O uso do termo "democracia" é tão manipulado, tão pervertido que tem hora que temos é que abrir mão dele. Conferir tintura moral de virtude a um vocábulo que a princípio deveria ser descritivo e depois brigar pela posse dele é uma excelente forma de enlouquecer e se pegar tempos depois discutindo o sexo dos anjos.
Não sei se o estado venezuelano é democrático ou se não é, no sentido de "forma de governo onde o poder emana do povo". Talvez o seja até demais. O que importa é que é ruim, gera tirania e arbitrariedade, e eu prefiro n coisas ao chavismo, incluso o conjunto completo de todas as democracias modernas dos países desenvolvidos, e, no Brasil, a ditadura Vargas, o período populista, a nossa repúblca atual, o Brasil Império. O governo do Maduro deve empatar com o dos milicos aqui em termo de desejabilidade, e ganha apenas de regimes mais profundamente autoritários, como teocracia xiita iraniana, absolutismo monárquico sunita saudita, comunismo, fascismo, nazismo, etc.
Em suma, não se trata de "defender a democracia", mas de arranjar alguma forma de partilha do poder que não leve à tirania, ao emudecimento da liberdade de expressão, por um lado, e que possibilite a construção de uma sociedade próspera, livre e com limites práticos para a desigualdade, por outro. E claro, que tal tenha estabilidade. Acredito que o melhor que tenhamos hoje nesse sentido são certas formas de democracia representativa, com separação de poderes, eleições periódicas, mecanismos de consulta e etc. Entretanto, não dá para sacralizar um mero termo técnico da ciência política.
