidade pelo auto-sacrifício forçado com fins ainda mais quiméricos: o comunismo total, a revolução permanente, a organicidade intelectual. Em tudo, o comunismo apresenta aspectos ainda mais 'satânicos', desagregadores, caóticos, espiritualmente destrutivos que o capitalismo que procura derrubar ou corrigir.
- Um parêntese para o termo "racismo biologista", o que sugere para mim que há um mais aceitável "racismo espiritual". Mesmo Hitler admitia algo "alemães de alma judia", de forma que nem Hitler era completamente "biologista". Tentar distanciar um racismo do outro me parece uma postura que só favorece ao racismo.
Seguindo a sugestão do Deriel, aposto que os ucranianos conhecem esses laços como ninguém.
Certamente é mais aceitável, até porque reconhecer que a raça, ou que características psíquicas e espirituais porventura relacionados ao sangue ou a algo que o substitua de certa forma (casta, pátria, nação etc), influenciam sim, e fortemente, a cultura e a civilização de forma geral é um simples fato, por mais que o neguem os apóstolos do igualitarismo mais ingênuo. A raça é sim um fator importante, mas está longe de ser o principal, o mais importante e entender raça como mera raça biológica é um erro brutal: porque não apenas seria equiparar o homem com qualquer animal irracional como seria ignorar que as grandes realizações do mundo da Tradição andaram lado a lado com aspectos raciais mais profundos que o simples sangue.
O sangue em si nada conta a favor, se o tal sangue não for santificado pela iniciação, introduzido no cerne do segredo iniciatório, no Centro da Tradição Primordial, ou seja, se esse sangue não for transfigurado em sangue divino pela iniciação promovidas pela guerra santa, pelo ato impessoal, pela ascese, pela mais pura e solar virilidade espiritual.
Isso nenhum nazi jamais entendeu.
Pags, meu amor, relaxa. Você tem uma cabecinha com tanto potencial, você é uma pessoa tão bonita, pra quê ficar desperdiçando tanta energia com tanto extremismo? Pular de um extremo pra outro extremo, sempre antagonizando esta ou aquela coisa com tanta força, com tanta convicção, não seria uma espécie de cegueira? Temporária, mutável... Equivocada? Mais amor, por favor, mais amor e tolerância pra você, pra Rússia, pra Ucrânia, pra todo mundo.
Ué, e você quer alguém mas tolerante do que eu? A quase totalidade dos membros desse fórum ou é aberta e conscientemente marxista, liberal ou partidária das mais diversas formas de progressismo e relativismo moral e religioso, ou seja, são quase todos clara e flagrantemente inimigos do tradicionalismo, assim como eu, de suas ideias. E ainda assim, estou aqui discutindo sobre eurasianismo, Tradição, 4TP, DUgin, Evola, Terceira Via e uma série de outras doidivanias com vancês, amados!
Claro que eu posso perder a cabeça, me estressar, falar muita merda, mas só o fato de estar aqui, falando, discutindo e os ouvindo, será que nem isso... nem isso me faz soar menos intolerante? Extremista sim! Sempre! Mas intolerante?
Não os tolerasse e os respeitasse não teria o que fazer aqui, minha Preta.
Mas na sua opinião, o Putin "pode" estar envolvido?
Tipo, não tem nada de ruim os russos invadirem um país sendo que os EUA fazem isso há anos?
Não entendi esse seu posicionamento, pra mim é sempre ruim não deixar que o povo de um país decida seu futuro .
Mais ruim ainda porque os russos estão fazendo isso de forma brutal.
@
Paganus fala de "mãe rússia", Dostoievski, volta do Cristo, espiritualidade e tals mas tudo que vejo nas notícias é exército, autoritarismo, violência e opressão. =/
Faz diferença a forma que o fazem. Eu considero o imperialismo ianque muito pior que o soviético exatamente porque escravizam e tiranizam sem parecer que o fazem, sob um véu hipócrita de excepcionalismo moralista, superioridade científico-tecnológica, auto-exaltação e exportação de sua identidade e democracia e sua imposição de valores através de infiltração insidiosa. A URSS, pelo menos, atacava abertamente, forçava os cristãos ao martírio, acabava involuntariamente fortalecendo o cristianismo e a religião enquanto que os EUA a destruíram praticamente com suas 'liberdades individuais', 'civilização', 'democracia' ou alguma outra besteira masturbatória.
Não temei o inimigo que mata o corpo, mas o que mata a alma.
Talvez seja melhor você observar outras fontes, outras mídias, procurar conhecer o o utro lado, Clarinha, em vez de se alimentar com o que a Globo mostra, como aquele merda do William Waack. Estaria o Putin tão errado assim? Seria ele tão monstruoso? Desliga o Jornal Nacional e vá ver alguma outra coisa, no internet mesmo. Faça um esforcinho.
É porque é belo e moral e nosso modernismo está fora do projeto de Imperium e não conseguimos enxergar o Kali Yuga.
O qual realmente existe por conta da recusa da aceitação ao hierarquismo dármico-kármico estabelecido ontologicamente mas inaceitável a um modernista que se quer deslocado por um pensamento randiano-calvinista.
Assomam-me lágrimas aos olhos ao ler os posts do confrade @
Bruce Torres nesse tópico! Admira-me ver tamanha defesa dos princípios metafísicos e arguta análise do mundo moderno e suas punhetas coletivistas e anárquicas através de referenciais tão solares, viris, imperiais!
Ô glória! É pra glorificar de pé, assembleia!!!