• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

Cite um trecho do livro que você está lendo! [Leia o 1º post]

Que livro fascinante O Retrato de Dorian Gray! Merece a fama. As passagens que eu marquei mais vezes são de Lorde Henry, cujos aforismos exortam um hedonismo extremo e frequentemente repugnante, mas que por vezes fazem a gente pensar. Desde que não nos deixemos influenciar malignamente como ao protagonista da obra, valem alguns momentos de excitação filosófica (mesmo que para discordar). Por exemplo:

"Quanto menos sincero for o homem, mais puramente intelectual será a ideia, pois, nesse caso, não será colorida por sua necessidades, nem por seus desejos, ou preconceitos. Gosto mais de pessoas do que de princípios, e gosto de pessoas sem princípios mais do que qualquer outra coisa na vida".

"A única diferença entre um capricho e uma paixão eterna é que o capricho dura um pouco mais".

"As pessoas gostam de dar aquilo de que elas próprias mais necessitam".

"Quando um homem comete um ato completamente estúpido, sempre o faz inspirado pelos mais nobres motivos".

"Se uma personalidade me fascina, acho deliciosa sua maneira de expressar-se, seja ela qual for".

"Sim, Dorian, você sempre gostará de mim. Significo para você todos os pecados que jamais teve coragem de cometer".

"Talvez uma pessoa nunca se sinta tão à vontade como quando representa um papel"
(aqui já é uma narração psicológica do próprio Dorian, mas nitidamente influenciado por Harry).

"O homem que chama pá a uma pá deveria ser obrigado a usá-la" (exaltação da arte pela arte e desprezo pela literatura realista).
Estou relendo o livro. Lord Henry é muito desagradável, mas é um dos personagens mais marcantes da literatura; acho que quem lê o livro acaba lembrando mais dele que do Dorian. Apesar de eu não gostar do sujeito é inegável que ele rouba a cena toda vez que aparece. É um fanfarrão, gosta de dizer coisas que chocam as pessoas e se contradiz o tempo todo. :lol: Enfim, aqui é o tópico das citações. Gosto da cena em que Henry e Dorian se conhecem.

"Lord Henry looked at him. Yes, he was certainly wonderfully handsome, with his finely-curved scarlet lips, his frank blue eyes, his crisp gold hair. There was something in his face that made one trust him at once. All the candor of youth was there, as well as all youth's passionate purity. One felt that he had kept himself unspotted from the world. No wonder Basil Hallward worshipped him. He was made to be worshipped."
 
"The important thing," Castel replied, "isn't the soundness or otherwise of the argument, but for it to make you think." Rieux, who had said nothing so far, was asked
for his opinion.
"We are dealing," he said, "with a fever of a typhoidal nature, accompanied by
vomiting and buboes. I have incised these buboes and had the pus analyzed; our
laboratory analyst believes he has identified the plague bacillus. But I am bound to add that there are specific modifications that don't quite tally with the classical description of the plague bacillus."
Richard pointed out that this justified a policy of wait-and-see; anyhow, it would be wise to await the statistical report on the series of analyses that had been going on for several days.
"When a microbe," Rieux said, "after a short intermission can quadruple in three days' time the volume of the spleen, can swell the mesenteric ganglia to the size of an orange and give them the consistency of gruel, a policy of wait-and-see is, to say the least of it, unwise. The foci of infection are steadily extending. Judging by the rapidity with which the disease is spreading, it may well, unless we can stop it, kill off half the town before two months are out. That being so, it has small importance whether you call it plague or some rare kind of fever. The important thing is to prevent its killing off half the population of this town."

Albert Camus, The Plague
 
Tudo demora.
E tudo é véspera e nostalgia
Desse Agora, quando tu pensas que tudo se demora.


Hilda Hilst - Júbilo, memória, noviciado da paixão.
 
"Johasen e seus homens desembarcaram em uma barranca lamacenta na monstruosa Acrópole, e escalaram aos tropeções blocos titânicos cobertos de lodo que não poderiam servir de escada para nenhum mortal. O próprio sol no céu parecia distorcido quando visto através do miasma polarizador que subia daquela perversão encharcada pelo mar, e uma ameaça e um suspense sinistro pareciam à espreita naqueles ângulos loucamente elusivos de cavernas rochosas nas quais um segundo olhar revelava concavidade logo após o primeiro sugerir convexidade."

O Chamado de Cthulhu, H. P. Lovecraft.
 
"São os poetas uma espécie de caramujos, ainda mais admiráveis que os outros; pois estes apenas levam consigo a casa, e aqueles nada menos do que um mundo, no qual vivem."
(Guerra dos Mascates - José de Alencar)
 
E além disso, esse povo aí que cuida de política não quer saber de quantos eles tomam e sim quem é que toma deles. Pra eles, ver quem ficou pra trás é o máximo, mas ver alguém na sua frente é a treva. O foda da ambição é isso: não olha pra trás.

Sêneca, Carta 73, trad. minha
 
"Sammael esfregou a cicatriz no rosto, distraidamente. Fora Lews Therin quem lhe impusera aquela marca. Acontecera havia mais de três mil anos, muito antes da Ruptura do Mundo e da prisão do Grande Senhor, antes de muita coisa, mas Sammael jamais se esquecera."
(A Roda do Tempo Vol. 5: As Chamas do Paraíso - Robert Jordan)
 
"O monteiro-mor não apreciava as fazendas, nem os retiros de poetas, nem qualquer lugar que abrigasse o pensamento. O que havia de melhor em seus territórios era um punhado de homens rudes cuja alegria de viver residia na perseguição e na caça. Todos eles, do pai ao filho, mantinham-se absolutamente fiéis ao velho."

(Nos penhascos de mármore, Ernst Jünger)
 
"- (...) Não temos feito outra coisa senão dilapidar um patrimônio que uns chamam de nação, outros de país, ou de pátria. O Brasil vem mentindo para si mesmo a cada hora. E não existe pior elite do que a nossa. Ela condena os fracos e os miseráveis ao extermínio ou ao exílio. O exílio do silêncio e da não participação social. Da privação dos direitos humanos, disse a Venâncio, seu ouvinte diário."

- Nélida Piñon, em "A República dos Sonhos".
 
"Quando lá atrás desfiz meu primeiro casamento, por motivos que não vêm ao caso, minha mulher me chamou de machista e misógino. Falou sem refletir, por estar inconformada, pois conhecendo como ninguém a exata acepção e mesmo a etimologia de cada palavra, ela sabe que não são corretas aquelas que proferiu. Não sou de bater em mulher, nem me dá prazer algum magoar o coração delas. Prefiro as que já vêm magoadas por outro homem; mulheres traídas, por exemplo, mulheres com raiva, a cara quente. Mas nada se compara às esposas que enviúvam ainda jovens e fiéis. Aquelas que se agarram ao caixão fechado, no velório do marido morto em acidente pavoroso. Não posso ver uma foto desses velórios sem pensar em quem será o primeiro a se deitar com a viúva, por quanto tempo ela resistirá, com que confusão de sentimentos se entregará por fim. Mulheres que choram no orgasmo também aprecio. Finjo: está triste?, doeu? Existe mesmo um misterioso elo entre compaixão e perversidade".

(Essa gente, Chico Buarque, p. 18).

Comecei a ler o livro agora, à noite, depois do jogo do Galo e, embora eu esteja no início, já consigo identificar traços da peculiaridade dos narradores do Chico. Acho que já comentei, em outro tópico, que o narrador de Leite Derramado tem muito do narrador de Memórias Póstumas, né? Pois bem, ao que parece, Essa gente também tem um narrador cujo tom é irônico e perverso.

Esse trecho é muito bacana porque é todo construído com base na ironia. Começa com um homem dizendo que sua ex-mulher estava errada ao chamá-lo de machista e misógino. Em seguida, diz-se que essa mulher falou "sem refletir" (pensar criticamente é um atributo concedido aos homens). Depois, ele começa a falar coisas que confirmam que a mulher, cujo discurso ele desmereceu, estava certa. Denegação e perversão.
 
20201229_211517.jpg
"Os Irmãos Karamázov", Dostoiévski.
Estou usando game shark e dando uma roubadinha aqui: não estou lendo o livro; só o folheei a esmo num sebo, ontem, e me deparei com esse trecho. Daí capturei a imagem. :hihihi:
 
-Foi preso?
-Preso, só?! Fui esbordoado, metido numa enxovia,gastei dinheiro...O diabo! E sabe por que tudo isso?
-Não.
-Porque eu apoiava a oposição lá no meu município...É isto a polícia, no Brasil...Eu só posso falar: sou brasileiro...A polícia no Brasil só serve para exercer vinganças, e mais nada.
-Por que não Processou as autoridades, seu Laje?-perguntei
-Qual menino? você é muito ingênuo...

Recordações do escrivão Isaías Caminha - Lima Barreto, 1917

É galera.... pesadão.
 
Estou relendo um “livrinho” que talvez seja o melhor que eu li: “Meditações “ do imperador Marco Aurélio.

Algumas máximas:

“Acolhe a alvorada já dizendo, antecipadamente, para ti mesmo: vou topar com o indiscreto, com o ingrato, com o insolente, com o pérfido, com o invejoso, com o insociável. (...) entretanto (...) não me é possível ser prejudicado por nenhum deles; com efeito, ninguém me envolve com o que é vil”

“Tu próprio vieste como algo que jorra de tal fonte e também de que há para ti um limite definido de tempo que, se não for usado por ti para tranquilizar e fazer perecer teus desequilíbrios, escoará contigo sem retornar “

“Há pessoas que (...) carecem de uma meta para a qual nem sequer dirigem uma vez seus desejos e idéias “

“Aquele que não acompanha de perto os movimentos de sua alma é necessariamente infeliz”

“Considerando que é possível tu deixares está vida a qualquer momento, administra cada ato, palavra e pensamento em consonância com isso “

“considera como é com que parte de si o ser humano toca a divindade e quando e como , sobretudo, essa parte do ser humano está disposta no divino “

“o presente é tudo de que se pode ser privado: afinal, tudo o que se tem é presente, e a perda daquilo que não se possui é impossível “

“tudo não passa de opinião “

“Não ajas como se estivesse destinado a viver 10 mil anos. A fatalidade está em seu encalço, é melhor que se apresse”

“habitua-se a pensar somente naquilo que, se alguém te perguntar de repente o que está pensando, possas responder com total franqueza e de imediato. (...) isso sem ceder em absoluto e Laos prazeres e as fantasias voluptuosas, ou por quaisquer outras coisas cuja revelação te faria enrubescer. Um homem com esse perfil, que a partir de então não poupa nenhum esforço para se colocar entre os melhores, é um sacerdote e servidor dos deuses, igualmente devotado ao serviço daquele que edificou nele sua morada;graças a esse culto, essa pessoa se mantém não contaminada pelos prazeres, invulnerável a todo sofrimento, livre de todo excesso, indiferente a toda maldade; um atleta da mais nobre das lutas, capaz de não se deixar vencer por quaisquer paixões, profundamente mergulhado na justiça; alguém que aceita com toda sua alma tudo o que acontece o lote que lhe cabe (...)”

“além disso, permite que o Deus que existe em ti te comande e encontre em ti um homem “

“É necessário portanto ser correto, não ser corrigido “

“não viverá nem se apegando a vida, nem fugindo dela”

“Nada de humano realizarás bem sem que, simultaneamente, se relacione com o divino, tampouco o oposto “

enfim, esse livro é uma obra prima, repleto de grandes pensamentos, que nos mostram o quanto somos pequenos.

poderia citar mais algumas máximas, mas estou morrendo de sono.

recomendo muito o livro, é pequeno como uma revista, mas você vai demorar para ler porque a capacidade de síntese de Marco Aurélio é muito grande, e cada parágrafo tem muito conteúdo condensado.

mas da pra ler. Acessível a qualquer um.

leiam e reflitam.

vocês perceberão que pensar dói e que a leitura começa após se fecho livro. Pode parecer piegas, mas é verdade.

boa leitura!
 
Mimnermo, fragmento n° 2, trad. Leonardo Antunes (de uma apostila da faculdade):

Somos semelhos às folhas que nascem na flórea estação
Primaveril, a crescer junto do brilho do sol.
Na florescência dos anos mais tenros, assim como elas
Temos deleite sem ver, vindo dos deuses, o mal
Ou mesmo o bem. Mas as Queres escuras se põem junto a nós:
Uma sustém como fim a dolorosa velhice;
Outra traz morte consigo. São breves os frutos nascidos
Da juventude: tão só duram enquanto ainda há sol.
Mas, ao chegar o momento de troca do fim da estação,
Logo, de fato, morrer vale bem mais que viver
Pois vêm ao ânimo inúmeros males. Às vezes a casa
Vai à ruína e então vive-se em dura pobreza;
Ou se carece de filhos e assim anelando por eles
Sobremaneira se vai às profundezas do Hades;
Ou a doença destrói-o no ânimo. Dentre os mortais,
Não há alguém a quem Zeus não dê inúmeros males.
 
— Como eu disse antes, Rafa: que dia terrível! Veja só – apontou para uma das flechas –, essa aqui quase encostou na borda do círculo. Estou ficando velho mesmo...

— Tens sorte com as flechas, isso não posso negar! – Rafael olhou com admiração para o companheiro, mas não deu o braço a torcer.

— Sorte? Acho que sim. Talvez. Na verdade, acho que descobri uma coisa interessante sobre a sorte – Gabriel falou, já batendo as asas em direção ao General. Rafael o escutava com satisfação. – Quanto mais eu treino, mais sorte tenho nos disparos! Não é impressionante?

A Redenção do Anjo Caído (Fábio Baptista)

Preciso treinar a minha sorte ⇀_⇀
 
"E assim é tudo nela; de contraste em contraste, mudando a cada instante, sua
existência tem a constância da volubilidade. Na vaga flutuação dessa alma, como no seio da onda, se desenha o mundo que a cerca; a sombra apaga a luz; uma forma devanece a outra; ela é a imagem de tudo, menos de si própria."
(Til - José de Alencar)
 
"Na velhice, não vale retificar ou corrigir o que se pensou. Isto posto, por pura insolvência emocional, bendigo as palavras profanas que despejei no mundo."

- Nélida Piñon, em seu novo romance Um Dia Chegarei a Sagres.
 

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.434,79
Termina em:
Back
Topo