Fúria da cidade
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A principio sempre achei a sociedade suiça é madura e consciente nas suas decisões, mas acredito que é um país onde dá pra experimentar outras investidas. Se no fosse no Brasil nem arriscava sequer pensar em apostar.
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Mas considerem que tanto o eixo horizontal quanto o vertical representam a renda do indivíduo. No caso do primeiro gráfico, por exemplo, se um indivíduo ganha 4000 unidades monetárias, ele será taxado positivamente, de modo que sua renda após o imposto (available income) será de 3000. Por outro lado, se ele ganhar 0, ele receberá os benefícios do imposto negativo no valor de 1000, de modo que esta será sua renda final disponível. E o ponto onde ele ganha 2000 é justamente onde ele não está sujeito nem ao imposto positivo nem ao negativo, e portanto sua renda disponível equivale justamente aos 2000.
O imposto negativo poderia ser uma alternativa ao Bolsa-Família? Ou entendi errado? rs
O imposto negativo poderia ser uma alternativa ao Bolsa-Família? Ou entendi errado? rs
Além disso, a área sombreada em cinza mais escuro acima da linha da renda disponível equivale ao montante do imposto positivo. A área sombreada em cinza claro é justamente a renda disponível, e a área em branco abaixo desta equivale ao montante do imposto negativo.
Mas se a reta com losângulos pretos (pelo que entendi, quanto cada sujeito vai ter de renda após os impostos, no eixo 'y', em função da renda antes da incidência dos impostos, no eixo 'x') é a mesma entre os dois casos, qual é a diferença efetiva entre a situação dos dois gráficos? Penso que entendi as áreas sombreadas no primeiro gráfico, basicamente o triângulo escuro é o tanto de renda que está sendo perdida, sendo transferida para o triângulo branco. Porém essa interpretação fica mais estranha no segundo gráfico, afinal um mesmo sujeito (isto é, uma dada renda no eixo 'x') que tem uma zona escura (perde dinheiro) tem uma zona clara (ganha dinheiro) - mas no fim, liquidamente, penso que retornaríamos à situação do primeiro caso.
A diferença é que no segundo caso o tamanho das transferências (para e do Estado) é bem maior. Ou seja: um Estado intervindo mais, mas gerando o mesmo resultado que poderia ser obtido de maneira mais simples, que é o primeiro caso.
Penso que o caso da bolsa família vs. imposto negativo seria algo mais ou menos nesse sentido também, ou não? Talvez seja um caso ainda mais radical, pois o Bolsa Família tem toda uma seleção de quem vai receber a bolsa, o que abre espaço para mais burocracia, arbitrariedades, corrupção, etc.
Essa ideia de que o capitalista explora os trabalhadores advém do errôneo conceito de mais-valia, cujas falhas já foram apontadas inicialmente por Bohm-Bawerk e posteriormente com mais detalhes por Mises.
Aliás, o senso comum geralmente acredita que o lucro é criação capitalista, e que o capitalismo reduz os salários para aumentar lucros, quando é precisamente o inverso que ocorre, como mostra George Reisman.
Onde geralmente tende a ocorrer de fato uma taxa de lucro acima do normal, às custas dos salários e da sociedade como um todo, é nas estruturas de mercado monopolísticas ou oligopolísticas, que em geral são o produto de concessões estatais, e não do processo capitalista.
Capitalismo produz miséria? Isso vai diretamente contra um conceito fundamental que parece não ser entendível por muita gente: a condição natural do ser humano é a pobreza, a escassez, e não a riqueza. Esse seu argumento faz crer que todos os seres humanos são dotados de uma riqueza inicial, ou que as riquezas podem ser obtidas do ar por todos, e que o capitalismo é o responsável por tirar essa riqueza de alguns e jogá-los na pobreza. Esse argumento também fecha os olhos para a realidade empírica, onde os trabalhadores pobres de hoje possuem um padrão de vida e consumo muito mais elevado do que há 2 séculos e meio.
E é irônico como também se ignora que a solidariedade na verdade é eliminada não pelo capitalismo, mas pelos ideais socialistas que almejam tornar a solidariedade compulsória. Se é compulsória, não é solidariedade.
A discussão já tomou outro rumo, mas só pra não passar em branco: a miséria é construção histórica, social, fruto de um modelo de desenvolvimento econômico, jamais uma condição natural do ser humano. E eu vejo a afirmação pelo inverso: o que parece não ser entendido por muita gente é justamente a historicidade da miséria, tendo-a como algo que sempre existiu de maneira autônoma.
Realmente, os trabalhadores de hoje possuem um padrão de vida e consumo mais elevado. O que é resultado de suas mobilizações. Não foram concessões ou desenvolvimento lógico e natural de nenhum modelo sócio-econômico. Ainda assim, são pequenas melhorias que, juntamente com mecanismos ideológicos - incluindo "a condição natural de escassez" -, impedem a concretização de mudanças estruturais significativas.
E mais valia não é um conceito errôneo. Depende de quem escreve/lê, como se escreve/lê, com qual intenção se escreve/lê. Para Marx, Engels, Lênin, Thompson, Hobsbawm, Caio Prado Jr., Florestan Fernandes, Mészáros, Bauman, etc, ela é verdadeira. O que prova, também, que não é só o senso comum que a alimenta.
Então todo ser humano, em sua condição natural, sem ferramentas, à mercê da natureza, é rico? Como assim?
A pobreza não foi criada por um modelo de desenvolvimento: pelo contrário, o ser humano, agindo sobre o meio, busca produzir riquezas para superar sua condição de escassez.
O ser humano não nasceu rico (a não ser que você acredite no Éden bíblico). Ele tornou-se rico à medida que aprendeu a dominar a natureza e usá-la para seus propósitos.
Claro, ainda existem muitas pessoas que vivem na pobreza, mas certamente nenhum sistema tirou tantas pessoas da miséria quanto o capitalismo. Inclusive, a maior massa da pobreza hoje em dia se encontra justamente nos países menos capitalistas do mundo.
Não se pode negar que as mobilizações dos trabalhadores trouxeram vários benefícios à estes. Mas não se pode ignorar os outros imensos benefícios que o capitalismo trouxe, inclusive a possibilidade desses trabalhadores se mobilizarem para obter seus direitos. É justamente o processo de produção capitalista que possibilita a união de trabalhadores para reivindicar melhorias.
As credenciais de quem utiliza um determinado conceito não tornam ele mais ou menos válido. O conceito de mais-valia foi elaborado por Marx a partir da teoria do valor trabalho de Ricardo, que em si também já era errônea. No mais, recomendo esse vídeo do Joseph Salerno, onde ele explica os erros da teoria da exploração capitalista (eu havia colocado esse vídeo por engano no meu outro post, no lugar do vídeo do imposto negativo do Friedman).
Talvez a nossa discordância, nesse ponto, resida no fato das fronteiras do mundo natural e cultural se confundirem. E, também, pela fluidez dos termos "riqueza" e "pobreza", que adotaram roupagens diferentes ao longo do tempo. Uma pincelada na história humana: quando o homo-alguma-coisa, caçador, coletor e nômade, tirava da natureza seu alimento e procurava uma caverna aconchegante e segura, ele o fazia atendendo suas manifestações de autopreservação. Posteriormente, sedentarizado pela agricultura, eram as mesmas suas motivações. Hoje, dentro da metrópoles, idem. A autopreservação - aqui sendo tratada como alimentação e abrigo, para ficarmos nas nossas necessidades mais básicas - eram, e são, demandas biológicas, portanto naturais. A forma de se atendê-las, ou não (caça-coleta/caverna; agricultura de subsistência/casebre; venda da força de trabalho/supermercado/apartamento financiado pela Caixa) são manifestações do mundo da cultura, vinculadas à atuação humana, portanto frutos de modelos sociais de produção/consumo. Temos, então, a historicidade da riqueza e da miséria.
Verdade: a maior massa de pobreza se encontra nos países menos capitalistas. Coincidentemente, ex-colônias.
O processo capitalista de produção combate a união dos trabalhadores para a reivindicação de melhorias. O que motiva essa união são as contradições desse processo.
Faço das suas, as minhas palavras: as credenciais de quem utiliza um determinado conceito não tornam ele mais ou menos válido. Ou errôneo.
Quer dizer, por mais que o capitalismo tenha vantagens competitivas que ele discorra, principalmente, através de seu argumento de "destruição criativa", sempre haverá intelectuais e grandes setores da "massa" dispostos a votar numa plataforma política social-democrata, de Estado do Bem-Estar Social. Fariam isso para gerar redistribuição de riqueza e proteger as pessoas das "tempestades" dos reajustes de mercado.
Suíça aprova limite à entrada de europeus no país, diz TV
Adivinhem qual é a relação dessa notícia com a notícia do tópico?
Ou seja, se certo povo não tem o espírito de querer ser flexível quanto à imigração, reduzir os gastos sociais, transformar o país num imenso livre-mercado, etc., então não há nada a fazer.