Olha a qqr coisinha chegando!
Caminhamos bem mais pra dentro do mato, até achar outra clareira. Lá, a minha nova ama acendeu uma fogueira.
-E aqui estamos nós, garota. Bem, posso lhe dizer que minha viagem ainda não chegou ao fim! Não andei tanto para ser apenas acossada por Mulengro e depois sair sem nenhuma palavra com sua esposa.
-Bem... olhe, não sei porque você me pegou como escrava... dificultou seu plano por uma pessoa que mal sabe cozinhar, se manter sozinha num lugar inóspito como este, não sabe nem acender um fogo com gravetos, como você fez agora... vou ser mais fardo que ajuda, se quer saber.
A imortal soltou uma gargalhada:
-Sua boba! Acha que realmente a peguei para ser minha serviçal?! Não! Fiz aquilo apenas para te libertar do cativeiro! Você é livre agora! Mas de qualquer modo, não poderá retornar ao seu mundo; ouviu o que o diabólico disse?
-Sim. E terei que ficar perto de você, senão não sobreviverei neste lugar... pelo menos por enquanto... e já te devo tantas...
-Poderá me pagar com ajuda. E não vai precisar trabalhar como empregada, pois deuses não precisam comer, nem dormir. Me ajudará indo até lá e, quando for fazer os tais favores a eles, tentar conversar com Éris levando mensagens minhas! Mas não na frente do esposo, lógico! Viu como ele é uma fera?
-Ah, eu não sou nada persuasiva! E ela deve ficar grudada nele o dia inteiro, como chiclete! Mas mesmo assim vou tentar. Não se nega um favor a alguém que acabou de nos salvar a vida.
Ela sorriu, e me convidou para sentar perto da fogueira. Abri a trouxa de frutos e comi mais alguns. Ufa, se eu passasse mais umas semanas comendo só aquilo, ia entrar em forma com certeza! Ou então teria um desarranjo intestinal. Ingá não é comida. Teria que me virar para achar algo mais substancial pra comer. Veritas parou, pensativa, olhando o vazio. Retomei a pergunta não respondida:
-Ei, Veritas, como você tinha certeza de que Éris ama tanto assim o marido e não estava apenas dizendo aquilo de se matar para impressioná-lo?
-Ah, sim! Me esqueci de responder. Na hora estava muito concentrada. Bem, é porque sou a deusa da verdade. Não minto nunca, e minha palavra não volta atrás.
Taí o motivo de o Mulengro ter acreditado na hora na promessa dela!! Nem desconfiou!
-Ninguém pode, por outro lado, falar uma mentira para mim e me enganar - continuou ela – E se alguém que fala a verdade estiver mesmo falando a verdade, não há acusação contrária que possa ser feita, se Veritas reconhecer a verdade no que foi dito.
-E tudo o que foi dito na conversa deles era verdade?
-Sim. Muita coisa ali me surpreendeu...
-Parece que Éris não gosta muito do passado, não?
-Do passado dela, não. Pelo menos do passado que eu lembro a ela.
-Mas vocês não eram amigas?
-Esta história é bem longa, Acho que precisará ouvi-la para poder entender até mesmo os recados que futuramente dará a ela. Mas não vou forçá-la a ouvir, se não quiser. Está disposta?