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[Nicole "Melwen" Siebel] [Buscando o amanhã] [L]

Cá estou publicando mais uma vez... Dessa vez, um romance que escrevi há alguns anos( por romance, entendam narrativa longa :obiggraz:). Eu tinha só uns 13 anos quando escrevi, então, não reparem se houver alguma referência histórica errada ou essas coisas... :oops:

PRÓLOGO:

Lentamente, ela passava as mãozinhas miúdas sobre as pedras do colar de mãe, que brilhavam a luz dos raios de sol que penetravam as janelas. Sabia que não devia mexer nas coisas de sua mãe sem a permissão dela, mas as jóias eram tão bonitas, que simplesmente não podia evitar.
Deitada de bruços sobre a cama dos pais, Irene analisava as pedras preciosas dos colares, anéis e pulseiras da mãe, enquanto imaginava-se grande, usando-as nas festas que frequentaria.
Quando a porta do quarto abriu-se rapidamente, Irene se sobressaltou, colocando a jóia que admirava dentro da parte superior do vestido. Sua mãe entrou apressada e aproximou-se da filha. Irene já esperava uma reprimenda, quando sua mãe a abraçou com força e disse:
-Minha querida, esconda-se embaixo da cama, e não saia de lá por nada. Fique bem quietinha, está bem?
A menina obedeceu, encolhendo-se embaixo da cama e espiando por baixo da bainha do lençol.
Alguns minutos se passaram quando um par de botas entrou no quarto.
-Então é aí que a senhora se esconde. – Disse a voz do homem.
-Não tenho motivos para me esconder, senhor. Tampouco para fugir. Se acham que eu cometi algum delito, então irei acompanhá-lo para esclarecermos esse mal entendido. – Disse a voz da mãe de Irene, sem titubear.
O homem deu uma gargalhada medonha.
-Então vamos, senhora. Acompanhe-me para que seja julgada. – Disse ele em tom de deboche.
O homem e a mãe de Irene deixaram o aposento, deixando para trás a menina, que não entendia o eu se passava. Pensou em sair do esconderijo e ir atrás da mãe, mas era uma menina obediente e sua mãe lhe mandara ficar escondida.
O tapete do quarto era tão macio, que a pequena Irene não resistiu, adormeceu ali.
Quando abriu os olhos, ouviu um som de grande alvoroço. Havia muitas vozes e gritos. Ela saiu do seu esconderijo e correu até o primeiro patamar da residência. Só então notou que haviam ateado fogo na casa.
Assustada, ela correu para a porta dos fundos e não parou até chegar ao estábulo.
O criado que cuidava dos cavalos estava lá.
-Jovem senhora, venha comigo, iremos para a casa de sua tia. – Disse ele.
Irene seguiu até ele.
-O que está acontecendo? Onde está a mamãe? – Perguntou a menina.
-Sua mãe teve de fazer uma pequena viagem. – Disse ele. – Agora venha, criança, devemos seguir até a casa de sua tia Adelaide imediatamente.
Irene subiu na carruagem e logo estava a vários metros de seu lar. Mal sabia ela, que jamais retornaria àquele lugar.
 
Última edição:
É isso mesmo.

Segue a continuação:

CAPÍTULO I:
Aquela era só mais uma noite na pequena vila do condado de Shaw. A pequena taberna da hospedaria estava aberta, e um som alegre de vozes que conversavam podia ser ouvido da rua.
De repente, uma estranha figura apareceu por lá. Ninguém sabia quem ela era, mas o fato é que era muito estranha. A jovem mulher não usava um vestido, mas sim uma calça, grandes botas de couro, uma camisa larga e um corpete. Usava uma espécie estranha de saia sobre a calça e um cinto de couro marrom.
Às vezes apareciam essas pessoas estranhas. Normalmente se tornavam o assunto das conversas na taberna, e com essa estranha em particular não foi diferente.
Ela encaminhou-se para o balcão e pediu uma caneca de vinho.
O balconista logo a atendeu, fixando seus olhos na estranha figura. Porém, em poucos segundos ela já havia sido esquecida pelos freqüentadores do lugar, que não viram mais nada de interessante a comentar sobre ela.
Novamente a porta se abriu, para que um homem alto e gorducho entrasse. Pelo modo como todos o receberam, era um antigo conhecido.
Ele seguiu até o balcão e cumprimentou o atendente.
-Boa noite, Vitor. – Disse o homem. – Uma caneca de vinho para mim, sim? Estou gelado até os ossos.
-Claro, Júlio. – Disse o atendente.
Júlio virou-se para a estranha moça, que ainda estava ali.
-E essa adorável jovem? Poderia me dizer seu nome? – Perguntou ele.
-Isso não é da sua conta. – Disse ela com voz cortante.
-Nossa, mas que ferinha! – Ele exclamou rindo. – Sabe, isso me lembra a história de uma senhora, mais precisamente uma duquesa.
Quando ele disse isso, todas as atenções do bar voltaram-se para ele.
-Chamava-se Cordélia de Áquila, e era uma mulher sensacional. Bem como essa jovem, era uma flor, linda de se ver. Possuía cachos castanhos e olhos verdes, e sorriso encantador. Acontece que essa jovem era uma ardilosa feiticeira. E com suas poções e feitiços, essa simples e bela camponesa casou-se com um duque muito abastado. Os dois tiveram uma filha e viviam em aparente boa vida, sem grandes problemas. Então, o duque foi chamado para ir para as cruzadas e deixou a esposa sozinha com a filha pequena. Foi aí, que descobriram que ela era uma feiticeira perigosa. Mais do que um encanto para conquistar o duque, ela queria que ele morresse nas cruzadas, para poder herdar a fortuna do marido e governar suas terras.
-Foi então, que oficiais descobriram a sórdida natureza da duquesa, e a levaram para a inquisição. Dizem que ela morreu na fogueira, amaldiçoando a todos e que jurou vingança. –Ele terminou sua história deixando muitos em silêncio, ainda compenetrados.
-E o que aconteceu com a filha? – Perguntou um moço.
-Ah, isso é um mistério. Alguns dizem que ela foi morta pela própria mãe. Outros dizem que a inquisição a queimou. E ainda há alguns que digam que sobreviveu e fugiu, crescendo entre os demônios na floresta. – Disse ele.
Nesse momento, uma gargalhada alta foi ouvida. Estupefatos, todos olharam para a estranha moça que emitira a gargalhada.
-Lamento, minha jovem, mas não vejo motivos pára rir dessa história. Trata-se de algo muito sério. – Disse Júlio.
-Oras, não seja ridículo! – Disse ela. – “Cresceu entre os demônios da floresta”, francamente. Eu conheço a história verdadeira. E não foi como o senhor conta. – Disse ela. – Aconteceu assim: Havia no ducado de Áquila uma adorável jovem, que realmente possuía olhos da cor de uma esmeralda, cintilantes e amáveis, e longos cabelos castanhos. Seu sorriso era fácil de encontrar no rosto de feições delicadas, e ela amava as flores e os bosques.
-Em certa manhã, ela colhia maças na orla do bosque, quando um jovem aproximou-se dela. Ela sorriu-lhe e voltou-se para as maçãs, enquanto cantava. A voz dela era tão doce, e ela era tão bela, que o jovem não resistiu a seus encantos e apaixonou-se. Mal sabia ela, que aquele era o filho mais velho do duque, que herdaria toda a fortuna de seu pai em algum dia no futuro. O jovem passou a visitá-la sempre, mas não contou que era um nobre, com medo de que ela o temesse. Porém, ele chegou à idade de se casar, e seu pai exigia que ele se casasse com a filha do conde de Barbarac. Tendo a certeza de que jamais seria feliz ao lado da condessa, ele falou com seu pai, que não entendeu a decisão do filho. Então, ele contou para a jovem camponesa que a amava, e que era o filho do duque. Ela ficou muito magoada por ter sido enganada, mas o amava tanto que não conseguia ficar longe dele. Então, os dois casaram-se às escondidas, com a ajuda do padre. Assim, o duque não poderia separa-los.
-Mas quando soube do que o filho fizera, o duque ficou furioso. Queria inclusive retirar todos os direitos de herança do filho. Pensou em ardilosas maneiras de livrar o filho da camponesa e inventou histórias infundadas a respeito dela. Disse que ela era uma perigosa feiticeira, e que fizera um encanto para conquistar seu filho. Difundiu essa história e já planejava falar com a inquisição, sendo ele um homem influente, quando descobriu que havia tido uma neta. O filho do duque imediatamente fugiu do castelo para ver a filha e deixou o pai ainda mais furioso, pois ele ordenara ao filho que não vise mais a camponesa.
-O duque reuniu sua guarda e seguiu até a casa da camponesa, na orla da floresta, disposto a matar a criança e prender a jovem. Entrou na casa e pegou a criança. Imediatamente, a camponesa começou a chorar, dizendo que aceitava deixar o filho do duque, na condição de que sua filha fosse mantida viva. O duque ficou comovido, e olhou para o bebê, que chorava em seu colo. Ficou arrependido das maldades e resolveu que aceitaria a jovem como esposa legitima de seu filho.
-Assim, eles passaram a ter uma vida feliz. O duque, infelizmente morreu na guerra alguns anos depois, e seu filho herdou seus bens e teve de partir para a guerra. Foi aí, que o conde de Áquila, interessado em tomar o titulo de duque, reavivou os boatos a respeito de Cordélia e a denunciou à inquisição. E ela teve um triste e injusto fim na fogueira. Mas manteve sua dignidade e sua alegria, pois sua filha havia conseguido fugir.
A estranha terminou a história e calou-se por algum tempo.
-Foi assim que a história sucedeu. – Disse ela.
-Uma narrativa notável, minha cara. Devo dizer que me enganei pensando que se tratava de uma leiga. – Disse ele. – Vejo que és uma jovem erudita, então.
-Exato. – Disse ela.
-Então diga-nos teu nome, e garante que ele será famoso entre todos nessas regiões. – Disse ele.
Ela passou alguns instantes em silêncio.
-Sou Lore. – Disse ela. – Lore Lindberg.
-Um nome forte, minha cara, um nome forte. – Disse ele. –E garanto que o bom Vitor aqui lhe dará hospedagem de graça por essa noite.
-Seria no mínimo falta de cortesia não hospeda-la depois de nos entreter com sua palavras, minha cara. – Disse Vitor, sorrindo atrás de sua barba ruiva.
-Agradeço por seus elogios, embora não seja merecedora. E aceito sua oferta de hospedagem por essa noite.
-Perfeito. – Disse Júlio.
-Venha, vou mostrar seu quarto, se já estiver cansada. – Disse Vitor.
-E estou. – Disse ela.
Seguiram os dois até a escada que levava ao patamar dos quartos.
 
CAPÍTULO II:

Tia Adelaide sorriu largamente.
-Minha querida criança. – Disse abraçando Irene.
-Titia, onde está a mamãe? – Perguntou a menina, mirando a tia com os olhos amendoados.
Adelaide trocou um olhar com o criado que trouxera a sobrinha. Ele apenas manteve sua cabeça baixa, como um silencioso sinal de lamento.
-Sinto, querida, sua mãe teve de fazer uma viagem. – Disse Adelaide. – Logo ela deve estar de volta.
-Mas ele nem se despediu... – Murmurou Irene, inconsolável.
-Eu sei, querida, mas ela teve de partir com muita urgência, pois tinha de resolver um assunto muito importante. – Disse Adelaide.
Irene não se convenceu. Por que sua mãe iria viajar sem avisa-la?
Mesmo assim, seguiu a tia até o interior da casa. Sua tia era esposa de um marquês, que assim como seu pai estava na guerra.
-Venha, querida, eu mesma irei lhe mostrar seu quarto. – Disse tia Adelaide.
Irene nada disse, apenas seguiu a tia, com passos lentos.

Ela fitou os pés descalços. Estava estendida na cama, sentindo os músculos rijos pelas horas de cavalgada. Mesmo assim, ela não se arrependia: havia tomado a decisão mais correta.
Ela brincava com algumas mexas de seu cabelo, solto e esparramado pelo travesseiro. Dormir em uma estalagem não era tão bom quanto viver em um lar. Mas ela deveria se habituar: a partir de agora, não mais teria um lugar para chamar de lar.
As lembranças inundavam sua mente, não permitindo que ela dormisse. Sempre se lembrava do dia em que sua vida mudara para sempre, o dia em que ela fora privada de sua mãe e de seu verdadeiro lar.
Sozinha no escuro, ela agora sentia medo. Não era um medo qualquer, era o medo de jamais encontrar seu lugar. Seu coração cheio de dúvidas estava cansado, assim como seu corpo, e as lembranças a mantinham acordada.
Lentamente, ela fechou os olhos e adormeceu.

Ela estava sentada sobre a cama, em uma pose solene. Sentia que havia algo errado. Tia Adelaide mirava-a como se sentisse pena.
-Minha querida Irene, - começou Adelaide, - nem sei como posso falar-te. Sinto uma horrível dor em ter de lhe dar essa notícia. – Adelaide fez uma pausa de alguns segundos e recomeçou. – Sua mãe não está viajando, Irene. Ela... Ela está morta.
Irene piscou os grandes olhos castanhos.
-Tia, a senhora não sabe que é feio mentir? – Disse a criança.
-Quem me dera estivesse mentindo, minha menina. – Disse Adelaide sentindo que lágrimas começavam a se formar em seus olhos. Ela sempre nutrira muito carinho pela cunhada e sabia que ela era inocente.
Os olhos amendoados de Irene se encheram de lágrimas, que logo escorreram por seu rosto angelical.

Ela acordou sobressaltada. Uma suave luz nas brumas da noite, lhe anunciou que a noite findava e o dia começaria em breve.
Levantou-se e vestiu-se. Não demorou muito tempo para arrumar suas coisas: eram poucas.
Depois de estar pronta, ela seguiu até a recepção da taberna, ainda pensando no sonho que tivera. Devia esquecer aquilo tudo se quisesse ter paz.
O estalageiro ainda não estava de pé, e Lore achou melhor assim.
Seguiu até o estábulo e selou seu cavalo, um belíssimo cavalo negro, de ancas largas e crina longa.
Em alguns minutos ela já estava na estrada. Queria afastar-se logo daquela região, onde alguém poderia reconhecê-la facilmente.
O cavalo trotava lentamente, tranqüilo. Ela seguiu pela estrada que cortava o condado, e depois ganhou os campos verdejantes e cobertos de relva. Não havia estradas decentes ligando os territórios, e mesmo que houvesse, Lore estava interessada em ver as belezas que a natureza tinha a lhe oferecer.
Fez o cavalo seguir por relvados macios, com calma.

Quando o sol começou a nascer atrás das montanhas, manchando o céu com seus tons alaranjados e vermelhos, ela fez o animal parar sobre uma colina, e ficou observando os raios alaranjados ferirem o negrume do céu. Novamente lembranças inundaram sua mente...
Sentada no banco de pedra do jardim, ela via a manhã descortinar-se. No horizonte, os raios de sol anunciavam um dia de esplendor. Ela deveria sentir-se culpada por não sentir esperança diante de um novo dia? Ou por que se considerava tão misera diante daquele esplendor?
Suspirou, abraçando os joelhos e fixando os pés descalços.
-Senhora Irene, já desperta a esse hora? – Ouviu a voz rouca de Fabiane perguntar-lhe.
-Não tenho sono. – Disse Irene. Fabiane era a criada da casa, que cuidava dos afazeres domésticos e sempre era muito amável.
-Está bem, senhora. – Disse a criada seguindo para a casa da patroa.
Irene olhou novamente para o céu, ainda imersa em seus pensamentos.
-Irene, minha querida, venha! – Ouviu tia Adelaide chamá-la. – Rápido, preciso de sua ajuda.
-Minha ajuda, tia? – Perguntou a moça.
-Sim. – Disse Adelaide. – Precisas me ajudar a encontrar um esconderijo para que tu fiques. O conde de Aldearan vem a nossa casa logo e sabes que não é prudente que ele te veja.
-Sim. – Disse Irene. – Titio falou-me a respeito disso. Irei vestir-me como camponesa. Ele jamais me notará.
Tia Adelaide assentiu.
Logo, Irene já vestia roupas velhas e surradas e tinha os cabelos castanhos soltos. Ficou no celeiro.
O conde chegou logo, montado em seu garanhão branco e acompanhado por rapaz.
Irene tratou de ocupar-se com as tarefas do celeiro, para não ser notada.
Logo o conde já estava com a tia, no interior da residência e Irene suspirou mais uma vez, sentando sobre um monte de feno.
-Com licença, moça. – Ela ouviu uma voz e assustou-se.
-Desculpe-me, não tive a intenção de assusta-la, mas poderia dizer-me onde poderia dar de beber aos cavalos? – Ele perguntou.
-Ali. – Ela respondeu apontando. Nada mais disse, e deixou que o emaranhado de fios castanhos que era seu cabelo cobrisse seu rosto.
-Grato pela informação. – Disse ele com um sorriso brincando em seus lábios.
Ela ousou levantar a cabeça por alguns segundos, para estudar bem os passos do rapaz, ao que logo se arrependeu, quando ele voltou-se para ela e viu o rosto dela. Por um momento, pensou que ele talvez a reconhecesse, mas ele apenas sorriu e ela mais uma vez respirou aliviada.

Lore fez o cavalo seguir novamente. Ah, lembranças. Amaldiçoadas fossem. Agora ela era outra pessoa.
Seguiu através das Campinas até a metade da manhã, quando encontrou um riacho de águas límpidas e parou por algum tempo para beber água e comer algo. Não era difícil arranjar alguma fruta doce entre os bosques. As macieiras não podiam estar mais carregadas de frutos e das folhas dos pessegueiros mal se tinha sinal.
 
Gostei, me lembra um pouco os contos de fada da disnei só que um pouco mais pesado. Ainda não li o capitulo 3 mas assim que tiver tempo irei ler. Tirei uma foto do meu caderno aonde fiz o mapa da terra que se passar a queda das sete estrelas. Olha lá no topico, tá meio feio mas não vi outro jeito hehe de trazer pro pc o mapa.
 
Parecido com contos de fadas da Disney?! :lol: Nunca tinha ouvido esse comentário sobre essa história, mas é compreensível, já que cresci assistindo os desenhos da Disney, alguma influência deles eu tenho que ter... :obiggraz: E como disse no começo, escrevi isso quando era bem guriazinha. Que bom que está gostando.

Já vai o próximo capítulo:

CAPÍTULO III:

O dia pareceu passar lento, enquanto ela seguia entre as árvores frondosas da floresta. A noite enfim chegou, estendendo seu manto negro sobre a terra.
Lore encontrou um lugar que lhe pareceu propício para passar a noite: uma pequena clareira próxima à orla da floresta. A pequena extensão que não continha árvores era circundada por enormes carvalhos e arbustos de urtiga.
Amarou o cavalo e lhe tirou a sela, deixando-o livre para pastar a vontade. Depois de arrumar uma rápida refeição, preparou um precário arranjo de cobertas que seria sua cama naquela noite.
Deitou-se e passou a olhar as estrelas que brilhavam no céu.
Quando estava prestes a adormecer, ouviu o som de passos quebrando gravetos. Inicialmente pensou que pudesse ser algum animal, mas a medida que os sons tornaram-se constantes, teve certeza de que era uma pessoa que estava ali. Sentou-se, com cuidado para não fazer barulho, e retirou duas adagas de sua bolsa de viagem.
Logo, o autor dos passos apareceu na clareira e teve uma das lâminas pressionadas contra a sua garganta.
-Por favor, não me machuque! – Choramingou uma voz.
Lore imediatamente percebeu que era uma criança. Soltou-o e fixou seu rosto por um momento.
-O que um menino faz no meio da floresta, sozinho, há essa hora? – Perguntou ela.
-Me perdi. – Disse ele.
-Tem certeza? – Ela disse, notando o brilho fingido nos olhos dele.
-Oh, está bem. – Disse ele. – Não me perdi. Meu irmão saiu para caçar e eu queria ir também, então fui até nosso estábulo e montei um cavalo e fui atrás dele. Mas o cavalo era muito grande para mim e me derrubou. Eu não consegui achar o caminho de volta e vim parar aqui.
-Entendo. – Disse ela. – Façamos o seguinte: essa noite passará aqui comigo, que está demasiado tarde para vagar por essas estradas. Amanhã irei contigo até tua casa.
O menino concordou.
-Como te chamas? – Perguntou Lore, enquanto dava um pedaço de pão e água ao menino.
-Meu nome é Arthur. – Disse ele. – E o seu?
-Sou Lore. – Disse ela.
-Muito encantado em conhece-la. – Disse ele. – Mas o que a senhora faz aqui? Também esteve perdida?
-Não. – Disse ela. – Sou uma barda.
-Uma barda?! Mulher?! – Exclamou ele. – Nunca vi disso.
-É, não é comum. – Disse ela.
-Se é mesmo uma barda, então me conte uma história. – Disse ele.
Ela pensou por alguns minutos e então começou:
-Há muito tempo atrás, vivia em um belo castelo um jovem rapaz muito valente. – Começou. – Seu nome era Carlos e ele era um criado do estábulo do rei. Seu grande sonho era ser cavaleiro, mas como não possuía sangue nobre, não poderia realiza-lo. Conformou-se então em apenas sonhar e imaginar. Um dia, porém, Carlos ouviu um cavaleiro falar que a princesa havia sumido e que o rei estava aflito atrás dela. Preocupado com a princesa, ele foi atrás do seqüestrador e descobriu que a princesa fora aprisionada por um duende mal que desejava casar-se com ela.
-O duende era muito feio e mal, e por isso a princesa estava muito triste. Ela pediu ao duende que a libertasse em troca de todas as jóias do palácio, mas o duende recusou. Assim, a princesa permaneceu presa no calabouço do castelo de pedra do duende. Carlos então fez um plano. Enquanto o duende dava ordem a seus criados, ele se esgueiros para dentro do castelo e encheu o caldeirão de sopa com uma poção para fazer dormir.
-Pouco tempo após o almoço, o duende e seus criados ressonavam profundamente. Então, Carlos foi até o calabouço e libertou a princesa seguindo com ela até a floresta.
-Porém, o duende acordou e, irado por ter sido enganado, saiu em busca da princesa. Encontrou Carlos e a princesa quando estes seguiam até o castelo e exigiu a princesa de volta. Carlos então, bolou uma armadilha. Propôs ao duende uma luta e aquele eu vencesse ficaria com a princesa. O duende resolveu aceitar e os dois passaram a lutar, enquanto a princesa observava. Como Carlos passara anos treinando para se tornar cavaleiro, era um exímio espadachim e deixou o duende tão cansado, que logo ele já cambaleava e oscilava. Aproveitando essa oportunidade, Carlos encurralou o duende e quase o matou, mas não o fez. Disse ao duende para ir embora e deixar em paz a princesa e para não voltar mais até aquelas terras.
-O duende, com muita raiva, aceitou a condição e fugiu. Carlos voltou ao castelo do rei com a princesa e o rei, tão feliz por ele ter encontrado sua filha, proclamou-o cavaleiro, realizando o maior sonho de Carlos. – Ela concluiu.
-E o duende, não morreu? – Perguntou Arthur. – Pensei que ele Carlos fosse mata-lo, porque ele era mal.
-Carlos era um cavaleiro honrado, Arthur. – Disse ela. – Um cavaleiro de verdade. E o verdadeiro cavaleiro tem piedade.
Ele nada mais disse.
-Você narra bem. – Disse enfim. – Mas essa história deixou-se com sono.
-Então durma. – Disse ela.
Ambos dividiram a precária acomodação que Lore chamava de cama, e dormiram até a manhã seguinte.
Lore acordou quando a manhã nascia no horizonte, e as folhas ainda estavam prateadas de orvalho. A terra úmida parecia manter a clareira fresca e tranqüila.
Preparou suas coisas, enquanto esperava Arthur acordar, e amarou os cabelos como sempre fazia.
Quando Arthur acordou, o sol já iluminava boa parte da clareira e os pássaros já voavam alegres pelo céu enchendo a floresta com seu canto. O menino esfregou os olhos sonolentos. Lore lhe atirou duas maças, que ele comeu lentamente após beber um pouco de água.
Estando tudo pronto, Lore montou o cavalo, e estendeu a mão para o garoto, que montou em frente a ela.
A floresta era um bom lugar para se seguir em viagem: o chão era coberto de relva e terra fofa, e as arvores faziam sombras. Além disso, havia o perfume das flores e das frutas que estavam na época da maturação.
Arthur parecia encantado com aquele lugar, em parte selvagem, que ele temera na noite anterior. O menino era acostumado a salões de pedra elegantes, horas em bibliotecas com a cabeça nos livros, mas nunca havia experimentado uma sensação como aquela de ouvir o canto dos pássaros e ver as lebres correndo entre os arbustos.
-Deve ser muito bom ser uma andarilha. – Disse ele após um longo tempo de silêncio. – Poder viajar por vários lugares, conhecer uma porção de gente...
Lore ponderou por alguns segundos.
-Como todo o tipo de vida que se possa escolher, no meu caminho nem sempre há maravilhas. – Disse ela. – Nem todas as pessoas nesse mundo são boas. Nem sempre elas tem consciência do que fazem, e muitas vezes, elas cometem erros irreversíveis que precisam ser punidos.
-Mesmo assim, deve ser mais legal do que viver em um castelo e ter de estudar. – Disse ele aborrecido. – Meu pai quer que eu me torne padre, e para tal tenho de passar horas estudando... Mas não quero tornar-me padre! Queria mesmo é ser cavaleiro! Lutar nas guerras, manejar a espada! – Ele tinha um brilho de alegria nos olhos ao falar assim.
 
Depois de um logo e tenebroso inverno, eu voltei ao clube dos bardos. Li o capitulo 2, muito bom mesmo. Queria narrar assim, vc descreve muito bem e o ambiente e os demonios internos que atormentam a Lore, parabéns. Ainda falta ler o capitulo 3 mas em breve irei le-lo.
 
Obrigada pelos elogios. :oops: Você também escreve muito bem, especialmente os momentos com mais ação. Segue o quarto capítulo, que marca a metade da história.

CAPÍTULO IV:

Passaram mais algum tempo em silêncio.
-Aonde tu vives afinal? – Perguntou ela, que se esquecera deste detalhe.
-No Condado de Aldearan. – Disse ele. – Sou o filho mais novo do conde.
Se o garoto tivesse dito que tinha duas cabeças, os seis dedos nos pés ela não teria levado um susto maior. Sentiu uma pulsação estranha no coração quando ouviu isso. Se estava levando o menino, provavelmente teria de ver o pai dele e se o conde a reconhecesse... Só então, ela lembrou-se de que o conde não a conhecia. Ela havia visto a menininha, sim, de fato, mas nunca a vira depois de moça. Quando estava na casa da tia, ele podia desconfiar, mas não na sua atual condição de barda. De qualquer maneira, ver aquele homem em sua frente seria um choque e tanto.
Continuaram seguindo em silêncio, enquanto o dia avançava. Quando o sol estava no meio do céu, encontraram um riacho e pararam para beber água e comer algo.
Logo após essa rápida parada, seguiram mais uma vez em frente.
Após mais algum tempo de cavalgada, encontraram uma trilha.
-Deve ser a trilha que é usada para as caçadas!- Disse Arthur. – Devemos estar próximos.
De fato, mal haviam andado cem metros e ouviram o com de cascos de cavalo trotando sobre a terra.
Segundos depois um cavalo castanho surgiu à frente deles, montado por um rapaz alto de cabelos negros.
-Arthur?! – Exclamou ele ao ver o garoto. – Aí está o senhor, seu danado! Imagines que teu pai quase teve uma sincope ao descobrir que sumiste!
-Achas que ele ficará muito zangado? – Perguntou Arthur parecendo assustado.
-Talvez. – Riu o cavaleiro. –Mas não se preocupe, não estará zangado o bastante para manda-lo para a fogueira.
Lore não soube dizer se o rapaz a havia reconhecido (ela o reconheceu na mesma hora em que o viu:havia visto-o uma única vez) e sabia quem ela era, ou se aquela foi apenas uma piada inocente.
-E essa senhora que o acompanha? – Perguntou o cavaleiro.
-Apresento-lhe Lore Lindberg. – Disse Arthur. – Barda e viajante.
-Encantado em conhece-la, senhora. – Disse ele.
-Apenas Lore. Não sou senhora de nada além de meu destino, que é a única coisa que possuo, meu caro cavaleiro. – Disse ela.
-Então já possui a maior das riquezas, senhora. – Disse ele com um sorriso. – Mas vamos, devemos seguir imediatamente até o conde. Tenho certeza de que ele deseja agradecer-lhe pessoalmente por ter salvado a vida de meu jovem senhor.
Lore não se sentiu nada a vontade nessa situação, então apenas concordou com a cabeça e seguiu o cavalo do cavaleiro até o castelo do conde.
Lá chegando, dois criados vieram recolher os cavalos e guia-los até o estábulo. Lore, Arthur e o cavaleiro seguiram para o interior do castelo.
As paredes dos salões eram repletas de imponentes tapeçarias que retratavam o brasão do conde e outras figuras.
Seguiram os três até o gabinete do conde. O gabinete era o local onde o conde costumava tratar dos assuntos de seu reino: era uma sala pequena que continha uma mesa e várias cadeiras para receber representantes de outras terras.
A porta foi aberta pelo cavaleiro, que entrou e fez uma rápida reverencia.
-Meu senhor, seu filho foi encontrado. – Disse ele.
-Então que ele entre. – Disse o conde.
Arthur entrou na sala rapidamente, esperando, ou o castigo, ou as alegrias.
Lore o seguiu de fininho.
Viu que uma mulher de cabelos ruivos muito fartos havia abraçado Arthur com gosto e agora lhe beijava a face, enquanto lhe murmura uma bronca amena.
-E esta senhora, que é? – Perguntou o conde, notando Lore.
-Senhor, essa senhora foi quem encontrou seu filho. – Disse o cavaleiro.
-Certo. E a senhora certamente irá querer uma recompensa por seu feito. – Disse ele. – Diga-me o que deseja?
Ela pensou por alguns minutos, e então se voltou para o conde e disse sem hesitação:
-Quero que Arthur não seja enviado ao monastério para tornar-se padre e ao invés disso, seja enviado à Marquesa Adelaide Beatriz para tornar-se cavaleiro em suas terras.
-Que dizes? – Perguntou o conde.
O cavaleiro olhou para ela com surpresa, bem como a condessa e Arthur.
-Um pedido deveras ousado da parte dessa senhora. – Disse um rapaz que até então não havia sido notado por Lore. – Mas, meu pai e senhor, essa não é uma proposta ruim.
O conde pareceu ponderar.
-Pensarei a respeito disso num momento mais propício. – Disse. –Já a senhora, pode se retirar. Creio que deva ter serviços a prestar.
-Eu não trabalho para ninguém. – Disse ela. – Mas entendo o que o senhor quis dizer, e irei me retirar.
-Mordaz senhora, então vives para quê? – Perguntou o rapaz desconhecido. – Acaso és filha indomada de algum senhor?
-Não. Ela é uma barda, Felipe. – Disse Arthur.
-Uma barda? - Perguntou. – Mas que estranho. Jamais havia visto uma mulher com dons artísticos. Seria no mínimo diferente ver uma mulher tocando bambolim ou declamando poesia, ou mesmo na condição de contadora.
Lore pensou em uma série de frases afiadas para rebater o que ele disse, mas achou melhor ignorar.
-Então o senhor gostaria de uma demonstração? – Perguntou ela.
-Seria algo interessante. – Disse ele.
-Pois bem. – Disse ela, pegando o bandolim, que como sempre, estava pendurado entre as várias coisas de sua bolsa de viagem.
Pensou por alguns momentos em uma poesia que conhecesse, e então iniciou uma canção que ouvira a muito tempo, dos lábios de sua mãe.
 
CAPÍTULO V:

O filho mais velho do conde mostrou-se surpreso pela habilidade da moça. De fato, nunca havia encontrado uma moça tão corajosa a ponto de viver sozinha pelas estradas da vida e contando e declamando poesia. E isso o fascinou profundamente.
-De fato a senhora tem dons artísticos. – Disse ele. – Meu pai e senhor, permita que eu sugira que esta senhora aqui fique até a recepção ao Marquês de Ramos.
-Seria de fato, uma honra tê-la conosco senhora. – Disse o conde. – Se aceitares ficar.
Lore pensou por alguns instantes.
-Aceito sua proposta. – Disse ela.
-Perfeito! – Disse o conde. – Minha esposa lhe mostrará seus aposentos, então.
Lore apenas concordou com a cabeça. Logo depois estava seguindo a condessa através dos corredores de pedra.
-Senhora Lindberg, devo dizer-te que não és estranha para mim... Tens feições que se parecem muito com a pobre Duquesa de Áquila. – Disse A condessa enquanto caminhavam. – Já ouviste falar nela?
-Devo dizer que sim, senhora. Ouvi rumores da trágica história da senhora de Áquila. – Disse Lore.
A condessa não disse nada mais até que chegaram ao quarto que mandara preparar.
-São acomodações modestas. – Disse a condessa.
-Serviram mais do que bem, senhora. – Disse Lore.
A condessa retirou-se, deixando sozinha em seus aposentos.
Lore encarou o espelho por um momento. O que ela fazia ali, afinal? Estava louca, tinha certeza. Respirou fundo por alguns momentos, e então se sentou na borda do colchão.
Depois de alguns minutos, achou melhor do quarto, caminhar um pouco para espairecer. Nunca gostara de ficar trancafiada entre quatro paredes para pensar, e naquele momento, sua cabeça formulava uma dezena de perguntas que precisavam de um bom tempo para receber uma resposta.
Saiu do quarto e seguiu pelo corredor, desceu as longas escadarias de pedra e seguiu até o jardim. Havia uma grande movimentação de servos àquela hora.
Resolveu ir até o estábulo, ver como andava seu cavalo. Tinha muito apreço pelo animal, seu único companheiro, sempre fiel.
Encontrou-o já em uma baia, sem a sela, enquanto comia uma cenoura com satisfação. Passou a palma da mão pelo dorso luzidio do animal de forma carinhosa.
-Então eles estão mimando você, garoto? – Perguntou brincalhona para o animal.
O cavalo terminou de engolir a cenoura e relinchou satisfeito.
-Vejo que a senhora tem grande amizade por seu cavalo. – Ela ouviu uma voz dizer.
-De fato, Azevinho é meu melhor amigo. – Disse ela. – Diferentemente de nós seres humanos, os cavalos não têm interesses financeiros ou a despeito de bens e títulos. Só importam-se com o que lhes é necessário a vida. Admiro essa singela vida dos animais por tal.
-Um pensamento lógico. – Disse ele, aproximando-se. – Creio que ainda nem fomos corretamente apresentados. Chamo-me Willian.
-Encantada em conhecê-lo, senhor Willian. – Disse ela.
-A senhora tem os modos de uma nobre. Entretanto, veste-se como um viajante qualquer e vive precariamente. Se não for um atrevimento, posso perguntar-te se acaso és filha de algum senhor que perdeu suas terras?
-Não é um atrevimento. – Disse ela. – Mas não. Não sou filha de nenhum senhor. Apenas sou muito observadora. Sempre observei bem as damas da corte onde nasci. E com tal observação aprendi os modos úteis a uma donzela de classe.
-Tenho a estranha impressão de já tê-la visto antes... Seu rosto me é vagamente familiar. – Disse ele.
-E a segunda vez que ouço isso hoje. – Disse ela. – Mas não creio te-lo encontrado antes, caro senhor. Sou do norte Das inóspitas terras da Germânia.
-Talvez, então, apenas tenha visto uma senhora semelhante a ti. – Disse ele.
-E o senhor, de onde é? – Ela perguntou, tentando distraí-lo para que ele não a reconhecesse.
-Sou sobrinho do conde. Meu pai era vassalo do Duque de Áquila, e está na guerra com seu senhor. Ou pelo menos é o que eu espero. Alguns dizem que já estão mortos há muito tempo, mas eu ainda acredito que isso não seja verdade. – Disse ele. – Vim parar nas terras de meu tio para a minha educação, já que meu irmão mais velho é que herdará as terras de meu pai.
-E escolheu tornar-se cavaleiro. – Ela disse.
-Sim. – Disse ele. – Embora eu preferisse já estar na guerra que permanecer aqui.
-A guerra às vezes é tão... Cruel. – Disse ela.
-Talvez. – Disse ele. – Mas não há grande diferença. Para falar a verdade, sinto-me pouco a vontade com meu tio, quando ele caça problemas para mim.
-Que quer dizer com isso? – Perguntou ela.
-Nada, apenas falei demais. – Disse ele meneando a cabeça. – Lamento, mas devo seguir com meu primo. Ele deseja visitar A marquesa ainda hoje.
Ela fez um educado meneio de cabeça afirmando e observou-o se retirar, puxando dois cavalos pelas rédeas.
Passou algum tempo mais no estábulo, e então achou melhor seguir para o castelo.
Preferiu fazer as refeições com os criados, e pareceu-lhe que a condessa aprovou sua decisão. Não foi exatamente por ela que Lore escapou de ser convidada à mesa dos nobres, mas por Felipe, filho mais velho do conde, que a olhava como se quisesse devora-la.
Em seguida, achou que deveria voltar para seu quarto. Em seu caminho, passou pelo corredor, e pelo gabinete do conde. A porta entreaberta deixava passar as vozes do conde e de Felipe.
-Acha mesmo que William pode estragar seus planos? – Ouviu a voz de Felipe perguntar titubeante.
-Talvez. – Disse o conde. – Se ele continuar querendo ser o bom moço, como sempre foi, e como o irmão de sua mãe sempre foi, ele irá procurar seu pai e o Duque e saberá que estão mortos. E aí vem ela... A menina. A filha do Duque. Se ela de fato estiver viva, será a grande ameaça.
-Mas, meu pai e senhor, não entendo. – Disse Felipe. – Sendo ela uma donzela, não poderia herdar o título e tampouco as terras.
-Justamente por isso devemos nos livrar de teu primo. – Disse o conde. – Como ele é o filho mais moço, e o Duque e o teu tio eram aliados, a filha do duque foi prometida em casamento a teu primo.
-E ele sabe sobre isso? – Perguntou Felipe.
-Sim. – Disse o conde. – Mas não creio que ele se importe com isso. Pelo menos não nesse momento. Mas se a menina estiver viva, o que seria difícil, ele teria chances de conseguir as terras e o título do duque.
Felipe nada disse e o conde continuou.
-Por outro lado, se eu permitir que ele se vá para a guerra. Provavelmente morrerá lá, ou então irá demorar anos para retornar. – Disse o conde.
Lore achou que já havia escutado o suficiente. Continuou seu caminho, pensando a respeito de tudo o que ouvira. Agora tudo fazia sentido. Tudo.
 
Muito boa a historia. Terminei de ler o capitulo 4 agora, o conde é nojentão parece que ele vai ser o vilão da historia:lol:
 
Mais um capítulo... Depois desse, faltam só 2 capítulos para completar a história. :obiggraz:

CAPÍTULO VI:

Ela passou algum tempo em seu quarto, pensando sobre tudo o que acabara de ouvir. Sua mente formulava uma estratégia, maquinando lentamente, enquanto digeria aquele banho de água fria que fora aquela conversa.
Depois de muito pensar, soube o que iria fazer. Determinada, saiu do quarto, cuidando para não fazer nenhum barulho sequer.
Seguiu pelos corredores sem encontrar nenhuma alma viva pelo caminho, uma vez que já era tarde da noite. Sabia onde deveria ir. Todos os castelos tinham o mesmo sistema de construção básica.
Desceu as escadas até o último patamar e caminhou até um corredor onde havia vários quartos. Aquelas eram as acomodações dos cavaleiros, modestas, simples.
Sua dificuldade seria achar qual era o quarto onde deveria entrar.
Analisou por um momento as portas e optou pela porta no final do corredor. Com cuidado, virou a maçaneta, abrindo a porta de madeira lentamente. Não precisou dar mais de dois passos para descobrir que havia acertado; aquele era o quarto que procurava. Fechou a porta atrás de si e caminhou até a proximidade da cama.
-William, acorde! – Disse ela, sacudindo-o levemente.
Ele resmungou alguma coisa abrindo os olhos.
-Senhora? – Questionou ele, ao abrir bem os olhos e fitar o rosto de Lore. – O que fazes em meu quarto em horas tão tardias?
-Preciso lhe falar, senhor. – Disse ela.
Ele sentou-se na borda da cama.
-Não poderias esperar até o alvorecer? – Perguntou ele. – Se alguém a encontrar aqui, será mal falada.
-Pouco me interessa. – Disse ela. – Temos que tratar de um assunto que não poderia ter momento mais propicio.
-E do que trataremos, afinal? – Ele perguntou.
-Política. – Disse ela. – Seu tio pretende dar-te um golpe.
-Como? Dizes absurdos?! – Disse ele.
-Ouça-me. – Disse ela. – Acho que para explicar teremos de começar do começo. Para começar, eu não me chamo Lore Lindberg e não sou germânica.
-Quem é você, então? – Ele perguntou, começando a desconfiar daquela conversa.
-Meu nome é Irene. Sou a filha do Duque de Áquila. – Disse ela.
-QUÊ?! – Ele perguntou aturdido. – És então uma louca! Se meu tio descobrir-te aqui, lhe entregará para a inquisição.
-Eu sei. – Disse ela. – Mas durante todos esses anos eu estive bem abaixo dos olhos dele, e ele sequer me notou. Eu sempre me comportava como criada na casa de minha tia, a marquesa Adelaide.
-Sim, lembro-me agora! – Disse ele. – Eu a vi no estábulo da marquesa.
-Sim. – Disse ela. – Mas não é disso que devemos tratar. Você conhece as histórias que cercam minha mãe. Na verdade, tudo faz parte de um golpe que seu tio formulou para apoderar-se das terras de meu pai. Ele tinha o plano perfeito: quando meu pai foi convocado às cruzadas, denunciou minha mãe e ela foi condenada. Seria questão de tempo e ele me entregaria para a inquisição também, sob a afirmação de que eu era filha de uma magia da feiticeira. Mas ele não contava com minha fuga. E agora ele teria outro empecilho: se eu estivesse viva, e me casasse, todos os bens de meu pai passariam a ser de posse de meu marido. E para seu próprio desespero, eu já havia sido prometida em casamento. Ele passou então a me caçar para terminar seu plano.
-Tudo isso faz sentido, mas ainda não entendi o que tu quiseste dizer quando afirmou que ele daria um golpe em mim. – Disse ele.
-Acontece que para ironia, o meu noivo é justamente... Você. – Disse ele.
-Eu sei. Mas se você for considerada morta, eu não tenho nenhuma utilidade a ele. – Disse ele.
-Sim, mas como ele está em duvida sobre minha sobrevivência ou não, passou a ter uma nova preocupação: você. E é por isso que ele quer livrar-se de você, mandando-o para as cruzadas.
William encarou-a durante alguns momentos.
-E o que você sugere? – Perguntou ele, pensando. – Que eu me oponha? Jurei minha lealdade quando fui nomeado cavaleiro e não posso quebrar esse juramento.
-Na verdade, eu tenho uma outra idéia... Mas precisarei de sua ajuda pra poder realiza-la.
-Então me conte. – Disse ele.
Conversaram por um longo tempo. Quando por fim a noite começou a encaminhar-se para o seu fim, Lore voltou a seus aposentos para não despertar desconfianças.
Mesmo que não tivesse tomado essa precaução, o conde estava tão ocupado em prepara a recepção ao Marquês de Ramos, com quem pretendia firmar uma aliança política, que nem teria notado que Lore estivera no quarto de William. E se tivesse notado, provavelmente teria ignorado esse fato, já que ela era uma barda.
O Marquês deveria chegar durante a tarde, com sua Marquesa e seu filho.
Logo a condessa estava muito atarefada, organizando os criados e servos na limpeza e arrumação do castelo e na preparação dos quartos de hóspedes.
Lore fugiu da correria daquele lugar assim que foi possível e encontrou Arthur no jardim. O garoto passou bem alguns minutos agradecendo a ela por ter mudado a opinião do conde. Depois ela perguntou-lhe sobre a visita à Marquesa Adelaide e o menino lhe contou, entusiasmado, sua conversa com a Marquesa.
-Sabia que ela o aceitaria como aprendiz. – Disse Lore quando ele terminou de descrever sua conversa com a Marquesa.
-Você a conhece? – Perguntou Arthur.
-Um pouco. – Disse ela. – Mas saiba que é o bastante para formar uma opinião a respeito dela.
Passou mais algum tempo conversando com ele, até que uma das criadas da Condessa a chamou.
-Senhora, minha senhora pediu que eu lhe entregasse isso. – Disse a criada, estendendo-lhe um vestido. – Disse que deseja que a senhora vista para a recepção do Marquês.
-Diga a ela que acatarei ao pedido dela. – Disse Lore.
-A senhora crê que precisará de ajuda com o vestido? – Perguntou a criada.
-Não, mas agradeço a oferta.
A criada retirou-se, deixando o vestido nas mãos de Lore.
Arthur continuou com ela por mais algum tempo, mas então uma outra criada apareceu para chamá-lo a se trocar para a recepção.
Lore achou que o melhor que tinha a fazer era ir até o quarto e trocar-se também.
Olhou-se no espelho por um momento. Usava um vestido vermelho com detalhes dourados. Prendeu os cabelos em um elegante penteado no alto da cabeça.
Pensar que logo tudo estaria acabado era estranho.
 
Depois de um longo inverno... Venho postar o penúltimo capítulo. :D

CAPÍTULO VII:
Desceu as escadarias e encontrou o Conde e a Condessa conversando com o Marquês e sua esposa.
-E essa adorável senhora? – A marquesa perguntou ao ver Lore. – É esposa de seu filho?
-Não. – Disse o conde. – Tratasse de uma nobre senhora filha do Conde de Nielle, que veio passar alguns dias conosco.
-Oh, compreendo. – Disse a Marquesa.
Lore imediatamente entendeu qual era o jogo do Conde. Queria impressionar os Marqueses. Não que precisasse disso, mas precisava de aliados.
Pouco tempo se passou até que o Conde e a Condessa conduziram seus convidados ao salão do castelo, onde uma mesa farta fora preparada.
Além do conde, da condessa, seus filhos e Lore, os cavaleiros do conde também estavam presentes. Alguns músicos foram encarregados de tocar seus instrumentos.
O conde e a condessa entretinham os convidados em uma conversa banal, que Lore não fez questão de ouvir. Novamente preferiu a companhia de Arthur, que agora conversava com Felipe e com o filho dos Marqueses.
Após o jantar, o conde levantou-se de sua cadeira e disse:
-Meus caros, que acham de um pouco de música para distrairmos nossa atenção? – Perguntou ele. – Senhora Lore, poderia nos embevecer com sua voz, ouvi dizer que tens uma voz digna de muito elogios.
-Comentários deveras exagerados. – Lore sorriu timidamente, embora seus olhos não demonstrassem timidez alguma.
Ela levantou-se e seguiu para um ponto onde podia ser vista. Passou alguns segundos pensando em alguma canção e então iniciou-a.
Ao terminar, teve aplausos do Marquês e da Marquesa.
-Deveras, tu cantas divinamente, senhora. – Disse o Marquês.
Lore apenas fez um suave meneio com a cabeça para aceitar cortesmente o elogio.
Seguiu novamente a seu lugar e sentou-se.
-Meu tio, eu gostaria de falar com o senhor. – Disse William, que estava sentado próximo ao tio.
-Pois sim? – Disse o conde, parecendo interessado.
-Tenho tido curiosidade a respeito de meu pai. – Disse William. – Ele não lhe enviou mais nenhuma mensagem?
-Não, lamento dizer. – Disse o conde.
-E o pai de minha noiva também, nada lhe enviou? – Perguntou ele.
O conde pareceu levemente incomodado com a menção ao duque.
-Sim, ele também nada enviou. – Disse.
-Que lastima. – Disse William. – Irene está tão triste com isso.
Nessa hora, Lore deve vontade de gargalhar, ante a expressão de espanto do Conde.
-Então encontraram a jovem filha do duque? – Perguntou o Marquês.
-Encontrá-la? – Perguntou William. – Como, se ela jamais esteve perdida?!
-Mas ninguém a encontrava... Ninguém sabe onde ela está! – Disse o conde.
-O senhor sabe, ela cresceu com a tia, a Marquesa Adelaide. – Disse William, que também parecia divertido.
O conde pareceu confuso.
-Zombas de mim, por acaso? – Perguntou enfim.
-Jamais o faria, meu tio. – Disse William. – O senhor mesmo a viu durante todos esses anos!
-Eu? Não... – Disse o conde, confuso no meio das falas do sobrinho. – Estás ficando louco?
-Como poderia estar louco, se Irene até mesmo está aqui nesse momento. – Disse William.
-Está? – Perguntou o conde.
-Estou. – Disse Lore.
-Você?! – O conde murmurou aturdido.
-Que esplendido! – Disse a Marquesa. – Então estavas viva todo esse tempo?!
-Sim, de fato. Mas concordamos que seria melhor que eu mantivesse isso em segredo. – Disse Lore.
-Uma decisão prudente. – Concordou o Marquês. – Já que sua mãe foi tão injustamente condenada.
O conde, aturdido, manteve-se calado. As conversas no salão passaram a ter sempre relação com Irene e com sua misteriosa aparição.
O Marquês e a Marquesa pareceram, então, mais interessados em William e na jovem.
-Então, pretendem casar? – Perguntou o Marquês.
William encarou-a por um tempo e respondeu:
-Foi da vontade de nossos pais, mas por enquanto ainda esperaremos a volta do duque.
-Uma decisão sensata, meu rapaz. – Disse o Marquês.
E logo ele começava a discutir manobras políticas com ele, dividindo experiências e dando conselhos.
Quando enfim todos se retiraram para seus aposentos, a Condessa ainda ficou algum tempo no salão inspecionando a criadagem. Lore seguiu para seu quarto, e deitou-se na cama vestido apenas a roupa de baixo, mas não dormiu.
Pensava sobre como seria, dali em diante, sua vida. Passara mais de dez anos de sua vida se escondendo e fugindo, e agora que encarava de frente aquela situação, tudo parecia bem mais fácil do que ela havia suposto.
Permaneceu algum tempo deitada, pensando.
Ouviu de repente a porta ser forçada. Sentou-se na cama, e observou.
Quando a porta de abriu, Felipe entrou com um sorriso torto nos lábios.
-Então a duquesinha está acordada? – Disse ele irônico.
-Isso não é da sua conta. – Disse ela num tom entediado. – Mas poderia fazer a gentileza de sair de meu quarto?
-Tu sabes a que vim. – Disse ele mostrando a espada. – Assim como sabes que desta vez não irás escapar.
-E que novamente será mostrado o quão cego um homem pode ser por seus interesses. – Disse ela. – Não percebes que teu pai te usa? Achas mesmo que ele lhe dará um quinhão de suas posses?
-Não sou nenhum idiota. – Disse ele. – Meu pai vai conseguir tudo o que convém a um governante e então eu tomarei dele através da herança.
Lore olhou para ele, perplexa.
-Eu não devia esperar algo diferente. Ele teria o que merecia. – Disse ela. – Mas acho que você se equivoca ao pensar que sou uma donzela indefesa e que não vou lutar pelo que me convém.
Ele nada disse. Ergue a espada para atingi-la, ela imediatamente defendeu-se usando as duas adagas que deixara sobre a mesa de cabeceira, formando com elas um “X” que refreou a lâmina da espada.
Ele tentou forçar por algum momento, mas não obteve grande sucesso. De fato, Lore era consideravelmente forte para uma mulher.
Ele tentou um outro golpe, que foi refreado da mesma maneira.
Foi então que teve uma idéia. Ele foi avançando em seus golpes, dando largos passos.
Lore estava ocupada demais em visualizar a lâmina da espada para reparar que ele a guiava para um canto do quarto. Quando notou isso, já era tarde demais. Estava escorada na parede e ele estava a sua frente.
-E agora? Pode tentar evitar a lâmina por mais algum tempo, mas e depois? – Ele perguntou com um sorriso.
 
Olá, pessoal. Finalmente, o último capítulo. :hihihi: Espero que tenham gostado da história. Em breve publicarei mais alguma coisa aqui no fórum.


CAPÍTULO VIII:

Lore o encarou, sabendo que ele tinha razão.
Felipe ergueu a lâmina no ar e preparou-se para crava-la na moça, quando uma outra espada cruzou-se com a sua e forçou-o a ir para trás.
-Você?! – Disse Felipe espantado. – Vai trair seu próprio sangue?
Lore logo pôde ver que se tratava de William. O cavaleiro fez um movimento e foi colocando o primo contra a parede.
-Vai me matar? – Perguntou Felipe. – Não teria coragem...
Como resposta, recebeu um soco no meio da face e desmaiou. William voltou-se para Lore.
-Você está bem? – Perguntou ele estendendo a mão para ajuda-la a se erguer.
-Sim. – Ela respondeu. – O que tu fazes aqui?
-Imaginei que meu tio iria tentar algo contra ti. – Disse ele. – Acho que é melhor que você vá embora daqui imediatamente.
-Só eu? – Ela perguntou sarcástica. – Duvido que ele lhe deixe ficar aqui depois de ter me ajudado.
-Eu sei. – Também irei embora. Vou voltar para a minha família. Você pode voltar para as terras da Marquesa.
-Não acho que eu possa fazer isso. – Disse ela. – Agora seu tio irá me procurar lá.
Lore apanhou a bolsa de viagem, e os dois saíram sorrateiros por entre os corredores. Quando já estavam no último patamar, encontraram a última pessoa que queriam ver: o conde.
-Aonde pensam em ir? – Perguntou ele.
-Não lhe diz respeito. – Disse William.
-Seu menino insolente! Quando permiti que aprendesse a arte de ser um cavaleiro em minhas terras, esperava que tu se tornasse um cavaleiro de palavra, que segue seus juramentos e honra seu nome.Vejo que me enganei! Você é igual a seu pai: um tolo sentimental, disposto a morrer por uma amizade estúpida!
Nesse momento, William encarou o tio com faíscas nos olhos. Apertou o punho de sua espada e investiu a lâmina contra o tio, que se defendeu com maestria.
Os próximos ocorridos se passaram em uma fração de minutos. Logo William e o Conde duelavam ferozmente, enquanto Lore olhava embasbacada para os dois. Segurando firmemente suas adagas, ela pensou por alguns momentos no que podia fazer para ajudar William.
Viu que os dois travavam um duelo feroz e que ambos duelavam com maestria, equiparando-se. Porém, após alguns minutos, o conde finalmente desarmou seu sobrinho, fazendo um corte no pulso do rapaz.
Apontando a lâmina para o peito de William, ele sorriu malignamente.
Nesse momento, Lore agiu.
O conde estava prestes a perfurar o corpo do sobrinho com a espada, quando sentiu a fria lâmina das adagas de Lore contra seu pescoço.
-Solte a espada. – Disse ela.
Ele assim o fez.
-Vá em frente, faça aquilo que quer fazer. Mate-me. – Disse o conde.
Aquele era o momento: podia vingar-se ali, agora. Vingar a morte de seus pais, vingar o tempo em que tivera de se esconder como um animal acuado... Com um movimento, ela podia levar aquele homem a morte.
Mas então, ela soltou o pescoço dele, guardando as adagas.
-Eu não sou igual a você. – Disse ela. – É verdade que passei muito tempo esperando o dia em que mataria e vingaria tudo o que o senhor me fez passar. Mas agora que o vejo, tenho nojo de sujar minhas mãos, e pena da sua mediocridade. Por causa de seus interesses, foi capaz de tirar a vida de pessoas inocentes e de destruir sua própria família. Não, sua punição não virá da ponta de uma espada. Ela virá como um veneno lento a corroer sua alma até a insanidade completa.
O conde apenas a observou, sem prestar grande atenção à suas palavras.
Ela seguiu para o estábulo, e logo depois foi seguida por William, que agora levava sua espada e a de seu tio.
Chegaram ao estábulo e passaram algum tempo em silêncio. Ela então se voltou para seu cavalo e começou a sela-lo.
-Você sabe que ele irá atrás de você. – Disse William.
-Sim. – Disse ela.
-Agora ele irá querer vingança por você não o ter matado. – Disse ele. – Vai se considerar ofendido, talvez, ou humilhado por suas palavras.
-Eu sei. – Ela disse. – Mas não me importo mais com isso. Acho que nem sei mais se ainda resta algo da Irene em mim. Eu deixei de ser a filha do Duque de Áquila e passei a ser uma andarilha perdida nas estradas da vida. E agora é isso o que sou, Lore Lindberg, uma barda, uma viajante. Não mais Irene de Áquila, a nobre filha do Duque.
-Compreendo. – Disse ele.
-Entretanto, meu coração ainda é o mesmo e há muito tempo eu preciso partir em uma busca. – Disse ela.
-Uma busca? – Ele perguntou.
-Sim... – Disse ela. – Meu pai. Irei procura-lo. Sei que há grandes chances de que esteja morto, mas é o que o meu coração deseja.
Ele sorriu para ela, colocando as mãos sobre seus ombros.
-Então eu lhe desejo boa sorte em sua busca. – Disse.
Ela o abraçou.
-Que você também tenha sorte em sua vida, meu amigo. – Disse.
Ele também selou seu cavalo e ambos montaram.
Seguiram juntos por algum tempo na estrada, até uma bifurcação, onde ela dobrou para a esquerda.
Ele passou algum tempo parado, observando-a partir. Mal havia a conhecido e já sabia que ela era um enigma a ser decifrado, alguém buscando por respostas em meio a um mundo atribulado, uma revolução em forma humana. Sorriu para o vazio. Tinha a vaga sensação de que voltaria a encontra-la antes de deixar esse mundo.
E foi com esse sorriso que seguiu para sua casa, pelo caminho tantas vezes percorrido, mas que agora tinha um sabor inconfundível de liberdade.
 

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