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Tópico Polêmico: Guimarães Rosa não é um bom escritor

Eu já ganhei a do Matheus Spier. É a tática do Primo Altamirando - Mirinho, para os íntimos.

Segundo Stanislaw, Mirinho diz que ninguém gosta de explicar nada pra ninguém. As pessoas, sim, gostam de provar que estão certas. Então, se você quiser realmente aprender algo, discorde de algum especialista com argumentos absurdos (não estou dizendo que é o caso, Matheus. Nunca li Guimarães e nem entendo das nuances literárias e linguísticas, portanto não opino).

Pra quem não conhece o método, vai da fonte:

" Condição imprescindível: manter sempre nos lábio um sorriso leve, um quase imperceptível sorriso de superioridade (...). Outra: considerar uma besteira tudo aquilo que pondera a pessoa com quem se discute (...). Outro truque importante: manter aparente serenidade, para deixar o adversário confuso (...)
Por exemplo: a gente, em matéria de alimentação, está mais por fora que dedão em tamanco. No entanto, comendo conosco, na mesma mesa, está um técnico no assunto. Muito bem - diz Mirinho - eis a oportunidade para aprender algo sobre a matéria. Quem quiser aprender, é só provocar uma discussão. Basta que se diga uma besteira qualquer sobre proteínas que o entendido protesta. A gente diz assim:
- Me dá mais um pouco de farofa aí, porque estou precisando de proteínas.
Está armada a discussão (...) É hora então de usar aqueles requisitos expostos no primeiro tópico: ironia, descrença, superioridade, etc. Num instante se aprende tudo o que se quer aprender (...)"

Da discussão nasce a luz, Stanislaw Ponte Preta
 
Uma coisa é certa, Cantona (Cantona é muito legal! Aquela porrada no torcedor foi demais:):

eu realmente estou aprendendo muito: todo mundo aqui tem horas e horas de leitura e escrita no currículo, e por isso sinto que estou recebendo várias perspectivas e pontos-de-vista que eu jamais tinha vislumbrado. Também gosto muito de ouvir o nome das fontes que o pessoal cita (são novas ideias de livros para comprar e ler).

Eu apenas espero que o pessoal também tenha lucrado tanto com a discussão quanto eu lucrei.

Abração, amigo.
 
Ah! Sim, Tolstói odiava Shakespeare, é verdade.
Bem...primeiramente devo dizer que aprecio Tolstói como escritor, não como crítico, líder religoso, filósofo, historiador, e mesmo como pessoa (ele era tremendamente arrogante e egocêntrico, algo apontado por Paul Johnson em "Os Intelectuais", e algo claramente perceptível para quem lê os seus diários).

Mas sobre seu ódio de Shakespeare, eis as razões que acredito que o motivem:

1)As opiniões de Tolstói sobre a arte eram muito estranhas; ele vivia querendo misturar a arte com benefícios sociais, e coisas como essa. Seu livro "O que é Arte" critica não só Shakespeare, mas também Bach, Beethoven e Dante. Ou seja: ele era bastante polêmico em relação a arte.

2) Tolstói gostava de arte que fosse realista. Ele próprio buscava o realismo extremo (e acho que seus personagens são alguns dos mais semelhantes a pessoas reais que a literatura já produziu). Shakespeare (e Dostoiévski) o desagradavam por que seus personagens falavam de forma completamente não-natural. Outra coisa que o irritava era que muitos dos personagens de Shakespeare falavam de forma parecida (o bardo nem sempre individualizava todas as pessoas em suas peças; ele se valia muitas vezes de uma forma comum e geral de verso, que podia ser empregada por todos os falantes de uma mesma peça).

3)Tolstói, como ser humano, não era alheio as emoções que todos nós temos. Como egocêntrico que era, ele não admitia que outros artistas fossem colocados como superiores a ele, ou mesmo de seu próprio nível (ele não gostava que disessem que Dostoiévski era seu irmão em grandeza). Pois bem: segundo biografos dele que consultei, ele odiava a posição que Shakespeare tinha como de escritor supremo, e por isso o odiava. É como se ele sentisse que em Shakespeare existia um dos poucos escritores que podiam competir com ele em matéria de grandeza. Ora, a inveja é algo muito humano, e não me parece que Tolstói fosse alheio a ela.

4) As obras de Shakespeare, segundo Tolstói, retratavam os ricos e poderosos como dignos, como modelos, ao passo que pessoas do povo eram apresentadas como clowns risíveis e grosseiros. Ele odiava essa visão conservadora, e isso o fazia odiar Shakespeare.


5) Shakespeare, em sua obra, não parece ter religião alguma, ou crer em qualquer filosofia. A cada obra ele muda sua visão de mundo, e jamais busca afirmar verdade divinas e gerais. Tolstói não gostava dessa falta de quaisquer crenças.

Eis, portanto, algumas das razões para esse ódio de Tolstói por Shakespeare. Acho que o ponto principal, porém, é o de nº 2: as falas artificiais e retóricas com as quais as pessoas em Shakespeare se expressam.

Mas acho que isso é comum entre escritores: uns não gostarem da obra de outros, e não conseguirem entender como existem pessoas que louvam esses outros.

Abração.

Então era nessa linha de raciocínio que eu queria chegar. Você estava usando os mesmos motivos pelos quais disse que o Tolstoi usava para criticar o Shake e resumindo a literatura em apenas narrativa.

Outro argumento inválido é dizer que Shakespeare e Tolstoi escreviam para grandes massas. Creio que naquela época era bastante comum o analfabetismo. Então o público consenquentemente era bem reduzido.
Uma pena isso, pois imagina o tanto de histórias que foram passadas apenas de forma oral e foram esquecidas com o tempo.
Aliás isso me lembrou outro cara que condenariam a todos os outros escritores, um daqueles caras antigos que me fugiu o nome e condenava toda forma de escrita, pois segundo ele isso tornava o dialógo pobre e a retórica medíocre. Então se hoje não conversamos conforme os livros a culpa é disso! :lol
 
:rofl: Nossa, ri demais com a 'crítica'. E, bem, nem li Rosa (mea culpa, mea culpa, purga me Domine), mas conforme fui lendo o post inicial do user polemicão, já sabia do que se tratava. Quando ele falou do Picasso, aí que peguei mesmo.

É a clássica revolta do tradicional perante o vanguardista na arte. Despreza-se todos os referenciais culturais em que se ambientam e se baseiam os autores na construção de seu texto para isolá-los em universos fechados, onde, independente de qualquer coisa, se podem fazer essas comparações estapafúrdias baseadas em preconceitos e leituras descontextualizadas.

Engraçado que os modernos adoram fazer isso contra os clássicos. Aqui parece algo novo: modernos contra pós-modernos, perdendo de vista o fio condutor que ligava a ambos.
 
:rofl: Nossa, ri demais com a 'crítica'. E, bem, nem li Rosa (mea culpa, mea culpa, purga me Domine), mas conforme fui lendo o post inicial do user polemicão, já sabia do que se tratava. Quando ele falou do Picasso, aí que peguei mesmo.

É a clássica revolta do tradicional perante o vanguardista na arte. Despreza-se todos os referenciais culturais em que se ambientam e se baseiam os autores na construção de seu texto para isolá-los em universos fechados, onde, independente de qualquer coisa, se podem fazer essas comparações estapafúrdias baseadas em preconceitos e leituras descontextualizadas.

Engraçado que os modernos adoram fazer isso contra os clássicos. Aqui parece algo novo: modernos contra pós-modernos, perdendo de vista o fio condutor que ligava a ambos.

Confesso que eu mesmo via com maus olhos os "pós-modernos", mas daí comecei a ler mais sobre o assunto e percebi que havia feito um julgamento errôneo sobre a(s) "proposta(s)" dos pós-modernos. Na verdade, você percebe que a crítica que se faz ao pós-modernismo é uma repetição da crítica que se fazia a qualquer outro "movimento" ou "proposta vanguardista". Logo, é preciso acalmar os ânimos e prestar atenção nos pontos que você quer criticar pois, do contrário, você pode muito bem estar falando mal de algo com que você simpatiza mas que vem com outro nome ou roupagem - por exemplo: criticar romances que desconstroem mitos e tropos ("O Cavaleiro Inexistente", "O Bom Jesus e o Infame Cristo", etc.) mas amar "Dom Quixote". :P
 
Valeu Carol. Fico feliz com essa migração toda. Agora me sinto inteiramente em casa novamente.

Quanto ao tópico, ainda não li. Mas parece ser uma piada.
 
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Feliz aniversário, Matt. Muito Gui Rosa na sua vida. Abs.
 

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Então era nessa linha de raciocínio que eu queria chegar. Você estava usando os mesmos motivos pelos quais disse que o Tolstoi usava para criticar o Shake e resumindo a literatura em apenas narrativa.Outro argumento inválido é dizer que Shakespeare e Tolstoi escreviam para grandes massas. Creio que naquela época era bastante comum o analfabetismo. Então o público consenquentemente era bem reduzido.Uma pena isso, pois imagina o tanto de histórias que foram passadas apenas de forma oral e foram esquecidas com o tempo.Aliás isso me lembrou outro cara que condenariam a todos os outros escritores, um daqueles caras antigos que me fugiu o nome e condenava toda forma de escrita, pois segundo ele isso tornava o dialógo pobre e a retórica medíocre. Então se hoje não conversamos conforme os livros a culpa é disso! :lol
Creio que está referindo-se à Sócrates, talvez? Platão escreveu uma história atribuida à Sócrates, um "conto egípcio", sobre um grande inventor, por assim dizer, que dentre outras coisas, havia inventado a escrita. Em tal conto, quando este foi inventor foi expor os seus inventos ao rei do Egito, este ficou maravilhado com todos, menos com a escrita, sob a alegação de que ela terminaria por tornar os homens ignorantes, já que ao invés de auxiliar a memória dos mesmos, viria por enfraquecer-la (aliás, me esqueci os nomes dos personagens de tal história, e em qual dos Diálogos de Platão ela consta), mas... penso que é a paixão artística que faz uns autores "odiarem" outros, pois para escrever (profissionalmente) é necessário um nível de comprometimento com sua obra, que beira a insanidade, e fatalmente gera a incoomprensão em mentes que devidamente por isto, não podem ser tão versáteis quanto aqueles que "estão de fora" do contexto individual do respectivo autor, coisa que sempre induz todos os conceitos, quer sejam elogiativos ou críticos. Eu ouso dizer que até os simples neologismos dos vanguardistas (e sou vanguardista, muito embora ame os clássicos bem mais do que poderia admirar os autore de vanguarda) e até mesmo questões de semântica (apesar desta ser quase um sistema exato, e repito quase), tem que necessariamente serem influenciadas pelos conceitos que surgem dos contextos, afinal.
Minha opinião sobre GR, em resumo, é a seguinte: trata-se de um homem capaz de imaginar histórias muito interessantes e cativantes, porém que não tinha nenhum talento poético e descritivo, e que, sob a influência de Joyce, principalmente, acabou por destruir os maravilhosos enredos de seus romances e contos.
Eu na verdade também detesto Guimarães Rosa, e inúmeros outros, pois vejo nele o odioso provincianismo que enclausurou a literatura nacional nesta jaula de recorrência à personagens sem a mesma classe dos grandes personagens das obras mais célebres da literatura mundial, por exemplo, quais dos personagens de Guimarães ou de algum outro nacionalista, ou de algum regionalista, poderia equivaler à um Sherlock Holmes, à uma Miss Marples, à um Aragorn, à um James Bond, e assim por diante? Mas isto seria pensar distante demais e inspirar-se no inatingível, não? Pois eu digo um veemente "não!" à tal indagação que se estrutura tão somente no espaço micronizado das idéias pré-concebidas, pois se os autores brasileiros adotassem os padrões da excelência utilizados pelos autores internacionais, teriamos já hoje obras muito mais reconhecidas internacionalmente, mas principalmente nacionalmente, e disto muito facilmente poderíamos nos orgulhar à ponto de sorrir à toa e os dentes mostrar, para o mundo vê-los cintilar, mas eu concordo que Joyce era tão obcecado pela sociologia que isto embaçou sua escrita, se me permitem alegar assim. Mas nunca apresentaria uma defesa ao Guimarães, nunca. Então, em suma, concordo com você.
 
Última edição:
Mas Sejong, por mais que esses personagens sejam "universais", seu traços são "provincianos" considerando a projeção de seus autores em suas personagens - e dos leitores sobre elas. Tanto é que é por isso que temos choques de percepção entre autores e leitores com relação a certos enredos e personagens - a reação ao Orientalismo me vem à mente agora. Joyce foi tão provinciano quanto Rosa, mas seu "Ulisses" e seu "Finícius" continuam sendo exemplos da jornada do ser humano comum elevado à condição de heroi com o surgimento do romance - e o mesmo pode ocorrer com Rosa e suas personagens, pois que o problema da linguagem não impede que possamos perceber traços comuns à realidade em sua ficção.
 
Eu achei que ele citaria Shakespeare, Dostoiévski, Tolstoi... Mas contrapôs as personagens "nacionalistas" e "regionalistas" às de Conan Doyle, Agatha Christie e Ian Fleming?
 
Eu achei que ele citaria Shakespeare, Dostoiévski, Tolstoi... Mas contrapôs as personagens "nacionalistas" e "regionalistas" às de Conan Doyle, Agatha Christie e Ian Fleming?
Eu entendo o estranhamento que minha afirmação pode ter causado, mas é porque talvez eu não me tenha expressado devidamente. Vou simplificar ao máximo, veja bem: utilizemos o exemplo de Agatha Christie. Ela não criou personagens exclusivamente britânicos, um de seus personagens mais famosos é belga! Guimarães Rosa só criou personagens de seu rincão, e ainda por cima, limitados aquele "mundinho" regionalista. Os personagens dos autores que citei, embora tenham nacionalidade e local de origem, são personagens cosmopolitas, com os quais qualquer um pode se identificar rapidamente (é sem dúvida uma questão cultural, claro), eles não ficam restritos à um local da Inglaterra, por exemplo, eles correm o mundo, ou ao menos mais de um país. Mas mesmo que ficassem restritos ao solo inglês, seria Londres, e outras localidades com as quais os leitores de qualquer canto do planeta conseguem uma identificação fácil. Existem fãs de James Bond e de Sherlock Holmes em todos os países, quem pode dizer o mesmo em relação aos personagens de Guimarães ou da maioria dos autores brasileiros?
 

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