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Os Pássaros (The Birds, 1963)

Nota pro filme:

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    9

Sister Jack

Usuário
Alfred Hitchcock é tão foda. Wow. Obrigado, Hitch. Obrigado. Meu DVD de OS PÁSSAROS chegou e eu não resisti, fui logo revê-lo (a segunda vez, em 3 anos, no mínimo).


(spoilers)

Sim, esse é um dos pouquíssimos filmes que eu não tenho dúvida nenhuma em chamá-los de Perfeitos. É perfeito. Eu nem sei por onde começar. Que tal a estrutura? É bastante similar a MAL DOS TRÓPICOS: começa como uma comédia leve, quase pastelão-Anos-30, e meio que focalizando as comédias dos sexos do Rock Hudson e etc do final dos anos 50; aos poucos, o filme passa por uma transição sútil, os elementos da comédia vão dando a lugar drama familiar e mistério, e pela segunda metade, o filme vira terror e suspense puro. Também similar ao filme do Weerasethakul é a transição da cidade, San Francisco, pro campo, uma cidadezinha no meio do nada, perto de um lago, chamada Bodega Bay -- curiosamente, tanto a fase urbana quanto a rural do filme são repletas de pássaros. Eu não tenho certeza de porquê exatamente o Hitch quis fazer esse truque (e é uma das primeiras vezes que ele foi feito, eu acho); talvez pra magnificar o terror e o peso das cenas finais, deixando o público relaxado nas iniciais; talvez por pura auto-indulgência ou experimentalismo. Só sei que ficou genial.

E a estética? Eu dúvido que exista algum outro diretor formalista mais talentoso e brilhante que o Hitchcock. Em primeiro lugar, o efeito mais óbvio que ele trouxe para o filme foi a decisão de não usar trilha sonora, apenas os raros momentos de música diegética. Isso foi extremamente experimental, para a época, e ainda é bem raro. O efeito é de uma tensão constante, um clima sinistro, de que há algo levemente errado com o mundo (especialmente se você considerar o "Mundo Cinematográfico", que é sempre apoiado e acompanhado por música). Por isso, até as cenas mais lights da primeira metade acabam tendo um conflito bizarro entre o tom aparentemente inofensivo dos diálogos e personagens, e um camada por baixo de uma tensão malígna. Outro toque de mestre foi o uso do som e edição de som: bastante som natural do ambiente, silêncio, e principalmente os barulhos dos pássaros, suas asas batendo e seus gritos, eles se arrastando contra paredes, portas, etc. Uma cena em particular, que acontece no final, com todos presos na casa, uma boa parte da tensão é construída apenas cortando entre os personagens assustados e o barulho das aves cercando a casa.

A montagem também é brilhante: repare em talvez o momento mais orgásmico do filme (e possivelmente da carreira do Hitch inteira, e possivelmente de todos os tempos), quando a Tippi está sentada do lado de fora da escola, e atrás dela há um brinquedo no parquinho de crianças. Nesse brinquedo, começam a pousar alguns corvos. Começa com um ou dois. O Hitch e o George Tomasini (editor) fica entrecortando entre: (1) um plano de Tippi isolada; (2) um plano da Tippi com o brinquedo no fundo; (3) um plano da paisagem; (4) um plano do brinquedo isolado. Esses cortes são bem lentos e demorados, e a cada vez que você volta no brinquedo, tem um corvo a mais. Quando já tem uns 4 ou 5 corvos, o Hitch segura um plano da Tippi isolada por bastante tempo -- e enquanto isso, as crianças da escola cantam uma cantiga extremamente arrepiante. De repente, Tippi olha para o brinquedo atrás dela. Deve ter pelo menos 60 pássaros lá. É espantoso e eletrizante, e a revelação só é aumentada significantemente pelo trabalho de montagem (similar ao da cena do avião em INTRIGA INTERNACIONAL).

Ainda há vários elementos estéticos que são geniais -- o uso de cores fortes, vários planos individuais fantásticos (como o que começa num angulo baixo da Jessica Tandy olhando pro teto, e vai se afastando num movimento macio até revelar os outros dois personagens da cena, também olhando pro teto), vários outros momentos com montagem excepcional -- mas eu prefiro começar a discutir sobre os subtextos/temas do filme, que são de longe o aspecto mais misterioso e intrigante do filme. O filme é sobre um ataque em massa de pássaros numa cidadezinha. Uma moradora menciona o fato de que pássaros são inofensivos e que somos nós que os tratamos mal, e o Rod Taylor menciona no começo, na loja de pássaros, que é meio injusto deixar os pobres bichinhos presos assim o dia todo. Seria o ato dos pássaros uma rebeldia deles? Uma rebeldia da natureza contra os humanos? O Hitch estaria falando de um conflito geral e grandioso, de homem X natureza? Eu acho que não.

O mais interessante é o que os pássaros parecem representar. Meu palpite é: a Ameaça Nuclear e/ou a Ameaça Comunista. Eram os anos 60. A Guerra Fria estava num de seus momentos mais quentes nessa época, e o medo do comunismo imposto pelos governadores podia ser sentido por toda parte da sociedade nos EUA, uma paranóia geral. A sensação de que eles podiam atacar a qualquer momento, e que o impacto seria fatal e destruidor, é precisamente a sensação passada pela segunda metade do filme. A cena do restaurante, em que as notícias dos ataques começam a se espalhar entre os moradores, um ouvindo do outro, adicionando detalhes e contando experiências pessoais (enquanto uma mãe cobre os ouvidos dos filhos, pois toda essa conversa de pássaros assassinos obviamente está assustando eles) me apontou diretamente pra esse medo que existia na época. Depois de um ataque enorme envolta do bar, Tippi volta lá para dentro, e encontra várias mulheres juntas, escondidas num corredor, amedrontadas: uma imagem extremamente similar a de planos de como se preparar para um ataque nuclear, na época.

Outros detalhes temáticos que eu notei: o fato de tanto o personagem da Tippi quanto o de Rod terem problemas emocionais com suas Mães (ela a despreza a sua, e ele tem uma fieldade patética, talvez até incestuosa com a dele). Além disso, todas as personagens femininas do filme tem problemas com Solidão -- a Jessica Tandy tem medo de perder o filho pra um dos pares românticos dele e ficar sozinha; a professora Suzanne se recusa a sair da cidadezinha de Bagoda e sua vida solitária, por medo de perder sua "amizade" com o Rod (amizade que já foi namoro, há muito tempo); Tippi parece ter cometido um ato estranho e impulsivo pelo único motivo de querer ter alguém na sua vida (quem ia dirigir 1 hora e meia pra entregar dois periquitos pra uma pessoa que mal conhece como um ato de bondade ou possivelmente uma pegadinha?). E mais misterioso e horripilante ainda: há os dois periquitos (os "lovebirds") que permanecem completamente pacíficos em meio a todo o terror e caos... Por que? Há o bêbado no bar que cita passagens da Bíblia e anúncia para todos o Fim do Mundo (também penetrando na paranoia de ameaça nuclear/comunista). E ainda há a mulher no bar, que diz para Tippi que os pássaros só começaram a atacar depois que ela chegou na cidade (e é verdade)... Por que?

Como isso tudo se conecta? A solidão, os problemas com mães (no final, a Tippi ganha a mãe que precisava com a Tandy, e a Tandy ganha a companheira que precisa pra evitar a solidão), as menções religiosas, a paranoia da guerra fria, os lovebirds, a Tippi trazendo o Mal para Bagoda Bay -- talvez ela seja a forasteira que chega pra desequilibrar a vida quieta da cidadezinha, como em DOGVILLE. E ainda tem mais (sim, mais!). Ainda há obviamente um sadismo humoroso do Hitch nesses ataques: a maioria das vítimas mostradas representa uma seção puritana, branca, rica e egocêntrica da sociedade -- há uma simpatia do Hitch com esses pássaros. E é impressionante como esse tema de cultura do medo e paranóia ainda é extremamente relevante hoje em dia, substituindo comunistas por terroristas. Acima de tudo, há o plano final, que é semi-Bíblico e totalmente apocalíptico -- os pássaros pousados por toda a varanda da casa, e no chão das planícies, e nas árvores e fios de eletricidade -- e o Hitch ainda teve a ousadia de acabar abruptamente, sem soluções; o final anti-climático mais climático de todos os tempos.

90



Eu gostaria de saber quais são as interpretações do Sr. Khansc e do Sr. V e de quem mais gostaria de interpretar sobre os enigmas e mistérios do filme que na minha opinião é tão foda que até dói.
 
Última edição:
Re: Os Pássaros (Ze Birds, 1963)

Mais alguns comentários pós-análise (spoilers):

*É um crédito enorme pro Hitch a habilidade dele de fazer um filme aparentemente "superficial", mas criar personagens que deixam claros que são bastante complexos, mas que só estão mostrando um pequeno lado deles na tela, e há emoções tumultuosas por baixo da fachada (e isso vale pra todos os personagens, mas especialmente as mulheres... Por que?). É quase como um filme de arte, só sugerindo, mas nunca revelando.

*É fantástico o jeito que o Hitch sutilmente mete medo em você na primeira metade, sem realmente dar sustos ou nada do tipo. Um plano inocente de repente vira algo extremamente assustador e maligno quando um pássaro cruza um canto da tela. A Tippi andando de barco, antes de ser atacada, e o Hitch coloca sutilmente no plano algumas gaivotas sobrevoando o barco. É foda. E quando a Tippi realmente é atacada, não há nenhum suspense ou tensão. O pássaro vem e morde, do nada, o que já deixa você com a guarda levantada pra todas as cenas seguintes. Isso é o Hitch brincando e fudendo as espectativas e estuprando a sua cabeça. Obrigado, Hitch.

*SINAIS do Shyamalan copiou esse filme bastante (e ele admite isso). E aí M. Noite Shyamalan você pediu os direitos autorais pro Hitch ou o que. Você vai pagar ele ou o que. Wtf.





...





EDITANDO (mais uma idéia veio à cabeça):

*Como eu não perecebi isso antes? Há o tema recorrente de aprisionamento. Os pássaros presos nas gaiolas na loja de pássaros, as mulheres presas em suas vidas -- a Jessica Tandy presa na solidão da casa; a Suzanne presa na cidade pacata, por tentar manter a conexão com Rod; a Tippi no caminho de ser presa (aka, casar) -- e ainda há a cena em que Tippi fica presa num carro e numa cabine telefônica, indefesa. E ainda há o final, onde eles literalmente se trancam na casa. A Suzanne morre, mas é do lado de fora da casa (aka, ela tenta fugir da sua gaiola). E ainda há a cena do bar, que eu já mencionei, onde curiosamente, todas as pessoas escondidas lá são mulheres, todas assustadas, indefesas. Hitch claramente está fazendo um comentário sobre Repressão Feminina (nos dias pré-feministas). Mulheres aprisionadas, trancadas, reprimidas, solitárias, problemáticas, carentes, demonstrando complexidade e ambiguidade enormes (fazendo o Rod parecer superficial em comparação) e não revelando (e nem podendo revelar) quase nada. Por isso, o verdadeiro consolo que a Tippi e Tandy acham no finalzinho é a companhia de cada uma (o plano do abraço emocionante), pois só elas se entendem. Aliás, ficou claro pra mim que esse é o ponto principal do filme. É claro, não discartando o clima de paranoia da guerra fria, que também está lá.

PS: OMFG, esse filme é TÃO FODA. É uma ultra-obra-prima.
 
Última edição:
Re: Os Pássaros (Ze Birds, 1963)

Hah. Te disse que era um 90. (Btw você não tem vergonha de copiar a minha nota.)

Sim OS PÁSSAROS é uma obra-prima, obrigado. É o melhor do Hitch que eu me lembre (mas eu preciso rever VERTIGO asap). Eu queria comentar mais, mas você foi fundo aí na sua historinha, nem deixou o tipo de espaço pra comentários que o meu ânimo permitiria. Talvez outro dia. (PS: o que há de errado com você. Não tem mais o que fazer ou o que.)

Duas coisas:

- Eu não dispensaria o tema homem x natureza, principalmente tendo visto o trailer, que é tipo uma piada, mas uma piada em cima desse tema. As possibilidades que você mencionou também fazem sentido, no entanto, e a maioria delas foi certamente intencional. Por exemplo, o lance do aprisionamento sempre foi óbvio, mas o ângulo da opressão feminina é realmente interessante e não havia me ocorrido de forma assim tão clara. Obrigado por isso na minha opinião.

- A primeira metade serve principalmente pra deixar a platéia enervada com a tensão de esperar pelo momento onde dá a louca nos pássaros - todo mundo já sabia que era um filme do Hitchcock sobre pássaros aka um filme onde o Hitchcock tenta te assustar com pássaros, então o povo viu o poster, assistiu os trailers e falou ei, vamos ver esse filme dos pássaros, deve ser assustador e etc, e aí passa aquele tempo todo e as pessoas estão pensando ei, mas esses pássaros não vão atacar nunca, será que eu entrei no filme errado YOWZA, O QUE FOI AQUILO, etc.
 
Última edição:
Re: Os Pássaros (Ze Birds, 1963)

Eu gosto muito do Um Corpo que Cai, mas esse não fica muito atrás pra mim.
Com relação ao aprisionamento, é bem foda sim. A cena deles criando a própria "gaiola" pra sobreviverem é demais. Reflete o estado do ser humano em se fechar para sobreviver. Dá pra tirar muita analogia com a realidade atual. Aliás, o filme parece que não envelheceu em nada!

Uma cena que me marcou foi a que o Folco citou, do restaurante. Me deu desespero :lol: As pessoas céticas, depois o clima tenso vai crescendo à medida que começam a ter conhecimento da gravidade da situação. E as informações desencontradas sobre o que tá acontecendo, as reações diante do desconhecido.

Folco disse:

V disse:
Eu que agradeço e tals.
 
Re: Os Pássaros (Ze Birds, 1963)

V disse:
Hah. Te disse que era um 90. (Btw você não tem vergonha de copiar a minha nota.)

Talvez você devesse mudar a sua nota pra 91 ou algo assim pra não haver tanta sincronia universal na minha opinião.

(mas eu preciso rever VERTIGO asap).

Todos nós precisamos.

Eu queria comentar mais, mas você foi fundo aí na sua historinha, nem deixou o tipo de espaço pra comentários que o meu ânimo permitiria. Talvez outro dia. (PS: o que há de errado com você. Não tem mais o que fazer ou o que.)

Perdão, dá próxima vez eu vou impor um limite pessoal de 3 linhas pra você poder revelar as suas teorias sem parecer redundante perdão.

- Eu não dispensaria o tema homem x natureza, principalmente tendo visto o trailer, que é tipo uma piada, mas uma piada em cima desse tema. As possibilidades que você mencionou também fazem sentido, no entanto, e a maioria delas foi certamente intencional.

Sim, ainda há isso. E também há o lado religioso de um possível Dia do Julgamento, em que os pássaros representam a fúria de Deus para as maldades do homem. Ou talvez a Mãe Natureza revertendo para o seu estado original, sem a nossa raça irritante.

Por exemplo, o lance do aprisionamento sempre foi óbvio, mas o ângulo da opressão feminina é realmente interessante e não havia me ocorrido de forma assim tão clara. Obrigado por isso na minha opinião.

Estou aí a semana toda obrigado.

Btw, eu acabei de ver o trailer e ele é tremendamente hilário e assustador. Deviam fazer mais trailers assim na minha opinião.
 
Re: Os Pássaros (Ze Birds, 1963)

Hah. Te disse que era um 90. (Btw você não tem vergonha de copiar a minha nota.)

Vocês erraram, é 92.

Anyway, o Folco, ainda na folga das férias enquanto eu passava uma parte da manhã na feira tomando cerveja ao invés de assistir umas aulas estúpidas, encheu o copo d'água, vai ser díficil colocar mais. E eu nem tinha tomado a parte de opressão feminina.

A estrutura também é parecida com a de O Salário do Medo. Começo leve e a tensão crescente na segunda metade.
 
Re: Os Pássaros (Ze Birds, 1963)

Esse filme é extraordinário, IMO. Aquele plano final dos pássaros me deixou extremamente embasbacado, etc. E aquela dentro da casa, com os bicos furando a madeira? Nunca vi uns pássaros tão filhos da puta...
 
Re: Os Pássaros (Ze Birds, 1963)

:lol:

Instinto animal misturado com apocalipse :p
 
Re: Os Pássaros (Ze Birds, 1963)

Folco, você já assistiu as duas continuações do filme? O que achou delas?
 
Re: Os Pássaros (Ze Birds, 1963)

Regente Cósmico disse:
Folco, você já assistiu as duas continuações do filme? O que achou delas?

Eu nem sabia que existiam, e prefiro continuar imaginando que não existem. É tipo fazer uma continuação pra BLOW UP ou algo assim ("David Hemmings, 10 anos após perder o corpo de vista, se envolve numa conspiração de etc!...")
 
Re: Os Pássaros (Ze Birds, 1963)

Para quem é do ABC, ou não, vai ter uma mostra do Hitchcock esse mês em São Bernardo, no Teatro Martins Pena.

Os 39 Degraus (The 39 Steps - 1935)
Dia 11 quinta 20h
Dia 13 sábado 16h

Janela Indiscreta (Rear Window - 1954)
Dia 12 sexta 20h
Dia 13 sábado 20h

Rebecca - A Mulher Inesquecível (Rebecca - 1940)
Dia 18 quinta 20h
Dia 20 sábado 16h

Os Pássaros (The Birds - 1963)
Dia 19 sexta 20h
Dia 20 sábado 20h

O Terceiro Tiro (The Trouble With Harry - 1956)
Dia 25 quinta 20h
Dia 27 sábado 16h

Um Corpo que Cai (Vertigo - 1958)
Dia 26 sexta 20h
Dia 27 sábado 20h

--------------------------

Eu pretendo ver Janela Indiscreta, Os Pássaros e Um Corpo que Cai.

Se alguem tiver interesse é de graça, só chegar uma hora antes para retirar o ingresso.
 
Re: Os Pássaros (Ze Birds, 1963)

Caramba, preciso acionar o Pips
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Re: Os Pássaros (Ze Birds, 1963)

Pois é, tava me programando para ver esses por serem os mais conhecidos, mas tava dando uma pesquisada nos outros e vou ter que dar um jeito de tentar ver todos.
 
A mensagem abaixo pode ou não conter SPOILLERS.

Folco disse:
e o Hitch ainda teve a ousadia de acabar abruptamente, sem soluções; o final anti-climático mais climático de todos os tempos.

Se não me falhe a memória no DVD tem um dos extras que trás justamente uma espécie de final alternativo, não filmado, é verdade, mas o roteiro está lá. Eu lembro de ter lido por cima, na época eu achei que o final original ficou melhor do que o possível que não foi filmado.

Eu preciso ver Rebecca, The Birds é uma adaptação do mesmo autor, apesar de Hitch ter mudado assumidamente diversos pontos pelo que me lembre, tal qual a história original tratar de pássaros que atacam a uma simples fazenda e no filme atacam uma região inteira norte-americana.

Outro ponto é que nos extras depoimentos de filha, produtores, atores, narrador, etc deixam claro que o diretor se baseou em fatos reais, em ataques de pássaros e tendo claro em mente que não estava lidando com a fantasia nua a crua. Por esse motivo eu não descartaria a relação Natureza x Homem, talvez aquela velha que é ornitóloga por hobby seja o exemplo disso.

Apesar de que ela tem um papel chave ali dentro, ela deixa claro que somos plenamentes impotentes perante essa guerra (ponham aqui as relações que o Folco fez no primeiro post e tchum) contra os pássaros, eles são mais de 100 bilhões no mundo e nós fracos, etc...

Agora, porque o filme não pode ser levado literalmente ao pé da letra? *Eu* acho que a cena do Restaurante deixa claro que nenhum motivo racional (pássaros tem cérebros pequenos, etc) pode justificar os ataques, então, desconsiderando também o lado apocaliptico da 'punição' de Deus, entramos no lado da simbologia.

O Folco falou muita coisa que eu nem havia pensado ainda, mas tem mais alguns pontos que eu acho interessantes, não sei, mas olhem só: chícaras quebradas, a mãe de Rod, defensora da relação familiar fica a olhar para aquela chícara quebrada quando os pardais entram pela lareira. Mais tarde na fazenda do outro homem, quando ela o encontra *cego* (mais um ponto a se pensar) as xícaras estão penduradas em uma espécie de móvel e novamente quebradas. O que seriam essas xícaras? a família e a frágil relação de seus membros (lembrem que ela briga com o filho em seguida)? a fragilidade do meio, do lar? O que?

O ponto da cegueira:

1) O fazendeiro é encontrado cego.
2) Ninguém consegue enxergar claramente, a dor atrapalha, os pássaros atrapalham a visão.
3) Como se proteger através de vidros? Através dessa transparencia incomoda? (Tippi na cabine telefônica, a citação sobre a escola ter janelas grandes, óculos quebrados, a irmã de Rod brincando de cabra-cega no aniversário quando é atacada, etc)


Alguns outros pontos que eu me lembro de terem me marcado, não sei o porquê ao certo, mas enfim:

-Possíveis pequenos SPOILLERS nessa parte:


* Pássaros de diferentes espécies não andam juntos
* Os dois "love birds" que ficam simplesmente quietos, pacíficos e são levados junto com o quarteto no final, wtf?
* O instinto de fazer de Cathy uma pessoa diferente, de salva-la e tudo o mais que é despertado em Tippi.
* O abraço apertado que mão do Rod e Tippi trocam já na última cena dentro do carro.
* "I wish I were a stronger person."


Enfim, eu estou longe de entender o significado do filme, mas esses foram alguns pontos disconexos ou que me causaram dúvida ao assistir ele.
 
Lordpas disse:
O ponto da cegueira:

1) O fazendeiro é encontrado cego.
2) Ninguém consegue enxergar claramente, a dor atrapalha, os pássaros atrapalham a visão.
3) Como se proteger através de vidros? Através dessa transparencia incomoda? (Tippi na cabine telefônica, a citação sobre a escola ter janelas grandes, óculos quebrados, a irmã de Rod brincando de cabra-cega no aniversário quando é atacada, etc)

Bem interessante.

Eu lembro bem do plano do óculos quebrado e também do momento que os pássaros começam a voar contra a cabine telefônica. Não tinha feito uma conexão entre os dois, mas agora até faz bastante sentido, já que a ênfesa dada no vidro quebrado nos dois planos é bem forte. E é verdade que ainda existem mais referências à "falta de visão" com a cabra-cega e o corpo sem olhos. Ainda tem o final, onde a luz na casa acaba, e a Tippi tem que usar uma lanterna quando vai investigar o barulho no andar de cima. Como isso tudo se conecta com o tema? Não tenho certeza. Talvez seja a idéia de que o medo e a paranoia estejam cegando eles (especialmente já que a maioria dessas referências só acontecem depois que os pássaros começam a atacar).

* Os dois "love birds" que ficam simplesmente quietos, pacíficos e são levados junto com o quarteto no final, wtf?

Sim, eu falei disso lá em cima. Foi tão estranho que me deixou meio assustado.


Btw, eu tava relendo a análise do Ebert de UM CORPO QUE CAI (que eu acabei de rever; wow...) e ele disse isso em uma parte:

"Alfred Hitchcock was known as the most controlling of directors, particularly when it came to women. The female characters in his films reflected the same qualities over and over again: They were blond. They were icy and remote. They were imprisoned in costumes that subtly combined fashion with fetishism. They mesmerized the men, who often had physical or psychological handicaps. Sooner or later, every Hitchcock woman was humiliated."

e um pouco depois...

"[UM CORPO QUE CAI] is *about* how Hitchcock used, feared and tried to control women."

Claramente, OS PÁSSAROS é uma continuação desse tema do Hitch, focando mais no aspecto de controle e opressão, sobre mulheres que tinham "psychological handicaps" -- os medos delas de Solidão, etc.

De memória, agora que já passou um tempo desde que eu vi o filme, a minha personagem favorita é a da Suzanne, a professora da escola da cidade, que se mantém na cidade só por causa do Rod. Não sei por que, mas eu acho bastante emocionante e triste a idéia de uma pessoa se prendendo no tempo e no espaço por esperança de um amor com outra, um amor que ela provavelmente não pode ter de volta; essa subtrama da Suzanne faz um paralelo interessante com a trama de UM CORPO QUE CAI.
 
Vocês não acham que o filme também é sobre a culpa que as pessoas colocam em algo (ou alguém) de que elas não tinham controle?

Por exemplo, logo no começo do filme Mitch diz que Melanie teria quebrado uma janela*, mas ela responde "eu não quebrei aquela janela". Depois aparece a história do chafariz, e Melanie diz que ela teria sido empurrada para lá. Para Lydia, a fonte dos problemas da família dela é o fato de seu marido estar morto. O bêbado do restaurante diz que os ataques dos pássaros são uma forma de Deus se vingar, e uma mulher no restaurante joga a culpa dos ataque em Melanie, dizendo que eles começaram quando ela chegou na cidade, e ignorando outra justificativa (da ornitóloga) de que todos ali tinham culpa dos ataques.

Essas atitudes são semelhante às de brasileiros, por exemplo, quando dizem "é culpa do governo corrupto" ou "é culpa dos EUA e do FMI".

* fato que também pode ter relação com o que dizem acima sobre o óculos quebrado, a cabine telefônica, etc.
 
Assisti o filme essa madrugada, e acho que isso foi um fator que contribuiu para deixar mais medonho.

É maravilhoso realmente, e é incrível como um clima apocalíptico centralizado num único lugar quando é tem um roteiro/direção bem trabalhada se tornar muito mais assustador que em planos mundiais.

[SPOILERS ABAIXO]



Acho que como já foi dito a relação da homem x natureza é um ponto fortissímo do filme. Definitivamente, os lovebirds me deixaram intrigado o filme inteiro, ficou aquela ar de que rola uma relação entre eles e os pássaros. Afinal, foi justamente - como a mulher do restaurante disse - quando a Melaine Daniels surge na cidade com os casal de periquitos que tudo começa a desenrolar. E o ar de mistério tinha que ficar implicito no fim, melhor impossível. Arrisco uma interpretação baseado nisso: que é o fato de parte dos personagens terem suas vidas presas às suas devidas circunstânceas, e assim os periquitos terem ido parar na família dos Brenner, fez com que a natureza(pássaros) se revoltasse, claro, uma das dezenas de interpretação baseadas no mesmo tema.

Algo que notei e estava a comentar com o Folco foi o modo como o Hitchcock filmou as suas cenas, de forma da qual ele sempre ao final de uma lançava um close em algum personagem demonstrando sua expressão (maior parte das vezes de mistério), algo simples, que não sei se sem querer, mas notei nesse filme... não que seja muito relevante para a história, porém achei bem interessante, alguém mais notou? O Hitchcock costuma utilizar disso em outros filmes?

Dois planos que me chamaram atenção: Logo após a explosão do posto, aquele do alto, onde mostra a cidade e o caos que se instalou. E um dos mais assustadores da história do cinema ao meu ver, os pássaros no final do filme, aquilo me arrepiou.

Preciso ver os extras do DVD, acho que voltarei aqui pra comentar mais depois disso.
 
Nob disse:
Vocês não acham que o filme também é sobre a culpa que as pessoas colocam em algo (ou alguém) de que elas não tinham controle?

Por exemplo, logo no começo do filme Mitch diz que Melanie teria quebrado uma janela*, mas ela responde "eu não quebrei aquela janela". Depois aparece a história do chafariz, e Melanie diz que ela teria sido empurrada para lá. Para Lydia, a fonte dos problemas da família dela é o fato de seu marido estar morto. O bêbado do restaurante diz que os ataques dos pássaros são uma forma de Deus se vingar, e uma mulher no restaurante joga a culpa dos ataque em Melanie, dizendo que eles começaram quando ela chegou na cidade, e ignorando outra justificativa (da ornitóloga) de que todos ali tinham culpa dos ataques.

Essas atitudes são semelhante às de brasileiros, por exemplo, quando dizem "é culpa do governo corrupto" ou "é culpa dos EUA e do FMI".

* fato que também pode ter relação com o que dizem acima sobre o óculos quebrado, a cabine telefônica, etc.

Isso é interessante, mas eu não sei bem se é coerente. Primeiro, eu imagino que a Afirmação temática que você quis dizer é "A culpa que as pessoas colocam em algo/alguém que esse algo/alguém não tinha controle", correto? Bem, ela não se aplica diretamente a todos os exemplos.

Os dois primeiros, os dois acidentes envolvendo "pegadinhas" da Melanie, não são bem fora do controle dela. O filme não deixa claro, mas parece que é ela quem fica defensiva sobre a culpa desses dois acidentes. Não é uma questão do Mitch procurando alguém pra culpar, mas sim uma questão da Melanie se defendendo (provavelmente injustamente) pra não adimitir a culpa.

Sobre a Lydia e o marido dela estar morto. Quem põe a culpa em quem aí? Ninguém culpa a Lydia pelo marido dela estar morto, ela não se culpa, nem culpa o marido, por ele estar morto. Nenhum dos outros personagens culpa ela.

Os dois ultimos exemplos, do bêbado culpando Deus e da mãe maluca culpando a Melanie, esses sim são exemplos corretos da afirmação que você colocou. Mas eu não sei se essa afirmação é exatamente válida no filme.

Faz mais sentido imaginar as duas "confusões" que a Melanie se envolve no passado (o negócio de cair na fonte, o vidro da janela) como paralelos para a culpa que a mãe maluca põe nela por "trazer" a fúria dos pássaros. São três exemplos de humilhação e culpa que colocam em Melanie que podem ou não ser culpa dela. O sentimento mais interessante é a humilhação que ela sofre, que é basicamente outro exemplo de opressão feminina.

Acho que tanto as histórias polêmicas do passado da Melanie e a culpa que a mãe maluca coloca nela quando chega na cidade são uma forma do Hitchcock criar uma sensação de um mundo opressivo para Melanie (e, implicitamente, para todas as mulheres), onde a sociedade culpa qualquer tentativa de fugir dessa opressão, dessa gaiola.
 
Folco disse:
Os dois primeiros, os dois acidentes envolvendo "pegadinhas" da Melanie, não são bem fora do controle dela. O filme não deixa claro, mas parece que é ela quem fica defensiva sobre a culpa desses dois acidentes. Não é uma questão do Mitch procurando alguém pra culpar, mas sim uma questão da Melanie se defendendo (provavelmente injustamente) pra não adimitir a culpa.

Mas isso é justamente o que eu estava dizendo. A Melanie colocou a culpa em algo "superior", que ela não podia controlar e assim não poder ser culpada do incidente.

Sobre a Lydia e o marido dela estar morto. Quem põe a culpa em quem aí?

Eu também falei em "algo"; não precisa ser alguém o culpado. Nesse caso, algo = o fato de o marido dela estar morto.

Os dois ultimos exemplos, do bêbado culpando Deus e da mãe maluca culpando a Melanie, esses sim são exemplos corretos da afirmação que você colocou. Mas eu não sei se essa afirmação é exatamente válida no filme.

Eu também não, só apontei aquilo por ter se destacado agora que eu vi o filme pela terceira vez. Mas tudo o que eu escrevi pode não significar nada.
 

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