Presto disse:
Não entendo disso, mas não era pra ser o contrário? Uma trilha sonora presente não cria uma atmosfera maior?
Depende totalmente do caso. Depende de gosto pessoal também. Mas eu acredito sim que silêncio e som ambiente são formas muito mais fortes de colocar o espectador no mundo que o filme cria do que um elemento não-diegético, como uma trilha incessante. E o fato de que a trilha em si foi bem meia boca não ajudou.
Pega "Blade Runner" por exemplo. A trilha do Vangelis é fantástica e extremamente atmosférica, e uma parte crucial do filme. A diferença do uso da trilha de BR pra Batman é que: (1) em BR, a trilha foi usada em momentos específicos, e grande parte (a maior parte, aliás) do filme é composto por sons do ambiente e (2) a trilha do Vangelis tem um tom muito mais atmosferico do que o de Batman, que é mais focada pra "aventura/tensão".
Eu menciono Blade Runner por causa da própria comparação que o Nolan fez entre os dois filmes -- e que ele falhou em conseguir criar um clima semelhante, embora tenha tentado -- e porque, em alguns momentos, a trilha realmente parece ser algo meio Blade Runner. Por exemplo, uma cena que o Batman tá parado no topo de um edifício, a camera gira em volta dele, e a trilha intensa toca nessa parte (que quase funciona, IMO).
Sinceramente no final do filme eu estava com a sensação de que ele falava sobre corrupção, metrópoles, e transformar o medo em atitude. Não somente "medo" de forma simplista.
O filme não necessariamente fala sobre "corrupção" (e corporações), ele só toca no assunto, bem de leve. E "Metrópoles" não é um tema. E "transformar o medo em atitude" entra na parte "Medo", embora eu não tenha visto nenhuma transformação do tipo, mas sim o caso do Wayne conquistar seu medo, etc.
Agora, o tema geral, que é martelado de forma obvia e não muito interessante em todas as cenas, é o Medo -- como o Bruce Wayne lida com ele, como o Bruce usa ele, como a cidade sente ele, etc. O pior de tudo é que o tema acaba não chegando em lugar algum. Eu li um ponto interessante do Theo Panayides em algum lugar que foi: "podiam ter usado o tema do Medo ligando ele com o tema popular recente que é o da Cultura do Medo, mostrando o efeito das drogas na população geral, todo mundo com medo de todo mundo, caos total, pessoas se isolando e se afastando, etc".
Foi mais ou menos isso que ele disse, e teria ficado foda, pq faria o tema ganhar uma força emocional e uma importância na história.
Mas não fizeram isso.
O que o Nolan fez foi colocar as cenas mais fortes, não dava pra aprofundar no lado psicológico dele em duas horas. Elas são as mais fortes, mas tudo faz parte de um conjunto; o Bruce deixando o mundo milionário dele, se importando, treinando, pra salvar o povo de Gothan.
Não vejo problema nenhum naquela cena que revela o medo dele por morcegos (novamente, não dava tempo pra aprofundar), e ela não explica o porque dele ter escolhido morcegos como símbolo, e sim, aquele diálogo dele com o Alfred onde ele diz que os criminosos não vão temer um homem, mas um símbolo sim. Pra eles temerem o que ele teme. Foda.
Três coisas:
Eu não achei nenhuma cena emocionalmente forte. A cena do assassinato dos pais não funcionou comigo, a cena do acidente dos morcegos quando criança não funcionou comigo. Isso é provavelmente porque o Nolan não conseguiu colocar a cena de um jeito duro e potente, já que ela foi filmada de um jeito tão vago e descuidado. Também por causa do posicionamento dela na estrutura do roteiro, onde não havia muita preparação emocional ou apego ao personagem.
Você comenta que o filme não tinha espanço pra aprofundar, mas isso é por causa de outro problema do roteiro, a segunda metade onde um quilo de trama é despejado, nada fazendo muito efeito. Podiam ter expandido a origem do Batman pro filme todo, ou então diminuido ela. Do jeito que tá, não tá a mais que o necessário, e menos que o suficiente, se é que você me entende.
Outra coisa, explicar através de supostas teorias psicológicas sérias de que o personagem do Bruce Wayne realmente teria ideias malucas do tipo se vestir de morcego, virar um ninja, etc, é meio que forçar a barra. Por isso que eu acho que um filme do Batman funcionaria muito melhor satirizando e zoando o Batman do que tentando dar "seriedade" a história. Não tem como! É ridículo demais!
Meu ponto final é que: não, não é a cena do Alfred que justifica ele ter escolhido o morcego como o simbolo dele. É a cena que
explica. E explicar, nesse caso, é algo ruim. Devia ter deixado como subtexto. Afinal, o Bruce escolhe o morcego como simbolo justamente por que ele teve o acidente traumatico com eles. Se ele tivesse tido um acidente traumatico com jacarés, o filme se chamaria "O Jacaré-Homem".
Etc.