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Instituto Royal e pesquisa em animais.

Se há alternativas para os testes, vejo como desnecessário.

Só não acho legal as pessoas defenderem beagles, coelhinhos e etc, e acharem normal fazer isso em ratos e outros animais "menos cutis".

Assim como pessoas que acham absurdo comer cachorro e gato, mas comem frango e boi...
 
(Aliás, sou contra baby beef, foie gras e testes de cosméticos em animais - tudo pesquisa e tratamento inútil.)

Véi, a diferença entre uma Vitela e uma picanha é que o animal utilizado pra a primeira viveu menos tempo até o abate do que para a segunda, mas ambos foram criados com a mesma intenção, e normalmente são tratados do mesmo modo.

Vitela é uma delícia, aliás. E só sou contra o foie gras porque é muito caro. Nunca nem experimentei. É cruel pra kct, mas todo o frango industrializado, ou vacas leiteiras, ou bois, sofrem horrores também.

Enfim, se formos começar a pensar em como tratam nossos queridos alimentos, vamos ter dó de quase todos. Mas não dá para ficarmos sem churrasco, bacon, frango...
 
É, mó injusto. :lol:


PS: Só para deixar bem explicado: Foi uma piada. Nem sou contra.
 
Enfim, se formos começar a pensar em como tratam nossos queridos alimentos, vamos ter dó de quase todos. Mas não dá para ficarmos sem churrasco, bacon, frango...

bem dessas. esses dias tava ouvindo na rádio uma entrevista sobre desperdício de comida, aí uma mulher falou sobre como se tem o hábito aqui no brasil de jogar fora frutas com pequenos defeitinhos, simplesmente porque as pessoas não compram. aí uma outra mulher que estava junto falou que com a produção de frango não é diferente, só que eles pegam o pintinho com "defeito" e matam. a radialista que estava conduzindo a conversa começou com UIII, tadinho e a mulher começou a tentar se explicar dizendo que é um processo bem rápido (e aí ela deu detalhes do 'processo') e a radialista UIIIII, etc. na hora de comer um frango assado a gente mal pensa o que tem por trás disso. e não é só frango, né.

por outro lado, tem carne do boi wagyu, né, aquele kobe beef. fui até pesquisar de novo pq lembro que na primeira vez que li pensei "caraca, quero ser boi wagyu".

O animal é tratado a base de uma mistura de grãos e cerveja (sim, cerveja), esta última que faz com que o animal tenha mais fome e engorde mais. Além disso os animais recebem massagens, são escovados com saquê e escutam música clássica para acalmar os ânimos. Segundo os criadores, relaxar o animal deixa a carne mais macia, pois uma das características únicas de um bife de Kobe, é sua gordura perfeitamente distribuída entre as fibras da carne.

http://500melhores.com.br/comer_beber/gastronomia/kobe-beef-o-bife-mais-caro-do-mundo
 
O argumento desse médico que o Feanor citou me parece bizarro. Nós compartilhamos uma série de hormônios e diversos outros mediadores químicos, tais como enzimas e outras proteínas com os animais. Boa parte das doenças humanas são de ocorrência comum nos animais, isso quando não são zoonoses, tendo participação obrigatória ou facultativa do animal como hospedeiro intermediário. Então dizer que resultados com pesquisas em animais atrapalhariam o avanço da ciência para mim é forçar a verdade a um nível absurdo.

Na verdade ele não nega isso (as semelhanças com os animais) em seu argumento, apenas explica como no fim das contas tais semelhanças são inúteis do prisma prático, uma vez que 1) os resultados dos testes em animais não garantem o efeito sobre os humanos e que 2) os testes deverão ser realizados posteriormente em humanos de qualquer maneira. Por isso que ele considera o uso de animais um atraso.


Véi, a diferença entre uma Vitela e uma picanha é que o animal utilizado pra a primeira viveu menos tempo até o abate do que para a segunda, mas ambos foram criados com a mesma intenção, e normalmente são tratados do mesmo modo.

Ahm, na verdade não. No caso da vitela, o animal é criado de modo a evitar seus movimentos, o que garante que ele desenvolva menos músculos. Pra isso, eles deixam o animal confinado num curral bastante apertado. Além disso, ele só é alimentado com comidas líquidas deficientes em ferro, para garantir que a carne fique branca.
 
Olha, já comi pate de foie gras e o troço é muito bom. Pelo que me lembro das aulas de especialização aquela forma clássica de produção onde o ganso era preso em um espaço mínimo e tinha comida socada goela abaixo está proibida ou cada vez menos usada pela pressão dos movimentos de bem estar animal. Só acho que o patê atual deve ser bem menos gostoso pq é a gordura que dá o sabor característico.

os testes deverão ser realizados posteriormente em humanos de qualquer maneira. Por isso que ele considera o uso de animais um atraso.
Mas e os testes para doses letais ou tóxicas? Esses não não deveriam ser realizados em animais de qualquer jeito?
 
Mas e os testes para doses letais ou tóxicas? Esses não não deveriam ser realizados em animais de qualquer jeito?

Novamente o problema é o valor dessa informação. Trecho de um texto que explica isso bem:


Symptoms of Overdose and the Human Lethal Dose

It might be thought that LD50 results would be useful for emergency physicians in cases of accidental poisoning or intentional overdose. So it is particularly revealing to hear the views of Dr. Goulding, who established the first British National Poisons Information Service at Guy’s Hospital in London.

“Whilst the data from animal studies….. provide some basic information of the mechanism of toxicity and relative toxicity, it cannot be assumed that this information will be entirely relevant for man.” “Experience gained from a careful assessment of patients suffering from acute overdose of drugs is potentially much more useful than that obtained from animal tests.”

An example is the painkiller, Paracetamol, which is frequently used in suicide attempts. This drug causes death in mice and hamsters by liver damage (LD50 250-400 mg/kg), but in rats the LD50 is considerably higher (1000 mg/kg) and even then it is hardly possible to see liver damage.

“How can the physician from such controversial data predict the response of human subjects?”

Species variation can also be a major problem when attempting to predict the human lethal dose. For example, the LD50 for Digitoxin in rats is 670 times that in cats, whilst for the antifungal substance Antimycin A, the LD50 in chickens is 30-80 times greater than in pigeons and mallards.

It is rarely possible to extrapolate from the LD50 in animals to the lethal dose in man.

It is only accidental human exposure which can give a reasonably reliable indication of the lethal dose and of the symptoms of overdose. This is emphasised by the complicating factors which often occur in overdose situations, such as alcohol abuse, disease, age and marked individual differences in susceptibility.

Whilst on the subject of estimating human lethal doses, it should be said that LD50 results cannot be used as a guide to the dose given to human volunteers in clinical trials, again because of the enormous differences which can occur between animals and man. For the safety of volunteers taking part, such trials must commence with minute amounts of the drug, whatever the preliminary tests have indicated.
 
Não entendi. Tu está assumindo que, no caso de não haver alternativas, a vida humana vale mais que a animal? Mas daí ela não seria respeitada tanto quanto a do ser humano, pois estaríamos assumindo que ela é inferior se colocarmos essa ressalva. :think: Fiquei confuso.

Acho que o resumo da opinião do @Heberus Stormblade é: O ser humano é superior aos outros animais, mas não vale esculachar.
 
Não entendi. Tu está assumindo que, no caso de não haver alternativas, a vida humana vale mais que a animal? Mas daí ela não seria respeitada tanto quanto a do ser humano, pois estaríamos assumindo que ela é inferior se colocarmos essa ressalva. :think: Fiquei confuso.

@Grimnir: Não acho que o ser humano seja superior aos outros animais, assim como não acho que o leão seja superior a zebra, mas um "utiliza" do outro para sua própria sobrevivência. Isto está inserido no ciclo da natureza e não diz respeito a questões de superioridade/inferioridade.

Nós, humanos, utilizamos dos animais não só para a alimentação como para outros fins, entre eles os medicinais e científicos. Acho isto absolutamente plausível observado o exemplo anterior, pois de certa forma, esta utilização está contribuindo para nossa sobrevivência, progresso e qualidade de vida.

Ressalto novamente que sou a favor do uso de animais (tratando-os da melhor forma possível) para estes fins, desde que não haja outros meios de atingir os objetivos medicinais e científicos, que sejam economicamente viáveis.

Paz e Amor.
 
OS GATOS-BONSAI DO INSTITUTO ROYAL

“Enquanto uma mentira dá meia volta ao mundo, a verdade ainda está calçando seus sapatos” — Mark Twain

MUITA GENTE QUE era viva no distante ano de 2000 ainda se lembra do escândalo dos “gatos-bonsai”. Fotos se espalharam pela internet para denunciar a prática de criar gatinhos dentro de garrafas. Bastava colocar o animal dentro de um pote de quadrado para que seu rosto ganhasse o mesmo formato.

Na época, recebi e-mails de amigos que estavam genuinamente revoltados com essa prática, com razão. Eles não sabiam que alguns dias depois a história já tinha sido desmascarada. Era um boato inventado por um estudante americano que fez montagens fotográficas dos animais. Durante alguns anos, porém, o boato ainda circulou pela internet —sem ajuda de Facebook ou Twitter—, e demorou que o planeta inteiro se desse conta de que era mentira.

Hoje, com redes sociais, denuncias de maus tratos a animais têm a capacidade de circular o mundo com uma velocidade sem precedentes, e é o que aconteceu após a invasão do Instituto Royal, na semana passada, um centro de pesquisa pré-clinica com animais em São Roque.

Muita gente recebeu pelo Facebook links com fotos de um cão com olho costurado. Outra mostrava um cão com a pata decepada. Algumas imagens tinham procedência duvidosa, mas outras claramente haviam sido obtidas dentro do Instituto Royal. Muitas mostravam os canis cheios de cocô. Ativistas que divulgavam as imagens buscavam tentar explicar o que tinha acontecido. Um cão tivera a língua cortada, um filhote havia sido congelado para um teste e diversos cães exibiriam pedaços de pele “arrancados”. Um cão velho, por fim, teria sido vítima de um cruel procedimento no qual seus dentes foram colados.

Não é à toa que muitas pessoas ficaram de cabelos em pé. Eu também fiquei. Mas, a exemplo do que fiz com os gatos-bonsai, esperei um pouco antes de espalhar o pânico. E ontem, conversando com a bióloga Sílvia Ortiz e o cientista João Pegas Henriques, da direção do Instituto Royal, descobri o que aconteceu com o beagle dos dentes colados.

O cão passara por um procedimento para fixar uma fratura de maxilar. A fixação dos dentes, longe de ter sido um experimento, havia sido feita para salvar a vida do animal, que se chamavaRicardinho e era um dos machos do centro de reprodução do Royal.

Mas e o cão congelado? Segundo os biólogos, não era um experimento. O animal havia morrido de causas desconhecidas um dia antes e fora congelado para passar por exame anatomo-patológico no dia seguinte.

O animal com língua cortada? Havia se ferido durante a hora de recreação com outros cães, que às vezes se mordem. Depois de tratado pelos veterinários, ficou com uma cicatriz sem prejuízo funcional.

Já os beagles com partes “sem pele” na verdade estavam apenas “sem pelos”. Apenas haviam sido depilados em certas partes para a aplicação de uma pomada antibiótica que estava em teste.

Os montes de fezes no canil haviam sido em sua maioria produzidos por cães apavorados durante a invasão do instituto. Criar animais em lugar sujo, aliás, comprometeria os experimentos, e manter o canil limpo era do interesse dos cientistas.

Mas como justificar arrancar o olho e a pata de um animal? As fotos desses cães não foram tiradas no Instituto Royal. A do beagle com olho costurado já estava sendo usada antes em campanhas da ONG vegetariana Vista-se. A foto da pata decepada ainda não teve a procedência identificada, diz o Royal.

O que eu reproduzo aqui são as palavras do instituto. Cabe a cada um acreditar se elas são explicações razoáveis ou não. Eu acredito que sim.

A julgar por todas as informações que consegui apurar pessoalmente, o Royal está sendo absolutamente transparente com aquilo que era feito lá dentro. Até porque eles não teriam como esconder suas instalações do Concea e da comissão de ética que avalia seu trabalho —da qual participam dois integrantes da Sociedade Protetora dos Animais. Até eles reconhecem que a criação de novos medicamentos não pode abrir mão totalmente do uso de animais.

O Royal, sendo transparente, reconhece até mesmo que a prática de eutanásia dos cães é necessária –em casos raros e em número pequeno. O procedimento é autorizado pelo Concea (Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal), que leva em conta se o uso dos cães é indispensável para desenvolver uma droga que trará benefícios relevantes a seres humanos. O Concea também avalia se o experimento está usando o número mínimo possível de animais. A praxe após um teste pré-clínico é tratar os cães e doá-los.

Eu não duvido que muitos dos ativistas que invadiram o Instituto Royal fossem pessoas que estivessem querendo apenas o bem dos animais, querendo evitar maus tratos aos cães e coelhos raptados. O resultado da invasão ao instituto, porém, será o encarecimento e o atraso no desenvolvimento de drogas que podem vir a beneficiar pessoas (e outros animais) com infecções bacterianas, inflamações, diabetes, hipertensão, epilepsia e câncer. E alguns dos cães raptados que, como Ricardinho, precisavam de tratamento especial, podem ser prejudicados nas mãos de veterinários incautos. Para praticar o bem, como se demonstrou, é preciso estar bem informado.

edit>> se for real esta notícia aqui >> http://www.estadao.com.br/noticias/...osto-a-venda-em-mercado-virtual,1089634,0.htm caramba, como tem fio da puta no mundo, heim.
 
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Crônica
A revolução dos Beagles
No mundo ideal, homens, cães, ratos e pobres serão todos iguais, mas uns serão mais iguais que os outros. Por Matheus Pichonelli

"Tempos atrás, escrevi neste site a história, real, de um cão que resolveu colocar o focinho em uma vasilha de plástico, ficou preso e saiu em disparada com o latido sufocado no recipiente (Leia clicando AQUI). De onde estava, vi metade da cidade se mobilizar para salvar o pobre que, no desespero, cruzava as ruas sem a menor prudência. Dava dó. O garapeiro, o guarda de trânsito, os motoristas e os casais de namorados: não houve quem, diante da cena, não se mobilizasse para arregaçar as mangas e salvar o animal. Foi daquelas provas de que a humanidade ainda tinha jeito: não perdeu a sua capacidade de sentir nem de transferir a sua humanidade a quem passa por apuros. É o que se chama de alteridade, ainda que o outro tenha rabos e patas.

Foi o que pareceu, também à primeira vista, o resgate na última semana dos cães da raça Beagle em um laboratório de testes em São Roque, no interior de São Paulo. Segundo as primeiras notícias, os cães estavam assustados e alguns, machucados. Em um país que só agora parece pegar gosto em se mobilizar para exigir direitos de naturezas múltiplas – da redução da passagem de ônibus ao fim da corrupção, da gripe e da maldade em todos os corações – o direito dos animais virava uma pauta – digníssima, note-se. Ao que parece, é cada vez maior o número de pessoas indispostas a aceitar maus-tratos em animais. Um grande avanço para quem, até pouco tempo atrás, aprendia a cantar na escola um hino ao aniquilamento felino. Hoje, quem ousou um dia atirar o pau no gato não se elege nem para síndico do prédio – o vereador mais bem votado da maior cidade do País, por sua vez, tem o desenho de um cão, e não a sua foto, como bandeira de campanha.

A consolidação das leis de proteção de animais e hospitais públicos veterinários são símbolos dessa transformação. (Dia desses, um vizinho bateu à porta da casa de minha mãe com uma ameaça: se o nosso gato voltasse a arranhar a lataria do seu carrão, o gato apareceria envenenado e morto em casa. Diante da ameaça, ela foi até uma delegacia da Polícia Civil e registrou a queixa. Saiu de lá com a garantia de que se o gato tivesse uma simples gripe a partir dali, o sujeito seria intimado, acusado, eventualmente processado e eventualmente preso por maus tratos. Sem direito a fiança. Ao menos na lei, o direito à humanização dos bichos prevalece sobre a humanização dos automóveis. E é bom que seja assim).

O episódio do resgate dos Beagles, no entanto, diz mais sobre o nosso encarceramento do que o dos bichos. Diz muito também sobre a alienação cultural em relação ao que nós mesmos consumimos e alimentamos. É mais ou menos como se, aos 30 ou 40 anos, alguém se chocasse ao descobrir como é que as crianças vieram parar ao mundo. No caso, não as crianças, mas as vacinas, os medicamentos, os tratamentos, os testes. O que não deixa de ser curioso: nosso primeiro contato com as galinhas é uma caixa de isopor com doze ovos que não foram gerados espontaneamente em uma gôndola de supermercado. Tampouco o churrasco do fim de semana. O que os olhos não veem, dirão os despreocupados, o coração não sente, e não precisamos assistir ao aniquilamento de bois e vacas nos pastos e frigoríficos para saber como surge o almoço dos pets a quem oferecemos abrigo, proteção e alimento. Nesse sentido, a visualização da dor, simbolizada pelos Beagles – como não querer levar para casa? – parece ter produzido uma revolta tardia. Como escreveu um amigo: como vocês achavam que eram feitos os testes de medicamentos? Com jacas?

A resposta pode ser bem melhor do que as que vêm sendo formuladas após o episódio. Por exemplo: transparência, monitoramento, redução do uso de animais e métodos para evitar a dor desnecessária são mais do que recomendáveis. Inclusive para a produção de alimentos. Hoje, a imagem das empresas está diretamente associada à sua responsabilidade em relação ao meio – e, consequentemente, à sua capacidade de evitar desperdícios, uso de trabalho escravo e ação agressiva ao ecossistema. O uso de animais em laboratórios passará pelo mesmo processo: quanto menos cruel, mais chances de a pesquisa ser socialmente aceita. É o que vai separar os tempos futuros, de testes com células-tronco e outras inovações, com os tempos ancestrais, de sacrifícios, imolações e desprezo à vida, qualquer forma de vida.

A se notar as manifestações sobre o episódio, no entanto, ainda estamos longe desse salto civilizatório. Não que adorar animais seja sinônimo de desprezo a pessoas. Mas o precedente é, no mínimo, curioso. Em conversas, posts e artigos de jornais, o que se vê é a confirmação de um movimento, já citado aqui outras vezes, contraditório: a humanização dos animais e animalização do ser humano. Na crônica citada, recorri a uma sociologia de boteco para rabiscar uma explicação ao fenômeno: à medida que as cidades crescem, passamos a conviver cada vez mais em ambientes insalubres; esbarramos no trabalho, nas escolas, nas casas de vizinhos e outras instituições fechadas com todo tipo de competição, ganância, trapaça, preconceito e intolerância. Nesse ambiente, nos animalizamos e a ideia de lealdade se transforma em valor absoluto – raro pelo contraste. Nessa, os cães ganham uma aura sagrada, mais ou menos como uma divindade indiana: são leais, amorosos, gostam da gente quase gratuitamente e não pulam o muro de casa para nos trair com o dono do cão vizinho. Os homens, por sua vez, são abjetos e elimináveis.

Nos jornais, como a candidatar-se ao Prêmio Relincha Brasil 2013 – expressão de outro amigo – houve quem escrevesse que, em vez de Beagles, a ciência usasse humanos em seus testes. Por exemplo, presidiários. Eles poderiam, chegou a sugerir a colunista, aceitar atuar como cobaias em troca da redução das penas. Não poderia ser mais clara: não aceitamos menos do que a humanização dos animais, mas não nos importamos com o estabelecimento de humanos de segunda categoria. Os Beagles estariam, assim, em uma camada intermediária entre os brancos livres detentores de direito e os negros, pobres e mulatos, os únicos que afinal cumprem pena – sem serem dignos de pena – no Brasil. Franz Kafka, que no livro A Metamorfose transformou o personagem Gregor Samsa em um enorme inseto – seu alter ego desprezado por sua tuberculose, segundo certas leituras – não iria tão longe. Séria ou não, a proposta, de apelo popular insofismável, lançou as bases de nova categoria de indignação: a humanização seletiva. Os ratos deixados para trás na operação resgate em São Roque não poderiam se sentir menos envergonhados."

Fonte: cartacapital.com.br

Serve para refletir um pouco. Sinceramente não tenho opinião formada. Aliás tenho muito mais dúvidas do que certezas.
 

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