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[L] [Saranel][Até que a morte não os separe]

[Saranel][Até que a morte não os separe]

Depois de um tempão sem prosas, cá estou eu...

Esse é o começo de uma história minha. O resto cs sabem lendo, uai! :mrgreen:


Sim, irei escrever esta história. Mesmo que esteja com muito medo, irei escrevê-la. Pois ela já chegou ao fim, e não tornará a se repetir.

Acima de tudo, esta é uma história de amor, embora tenha muitas outras nuances. É muito bela (ao menos ao meu ver), apesar de girar apenas em torno de si. Mostra que, pela sorte ou pelo azar, mesmo que uma pessoa tenha algo de ruim dentro de si, ainda assim pode ter um fundo de bondade.

Por onde começo? Pelo meu início? Ou pelo do amor em questão? É difícil decidir. Mas já que iniciei na primeira pessoa, receio ter de ir pelo meu, pois se for pelo outro, terei de falar de algo que ocorreu muito antes de eu ter nascido.

Vou começar pelo meu princípio.

Simplesmente não sei como aconteceu. Estava vivendo meu cotidiano comum, quando do nada sobreveio. Sim, talvez um poder, algum portal que me levou a outra dimensão, esta onde presenciei parte da história que conto.

Só me lembro de ter ido parar neste lugar. Como, não. Acordei (parece que estive desacordada por muito tempo), e olhei em volta. Era um lugar lindíssimo, porém negro. As árvores eram sombrias, o rio ao lado era negro, a grama era negra. Aonde eu estaria?

Não me importei muito no início, pois amo coisas negras, ainda mais se relacionadas à natureza, que amo também. Mas depois, logo depois, pensei que ia morrer. Alguém havia feito com que eu parasse lá, e eu apostava que não era parar me agradar. Não sabia voltar, e não sabia como poderia ter vindo a um lugar com tanto verde (negro), se em minha cidade já não havia mais nada tão selvagem assim. Então, tentar correr não adiantaria...

E não adiantaria mesmo. Nem que eu soubesse o caminho, pois percebi que havia uma mulher ali, me vigiando. Não devia estar lá para me ajudar, e sim para me torturar, ou algo assim.

-Acordou, finalmente – disse ela.

-Quem é você?! – me ouvi dizendo, pensando que era a única coisa que poderia dizer.

-Sou a filha da noite, aquela que traz mau agouro. Sou Éris, a senhora da Discórdia.
 
Olhei bem pra ela. Só podia estar brincando! Esse negócio de deuses não existe, oras!

-Olha, se você quer me roubar, ou me seqüestrar, ou me matar, o que seja, faça logo, mas sem essas brincadeiras. Éris não passa de uma figura mitológica, e se existisse, não seria como você.

A mulher sorriu.

-Sou Éris realmente. Algo que há não precisa da crença alheia para existir. Simplesmente há. E de qualquer forma, você logo terá motivos para acreditar.

Eu a olhei com espanto. “Deixe-a”, disse minha mente. “Ela deve ser uma dessas internas de hospício, alguma psicopata maluca. Deixe-a pensar que realmente é uma deusa malvada”.

Apesar da situação, não conseguia ter medo. Afinal, o local era realmente lindo, e a suposta Éris não era feia, como a mitologia pintava.

Tinha um rosto lindo, branco como a neve. Seus olhos eram azuis, porém escuros, não claros como a maior parte dos que o são. Os cabelos negro, compridos e ondulados, indo até embaixo dos joelhos, estavam parte soltos e parte presos em tranças esparsas. Seus lábios pareciam ser cor de lilás bem claro e pálido. Era alta: parecia ter mais de 1,70 m de altura. Não parecia ser muito magra: tinha seios fartos, e quadris largos também. Mas a cintura era fina, e a barriga era bem lisa em comparação ao resto. Tudo nela parecia delicado, até os braços roliços. Até mesmo a voz, que havia falado com tanta firmeza. Era tão branca, mas tão branca, que parecia uma estrela brilhante perto de toda aquela escuridão. Seu vestido era de veludo negro, deixando os braços, o colo e (obviamente) a cabeça nus. O resto era tudo coberto. A saia longa era bem rodada em comparação ao corpete justo.

-Oh, senhora Éris, então me diga: o que vai fazer comigo? – eu não percebi, mas falei em tom de descrença, quase de deboche.

-Nada. Apenas estou vigiando você – disse ela calmamente – Meu marido será quem fará algo ou não.

Casada? Sorte de quem a desposou! Uma mulher daquelas já era linda aos meus olhos, que era outra mulher e não era lésbica. Imagine aos olhos de um homem.

-Seu marido? Ele é alguma espécie de seqüestrador? Ou por acaso eu o conheço? Senão, o que ele ia querer comigo?

-Sim, conhece. Mas não pessoalmente.

Estremeci. Quem seria casado com a suposta deusa da Discórdia e notório o suficiente para eu o conhecer? “Deve ser algum outro maluco, pensando que é alguma entidade maligna ou coisa assim.”, pensei.

Mesmo assim, senti medo, pois esses psicopatas são capazes de fazer muita coisa ruim, do tipo enterrar alguém vivo ou esquartejar no mesmo estado de vida. Mas quer saber? Eu não estava nem aí pra morte. Só não queria sofrer muito.

-Quem é o seu marido? Foi ele quem ordenou que você me trouxesse?

-Não, não me ordenou nada. Nunca me ordena nada. Eu a trouxe a ele, como um presente, uma prenda.

Ela sorria.

Prenda?! Que tipo de esposa ela era?! Que gostava de dar moças ao seu marido? Eu não estava disposta a ser estuprada!

-Escuta, dona, eu não quero que seu marido cometa adultério comigo! Quero dizer, você é muito bonita, por que ele ia querer alguém como eu?

Ela começou a rir antes que eu acabasse de falar.

-Não é nesse sentido que vou dá-la a ele! Vocês humanos! Só pensam em sexo!

Mas que injustiça! Eu ainda era virgem!
 
-Não, moça... - eu ia falando, mas ela interrompeu de novo:

-Sim, pensam. Mesmo que para se precaver de um violamento. Mas eu não a culpo: os humanos se defendem assim; se você não pensasse assim, era capaz de já ter sido violada. Não se preocupe, não é isso que ele quer.

-Bem, bem. Mas quem é seu marido?

Éris sorriu enigmaticamente.

-No campo do bode expiatório, de os homens pegarem criaturas que são contra os padrões e denominá-las "más", apenas para colocar nelas a culpa dos males que lhes sobrevêm, ele é muito mais famoso do que eu.

Se merecem então!

-Mas quem ele é?! O nome!

-Lhe inspiraram tanto medo através dele durante todos os anos de sua vida, que não vai querer saber.

-Eu já quero saber! Vamos, quem é ele?!

-Não vai, não - e ia virando as costas para mim.

Nervosa, me levantei de um salto do arbusto onde estivera deitada até então e gritei:

-Escuta! Se eu tiver de ser morta, ou qualquer outra coisa, quero ao menos saber quem será meu algoz!

Ela se virou rapidamente, dessa vez com uma expressão nada delicada nos olhos.

-Quem você pensa que é? Você é inferior! - e veio andando em minha direção enquanto falava - É uma refém, portanto é melhor comportar-se como tal!

E nisso, bradando, me empurrou com força de volta ao arbusto, no qual caí sentada. Que bom que não havia espinhos nele!

Foi nisso que, de repente, ouvi aquela voz quase tão linda e suave quanto a de um anjo:

-Éris, o que há? Está tudo bem com você?
 
Todo dia q dá digito um pokim!^^


A voz soava num tom corriqueiro, apesar da enorme beleza.

Então, o dono dela apareceu. Veja só, eu disse que ela, a Éris, era branca? Não; perto dele, ela era cor de creme. Ele era mais que branco: parecia até reluzir! Me perguntei se não seria anêmico.

Eu também disse que ela era alta? Ele tinha quase dois metros, era enorme. E parecia ser esbelto. Envergava uma túnica negra de algo que parecia ser viscose ou cetim, bem comprida, que ia até o pescoço e não mostrava nada além da cabeça e das mãos.

-Ora vamos! Mas o que temos aqui? – disse ele quando me viu. A voz mudou completamente, ficando sarcástica. Deu um risinho, bem sutil.

-É sua nova boneca? – perguntou à mulher.

-Não, amor, é sua.

-Ah, é minha! Presente?

-Sim, querido. Pensei que quisesse uma.

Ele chegou bem perto de mim, examinando meu rosto. Oh, eu disse que ela era linda?! Naquela hora vi que era ofuscada pelo companheiro! Seus cabelos eram negros como os da esposa, mas eram mais brilhantes. Tinha cachos como os de um anjo, que iam cair abaixo da cintura. Os olhos eram verde água, como as águas de um mar límpido. Brilhavam, grandes, como duas jóias. As pestanas ou eram muito negras, ou a pele dele era realmente muito branca. Seu rosto era tão belo quanto o da esposa, talvez mais, e de perto sua pele era levemente rósea, mas tão de leve que parecia uma ilusão. Olhando aquele ser tão belo, não se diria nunca que ele poderia ter um sarcasmo tão cruel na voz, como eu havia escutado há pouco. Ele usava uma capa também, pois aquele lugar parecia frio. Chegou o rosto mais perto, e a capa caiu pelo ombro esquerdo. Dela, veio um aroma de canela e jasmim.

Frizou os olhos, levantou-se finalmente e, virando-se para a mulher, disse:

-Passa. Mas francamente, não sei o que ela poderá fazer imediatamente. Deixa: arranjarei algo para ela logo.
Espera aí! Esses dois não vão nem ver a minha opinião?!
 
Quem é q não quer um desses??

*suspiro*

Mais um pokim:



-Olha, moço, eu tenho família. Tenho minha vida, sabe. Se o senhor quiser que eu seja sua empregada, é melhor que me registre, ou então faça um acordo decente comigo.

Ele me olhou, com aqueles olhos cristalinos. Levantou as sobrancelhas e desatou a rir! Eram ou não eram dois malucos?!

-Você não entende. Não, ainda é muito tola. Acha que a pegamos para ser nossa empregada? Não; você ficará aqui, e não mais voltará ao que chama de seu mundo. Sua vida anterior acabou.

-Então não vou ver mais minha casa?! Minha rua, meus pais?! Mas isso é cismeira comigo!?

Éris sorriu, tendo um ar falsamente inocente.

-Não. Apenas peguei você. Não por um atributo especial; foi ao acaso. Poderia ter sido qualquer outra pessoa.

Duvidava muito. Ela não ia simplesmente me capturar, fazendo uni-duni-tê entre o monte de gente que lota as ruas. Deve ter tido algum motivo para tê-lo feito. Não seria justo eu ser escolhida em meio a tantos, do nada! Por que eu?! Bem, mas como não sou melhor do que ninguém, não seria injusto dizer: por que não eu?

O homem (ou seja lá o que ele fosse) virou-se e foi andando taciturno até a esposa. Segurou carinhosamente a cabeça dela entre as mãos, e beijou suavemente sua testa. Era incrível, mas parecia que os dois, que se diziam tão terríveis, amavam-se de verdade. Aquele beijo, tão suave e tão puro, e a reação da que o recebeu, tão doce, já dizia tudo.

Ele olhou pra mim novamente, e toda aquela aura bonita e efêmera de dois segundos atrás se desvaneceu:

-Não ouse sair daí. Não há saída para seu mundo, e mesmo que houvesse e você a encontrasse, acharíamos você facilmente.

E nisto, ele e a mulher saíram andando de braço dado. Percebi que ela também usava uma capa. Então, vi reluzirem dois anéis, um na mão esquerda de cada um. O dele era dourado e tinha uma pedrinha azul na ponta; parecia ser safira. Já o dela, que obviamente havia sido dado por ele, era negro, com pequenos rubis rodeando as bordas. Era um anel sombrio! Quem seria o tal marido? Não sei não, mas me parecia muito com um serial killer, ou algo pior, pelo jeito que me olhava. Mas como eu disse, não me importava em morrer. Acho que seria até uma boa, mas sabe que ainda tenho algum fundo de esperança dentro de mim? Talvez não queira morrer de verdade; apenas mudar de vida.
 
Levantei e fui até o rio. A água era gelada! Mas era um gelado bom: talvez fresco. Lavei o rosto e olhei para cima. As árvores deviam ser bem velhas, pois eram muito altas e retorcidas. Como seria bom dar uma volta e conhecer mais aquele lugar! Me sentia simplesmente maravilhosa lá.

Comecei a andar por uma espécie de trilha no meio da floresta. Era uma sensação fresca, mística, difícil de explicar com palavras; era tudo o que eu queria. Até mesmo me esqueci de que havia sido raptada e que aquela era uma outra espécie de dimensão.

Quando cansei ("cansei" é expressão; não daria nunca para cansar daquele jardim negro) de andar pro loá, pensei, por um segundo, em voltar para casa. Então, todas aquelas lembranças vieram à minha mente num jorro: o rapto, a mulher que se dizia ser Éris, seu misterioso e terrível marido, a condição estranha na qual me encontrava. E finalmente comecei a pensar: e se aqueles dois fossem mesmo deuses? E se não fossem dois desequilibrados alienados? Bem, eu comecei a achar que quem estava ficando maluca era eu. Como poderia pensar que tudo aquilo de eles serem imortais poderia ser real?! Eram dois doidos e pronto. Mas eram uns pinéis bem bonitos! Não me lembrava de já ter visto um casal tão belo.

Então me deu uma vontade de ir vê-los. Não sei por que me deu essa na veneta, mas achava que já não tinha nada a perder. E também queria saber o que, afinal de contas, eles queriam comigo. Só podiam estar escondendo alguma coisa! Parecia que eu tinha virado uma escrava ou algo assim. E também tinha uma curiosidade, que não me saía da cabeça: saber quem era afinal o consorte de Éris.

Mas para onde eles teriam ido? Se eu me embrenhasse no mato desconhecido procurando por eles e saísse daquela pequena trilha, a qual ainda estava próxima da região daonde eu tinha saído, poderia me perder. Não seria nada bom: não havia visto frutos ou ajimais que pudesse comer ou caçar se por um acaso me perdesse.

E por pensar em comida, comecei a sentir fome. Será que o casal achava mesmo que eu viveria de vento?! Resolvi voltar àquele arbusto onde havia me encontrado deitada. Muito provavelmente eles iriam esperar me encontrar ali, e deveriam me levar alguma comida.

Quando já ia voltando o caminho feito, encontro a que disse ser Éris, com uma expressão de raiva no rosto

-Ora venha cá!! - disse ela assim que me avistou, me agarrando pelo braço e me arrastando de volta - Qual foi o aviso?! Para que não fugisse! Você sabia muito bem que não há saída!

-Mas não tentei fugir! Eu...

-Você não me engana! É claro que tentou! Mas deixa estar!

Chegamos ao antido local, e Éris me jogou novamente em cima do já conhecido arbusto. O homem estava lá, pegando umas folhas do chão. "Isso parece coisa de maluco mesmo! Ah, que imortais que nada!", pensei. Então veio-me aquela questão na cabeça novamente: quem seria ele?

-Ei, senhor! - sim, é estranho chamar um homem jovem de senhor nos dias atuais, mas eu não queria chamá-lo de "moço", "homem", ou, pior ainda, "tio".

Ele simplesmente me olhou com aqueles olhos de cristal, tão friamente cortantes.

-Poderia me dizer quem você é?

Ele levantou-se e começou a andar, não sem tirar aqueles olhos dolorosamente belos de mim.

-Por que quer saber?

-Bom, sua esposa, Éris, se identificou logo. Por que não você?

Fechou os olhos. Sorriu, mas um sorriso nada simpático.

-É verdade. Por que não? Então lhe direi. Eu sou aquele que iniciou os que de sua raça chamam de mal. Sou aquele que corrompeu os mortais. Sou aquele que não tem dó. Aquele que não irá poupar nem você, minha bela menina.
 
Esta é a parte da história que realmente me dá mais medo de lembrar ou escrever. Porque pensei que aqueles dois poderiam ser imortais de verdade. Só que dessa vez a sensação não foi apenas um laivo do qual despertei ouvindo minha mente dizer: “Acorda, isso é impossível! Agora, além de uma mulher que diz ser a deusa da discórdia, temos um cara que se acha uma espécie de diabo ou coisa assim!” Não, desta segunda vez a sensação era certeza absoluta. Por mais que eu não quisesse, por mais que tentasse escapar e formular qualquer outra frase ou sentença, no final tudo me levava a pensar: “ Eles nunca deliraram, nem brincaram com você. São realmente o que dizem ser”. Isso para mim virou um paradigma, e então senti um pavor enorme.

Enquanto falava, o tal me olhava com uma frieza tão lancinante que pensei mesmo que estava cortando minha alma em dois. Sua voz tornou-se mais sádica e maldosa do que nunca, e de repente foi como se ele ficasse maior e mais atemorizante ainda. Senti vontade de sair correndo, mas minhas pernas paralizaram. Fiquei toda assim, presa pelo temor, e só acordei quando Éris debochou de meu medo:

-Oh, está assustada? Não se preocupe: eu também me assustei quando soube.

Seu tom de voz era exagerado e pateticamente consolador.

Então ela não sabia quem ele era quando se casou?! Imagino até a cena: depois do casamento, ele chega para ela e diz: “Oh, querida, eu na verdade sou a encarnação de todo o mal! Agora você será minha escrava pelo resto da vida, e se tentar fugir, morrerá!” Quase cômico!

Na verdade é triste. Mas ela já deve ter se acostumado. Mais que isso: talvez o ame de verdade. Senão, não lhe daria uma mortal de presente para ser sua criada, nem o chamaria de “amor”, como fez quando ele chegou. E mais uma, talvez mais sutil, porém mais reveladora: ela não retribuiria com um sorriso tão doce quando ele a beijou na fronte. E acho que esse beijo também é prova de que ele, afinal, a ama. E eu achei que ela fosse talvez uma escrava dele? Mas bem, talvez não. Afinal, disse que o marido nunca lhe ordenava nada.

Finalmente, quando o terror diminuiu, porém não cessou de todo, falei:

-Você é o Diabo?

Ele fez um gesto de cansaço e impaciência com a mão:

-Não! Ora, todos que me conhecem acham que o sou, mas na verdade não.

-Do jeito que você fala, parece que é ele.

-Definitivamente não. Francamente! Vocês e seus estereótipos!

-Não quero saber se você não se considera o tal. Quero saber se você é aquele a quem todos chamam de Diabo, e chamaram por todas essas gerações.
Ele me olhou novamente, com aquela mesma frieza dura. Já devia saber que eu morria de medo de seu olhar. Ainda mais depois de saber que ele era uma pessoa tão maligna!!

Me fitava, como que censurando minha insistência. Você aí do outro lado do texto também deve estar achando estranho eu insistir tanto nisso, mas é que os modos dele eram de alguém que realmente parecia não ter dó de ninguém, e no cristianismo, todo mundo sabe, o símbolo máximo do mal é o Capeta. Não conseguia pensar em outra identidade para ele.

Depois de ter quase me matado de pavor só com os olhos, disse:

-Chamam muita gente de diabo, sabia? Ou ao menos comparam.

-Tá, mas se chamam ou não, gostar ia muito de saber se você é mesmo ele. Sabe, com toda aquela coisa de anjo rebelde e tal.

Ele fechou os olhos e ergueu a cabeça. Como foi bom ter me livrado daquelas duas adagas verdes, perfuradoras de confiança!

-Acho que de certo modo sim.
 
nossa agora que a coisa vai pegar..... :lol:
sua historias são bem sombrias acho isso muito legal, parace que sempre a um misterio :wink: .........

nossa tó adorando sua historia......... :mrgreen:
 
Ih minha filha, vai ser mistério até a última linha!^^

Muito obrigada pelo incentivo!^^

EDIT: Coloquei mais um parágrafo aqui embaixo (bem pequeno heheh) que eu havia esquecido de colocar antes. É esse do "senti vertigem..."
:wink:

Senti vertigem, calafrios, tontura e enjôo. Ia desmaiar. Estava simplesmente morta de medo, e quase morta de verdade.

Sempre fui cética em relação a muitas coisas. Astrologia, simpatias, mandingas, nunca acreditei em nada disso. Mas, não sei bem porque, sempre acreditei que algo parecido com o Diabo existisse, e sabe que eu tinha medo de esse alguém vir a cismar comigo? Quero dizer, é ridículo aquele lance de diabo com chifre e rabo, queimando gente no inferno. Isso é quase tão mítico quanto lobisomem, velho do saco, cuca... mas acreditava que o mal em si viera de alguém, e que esse alguém era mais do que um simples ser humano. Uma espécie de Diabo, mesmo.

Tive receio do tal a vida toda. E agora o tinha diante de mim!! Era ou não era para desfalecer de medo?! Emudeci; mas depois de ficar mais um tempo assim, desatei a falar feito uma metralhadora:

-OK, eu não lhe fiz nada; é certo que sempre o temi e detestei, mas não só eu; por que justo eu?! Por que não pega e atemoriza os outros também?! Por que não me deixa em paz?! Por que me olha com tanta frieza?! Por que me pegou como bode expiatório? Por que...

-Ora, cale-se!! - bradou ele, fazendo com que eu emudecesse novamente. Depois continuou:

-Escute, eu não sou o Diabo. Não, não sou. Digamos que sou aquele que originou todas essas figuras a quem chamam de Diabo, até o próprio. Mas nem de longe sou tudo o que já disseram. Não, e não gosto de ser chamado de Diabo. É ridículo. Segundo lugar, quem disse que você fio pega como bode expiatório?! Já dissemos que apenas foi pega. E não ache que é porque a queremos como vítima.

-Então por que não param de fazer mistério e não falam logo o porque de eu estar aqui?!

-Não há nada além do que Éris lhe disse: ela a pegou para ser minha escrava. Apenas isso.

-Mas por que eu?!

-Como você é insistente!! Ela a escolheu, sem nenhum critério a ser seguido! Quantas vezes vai precisar ouvir isso?! Agora, fique quieta, sente-se aí e me agradeça por eu ainda não ter nenhum trabalho fácil o bastante para uma mortal.
 
Calma, não precisa ter o troço, já tem mais aki! :mrgreen:

Ele já ia começar seu trabalho de catar folhas de novo, mas sabe,eu já estava lá há algumas horas, e não tinha comido antes de ser capturada. Meu estômago começou a roncar.

Éris começava a catar uns gravetos, e então, quando chegou perto de mim, falei:

-Psiu! Ei, será que poderia me dizer onde tem alguma comida por aqui? Sabe, não é só de vento que os mortais como eu vivem.

-Ela fez uma expressão de fadiga com os olhos:

-Ah, havia me esquecido desse detalhe. Ei, querido, você sabe onde encontrar comida aqui? Sabe como esses humanos são frágeis, não?

-É mesmo! Que pena, não há comida digerível por humanos pelas redondezas. Você vai morrer de fome, escrava.

Ele expressava falsa afetação. Queria, obviamente, me amedrontar. Como se já não bastassem seus olhos.

-Duvido que Éris ia me trazer pra cá apenas para me ver morrer de fome.

-Quem sabe? – murmurou ela.

-Com alguma sorte você talvez ache qualquer porcaria pra mastigar aí no meio desse mato – disse o tal do diabo estranho – Ande! Quanto mais cedo procurar, mais rápido achará algo para se saciar. Se achar.

-Mas e se eu me perder?

-Problema seu! Arranje um jeito de se manter na direção certa.

Olhei aquele casal com total descrença.

-Ei, não seria mais fácil me deixarem ir pra casa?

-Não. Você não nos dá trabalho. E também não vai ser assim tão inútil nos dias que se seguirem.

Sem resposta, nada pude fazer a não ser me embrenhar no mato e procurar algo pra comer; o estômago roncava com cada vez mais força.

Comecei a andar por uma fileira de árvores, ficando atenta a não me perder e a qualquer coisa que pudesse ser comestível. Não achava nada. Olhava para a frente e não via frutos nas árvores. Nenhuma alface, cenoura, legume, verdura ou raiz que se coma, nada! Nem um mísero verme!

Sentindo-me meio derrotada e cansada de tanto andar, caí de joelhos. Sabia que daquela maneira não acharia nada. Aquela floresta era, por si só, insípida e mortal.

Pôxa, um seqüestro sem motivo, a possibilidade de morrer de fome, tudo num dia só!! Seria bem mais fácil eu me deixar morrer. De uma vez driblaria a fome e o fardo maldito de servir àquele casal. Bem, mas valeria a pena desistir logo no primeiro dia? Aquela esperança estranha se revolvia dentro de mim. Um instinto de sobrevivência que falava mais alto que o desespero.

Ao invés de desistir, procurei mais para dentro da floresta. E aí comecei a pensar: sendo imortais de verdade, aqueles dois não iam ser malucos. Bom, pelo menos era o que eu pensava, que não existia imortal desequilibrado mentalmente. Mas eles pareciam ter um comportamento bem estranho! Primeiro: me capturaram do nada, para fazer sei lá o quê. Se eles não são malucos, por que raptam alguém, só pelo prazer de raptar, e não lhe dão sequer um naco de pão duro e bichado?! E eu também não tive nenhuma utilidade até o momento presente. Bah, até os seqüestradores da cidade dão comida, mesmo que talvez ruim, aos seus cativos!

Andei mais e mais, e tudo estava na mesma. Foi quando vi uma figura, que parecia usar um capuz, atravessar num segundo uma fileira de árvores à outra. Foi tão rápido que só vi que era uma pessoa, e de relance. Se era homem, mulher, criança, adulto ou velho, não deu pra ver.
 
-Ei, por favor, apenas me deixe passar – disse eu, cansada – Já estou com problemas o suficiente. Só quero arranjar alguma comida. Nem faço questão de saber quem você é. Está bem?

A figura saiu detrás de uma árvore, e veio até mim. “Pronto, mais essa agora!”, pensei.

-Posso ajudar você – disse ela. Sim, ela; tinha voz de mulher. E tamanho de adulta – Quer comida? Bem, como percorri essa floresta por vários dias, sei onde tem uma árvore frutífera. Uma das poucas que sobrou por aqui.

O meu receio em relação àquela figura foi por água abaixo! Falando ou não a verdade, eu não tinha porque desconfiar. Afinal, no mínimo eu continuaria na mesma; pior não dava pra ficar.

-Ei, obrigada! Poderia me dizer onde fica essa árvore?

-Levarei você até lá.

E assim lá fomos nós. Ela ia bem rápido, mas assim que viu que eu, de forma alguma, conseguiria acompanhá-la naquele ritmo, começou a ir mais devagar.

Então, no meio das árvores negras, uma árvore marrom-clara, jovem e esguia. Como será que ela tinha parado lá, se não tinha mais nenhuma igual ali em volta? Será que plantaram?

Nessa árvore, e no chão em volta dela, havia vários frutos que se pareciam com castanhas, mas os quebrados mostravam que a polpa era branca. Ingás!
 
Imediatamente, voei para cima de uns que estavam caídos e comecei a comer. Apesar de nunca ter sido tão fã assim de ingá, naquela hora eles pareciam o melhor chocolate do mundo! Se bem que eu estava com fome... então pareciam o melhor prato mesmo. Chocolate não enche barriga...

Enquanto isso, a mulher subiu nhá árvore e, uns segundos depois, desceu num salto só. E sem se machucar ou perder o equilíbrio! Havia voltado com um pano , que ela fez de trouxa, e parecia cheinho de ingás!

-Tome. Isso pode durar uns dias, se você souber economizar. E tem que aprender o caminho se quiser sempre ter comida. Está perdida, não?

-Sim e não. Na verdade fui raptada.

-Raptada?! Isso tem algo a ver com Mulengro?

-Mu... quem?!

-Aquele que iniciou a maldade entre os seres humanos; o dos olhos verdes terríveis. Não se engane com sua bela figura: dentro dele há um mal horrendo!

-Ah. O Diabo?

-Chame-o como quiser. Por acaso foi alguém assim que a raptou?

-Foi a mulher dele, Éris.

-Éris!

E então a voz dela soou com uma espécie de emoção mais forte. Tirou o capuz, e eu vi que ela era quase tão bonita quanto a deusa da discórdia. Tinha olhos e cabelos negros, os últimos lisos. O rosto também era branco, porém não tão branco quanto o do tal Mulengro (pôxa, esse é um nome que eu nunca tinha escutado antes) Os lábios eram bem rosados, e ao contrário do casal raptor, ela tinha uma aparência saudável, sabe, colorida. Os dois lá pareciam anêmicos!

-Éris... – repetiu – Com certeza já não é aquela menina que conheci. Casou-se com Mulengro! Era de se esperar, afinal. Mas esta é uma tragédia muito grande.

-Você conhece a Éris?

Sim. Ao menos conhecia. Ela deve estar muito mudada. Já não a vejo há uns bons milênios.

Milênios?! Uau, outra imortal!! O que é isto daqui, para estar tão cheio de deuses? O Olimpo?
 

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