Criei esse tópico para tratar do tema da evolução da escrita do Quenta Silmarillion. Eu acho que isso ajuda a compreendermos melhor o texto. Sabendo em que época e sob que inflluências o texto foi escrito nos ajuda a entender por que os textos são assim, e solucionarmos possíveis contradições.
Ah, é bom pra quem quer saber um pouco mais do conteúdo dos HMe, pois os textos citados aqui estão presentes lá.
Desculpem se eu errar algo. Me faltam dois volumes dos HMe, o III e o IV, se tiver algo errado me corrijam.
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A Terra-média começou por volta de 1916, quando Tolkien escreveu o texto A Queda de Gondolin, primeiro texto ambientado na Terra-média. Nele vemos surgir as primeiras concepções da mitologia tolkieniana: Gondolin, os elfos, balrogs, Melkor (chamado de Melko), os Valar, Tuor e algumas outras coisas.
Mas temos que notar que muitas dessas concepções eram diferentes das atuais: os Balrogs, por exemplo, eram demônios criados por Melko e eram muito menos poderosos.
Esse texto é o único relato detalhado que temos da Queda de Gondolin.
Tolkien começa então a escrever o The Book of Lost Tales, o germe do Silmarillion.
Um dos aspectos em que o Lost Tales se afasta do Silmarillion é o seguinte: o livro não se preocupa em relatar apenas a história dos Elfos: ele relata também como essas histórias chegaram até nós. O primeiro dos contos, The Cottage of Lost Play narra como o marinheiro humano Eriol consegue chegar a Tol Eressëa e ouve lá as histórias dos Elfos. Eriol ouve os contos ao mesmo tempo que nós; nós ouvimos o que ele ouve. Assim, temos os contos The Music of Ainur, The Tale of the Sun and of the Moon, The Chaining of Melko, The Tale of Tinúviel, The Fall of Gondolin e por aí vai. Vou citar algumas diferenças do Lost Tales para o Silmarillion atual (não vou citar mudanças nos nomes, elas são muito extensas:
Na década de 1920, Tolkien deixou de lado as narrativas em prosa e entrou de cabeça nas narrativas em verso. Escreveu, em grandes poemas, as histórias de Túrin e de Beren e Lúthien. Mas deixou os poemas um tempo depois.
No começo da década de 1930, Tolkien escreveu o texto Scketch of the Mythology, "Rascunho da Mitologia". Esse texto é um resumo em algumas páginas da mitologia que ele tinha em mente então. Vemos agora um Silmarillion ainda diferente, mas bem mais próximo do atual.
Tolkien escreveu nessa época o Qenta Noldorinwa, o Qenta , "A História do Noldor", uma versão bem antiga do Silmarillion, o sucessor do The Book of Lost Tales. Essa é a única versão completa que temos do Silmarillion.
É dessa mesma época as primeiras versões dos Anais de Valinor e dos Anais de Beleriand, uma espécie de "Conto dos Anos" da Primeira Era.
Foi também na década de 1930 que surgiram as primeiras versões da história de Númenor, inexistente até então; mas não me alongarei nesse ponto.
Em 1937 Tolkien começou a reescrever (de novo!) o Silmarillion, que passou a ser chamado de Quenta Silmarillion. Mas deixou-o inacabado, na história de Túrin. A partir desse ponto só ha rascunhos de como seria o desenvolvimento da história. Foi essa versão que ele apresentou ao seu editor, no fim de 1937, e que foi recusada.
Uma característica tanto dessa versão quanto a anterior, o Quenta Noldorinwa é de serem bem curtas. O Quenta de 1937 ocupa, na minha edição do HMe V, as páginas 199-338, incluindo os comentários de Christopher!
No finzinho de 1937, Tolkien abandonou o Silmarillion para começar a escrever o Senhor dos Anéis. Mas como estamos tratando só do Silmarillion aqui, vamos pular essa parte.
No começo da década de 50, Tolkien voltou à Primeira Era e começou a reescrever o Silmarillion para uma possível publicação. No começo apenas modificou o Quenta de 1937, fazendo anotações no texto, mas logo começou a reescrever o Silmarillion totalmente novo, desde o começo. Esse Silmarillion (chamado pelo Christopher de Later Quenta Silmarillion) é bem mais extenso que as versões anteriores. Tolkien começou nessa época uma completa reforma da cosmogonia de Arda. O texto nunca foi completado, terminando depois da morte de Fingolfin.
São dessa época também os textos The Annals of Aman (que trata dos acontecimentos de Valinor) e The Grey Annals (que trata dos acontecimentos de Beleriand). O primeiro está completo, o segundo acaba logo depois da morte de Túrin.
Uma característica de ambos os anais é que, embora no começo tragam apenas a data e um resumo sumário dos fatos, mais para o fim os anais vão virando uma narrativa bem mais detalhada (como exemplo, o capítulo XXI do Silmarillion foi praticamente retirado todo do Grey Annals!).
O Silmarillion que conhecemos foi quase inteiramente retirado desses textos (o Later Quenta e os anais de Aman e Cinzentos).
Na década de 50, Tolkien procurava "cristianizar" mais a sua mitologia, mudá-la para se adaptar mais à teologia católica. Vemos alguns textos de caráter bem teológico, como o Athrabeth Finrod ah Andreth.
Na década de 1950, Tolkien praticamente abandonou as narrativas mais extensas, se concentrando em pequenos textos e ensaios. São dessa época os textos Glorfindel, O Desastre dos Campos de Lis, As Batalhas dos Vaus do Isen, Tar-Elmar, The New Shadow, dentre outros.
E ele morre sem publicar o livro que tanto sonhou...
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E então, gostaram? Dúvidas, só me perguntar, que se eu souber eu respondo!
É claro que esse é só um pequeno resumo com os principais trabalhos. Muitos textos ficaram de fora.
Ah, é bom pra quem quer saber um pouco mais do conteúdo dos HMe, pois os textos citados aqui estão presentes lá.
Desculpem se eu errar algo. Me faltam dois volumes dos HMe, o III e o IV, se tiver algo errado me corrijam.
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A Terra-média começou por volta de 1916, quando Tolkien escreveu o texto A Queda de Gondolin, primeiro texto ambientado na Terra-média. Nele vemos surgir as primeiras concepções da mitologia tolkieniana: Gondolin, os elfos, balrogs, Melkor (chamado de Melko), os Valar, Tuor e algumas outras coisas.
Mas temos que notar que muitas dessas concepções eram diferentes das atuais: os Balrogs, por exemplo, eram demônios criados por Melko e eram muito menos poderosos.
Esse texto é o único relato detalhado que temos da Queda de Gondolin.
Tolkien começa então a escrever o The Book of Lost Tales, o germe do Silmarillion.
Um dos aspectos em que o Lost Tales se afasta do Silmarillion é o seguinte: o livro não se preocupa em relatar apenas a história dos Elfos: ele relata também como essas histórias chegaram até nós. O primeiro dos contos, The Cottage of Lost Play narra como o marinheiro humano Eriol consegue chegar a Tol Eressëa e ouve lá as histórias dos Elfos. Eriol ouve os contos ao mesmo tempo que nós; nós ouvimos o que ele ouve. Assim, temos os contos The Music of Ainur, The Tale of the Sun and of the Moon, The Chaining of Melko, The Tale of Tinúviel, The Fall of Gondolin e por aí vai. Vou citar algumas diferenças do Lost Tales para o Silmarillion atual (não vou citar mudanças nos nomes, elas são muito extensas:
- Beren era um homem; depois a história foi mudada e ele "virou Ellfo". E depois, "virou" homem de novo!
- Os Valar tinham filhos (Oromë, por exemplo, era filho de Yavanna);
- A concepção dos Maiar não estava inteiramente formada;
- Os contos de um modo geral são bem mais detalhados;
- Turambar, após matar Beleg, lhe lasca um beijo na boca;
- Existiam dois Valar em Valinor, Makar e Meássë, que "tomavam o partido" de Melko em algumas situações (não chegaram exatamente a passar para o lado dele).
Na década de 1920, Tolkien deixou de lado as narrativas em prosa e entrou de cabeça nas narrativas em verso. Escreveu, em grandes poemas, as histórias de Túrin e de Beren e Lúthien. Mas deixou os poemas um tempo depois.
No começo da década de 1930, Tolkien escreveu o texto Scketch of the Mythology, "Rascunho da Mitologia". Esse texto é um resumo em algumas páginas da mitologia que ele tinha em mente então. Vemos agora um Silmarillion ainda diferente, mas bem mais próximo do atual.
Tolkien escreveu nessa época o Qenta Noldorinwa, o Qenta , "A História do Noldor", uma versão bem antiga do Silmarillion, o sucessor do The Book of Lost Tales. Essa é a única versão completa que temos do Silmarillion.
É dessa mesma época as primeiras versões dos Anais de Valinor e dos Anais de Beleriand, uma espécie de "Conto dos Anos" da Primeira Era.
Foi também na década de 1930 que surgiram as primeiras versões da história de Númenor, inexistente até então; mas não me alongarei nesse ponto.
Em 1937 Tolkien começou a reescrever (de novo!) o Silmarillion, que passou a ser chamado de Quenta Silmarillion. Mas deixou-o inacabado, na história de Túrin. A partir desse ponto só ha rascunhos de como seria o desenvolvimento da história. Foi essa versão que ele apresentou ao seu editor, no fim de 1937, e que foi recusada.
Uma característica tanto dessa versão quanto a anterior, o Quenta Noldorinwa é de serem bem curtas. O Quenta de 1937 ocupa, na minha edição do HMe V, as páginas 199-338, incluindo os comentários de Christopher!
No finzinho de 1937, Tolkien abandonou o Silmarillion para começar a escrever o Senhor dos Anéis. Mas como estamos tratando só do Silmarillion aqui, vamos pular essa parte.
No começo da década de 50, Tolkien voltou à Primeira Era e começou a reescrever o Silmarillion para uma possível publicação. No começo apenas modificou o Quenta de 1937, fazendo anotações no texto, mas logo começou a reescrever o Silmarillion totalmente novo, desde o começo. Esse Silmarillion (chamado pelo Christopher de Later Quenta Silmarillion) é bem mais extenso que as versões anteriores. Tolkien começou nessa época uma completa reforma da cosmogonia de Arda. O texto nunca foi completado, terminando depois da morte de Fingolfin.
São dessa época também os textos The Annals of Aman (que trata dos acontecimentos de Valinor) e The Grey Annals (que trata dos acontecimentos de Beleriand). O primeiro está completo, o segundo acaba logo depois da morte de Túrin.
Uma característica de ambos os anais é que, embora no começo tragam apenas a data e um resumo sumário dos fatos, mais para o fim os anais vão virando uma narrativa bem mais detalhada (como exemplo, o capítulo XXI do Silmarillion foi praticamente retirado todo do Grey Annals!).
O Silmarillion que conhecemos foi quase inteiramente retirado desses textos (o Later Quenta e os anais de Aman e Cinzentos).
Na década de 50, Tolkien procurava "cristianizar" mais a sua mitologia, mudá-la para se adaptar mais à teologia católica. Vemos alguns textos de caráter bem teológico, como o Athrabeth Finrod ah Andreth.
Na década de 1950, Tolkien praticamente abandonou as narrativas mais extensas, se concentrando em pequenos textos e ensaios. São dessa época os textos Glorfindel, O Desastre dos Campos de Lis, As Batalhas dos Vaus do Isen, Tar-Elmar, The New Shadow, dentre outros.
E ele morre sem publicar o livro que tanto sonhou...
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E então, gostaram? Dúvidas, só me perguntar, que se eu souber eu respondo!
É claro que esse é só um pequeno resumo com os principais trabalhos. Muitos textos ficaram de fora.
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