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Nós e os outros

Morfindel Werwulf Rúnarmo

Geofísico entende de terremoto
Uma coisa que prezo bastante, e insisto em demasia em sala de aula, é a tentativa de desnaturalizar ideias e conceitos. É pensar e repensar um tema e ver quais conexões há nele, quais lutas políticas e ideológicas foram encerradas para, enfim, entender como se chegou a esta conformação.

Esse exercício é fundamental para a ciência, em especial para as humanidades. Só através dele podemos enxergar os limites e as possibilidades dos conceitos, das ideias e das instituições que destes derivaram. Assim trocamos o verbo “ser” pelo “estar”, problematizando as questões e entendendo a transitoriedade dos arranjos, do real.

O meu leitor assíduo já percebeu minha preocupação com o crescimento da extrema-direita no mundo. Com muito medo vejo uma situação parecida com a da década de 1920, seja no âmbito cultural, seja no âmbito político. Motivos para este crescimento há muitos, e acredito que a velocidade com as quais o mundo está se transformando é um componente essencial na análise. As pessoas, estremecidas em seus valores, no lugar que ocupam, tendem simplesmente a retroagir, a clamar pela volta da segurança, a volta de um lugar e tempo em que cada um sabia exatamente o que lhe aguardava no futuro.

Na minha última coluna falei da caça aos roma empreendida pelo governo Sarkozy, que tenta sobreviver politicamente ao se aproximar dos partidários de Jean-Marie Le Pen. Nos comentários ao texto, uma saraivada de chavões, um até escrito na língua de Pétain.

Em essência, falavam da “ameaça do outro”, que, sorrateiramente, chegava para corromper a cultura francesa. Até comparação com uma visita indesejada em casa foi feita, e algumas vezes. Ambas as objeções são, para dizer o mínimo, ficções ideológicas.

A ideia de um povo uno, homogêneo dentro das fronteiras, ein volk, foi criada no fim do processo de solidificação do Estado Moderno, no século 19. Para isso, diversas ações foram tomadas, como, por exemplo, a imposição de uma língua oficial e única para todo país, a língua da capital (não por acaso continuamos a chamar de castelhano o espanhol), matando diversas línguas locais.

Some-se a isto a invenção de símbolos nacionais como hinos, bandeiras, brasões e, mais importante, de uma narrativa comum, uma história oficial que pudesse ser partilhada por todos aqueles dentro de uma fronteira politicamente traçada. Pronto, temos finalmente um povo, ein volk, com valores comuns, com etnia pretensamente única, e culturalmente homogêneo. Esta foi, e continua sendo, a pretensão do Estado-Moderno, do Estado-Nação.

Diria Hans Kelsen, um dos mais influentes juristas da história, que um país é aquilo que se expande até onde o seu ordenamento jurídico alcança. Nesse prisma, mais simples e direto, não há nenhuma homogeneidade e nenhuma unidade que não seja essencialmente jurídica, e é ela, com sua força coercitiva, que determina as fronteiras. Não por acaso, em alemão, não existe a ideia de “nacionalidade”, conceito que nos remete a existência da nação, e sim “estatalidade”, conceito realmente mais preciso.

Se realmente déssemos ouvidos às reclamações dos valores, da ameaça do outro, do imigrante, teríamos, por lógica, que acreditar na homogeneidade de um país, e teríamos, assim, que apoiar, mesmo que sorrateiramente, escondido, o separatismo gaúcho, Juliano, por exemplo. Ah, não! Bagé não é Porto Alegre!

Os muros erguidos contra as pessoas são um dos paradoxos da tal globalização. Sejam reais, nos EUA ou em Israel, sejam policiais, na Europa. Querem liberdade para mercadorias, querem liberdade pro capital, querem liberdade para a internet, pra ouvir músicas. Mas não querem ver, ouvir, ou sentir cheiros dos “feios, sujos e malvados”, estes que são, todos indiscriminadamente, preguiçosos, ladrões, que tentam impor sua cultura ao indefeso povo francês. (Juro que imagino a cena de um brasileiro, ou um “cigano”, com um Taurus, no Quartier Latin, gritando: Fale que Romário é melhor que Platini; fale seu francês porco!)

E digo isso apenas para não insistir no fato de que os roma são cidadãos europeus legítimos e a expulsão só poderia ser feita individualmente, depois de inquérito, e não os caçando como um bando.

O medo se alimenta do preconceito, que alimenta o estigma. O medo, o estigma e o preconceito, são frutos de uma pretensão de homogeneidade criada no processo de sedimentação do Estado-Nação. Não foi o povo que criou o Estado, foi este que criou seu povo, que é aquele que vive dentro das suas fronteiras.

Enfim, Nicolas Sarkozy não é Asterix lutando contra a invasão estrangeira em Gália. Pelas suas políticas recentes e cada vez mais sectárias, tenta ele ser um arremedo de Cesar, ou, na fala germânica, Kaiser!

P.S. Acho irônico, de uma certa maneira, que seja justamente a Europa a reclamar dos imigrantes. Logo ela que, durante suas crises políticas ou alimentícias, conseguiu exportar seu excedente, seus famélicos, para outras partes do mundo. Fico a imaginar como seria a Irlanda ou a Itália se essa “ralé” não pudesse ter saído do seu país…

Coluna de Walter Hupsel
 
Se existe hoje uma ideologização forte no Brasil ela está dentro das faculdades na prática do QI (quem indica). A política de indicação está tão forte que uma das maiores tristezas hoje é o número insuficiente de professores titulares nas faculdades e as trapaças em níveis inferiores. A dificuldade para liberarem novos professores titulares demonstra descaso com o lado técnico.

A maior conseqüência é a destruição e sucateamento do setor estratégico brasileiro, que como a BBC afirmou, o Brasil de hoje tem uma carência enorme de profissionais nas áreas de exatas e excedente nas biológicas, humanas e outras.

Sabendo disso, a OCDE em seu relatório cita em sua conclusão que o Brasil tem falta de foco estratégico, que em palavras diplomáticas significa dizer que o país está sem cérebro e nos falta inteligência.

E eu concordo com o relatório. Na verdade é extremamente emblemático que o Brasil seja a nação mais presente no Orkut e em redes sociais. Isso nos mostra como um país de "Hype", de palpiteiros, ao invés de um país de pessoas sensatas. É o país do "Eu acho" e não do "eu penso" (uma expressão mais compromentida com a realidade). É o mesmo populismo de Getúlio Vargas na internet. A internet que se instalou antes de a população conseguir ser independente. E a "desreforma" ortográfica só mostra como uma língua também pode deteriorar uma nação. Tanto quanto Tolkien melhorou a visão de mundo em muitos países ao construir um mundo a partir de um idioma, nosso governo foi na onda de seguir o povão na hora de mudar seus próprios padrões. Na verdade sempre o governo seguiu o mesmo desejo pela popularidade como hoje ocorre na internet, ao invés de seguir valores próprios (os quais não pratica a não ser para conseguir mais popularidade).

Sobrecarregados de trabalho por todos os setores e pressionados politicamente nossos estatísticos e analistas acabam fazendo um trabalho ruim, perigoso e em certos casos, sujo. Eles se calam diante de políticos que entram em questões técnicas ou perderão o emprego ou até mesmo recebendo ameaças criminosas. Mesmo sabendo que existem questões além do partidarismo, a ignorância é tanta que aquele pesquisador politizado talvez mereça mesmo ser um "subpesquisador".

Nossa única saída é fortalecer os setores de planejamento estratégico, impedir o sucateamento das profissões (como fizeram na carnificina com os pedagogos do Brasil), cumprir as promessas nas áreas de apoio ( Pois não existem nem políticas que estimulem a competição nas universidades públicas do interior e onde está nossa política de esportes para as faculdades?).

Do contrário o caminho é mesmo a formação de uma massa de manobra, ansiosa por redes sociais ao invés de pelo social. A hora é essa ou então deveremos nos recolher a nossa própria prisão.
 

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