Penso que as críticas a Tolkien são mais pela sua história ser a precursora do gênero moderno de fantasia do que qualquer outra coisa.
O próprio nome do gênero ("Fantasia") tem também uma conotação pejorativa. Ora, se é "fantasia", então não é realidade, não é maduro. É infantil.
Tolkien sofreu com isso. Lembro que li em alguma reportagem que um dos maiores desgostos dos críticos de literatura era a obra "Beowulf". É uma obra de milhares de anos (uma das obras mais antigas do mundo ocidental) e os críticos não conseguiam conceber a idéia que o autor, na época, poderia ter escrito algo mais "relevante", sobre a sociedade daquele tempo, etc. Mas ao invés disso ele escreveu um "conto de fadas", uma "fantasia". E que desperdício era isso na opinião da crítica. Então essa obra foi considerada infantil e sem grande relevância.
Foi Tolkien quem olhou com um olhar mais sério para a Lenda de Beowulf pela primeira vez. Ele que mostrou a importância literária que essa obra tem para o mundo ocidental. Tolkien ensinou que "contos de fadas" não são necessariamente para crianças. Não é porque O Senhor dos Anéis é uma obra que tem como personagens: magos, anões, elfos e hobbits que essa obra não é madura. Veja a profundidade desses personagens, veja como eles são humanos! Seus sentimentos, suas dificuldades, seus pensamentos, são puramente humanos. O que eles vivenciam na Terra-Média, nós vivenciamos no mundo real. As falas de Gandalf não são apenas bordões da "fada madrinha" para que a princesa não seja capturada pela bruxa ou o lobo mau, são sabedorias!
Além disso, Tolkien é um profundo crítico à Indústria. Está totalmente implícito na obra dele essa crítica. Penso o que ele diria, se fosse vivo, sobre as facilidades do mundo de hoje: comida congelada, carros populares, celulares e iphones e internet. Ele iria achar tudo "mágico", certamente. Mas perguntaria qual o custo disso para "Arda". Quanto o planeta não sofre para podermos construir nossos shoppings e estacionamentos? Penso que talvez, a Crítica Literária seja ferrenha com Tolkien justamente como uma resposta à crítica do autor pela Indústria. Afinal, o professor é o tipo de cara que acha que a verdade está nos livros, e não nos jornais.