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[L] [Saranel][Sheherazade]

[Saranel][Sheherazade]

Shererazade

Ela dançava. Era linda; tinha os seios fartos, tipo árabe, cabelos compridos e longos, negros. Talvez nem tão árabe. Mas era bela. E dançava. E cantava. Usava sua roupa de odalisca, cheia de adornos de ouro balançando em seus véus vermelhos. A pele trigueira e os olhos negros eram perfeitos. Mas apenas para mim.

Achava suas músicas, de composição própria, lindas; não por jactância, mas porque se esforçava para que tais saíssem belas e realmente extraordinários aos seus padrões. E também se esforçava igualmente para ser bela e boa dançarina. E o era. Mas sem reconhecimento.

Sempre apresentava-se em festivais, tentando ver se alguém a via e a elogiava verdadeiramente, pois queria o combustível do ego, e não o dinheiro. Mas este não aparecia. Nunca ganhara um segundo lugar, quanto mais um primeiro. Nem sequer menção honrosa. Outras mais belas aos padrões de outrem, ou as mais favorecidas pelas chamadas “panelinhas” (aquela sempre ganha, e não é por coincidência), tinham tal titulo. Preferiam as danças modernas, as moças magras, o canto chamado “arrojado” e “atual”, os cabelos da moda. E desprezavam sua pele linda, seus seios fartos, os quais não eram atributo de nenhuma das magricelas favorecidas pela modinha nem pela panelinha, seus cabelos compridos, dignos duma Rapunzel, se ela já não fosse a Sheherazade personificada e reencarnada; desprezavam sua dança bela e sublime, superior a todas as outras.

Mas não era desprezo mostrado; era desprezo velado, pelo simples “é razoável”, ou “está aceitável”, que a tornava não ruim, mas medíocre. E o que há de mais dolorido não é o ser péssimo. É o ser mediano, aquele que não se sobressai por nada, nem pelo bem, nem pelo mal. O meio termo é o status quo da desgraça.

Ao invés de se aborrecer e desistir, era persistente; quanto mais era desclassificada, quanto mais era ultrapassada pelas loiras oxigenadas, mais tentava. E tentava novamente.

Por anos tentou. E nada. Continuava a mesma bela, a mesma medíocre aos olhos dos homens. Até que seu entusiasmo por um segundo fraquejou, e ela pensou que não era nada além de mais uma, ordinária e inferior àqueles que selavam seu destino.

Até que o pensamento se inverteu. Não, ela não era ordinária, nem medíocre; era por ser extraordinária que era incompreendida pelos malditos, que eram tão medíocres, por simplesmente escolherem sempre as mesmas moças, as dos padrões, as que sempre ganham; sempre iguais. Ela sim, é que era a esmeralda incomparável, guardada ainda numa caixa bela de sândalo, que ainda não foi aberta.

Eu a vi em meus sonhos; eu sei que ela é linda e merece valor; outros não. Mas deixa estar, que ela dá uma gargalhada bem dada na cara desses que a desprezam, pois eles são cegos e ela não. E continua a dançar, com a esperança dançando junto em seu peito, de que um dia ela será reconhecida. Enquanto isso, deixemos-na, e observemos-na através do véu de sua vestimenta, de sua beleza, de seus cabelos que também são um véu, pois enquanto ela viver, vai lá estar, dançando e dançando, tremelicando as moedas e alçando sua magnífica voz, sem parar...
 
Melancólico não? Você se baseou em que pra escrever isso? Me lembra muito aquela situação arquétipa do personagem que parece feio, mas só o é aos olhos dos outros porque ainda não foi descoberto em sua plenitude.

A história continua?
 

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