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Cite um trecho do livro que você está lendo! [Leia o 1º post]

Sempre parecera a Antoine contabilizar sua idade como os cães. Quando tinha sete anos, ele se sentia gasto como um homem de quarenta e nove anos; aos onze, tinha desilusões de um velho de setenta e sete anos. Hoje, aos vinte e cinco, na expectativa de uma vida mais tranquila, Antoine tomou a decisão de cobrir o cérebro com o manto da estupidez. Ele constatara muitas vezes que inteligência é palavra que designa baboseiras bem construídas e lindamente pronunciadas, e que é tão traiçoeira que frequentemente é mais vantajoso ser uma besta que um intelectual consagrado. A inteligência torna a pessoa infeliz, solitária, pobre, enquanto o disfarce de inteligente oferece a imortalidade efêmera do jornal e a admiração dos que acreditam no que leem. (Martin Page, "Como me tornei estúpido", tradução de Carlos Nougué.)

Olha este, @Melian :lol:



O sol brilhava enfim sobre Paris. Os canos de descarga espalhavam seus poluentes como pólens de uma nova era, semeando nos pulmões dos parisienses e dos turistas a futura flora de uma civilização doente. A agonia da vegetação, das árvores e das plantas, tão silenciosa e invisível aos olhos que só veem o que se mexe, tornava-se a norma da vida. Os carros continuavam a inventar o homem novo, que já não teria pernas para passear nos seus sonhos asfaltados, mas rodas. (Martin Page, "Como me tornei estúpido", tradução de Carlos Nougué.)




Esse livro é uma delicinha de engraçado.
 
Sempre parecera a Antoine contabilizar sua idade como os cães. Quando tinha sete anos, ele se sentia gasto como um homem de quarenta e nove anos; aos onze, tinha desilusões de um velho de setenta e sete anos. Hoje, aos vinte e cinco, na expectativa de uma vida mais tranquila, Antoine tomou a decisão de cobrir o cérebro com o manto da estupidez. Ele constatara muitas vezes que inteligência é palavra que designa baboseiras bem construídas e lindamente pronunciadas, e que é tão traiçoeira que frequentemente é mais vantajoso ser uma besta que um intelectual consagrado. A inteligência torna a pessoa infeliz, solitária, pobre, enquanto o disfarce de inteligente oferece a imortalidade efêmera do jornal e a admiração dos que acreditam no que leem. (Martin Page, "Como me tornei estúpido", tradução de Carlos Nougué.)

Olha este, @Melian :lol:



O sol brilhava enfim sobre Paris. Os canos de descarga espalhavam seus poluentes como pólens de uma nova era, semeando nos pulmões dos parisienses e dos turistas a futura flora de uma civilização doente. A agonia da vegetação, das árvores e das plantas, tão silenciosa e invisível aos olhos que só veem o que se mexe, tornava-se a norma da vida. Os carros continuavam a inventar o homem novo, que já não teria pernas para passear nos seus sonhos asfaltados, mas rodas. (Martin Page, "Como me tornei estúpido", tradução de Carlos Nougué.)




Esse livro é uma delicinha de engraçado.
Meio que lembra a nossa conversa de ontem, né? "Eu não aguento mais ser inteligente". :hihihi:
 
Eu tinha um arquivo de Word no qual transcrevi todos os trechos desse livro que achei bonitos e interessantes (ou seja, vários). Mas acho que ficou no PC antigo...

Esse livro é uma delicinha mesmo.
 
Eu tinha um arquivo de Word no qual transcrevi todos os trechos desse livro que achei bonitos e interessantes (ou seja, vários). Mas acho que ficou no PC antigo...

Esse livro é uma delicinha mesmo.
Eu costumava ter listas enormes de músicas favoritas (muitas delas desconhecidas), bandas, artigos que eu li e gostei, autores que eu tinha interesse em ler, etc.
 
Não era um conjugado muito chique e estava até bastante arruinado: o aquecimento, a tubulação, a eletricidade, nada funcionava perfeitamente. E, no entanto, estava muito acima das posses de Antoine. No início, ele podia pagar o aluguel graças ao auxílio-moradia para estudantes e ao seu trabalho de tradução de Em busca do tempo perdido para o aramaico. Mas, depois que o projeto fora abandonado, em seguida à impressionante falência do editor, as suas finanças caíram ao ponto mais baixo. Diante da agonia da sua carteira, ele imaginara um hospital financeiro onde se poderia fazer transfusão para contas bancárias anêmicas. Antoine falara a respeito com o seu banqueiro, mas este parecia considerar o banco como uma clínica privada. (Martin Page, "Como me tornei estúpido", tradução de Carlos Nougué.)
 
"Meu avô sempre obrigava os incapazes a quem dava de comer a fazer algo para arcar com o próprio sustento... Era bastante insignificante e pouco se aproveitava o que aqueles desgraçados sabiam fazer, mas toda a ajuda é bem-vinda em um domicílio de grande porte; o gato pode até aparentar não ter vontade de mais nada além de se lamber, mas logo os ratos tomariam conta se o enforcássemos por sua vaidade..."
— SJÓN, "Pela boca da baleia", tradução de Luciano Dutra
 
[...]Apenas lençóis brancos esvoaçam como aves de arribação por entre o espesso céu de Vila Cacimba.
Talvez seja a espessura desse céu que faz os cacimbeiros sonharem tanto. Sonhar é um modo de mentir à vida, uma vingança contra um destino que é sempre tardio e pouco.

Venenos de Deus, Remédios do Diabo,
Mia Couto.

Uma coisa que gosto no Mia é essa linguagem tenra, poética. Esse eu acabei de ler, e foi meu quarto dele, mas segundo romance (outros dois foram livros de contos). É um livro bem episódico, em geral não me dou muito com livros assim, então foi leitura lenta, mas no final ele deixa uma impressão forte e a saudade dos personagens. Não tão excelente quanto o outro romance dele que li (o Terra Sonâmbula, há muito tempo já, indicado pelo querido @Béla van Tesma , por meio de quem conheci o autor), mas deixou um gostinho de quero mais...
 
Os melhores romances dele, dos que já li (e parei de acompanhar faz uns dez anos, eu acho), foram o Terra Sonâmbula, que você já leu, e o Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra. Dos de contos, O Fio das Missangas. Isso não quer dizer que os outros sejam ruins ou muito fracos. Se bem me lembro, apenas A Varanda do Franjipani achei fraquinho. Acho que é um bom autor pra revisitar a qualquer momento desses, até pra ler os que faltaram e reler os principais. :grinlove:
 
Tô relendo Da poesia (sim, o calhamaço com toda a poesia da Hilda Hilst), porque sou missionária do Evangelho Segundo Hilda Hilst, e, meu Deus! Dos "sonetos que não são", eu sou maluca por este (desde sempre e para todo o sempre. Amém!):

Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha

Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera
(A noite como fera se avizinha)

Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar… se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.

🥰🥰🥰
 
Por isso, se alguém quiser fazer suas necessidades, não há por que se acanhar. Nenhum de nós nasceu tampado. Eu acho que não existe tormento tão grande como a gente segurar. Isso é a única coisa que Júpiter não pode impedir. Você está rindo, Fortunata, você que tem a mania de me fazer perder o sono durante a noite?

Satíricon, 47, trad. Cláudio Aquati, ed. 34, 2021, p. 59
 
Tô relendo Da poesia (sim, o calhamaço com toda a poesia da Hilda Hilst), porque sou missionária do Evangelho Segundo Hilda Hilst, e, meu Deus! Dos "sonetos que não são", eu sou maluca por este (desde sempre e para todo o sempre. Amém!):

Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha

Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera
(A noite como fera se avizinha)

Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar… se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.

🥰🥰🥰
uma vez uma professora de teoria da literatura passou esse poema pra gente analizar... boas memórias, excelente professora ela... e uma lembrança de que tenho de finalmente pedar o Da Poesia e cair dentro.
 
Antigamente ainda faziam uns concursos públicos legais pra revisor de texto; hoje parece que o serviço público aceitou publicar tudo com erros e espera que os assistentes se virem nos 30... :dente: Daí resta ao licenciado em Letras morrer de fome numa escola, ou morrer de facada/tiro numa escola.
 
[...]
Sou obrigado mais uma vez a lembrar de meu exemplo pessoal para dar credibilidade a essas propostas [reforma previdenciária]. Porque as reflexões que você leu aqui vêm de uma pessoa que, desde os 36 anos de idade, renunciou a três aposentadorias a que tinha direito pela atual legislação (de deputado, governador e prefeito). Essas aposentadorias somadas poderiam ter me garantido por todo esse tempo uma renda mensal de mais de R$80 mil. Recusei o direito por considerá-lo imoral. E é por isso que hoje creio ter alguma credibilidade quando falo no compromisso com o fim desses privilégios injustos.

Já o projeto injusto e covarde do atual governo vem de um presidente que é um membro dessa casta de privilegiados do sistema. Ele foi reformado como capitão do Exército aos 33 anos de idade, com direito a remuneração de cerca de R$9 mil, que acumula até hoje com o salário de presidente. Agora pasmem, meus compatriotas: esse mesmo presidente, enquanto busca acabar com o sistema de repartição exatamente para os mais fracos, ao mesmo tempo, acumulou, entre sua eleição para presidente e sua posse, mais uma aposentadoria de deputado de R$33.934,7039 por mês. A soma desses benefícios não estará sujeita ao teto do funcionalismo público, graças a mais uma das várias injustiças do sistema atual, e deve atingir em torno de, curiosamente, os mesmos R$80 mil por mês dos quais eu abri mão há quase trinta anos.
Projeto nacional: o dever da esperança (Ciro Gomes)

Passagens como esta me fizeram terminar o livro profundamente triste.

É um apanhado bem interessante sobre a História de desenvolvimento do Brasil, a situação atual, os potenciais, que levam às propostas... a ideia é nos dar esperança por demonstrar que já fizemos milagres e que ainda há alternativas de projeto para o Brasil se tornar um caso de sucesso... mas aí eu confronto com o que é o debate político atual e o fato de que a maioria do povo chegou a eleger um crápula como o atual, com pretextos que não fazem sentido nem com a própria trajetória dele (e alguns ainda defendem e reiteram o voto!) - e perco qualquer esperança.
 
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