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[L] [Saranel][Até que a morte não os separe]

É NE! :mrgreen:

Acho que caprichei.
Diz em que filme, pke eu nunca vi! 8O




-Aliás, me ajudou mais do que eu a você - disse ela - Era justamente Éris quem eu estava procurando. Foi-me informado que ela estava residindo nesta floresta, que por sinal é enorme! Nem mesmo uma deusa pode encontrar algo facilmente neste local; deveras, eles devem tê-la feito ficar de um modo que os prtotegesse das influências exteriores. Estou aqui há quase quinze dias, e não consegui nada além de ver mato e mais mato, além de arvores sombrias. E, é claro,as duas ou três árvores frutíferas, que foram a coisa mais produtiva que achei até agora.

-Você procura Éris? Bem, então anime-se! Eu sei o caminho até ela a partir daonde viemos. Prestei bem atenção para não me perder.

-Vamos até la!

Voltamos tudo aquilo que andamos, eu com o monte de ingás nas costas. Ufa, aquilo começou a pesar!

-Aqui foi onde paramos! -disse ela- Depois de ver tantas árvores iguais, será que você ainda se lembra do caminho?

-Acho que sim. Era questão de sobrevivência, não? Vamos.

Uau, eu guiando uma deusa! Nunca poderia ter imaginado.

Fomos andando e eu comecei a reconhecer o caminho. Sim, apesar das árvores serem tão parecidas, eu havia guardado a direção, apesar de nunca ter sido muito boa para esse tipo de coisa.

Chegamos à clareira onde eu havia acordado horas e horas antes. A deusa do capuz estava encapuzada de novo, e vi dois sacos perto do meu arbusto (nossa, já havia tomado ele para mim!), um cheio de folhas e outro de galhos. Aí lembrei que eles, o casal, estavam catando folhas e gravetos antes de eu ir procurar comida. Foi aí que finalmente pensei: por que eles fizeram aquele serviço, se podiam mandar a mais nova escrava deles aqui fazer isso? Ah, mas também por que pensar assim? Menos trabalho pra mim, ué.

Os dois não estavam lá. Então, ouvimos umas vozes. Uma era da Éris, e logo reconheci. A outra não era do marido, o Mulengro ou seja lá quem for. Não, era muito calma para ser dele. Na verdade era bem agradável! Ih, será que Éris estava traindo o marido? Isso vai dar pau...

-Vamos, é a voz dela! - disse a deusa - Mal posso esperar para vê-la outra vez!

Ela foi em direção à voz, eu atrás. Até que ela se sobressaltaao de repente conhecer o dono da voz. Esconde-se atrás de uma árvore para espreitar, e me puxa junto. Então eu finalmente vejo o dono da voz, e fico com a maior boca aberta que alguém pode ficar: é o marido! Sim, é ele!Mas daonde ele tirou aquela voz angelical? Aí lembrei: quando ele disse "Éris, o que há?" etc, da primeira vez que o ouvi, ele falou com aquela mesma voz maravilhosa. Só que depois, com aquele papo todo de Diabo e tal, o terror se gravou tão fundo em minha mente que esqueci de qualquer calma que os olhos ou a voz dele pudessem ter.

Não que a outra voz, a terrível, fosse feia. Mas era cortante, atemorizante! Assim como seus olhos são lindos, porém despertam um pavor indescritível. Desta vez, no entanto, a voz era tão doce, suave e terna quanto daquela primeira. Dava até vontade de sorrir.
 
Saranel Morevendë disse:
É NE! :mrgreen:

Acho que caprichei.
Diz em que filme, pke eu nunca vi! 8O



concerteza vc caprichou da muito linduuuu, ainda mais com essa voz :lol:

não lembro agora mais vou procurar ver tá o nome do filme.... :wink:
 
O diálogo de ambos foi mais ou menos assim:

-Será que vai dar certo? - disse Éris.

-Vai sim - respondeu ele - Claro que vai, querida.

Ele falava não em tom de ordem ou descaso, mas sim com muito carinho e atenção.

-Oh, deu tanto trabalho... se não der certo...

-Vai dar sim. Não confia em mim?

-Claro que sim. Eu o amo. É a única pessoa em quem exerço confiança. A última vez em que o fiz com outra pessoa, você sabe o que aconteceu...

E escondeu o rosto no ombro do amado.

-Ora, esqueça, esqueça... o passado é passado; a diferença entre ele e um pesadelo é nenhuma.

-Eu queria que fosse realmente assim. Meu amor, às vezes me deslumbro em perceber o quanto necessito de você. Acho que por você ser a única pessoa que realmente amei por todos estes anos, deposito tudo que sinto de bom em sua pessoa.

Ele a beija no rosto.

-Você sabe que comigo também é assim. É a única por quem sinto algo. E, na verdade, acho que isso se dá porque você é a única pessoa que verdadeiramente me ama. A única que não se importou com todos os estigmas que carrego.

-Você poderia ser o que fosse, eu estaria ao seu lado. Nem que fosse a pior pessoa do mundo...

-Mas aos olhos de todos eu sou isso mesmo. E você sabe do que mais? Não me importo com isso. Não mais.

-Eu também, até certo ponto, me importava com o que eu representava aos demais! Agora isso não significa mais nada para mim, desde que você esteja comigo.

Ambos silenciaram, até que eu o vi acariciar a cabeça da mulher, que estava ainda encostada em seu ombro. Parecia que estava ninando uma criança.

Então, olhou para o vazio. Vi o verde de seus olhos. Mas não era mais um verde maldito, pavoroso. Era um verde balsâmico, e olhá-lo era como se um elixir maravilhoso pudesse banhar minha alma. Como um mesmo olhar podia ser tão ambíguo?

Ele sorri um riso irônico, quebrando aquele ar de calma e plenitude:

-Maldição! Mesmo que essa gente já não signifique nada para mim, me irrita saber das baboseiras que falam a nosso respeito! Sempre seremos algo totalmente negativo, o lixo do universo!! Jamais verão que ao menos nosso amor é verdadeiro... enquanto que os próprios mortais, que sempre nos denegriram tanto, mal o tempo passa e já acaba o tal amor eterno, as juras todas! Jamais reconheceram que eu e você, apesar das dificuldades, dos desafios, sempre nos amamos com a mesma intensidade, desde quando nos conhecemos...
 
-Não suje seus lábios insultando tal escória!

E colocou o dedo indicador e o médio na boca dele,

-Deixe-os! – continuou – Lembre-se: o que importa é que estamos juntos, nós dois.

Ambos se beijam. Não era um daqueles beijos desentupidor de pia, exagerado, como nas novelas ou daqueles casais que se exibem na rua. Pôxa, se Éris e ele estavam há tanto tempo juntos, e se amavam hoje como no início, é realmente inédito! Porque com os homens é como ele disse mesmo.

-Éris, se eu morresse, você seria capaz de se casar novamente?

Ela olhou espantada, como se ele tivesse perguntado se ela seria capaz de matá-lo para ficar com outro, ou coisa assim:

-Se você morresse e eu não fosse junto, eu não só não me casaria com outro, como acabaria com essa minha vida miserável, que sem você é mais vazia do que o próprio vácuo, pois nem a morte nos separará! Nunca!- e dizendo isto, deu outro beijo nele.

Ora, francamente!! Eu posso entender e até achar legal a opção de ela não se casar com outro caso ele morra, mas... se matar só pra ir junto com o marido?! Isso é meio que irreal e exagerado, não?

-Ela não pode estar falando a verdade – desabafei com a deusa que me ajudou com os ingás – Ninguém é assim fora dos romances passionais.

-Ela fala a verdade – respondeu ela.

-Como pode ter tanta certeza assim? - disse, espantada, pois ela falou com tanta convicção que parecia ter algum dom para saber se o que as pessoas falam é ou não verdade.

-Éris, como podemos dizer que amamos apenas a nós mesmos? Você não ama nossos filhos?

Ah, eles tinham filhos! Mas andavam assim, largados? Cadê eles?

-Meu adorado, se amo meus filhos, amo a você também. Porque eles são parte você, parte eu. Portanto, amo apenas a mim e a você, mesmo que também ame os frutos de nosso amor.

Até que pra uma megera ela é bem romântica! Até demais pro meu gosto... que discurso mais meloso...

Ele sorri.

-Tem razão. Mas veja, eu não sei se eles voltam tão cedo.

A esposa fez cara de desapontamento:

-Fico tão preocupada com eles...

-Eles sempre voltam, não se preocupe.

Aí aconteceu uma coisa fatal: eu pisei sem querer num graveto oco no chão. E deu um baita estalo! Os observados, é óbvio, perceberam que havia alguém por perto.

O tal do Mulengro olhou na direção onde estávamos escondidas.

-Quem está aí? – disse na sua (eu acho) normal voz fria e terrível.
 
A deusa do capuz poderia com certeza ter fugido, já que era tão rápida, mas de duas, uma: ou não queria me deixar em apuros sozinha, ou queria tanto ver a antiga amiga que não se importava em enfrentar seu marido.

-Diga logo ou se arrependa para sempre! – eu acho que ele também pode controlar a quantidade de maldade que há em seu olhar, pois pareceu dobrada em comparação às vezes anteriores!

Como eu não queria sujar a barra da minha acompanhante, dei um passo a frente, achando que se eles logo soubessem que era alguém não conhecido, não se aborreceriam. Eu ainda não os conhecia...

-Ora, ora, então é você! – ele disse, numa voz muito cínica – Então é isso que você ficava fazendo lá no seu “mundo”? Espionando as conversas dos outros?! Hein, hein?!

O cinismo dele virou puro ódio. Furioso, me agarrou pelo braço.

-Pois veja só! Acho que dará uma ótima espiã! – disse Éris, não lembrando em nada a mulher apaixonada de minutos antes.

E ele já ia me virando a mão na cara, quando ouço a voz da minha colega, saindo detrás da árvore, sem capuz.

-Não é culpa dela! – a voz era realmente altiva – Quem pediu para que ela me trouxesse até aqui fui eu! E quem a fez ficar atrás da árvore também fui eu!

Eu poderia dizer que Mulengro estava surpreso, pois ela parecia ser a última pessoa que ele esperava ver por aquelas bandas. Éris já agiu diferente: foi tomada por uma emoção violenta, porém oculta; parecia proibida. Colocou as duas mãos no rosto, num gesto de quem parecia que ia chorar. Depois voltou as costas para ela, como se a rejeitasse ou a quisesse esquecer.

-O que faz aqui, Veritas? – disse o Mulengro. Oh, o nome dela é Veritas! Os deusas têm nomes realmente bem diferentes.

-Vim ver Éris. Será que me permitiria uma visita à sua esposa, ou você é tão possessivo a ponto de querê-la só para si?

-Não preciso ser possessivo para ter o amor de minha mulher, Veritas. Pode vê-la, se quiser, embora eu não quisesse que ela falasse com pessoas do seu tipo.

-Pessoas que querem abrir os olhos dela, para que veja quem é o crápula com quem se casou, você quer dizer!

O rosto bonito dele se contorceu de ódio, e eu pensei que ele fosse avanças para o pescoço dela, mas ao invés disso avançou foi em mim: me agarrou pelas mãos e me colocou de costas para ele, com uma mão prendendo as minhas, e a outra segurando minha garganta. O saco de ingás voou pro chão.

-Escute bem, sua vadia baixa! – disse ele a Veritas – Ou cala essa sua maldita boca e se manda imediatamente daqui, ou eu mato esta moça!

-Ela é sua escrava, não é?

-Não interessa! Apenas vá, e diga à sua família para parar de importunar a minha Éris, pois ela não se uniu a mim forçada!

-Eu quero comprar a liberdade dela, da garota.

Ele se surpreendeu novamente:

-Mas não quero vendê-la!

-Se a vender a mim, prometo que jamais precisará ver meu rosto ou de qualquer um dos meus familiares novamente!

Ele vacilou, indeciso. Aquela era uma hora em que, realmente, eu não diria que não me importava em morrer!

-Está bem. Mas veja bem, ainda quero essa menina por perto, pois precisarei dela! Esta é a condição da venda: que ela não volte à esfera dos mortais!

-Aceito. Agora a solte.

Ele me libertou, enfim. Nossa, quanto tempo eu fiquei ali, sem saber se ia morrer ou não?! Me pareceu uma eternidade!!

Corri para perto da Veritas. Já lhe devia duas: a dos ingás, e a de agora. Ufa! Isso tudo num só dia!

-Agora vá! Vá, e não volte nunca mais!! – bradou ele, com mais fúria do que nunca. Nesse ínterim, Éris nada disse, nem se mexeu.

-Vamos – me disse Veritas, andando para dentro da floresta. Ela pegou o capuz, e eu, os ingás, mas não sem medo de ser mais maltratada pelo doido, apesar de imortal, consorte de Éris. Bom, pelo menos eu tinha deixado de ser escrava de um malvadão pra ser de uma deusa que, pelo que vi, parecia ser bem legal!

Antes de começarmos a andar, pude ver que Éris caiu prostrada sobre um banco de pedras, e estava chorando. A durona deusa da Discórdia dera lugar à mulher frágil e emotiva outra vez. O marido foi até ela, dizendo para esquecer, que Veritas era uma tola. E eu saí a tempo só de ouvir Éris dizer:

-Eu disse, as lembranças ainda estão vivas! Me perseguem!

O resto nem deu pra ver. Que pena! Afinal de contas, já não fazia um juízo tão mal assim dela.
 
Gente, com o Ode a Frodo a toda eu parei um pouco de digitar esse aqui. (é sempre assim, uns 2 meses sem inspiração e umas 2 semanas de poesias quase todo dia)

Mas amanhã já vai ter qqr coisinha!^^
 
Olha a qqr coisinha chegando! :D


Caminhamos bem mais pra dentro do mato, até achar outra clareira. Lá, a minha nova ama acendeu uma fogueira.

-E aqui estamos nós, garota. Bem, posso lhe dizer que minha viagem ainda não chegou ao fim! Não andei tanto para ser apenas acossada por Mulengro e depois sair sem nenhuma palavra com sua esposa.

-Bem... olhe, não sei porque você me pegou como escrava... dificultou seu plano por uma pessoa que mal sabe cozinhar, se manter sozinha num lugar inóspito como este, não sabe nem acender um fogo com gravetos, como você fez agora... vou ser mais fardo que ajuda, se quer saber.

A imortal soltou uma gargalhada:

-Sua boba! Acha que realmente a peguei para ser minha serviçal?! Não! Fiz aquilo apenas para te libertar do cativeiro! Você é livre agora! Mas de qualquer modo, não poderá retornar ao seu mundo; ouviu o que o diabólico disse?

-Sim. E terei que ficar perto de você, senão não sobreviverei neste lugar... pelo menos por enquanto... e já te devo tantas...

-Poderá me pagar com ajuda. E não vai precisar trabalhar como empregada, pois deuses não precisam comer, nem dormir. Me ajudará indo até lá e, quando for fazer os tais favores a eles, tentar conversar com Éris levando mensagens minhas! Mas não na frente do esposo, lógico! Viu como ele é uma fera?

-Ah, eu não sou nada persuasiva! E ela deve ficar grudada nele o dia inteiro, como chiclete! Mas mesmo assim vou tentar. Não se nega um favor a alguém que acabou de nos salvar a vida.

Ela sorriu, e me convidou para sentar perto da fogueira. Abri a trouxa de frutos e comi mais alguns. Ufa, se eu passasse mais umas semanas comendo só aquilo, ia entrar em forma com certeza! Ou então teria um desarranjo intestinal. Ingá não é comida. Teria que me virar para achar algo mais substancial pra comer. Veritas parou, pensativa, olhando o vazio. Retomei a pergunta não respondida:

-Ei, Veritas, como você tinha certeza de que Éris ama tanto assim o marido e não estava apenas dizendo aquilo de se matar para impressioná-lo?

-Ah, sim! Me esqueci de responder. Na hora estava muito concentrada. Bem, é porque sou a deusa da verdade. Não minto nunca, e minha palavra não volta atrás.

Taí o motivo de o Mulengro ter acreditado na hora na promessa dela!! Nem desconfiou!

-Ninguém pode, por outro lado, falar uma mentira para mim e me enganar - continuou ela – E se alguém que fala a verdade estiver mesmo falando a verdade, não há acusação contrária que possa ser feita, se Veritas reconhecer a verdade no que foi dito.
-E tudo o que foi dito na conversa deles era verdade?

-Sim. Muita coisa ali me surpreendeu...

-Parece que Éris não gosta muito do passado, não?

-Do passado dela, não. Pelo menos do passado que eu lembro a ela.

-Mas vocês não eram amigas?

-Esta história é bem longa, Acho que precisará ouvi-la para poder entender até mesmo os recados que futuramente dará a ela. Mas não vou forçá-la a ouvir, se não quiser. Está disposta?
 
-Sim, sim! A única coisa que sei sobre ela é aquela lenda da maçã, jogada num casamento para o qual ela não havia sido convidada. Aprendi num trabalho para a escola, de mitologia grega...

-Oh, esta é a história mais famosa sobre Éris, porém é falsa: nunca existiu!

-Ah, não?! Que coisa... de qualquer forma estou curiosa: todo esse mistério e essas lacunas não preenchidas me deixaram com vontade de ouvir!

E então, Veritas começou a contar a história de Éris, a verdadeira história, segundo ela. E é aqui que vamos para aquele outro começo, o de milênios, e milênios atrás, que aconteceu antes mesmo de os sobrinhos mais velhos de Veritas nascerem.
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Nix, a deusa da noite, estava muito feliz. Ela e seu esposo iam, finalmente, ter um filho. Como eles esperaram por aquele momento! A deusa estava grávida de pouco tempo, mas as imortais sabem que serão mães logo no momento da concepção do filho.

Queriam tanto ver logo o rosto da criança! Sentiam que não poderiam esperar até o momento do nascimento. Então, decidiram consultar sua vizinha, a vidente. Assim, saberiam tudo sobre o rebento e já poderiam se encher de mais alegria e saciar a ansiedade, imaginando as desventuras futuras do filho.

Foram; a deusa vidente era muito aclamada. Ela jamais errava em suas predições, e foi a instrutora das primeiras pitonisas, quando os deuses ainda viviam no mesmo mundo que os homens.

Logo que chegaram, a mulher já foi dizendo:

-É uma menina a criança que você carrega em seu ventre, Nix. Deixe-me examiná-la mais de perto...

Ela tateou o ventre da mãe, fazendo sinais afirmativos ocasionalmente. Uma hora, porém, ela parou e estacou, de boca aberta.

-Oh, esta não vai ser uma criança normal! Será a desgraça da família!! Não os amará por nem um segundo, e quando se fizer mulher, fugirá de seus braços, para nunca mais voltar!! E mais: será a implantação da semente do mal absoluto, de uma era escura e irreversível, em todas as terras de que se tem notícia!

Os pais, horrorizados, não sabiam o que fazer.

-Não existe nenhum... antídoto para tal destino trágico?! – suplicou Nix, aflita.

-Não! Terão que encará-lo de frente. Sinto muitíssimo, meus amigos!

E ofereceu um gole de sidra ao casal desconsolado, mas estes não quiseram. Foram para casa remoer suas dores, chocados, ainda não concebendo direito a notícia.
Os olhos de Nix, que brilhavam como as estrelas, agora eram opacos; suas negras madeixas eram mais negras que a treva lá fora na noite. Seu marido, dos cabelos loiros, apenas de representar o próprio Érebo, estava tão desolado quanto ela.

-Você carrega a discórdia no ventre – disse ele à esposa.

-Sim. Oh, que fizemos para isto merecer?!

-Vamos chamá-la de Éris. Discórdia é, e esse será seu nome.
 
O tempo foi passando, e toda a alegria do começo tornou-se tristeza profunda.A medida que o ventre da mãe crescia, ela sentia que carregava a própria desgraça. A predição da vizinha, naqueles tempos tão pacíficos e isentos de crueldade, era especialmente terrível. Não se praticava de modo algum o aborto, portanto eles teriam de criar a criança que a vidência amaldiçoara. Como as premonições da deusa sempre davam certo, ambos os pais deram todo o crédito para o que ela dissera, sequer pensando que ela poderia estar errada, embora seu maior desejo fosse esse.

Enfim, a criança nasceu. A mãe não quis vê-la; o pai não quis pegá-la no colo; ficou tudo para a ama. Tal profissão era rara naqueles dias; todas as mães cuidavam e amamentavam pessoalmente seus bebês.

As poucas amas que haviam não eram criadas ou empregadas, mas sim amigas, conhecidas ou parentes, que apenas agiam numa emergência, como alguma doença ou incapacidade da mãe ou do pai de acalentar a criança. Essa ama não era uma amiga muito íntima de Nix, mas morava perto dela, e compadeceu-se da menina enjeitada. Como os pais não faziam questão de ter a menina maldita em casa, a ama a levava para casa. “É um lindo bebê”, pensava ela. “Não sei porque a rejeitam tanto.” Ela ignorava a premonição.
 
Gente, eu dei uma bagunçada legal na mitologia, mas vamo embora...

Essa deusa que cuidava da criança era Gaya, a deusa da terra. Ela morava com sua família, que era composta de seis filhos (três homens e três mulheres) e seu companheiro, Urano. Todos sentiram simpatia pela menininha, e a trataram como se fizesse parte da família. Na gestação eles viram os pais desapontados com a vindoura criança, e não entendiam, pois já era conhecido por todos que eles, os progenitores, queriam muito um filho.

De dia, Gaya levava a filha de Nix para casa, onde a amamentava e os outros da casa a ninavam, seguravam, admiravam e cantavam para ela. Só voltava com o bebê de noite, e muitas vezes os pais nem se importavam de ela passar três ou quatro dias seguidos sem aparecer.

Todos os filhos da ama colaboravam sem ter ciúmes por Éris ser uma criança de fora e ser tratada como filha; eles a trataram como irmã legítima. Urano a tratou como pai. E apesar de todos a amarem, as que mais se encantavam com o bebê eram Veritas e Mnemósyna, a deusa da memória e da lembrança.

-Que injustiça esta criança ser chamada de deusa da discórdia! Ela é tão meiga, de tão fácil trato, sem defeito algum... e é linda! – lamentava Veritas.

-Sim. Tem os cabelos da mãe e os olhos do pai – dizia Mnemósyna.

-Parece um anjinho! Pois nós faremos as vezes que os pais não fazem.

-Já fazemos, já fazemos!

Apenas não pegavam a criança para eles de vez porque ficava realmente muito mal para um casal saudável dar um filho para outro, sem motivo aparente. E os pais de Éris realmente não queriam que suas imagens ficassem tão denegridas perante os outros. Realmente não parecia ser por alguma afeição que ainda pudesse ter restado pela filha. Naquela época supersticiosa, uma vidente podia destruir amores e famílias.

Éris foi crescendo e, com o leite bom que Gaya lhe dava, se transformou de um pequeno bebê em uma criança forte e vigorosa, além de uma das mais belas dentre as filhas dos deuses. Tinha energia para ficar um dia inteiro brincando sem se cansar.

Quando desmamou, já não podia ficar tanto tempo na casa de Gaya, pois se presumia que Nix tinha o leite fraco, e por isso a ama ficava com a criança grande parte do tempo. A deusa da terra, apesar de não ter mais filhos pequenos, sempre tinha leite para as crianças que necessitassem. Era um dom.
 

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