Toda vez em que vejo a série acabo encontrando referências diferentes, principalmente nos Ovas. Tem uma cena logo no primeiro episódio em que há toda uma seqüência de ataques contra o Shinma da menina doente e que é coreografada com um monte de detalhes como se estivesse copiando de algum livro. Ainda estou para interpretar todos os gestos mas são muitos e não é todo anime (mesmo entre os antigos) que tem tanto enfoque que vai do psicológico ao sobrenatural. Acho que dos animes recentes só Kara no Kyokai se aproxima, mas acaba indo para um lado mais detetivesco.
Impressiona o fato de a animação nos Ovas ser apresentada através dos olhos da médium.
No episódio 01 começa com o cenário clareando quando a espiritualista tira os óculos escuros. Eu me pergunto quantos pequenos gestos como esse foram programados pela produção... A seguir, durante a visita na mansão da menina o cenário intercala entre imagens de deterioração física comum do prédio com deterioração espiritual como se a casa inteira mudasse de forma adquirindo aparência do interior da barriga de um monstro gigante e ela tivesse sido engolida e se encontrasse em meio as vísceras e energias escuras de um ambiente anormalmente vivo e assombrado. É um suspense que se instala pelo silêncio e não depende em nada de explosões de poderes, é muito mais latente, vaporoso, difícil de detectar mas que evoca emoções impregnadas. Por sinal o título em inglês remete a uma ameaça não mundana (unearthly).
Logo em seguida, no episódio 02, a seqüência de movimentos gestuais de Miyu e Larva para selar a entidade é ainda mais complexa do que no episódio 01 porque mistura também teatro tradicional com transformações e transições transparentes. Dessa vez a espiritualista novamente é engolida por uma dimensão paralela em busca de saber mais da vampira. A relação é de distância nos episódios, embora Miyu pareça nutrir cada vez mais uma curiosidade com a mulher. Nesses encontros, não apenas o tempo, mas o espaço também são paralisados como uma característica inerente ao poder da linhagem de Miyu.
O episódio 03 é rodado praticamente em 3 cores (branco, preto e vermelho), construído ele todo estilizado como fotografia em preto e branco a exceção dos personagens (que recebem algum colorido esmaecido) gerando contraste fantasmagórico e nostálgico, como se estivessem debatendo em algum rincão da memória no passado japonês. Algumas cenas são muito belas, principalmente da médium tomando chá sentada num banco debaixo de um para-sol vermelho. Nesse momento, enquanto a neve cai suavemente (e a neve reforça ainda mais a atmosfera de magia) a presença de Miyu é apenas insinuada, como um campo que se expande dentro da periferia da visão da espiritualista. E então já não sabemos se estamos dentro da percepção da médium ou no mundo de Miyu (uma espécie de mundo da memória aonde habitam também as almas das pessoas que já se foram).
O episódio 04 começa com algumas linhas muito interessantes da médium sobre a existência das capitais antigas de cada região do Japão em relação às novas. Nesse episódio o contato telepático ou conexão com Miyu despeja na espiritualista toda a lembrança do passado.
É um anime cheio de atmosfera e um prato cheio pra quem não dorme no ponto com referências. Vale assistir.