"Personagens negros não deveriam ser escritos por pessoas brancas a não ser que elas sejam Brian Azzarello." - Revista Wizard, Maio de 2003
À parte da brincadeira com fundo de verdade acima, 100 Balas é, entre os regulares publicados hoje no Brasil, a melhor coisa que você vai encontrar por aí em termos de HQ. 100 Balas é como o melhor filme policial que você nunca viu. Tem atmosfera, trama, bons personagens, é ousado, realista e surpreendente.
Nunca houve uma HQ que retratasse de forma tão honesta e livre de estereótipos o mundo do crime e da "periferia". Azzarello escreve personagens negros, hispânicos, gays, traficantes, viciados, prostitutas, mafiosos, etc, etc, etc, e eles nunca parecem estereotipados, como acontece em 99% das vezes que outros roteiristas de HQ tentam fazer o mesmo.
Mas 100 Balas está longe de ser uma história apenas sobre minorias ou marginais. Azzarello traça um paralelo com o crime "pequeno" e o crime organizado, jogando conspirações de organizações secretas na mistura, e fazendo uma história tão cheia de elementos que ele próprio já se surpreendeu
Sim, porque a idéia original era fazer uma minissérie curta, mas a coisa provou ter vida própria, e se tornou algo muito maior. O que não devia ser algo surpeendente, pois a abordagem e ambientação apresentadas nas histórias realmente dá margem a um sem-número de possibilidades.
A premissa é simples: imagine que alguém fez algo que arruinou a sua vida. E se você tivesse uma chance de se vingar? E se um homem misterioso aparecesse com uma maleta contendo uma arma e 100 balas não-rastreáveis, e a garantia de não-interferência das autoridades?
Claro que, dependendo do caso e da pessoa, as atitudes e suas conseqüências nunca seriam as mesmas. E é isso que Azzarello explora, a priori, em arcos curtos que se interligam, formando uma história maior, que vai se revelando gradativamente. Mas mesmo as conexões entre a história de um personagem e de outro não caem no clichê.
Freqüentemente, coisas que pareciam sem importância vão ter uma conseqüência inusitada quando você já havia se esquecido delas. Personagens que tiveram uma pequena participação revelam não ser exatamente o que aparentavam, e personagens que pareciam importantes (e, freqüentemente, por quem você já estava começando a torcer) morrem de uma hora para a outra.
A trama central gira em torno de uma organização secreta, mas eu não vou revelar mais nada sobre isso. Os detalhes são apresentados em conta-gotas, e essa é a parte mais instigante da história. Um mistério real é criado, em meio aos acontecimentos banais. Você passa muito tempo sem saber de absolutamente nada, e quando acha que já está começando a entender, tudo é jogado pelo ralo.
E essa é a característica fundamental que separa 100 Balas de histórias comuns de mistério "monte-o-quebra-cabeças-etc". Coisas ficam sem explicação. Você não vai ter uma resposta pra tudo. É isso que faz com que a série seja tão realista. A vida é caótica. A vida é arbitrária. E por mais que você saiba, você nunca vai ter a resposta para tudo.
Isso e a arte absolutamente foda de Eduardo Risso, que é seguramente um dos artistas mais criativos e versáteis da atualidade. A narrativa dele é sensacional, o traço é preciso e não se esconde atrás de rebuscamentos desnecessários, e ele consegue transmitir uma personalidade e uma aparência distinta até para os personagens secundários. Domínio total de expressões, movimento, luz e sombra, cenários, enquadramento, etc, etc etc e tal.
Um exemplo de página:
"Mi... culo... es mio. Parle-vú eso, cabrones?"
Essa é a Dizzy, quando ela foi pra França. Sim, ela detona.
Muita gente torceu o nariz pras capas do Dave Johnson no começo, mas hoje todo mundo que é pelo menos moderadamente sensato admite que elas cumprem a proposta perfeitamente. São elegantes, impactantes, tem estilo e contam a história. Exatamente como uma capa deve ser.
Isso é básico, na verdade. Valorização do elemento central, impacto, ausência de elementos desnecessários, etc.
Brian Azzarello:
100 Balas é publicado no Brasil desde a primeira edição pela Opera Graphica. Isso é importante, porque significa que você só vai encontrar em lojas do HQ Club. Já está na edição 20, mas é possível encontrar desde o primeiro número.
Como eu tenho uma banca filiada ao HQ Club perto de casa, não faço a mínima idéia de como funcionam possíveis sistemas de encomenda, mas eu tenho a lista de todas as lojas do Brasil onde a série pode ser encontrada, então qualquer dúvida sobre disponibilidade na cidade onde você mora, mande uma mp pra mim.
Vale lembrar que existem bons sites onde você pode encontrar HQs menos acessíveis, mas quem sabe mais sobre isso é o Gildor.
Creio que existe um tópico pra falar desses sites, não? Oh, well.
Bom, fica aí a dica, pra quem por ventura estiver interessado em ler algo decente pra variar.
À parte da brincadeira com fundo de verdade acima, 100 Balas é, entre os regulares publicados hoje no Brasil, a melhor coisa que você vai encontrar por aí em termos de HQ. 100 Balas é como o melhor filme policial que você nunca viu. Tem atmosfera, trama, bons personagens, é ousado, realista e surpreendente.
Nunca houve uma HQ que retratasse de forma tão honesta e livre de estereótipos o mundo do crime e da "periferia". Azzarello escreve personagens negros, hispânicos, gays, traficantes, viciados, prostitutas, mafiosos, etc, etc, etc, e eles nunca parecem estereotipados, como acontece em 99% das vezes que outros roteiristas de HQ tentam fazer o mesmo.
Mas 100 Balas está longe de ser uma história apenas sobre minorias ou marginais. Azzarello traça um paralelo com o crime "pequeno" e o crime organizado, jogando conspirações de organizações secretas na mistura, e fazendo uma história tão cheia de elementos que ele próprio já se surpreendeu
Sim, porque a idéia original era fazer uma minissérie curta, mas a coisa provou ter vida própria, e se tornou algo muito maior. O que não devia ser algo surpeendente, pois a abordagem e ambientação apresentadas nas histórias realmente dá margem a um sem-número de possibilidades.
A premissa é simples: imagine que alguém fez algo que arruinou a sua vida. E se você tivesse uma chance de se vingar? E se um homem misterioso aparecesse com uma maleta contendo uma arma e 100 balas não-rastreáveis, e a garantia de não-interferência das autoridades?
Claro que, dependendo do caso e da pessoa, as atitudes e suas conseqüências nunca seriam as mesmas. E é isso que Azzarello explora, a priori, em arcos curtos que se interligam, formando uma história maior, que vai se revelando gradativamente. Mas mesmo as conexões entre a história de um personagem e de outro não caem no clichê.
Freqüentemente, coisas que pareciam sem importância vão ter uma conseqüência inusitada quando você já havia se esquecido delas. Personagens que tiveram uma pequena participação revelam não ser exatamente o que aparentavam, e personagens que pareciam importantes (e, freqüentemente, por quem você já estava começando a torcer) morrem de uma hora para a outra.
A trama central gira em torno de uma organização secreta, mas eu não vou revelar mais nada sobre isso. Os detalhes são apresentados em conta-gotas, e essa é a parte mais instigante da história. Um mistério real é criado, em meio aos acontecimentos banais. Você passa muito tempo sem saber de absolutamente nada, e quando acha que já está começando a entender, tudo é jogado pelo ralo.
E essa é a característica fundamental que separa 100 Balas de histórias comuns de mistério "monte-o-quebra-cabeças-etc". Coisas ficam sem explicação. Você não vai ter uma resposta pra tudo. É isso que faz com que a série seja tão realista. A vida é caótica. A vida é arbitrária. E por mais que você saiba, você nunca vai ter a resposta para tudo.
Isso e a arte absolutamente foda de Eduardo Risso, que é seguramente um dos artistas mais criativos e versáteis da atualidade. A narrativa dele é sensacional, o traço é preciso e não se esconde atrás de rebuscamentos desnecessários, e ele consegue transmitir uma personalidade e uma aparência distinta até para os personagens secundários. Domínio total de expressões, movimento, luz e sombra, cenários, enquadramento, etc, etc etc e tal.
Um exemplo de página:
"Mi... culo... es mio. Parle-vú eso, cabrones?"
Essa é a Dizzy, quando ela foi pra França. Sim, ela detona.
Muita gente torceu o nariz pras capas do Dave Johnson no começo, mas hoje todo mundo que é pelo menos moderadamente sensato admite que elas cumprem a proposta perfeitamente. São elegantes, impactantes, tem estilo e contam a história. Exatamente como uma capa deve ser.
Isso é básico, na verdade. Valorização do elemento central, impacto, ausência de elementos desnecessários, etc.
Brian Azzarello:
100 Balas é publicado no Brasil desde a primeira edição pela Opera Graphica. Isso é importante, porque significa que você só vai encontrar em lojas do HQ Club. Já está na edição 20, mas é possível encontrar desde o primeiro número.
Como eu tenho uma banca filiada ao HQ Club perto de casa, não faço a mínima idéia de como funcionam possíveis sistemas de encomenda, mas eu tenho a lista de todas as lojas do Brasil onde a série pode ser encontrada, então qualquer dúvida sobre disponibilidade na cidade onde você mora, mande uma mp pra mim.
Vale lembrar que existem bons sites onde você pode encontrar HQs menos acessíveis, mas quem sabe mais sobre isso é o Gildor.
Creio que existe um tópico pra falar desses sites, não? Oh, well.
Bom, fica aí a dica, pra quem por ventura estiver interessado em ler algo decente pra variar.