Morfindel Werwulf Rúnarmo
Geofísico entende de terremoto
Mensagens foram achadas durante obra
Passados 52 anos, a busca pela fonte de uma goteira perene que incomodava deputados a caminho do plenário levou funcionários da manutenção da Câmara a quebrar parte da plataforma superior do prédio e ressuscitar o passado. Ali, em um espaço chamado de “caixão perdido” pelos engenheiros, mensagens escritas a lápis no concreto e nas estacas pelos peões que ergueram o prédio em 1959 foram descobertas. O operário José Silva Guerra tinha um desejo:
No vão entre duas lajes de concreto que sustentam a cúpula da Câmara, em forma de um prato virado para cima, os funcionários encontraram mensagens deixadas pelos trabalhadores que vieram durante a construção de Brasília. Esperança e melancolia se misturam em um português precário. O esperançoso José Guerra completou sua mensagem com uma sentença em tradução livre do latim: “Duraleques ce de Lequis”, para dizer que a lei é dura, mas é a lei (dura lex sed lex, no original em latim).“Que os homens de amanhã que aqui vierem, tenham compaixão dos nossos filhos e que a lei se cumpra”.
Uma busca nos arquivos da Câmara leva ao nome de José Silva Guerra em meio a uma lista com dezenas de operários que trabalharam na construção do prédio. É uma relação dos salários pagos pela “Empreza Brasileira de Engenharia S.A.” em março de 1959. Naquele mês, Guerra trabalhou 208 horas normais e fez 98 horas extras no mês. Contando sete dias de serviço na semana, dá uma média em torno de dez horas por dia.
Pela carga horária, o salário dele de Cr$ 4.000,00 foi incrementado. Ele recebeu Cr$ 13.314,40, em torno de dois salários mínimos, considerando dados do Dieese que registram o mínimo de Cr$ 5.900,00 na época.
recordou Claudionor Pedro dos Santos, de 72 anos, que trabalhava como apontador na obra do Congresso.“O que ganhávamos era pouco, mas dava para viver bem e guardar um dinheirinho”,
disse, ontem, ao retornar à Câmara para ver as mensagens deixadas em 1959.“Trabalhávamos dia e noite. Não tinha domingo nem feriado. O pessoal não reclamava. Existia muita solidariedade”,
Nem todas as assinaturas das frases estão legíveis.
afirmou um dos operários na parede de concreto.“Si todos os brazileiros focem diginos de honra e honestidade, teríamos um Brazil bem melhor!”,
sugerindo que haveria uma pontuação depois da palavra esperança. Escondido entre lajes, estava também o sentimento de Nelson:“Só temos uma esperança nos brazileiros de amanhã”,
Goiânia, escrita ao lado da data, 22-4-59, sugere a cidade de origem do trabalhador. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.“Amor palavra sublime que domina qualquer se humano”.
Fonte