Muito interessante você ter levantado a questão do conhecimento "total" de Eru. Bom, aqui não é lugar para discutir os 3 "onis" de Deus, e nem desejo fazê-lo, mas você realmente você levantou um ponto interessante. De fato, em Arda, a palavra de Tolkien sobre o assunto é a lei, e por muitas vezes ele deixa bem claro que Eru sabia tudo o que foi, o que é e o que virá a ser. Retiro aquela minha afirmativa acima que, creio eu, deixou a entender que poderia haver um conhecimento superior ao de Eru. Em Arda, Eru era onisciente.
Mas (agora vem o meu "mas", sorry) ao mesmo tempo em que se aceita que Eru sabia tudo o que virá a ser, tem que ser aceita também a idéia de que Eru saberia exatamente o que Melkor faria com os dons que lhe foram dados, e mesmo assim decidiu dar tais poderes ao seu filho mais poderoso. Eu não sei se estou sendo claro, mas basicamente é o seguinte: O livre-arbítrio de Melkor estava condicionado ao livre-arbítrio de Eru ao dar-lhe tais poderes. Melkor não poderia ter agido de outra forma, pois Eru já sabia que ele se tornaria assim, e mesmo assim decidiu dar-lhe os meios para que cometesse as atrocidades contra seus irmãos e os filhos.
As profecias e o livre-arbítrio andam em caminhos opostos. Tolkien escolheu as Profecias. Portanto, creio que é prudente desconfiar muito do livre-arbítrio quando tratamos dos Valar.
Abraços.
Pra variar, eu tenho pontos a discordar, Aldamar. ehehe
Eu penso sim que Eru teria conhecimento de todas as atitudes que Melkor, ou qualquer outro ser, teria, visto que tudo nasceu de seu pensamento.
Porém, não vejo essa ligação que você colocou de que o livre-arbítrio de Melkor estaria necessariamente predeterminado; até porque, deixaria de ser livre-arbítrio. Creio que ele poderia sim ter agido de outra forma, se ele tivesse escolhido o caminho do "bem" e não o do "mal". Ele se deixou levar por suas amarguras, porque quis. Eru, frente às características e poderes que deu a Melkor, sabia da possibilidade de caminhos que este poderia seguir, mas aí que entra o livre-arbítrio, da forma que citei no meu post anterior. O próprio Eru disse que os Ainur poderiam seguir suas vontades.
Nossas mães (ou alguém) nos criam, e elas não podem ser culpadas pelas nossas atitudes durante a maior idade pois temos o livre arbítrio.
O mesmo acontece com Eru, criou Melkor, mas Melkor não é parte de Eru, mas sim parte de sua criação, mas quando você cria algo que pensa por si só você corre esses riscos.
Exatamente, Angelo. A partir do momento em que você cria algo e lhe dá poder de escolha, você não está mais sujeito a decidir por que caminhos ele seguirá. Você lhe deu os "instrumentos", digamos assim, e fica para ele a decisão de quais usar e de que forma.
Eu sempre levo essa questão ao lado real, pois foi de onde Tolkien tirou essa idéia, como cristão.
Deus/Eru, como criador, sabe o que é , o que foi e o que será e conhece o destino e as consequências das ações de suas criaturas. Assim como Deus nos dá o livre-arbítrio pra fazer uma escolha conforme o que acreditamos, as conseqüências dessa escolha já estão na mente de Deus, mas ele não interfere e nossas escolhas não são predeterminadas por Ele. É exatamente nisso que eu acredito quando penso em Eru e sua criação.
Ele deu a cada um, um pedaço de si (assim como somos reflexos de Deus e estamos nEle), mas a escolha dos Valar, Ainur, Eruhin, (insira aqui qualquer criatura) não está predeterminada por Eru e ele não interfere em todas as ações de suas criaturas. Os valar que estavam escolheram ir pra Arda não foram pré-escolhidos por Eru. Ele deu a opção para todos os Ainur, e muitos não foram, mas ele não predeterminou quem ia e quem não ia, ele deixou os Ainur escolherem se queriam ir ou não.
E eles foram motivados pela sua crença. Cada Ainu tinha uma personalidade e todos juntos faziam parte de Eru, pois foram criados por ele. (E assim somos nós, humanos, diferentes e partes do mesmo Deus).
Cabia a cada vala escolher se seria fiel ao seu Criador, e Melkor, sendo o de maior compreensão entre seus irmãos, desejou pra ele a chama da criação. É óbvio que Eru sabia dessa possibilidade e acho que assim como Melkor desejou o lugar de Eru, outros ainur podiam ter desejado, mas eles foram fiéis ao Criador e não ousaram quanto Melkor.
É dai que vem minha interpretação que até as más ações vêm para a glória de Eru. (Assim como a mais vil criatura humana e suas ações resultam em glória para Deus, pois tudo faz parte dele, o bem e o mal, o certo e o errado) e tudo que Melkor fez, por fim, nada mais trouxe do que glórias a Eru.
Por isso não o considero uma má criatura e não acho que Eru predeterminava as escolhas (ou escolhia o destino) de cada Vala. Acho que cada um tinha o poder de escolher e a maioria escolheu ser fiel ao Criador. Por esse motivo o conceito de mal relacionado a Melkor.
Eu gostei muito do que você escreveu, Cami, embora eu não goste de usar a palavra destino, pois pode passar a idéia de algo já pré-determinado. Mas você mesma já mudou esse conceito depois quando falou que Deus/Eru não interfere nas escolhas.
Eru possibilitou que cada um pudesse seguir o caminho que considerasse melhor, independente do resultado que isso iria causar, de forma que cada um arcaria com suas consequências depois.
Não enxergo Melkor como um ser mau. Acredito que nele deveria ter, assim como em qualquer um, o lado bom e o lado ruim. E cabe a cada um decidir por qual lado tomar suas decisões. Melkor tinha muito poder, compreendia muito as coisas, mas não se contentou e passou a se sentir rancoroso diante da criação alheia, se deixando dominar e se tornando rebelde. Enquanto seus irmãos tinham uma compreensão menor, inclusive da maldade, eram "ingênuos" a princípio, de forma que não conseguiram ajudar Melkor. Eru, porém, interferiu um pouco nessa "grandiosidade" de Melkor quando lhe disse que ele era poderoso mas que devia seguir a Música. Mas tanto Melkor tinha livre-arbítrio que não deu ouvidos a Eru e cada vez mais se afundava em inveja, amargura, de forma que ele próprio se corrompeu. Eru, enquanto criador, não iria mais interferir, e tampouco deve ser culpado pelas atrocidades que Melkor cometeu.