• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

Instituto Royal e pesquisa em animais.

Já disseram muita coisa boa, só quero dizer que a impressão que me passou disso tudo, é que fizeram todo esse escândalo por serem Beagles, fofinhos e inteligentes cães que vemos em filmes da Sessão da Tarde. Qual seria reação desse bando de desocupado se fossem camundongos? "Ah, mas cães são mais inteligentes", alegariam...e porcos são mais inteligentes que cães, mas amamos bacon, então pouca gente se importa com a criação deles para comida.

Bois, porcos e frangos são mortos aos milhões por ano. E não vejo nada demais nisso, estamos priorizando a nossa espécie. Se podemos, ao invés de caçá-los como antigamente, os criar para depois comer, ok. E não faço muita diferença entre cães e porcos. Ambas espécies são inteligentes, porque uma é produzida em escala industrial no mundo todo, e a outra não pode ser usada para nossos interesses também? Ora, não estão aprisionando esses cães por maldade, estão fazendo isso pelo bem da nossa saúde. Saúde de nossos familiares, amigos, de todos nós que tivermos acesso ao resultado dessas pesquisas.

Enfim, 90% do drama é porque eram cães fofinhos. Aí ficam com dó, levam pra casa, colocam no instagram e se acham super-heróis. Até o dia que estiverem doentes, e usarem um remédio feito graças a estudos com outros animais.

Fora os que promovem a ignorância, como a tal da Luisa Mell, que fala sobre os cosméticos...detalhe engraçado na foto abaixo:

mell.png

Ela está bem maquiada na imagem. Foda-se matar animais pra comer, mas a vegetariana acima usa cosméticos que provavelmente foram desenvolvidos com testes em animais. :dente:

Me estresso com o assunto. É muito drama para algo completamente comum, e ao menos que façam testes em humanos, necessário para o contínuo avanço da ciência.
 
Gente, parem de SE INDIGNAAAAAAR, LUISA MELL PARA PRESIDENT@, #SALVEMOSBEAGLES sem saber como funcionam as coisas.

Em todo ensaio clínico existe a parte pré-clínica, onde os medicamentos são desenvolvidos em laboratório e testados em animais criados para este fim. Estes são muito bem cuidados, alimentados, etc, afinal, queremos um animal com o corpo saudável para vermos a resposta da medicação num cenário mais próximo do real. Os que passam por esta fase (ou seja, não causam grandes efeitos colaterais, tem resposta terapêutica satisfatória, etc) entram na fase clínica do estudo, onde o mesmo fármaco é usado em voluntários à pesquisa que preenchem um termo de consentimento e são acompanhados por um período de tempo.

Geralmente esses voluntários são separados em dois grupos de números aproximadamente iguais, onde um usa a droga nova (X) e outro placebo (P) ou a droga de escolha no mercado (Y). No final do tempo previamente estipulado, relevada a perda de voluntários (seja por mudança residencial, desistência de participação ou mesmo morte por diversos motivos), os resultados dos pacientes que se trataram com a droga X são aferidos e comparados com o grupo que usou o P ou a droga Y no mesmo período. Depois disso tudo que o estudo é publicado e a droga liberada no mercado.

Ou seja, são feitos estudos em animais e humanos. Parem de falar absurdos como testar em bandidos, políticos ou ~na sua mãe~ ou terem surtos psicóticos paranoides (viu, Morfindel Werwulf Rúnarmo) de achar que tudo é uma teoria da conspiração e que a Xuxa está por trás do Instituto Royal porque prometeu beagles frescos ao exu enquanto cantava ilariê ao contrário. Tá sobrando inflamação e faltando reflexão crítica.
 
@Morfindel Werwulf Rúnarmo: O fato é que o laboratório não tem obrigação de revelar detalhes sobre o medicamento. O problema é o seu típico tom de deboche revoltadinho. Se o laboratório estiver fazendo algo de errado e ilegal, que seja investigado então. Se algum juíz achar que é importante quebrar o sigilo do contrato, então tá bom.

Se a ideia é que a pesquisa com animais só seja autorizada para "boas causas", então vamos discutir isso. Só fico curioso sobre quem decidirá quais são as boas causas. De qualquer forma, mesmo se os cientistas tivessem falado que estavam concluindo um remédio para todos os típos de câncer, duvido que isso faria alguma diferença para os ativistas.
 
Então, é nisso que eu paro pra pensar.
Os comitês de ética "pedem", mas quantos laboratórios cumprem esse pedido?
Eles realmente utilizam o menor número possível de animais em experimentos?

Nos casos em que não é necessária a utilização de um ser vivo para testes (em que se pode utilizar células e peles artificiais ou de doadores, por exemplo) essa alternativa é realmente utilizada?
Quem fiscaliza se as normas estão realmente sendo cumpridas?

E assim, no caso específico desse laboratório, eles não revelam nada porque está tudo "protegido por contrato", diz que os animais sequestrados quando recuperados: "receberão tratamento e podem "ser colocados para doação".
Tratamento para o que, se eles não estavam sendo maltratados?
Assim fica difícil pras pessoas comuns entenderem as razões dos cientistas.

Sem falar nesse médico, secretário do Concea, argumentando: "vamos testar vacinas em nossas crianças?" . :gotinha:
Ah, me poupe, né?
Vai lá no facebook, vai secretário.

Clara eu vou falar da experiência das pessoas que eu conheço que trabalham com animais no Brasil. Se um estudo for conduzido sem a autorização do Concea, ele não pode ser publicado, não pode evoluir para um estudo clínico, não pode ser defendido em dissertações e teses e em lugares que possuem o biotério unificado os animais não são enviados para quem está conduzindo o estudo. Mas se mesmo assim houver suspeitas de irregularidades cabe a denúncia e investigação como o Grimnir falou.

E a questão de não poderem falar o que estavam fazendo é porque independente do que seja é tecnologia nova. Nesses casos, como nas mais diversas áreas da exatas e biológicas, existem termos de confidencialidade. Mesmo se fosse um caso envolvendo humanos eles não divulgariam dessa forma para deixar tudo tão transparente para população em geral. Mas isso não significa que o projeto inicial não tenha sido submetido, avaliado e aprovado por um comitê e/ou uma agência de fomento (CNPQ, FAPESP, FAPEMIG etc.).

Já disseram muita coisa boa, só quero dizer que a impressão que me passou disso tudo, é que fizeram todo esse escândalo por serem Beagles, fofinhos e inteligentes cães que vemos em filmes da Sessão da Tarde. Qual seria reação desse bando de desocupado se fossem camundongos? "Ah, mas cães são mais inteligentes", alegariam...e porcos são mais inteligentes que cães, mas amamos bacon, então pouca gente se importa com a criação deles para comida.

Eles deixaram todos os camundongos lá. Não resgataram nenhum! Só pegaram os fofinhos, beagles e coelhos.
 
Um post extremamente lúcido de um colega no Facebook. Leiam sem preguiça e má vontade, com carinho.

"Os vários animais de uma mesma história

Quando eu morava nos EUA, sentia que os cientistas eram ultra-respeitados. Eram a referência máxima na sociedade para todos os temas científicos, o que é de se esperar.....que os cientistas sejam consultados sobre os temas científicos. Me sentia admirado, em alguns lugares até me sentia um pouco “bicho de circo”, pois chegavam a chamar outros pra virem me ver: “olha, vem aqui ver, tem um cientista da Harvard aqui em casa hoje”. Claro que isso não era em Boston, porque em Boston, cientista da Harvard é o que mais tem, mas em cantos outros, quando exposto à população leiga, era assim. Aconteceu mais de uma vez. Na França, tive a mesma impressão. Já no Brasil, país que tanto me encanta, infelizmente não é assim. Assim como os professores não são valorizados, nem os médicos (vide o que está acontecendo), os cientistas também não são. O Brasil não é um país que valoriza os seus profissionais e todo o desenvolvimento se dá por iniciativa pessoal, abnegação, obstinação. Não há incentivo popular, incentivo este que se destina exclusivamente aos jogadores de futebol, às dançarinas do funk, artistas globais e por ai vai. Me sinto desvalorizado pela população geral (e não sou apenas eu, mas todos meus amigos cientistas), desde o dia que comecei a fazer estágio de iniciação científica, ainda na graduação. Desde esta época que, embora trabalhasse dia e noite, sustentado por bolsas ridiculamente menores do que qualquer salário de estagiário de qualquer área, tenho que escutar comentários do tipo: Você não trabalha, só estuda? Nossa, você estuda o tempo todo? Que nerd! Nossa, que coisa de louco que você faz, isso não é vida. Fim de semana no laboratório? Enfim, apoio popular não é necessariamente importante, mas agora!!! Agora, foi o auge!!! Agora temos “ataques” da população contra a pesquisa científica. Em nenhum momento vi alguém dizer “gente, são cientistas, eles sabem o que estão fazendo. Nós não entendemos da área, mas vamos confiar neles, que afinal de contas, estudaram tanto tempo. Se alguém tiver curiosidade, no meu caso, entre a graduação e o pós-doutorado, foram 13 anos de estudos, boa parte fora do Brasil. Não sei qual é a imagem de cientista que as pessoas têm na cabeça. Como podem pensar que mal tratamos os animais, sendo que se os animais estiverem minimamente estressados ou infelizes, todos os resultados da pesquisa são alterados. Estes animais vivem muito melhor no laboratório do que em muito apartamento por ai, de gente que têm os animais pra enfeite e diversão no fim do dia, mas não se importam de os animais ficarem sozinhos no calor durante o dia. Ou vai me dizer que você deixa as janelas abertas e o ar condicionado ligado pro seu cãozinho? No laboratório controlamos tudo, inclusive temperatura.

Mesmo se convencendo de que não há alternativa ao uso de animais de laboratório, as pessoas continuam postando coisas sem cabimento. Parece um movimento cego. As pessoas não se importam de estarem fazendo papel de ridículas opinando sobre algo que não conhecem. Eu ficaria profundamente constrangido de postar coisas sobre arquitetura, porque não é minha praia. Falta esta noção, me parece!
O documento do avaaz.org chove no molhado e propõe uma série de coisas que já existem. Minimizar uso de animais com fins didáticos? Isso já é feito. Este minimizar chega a zero em grande parte das vezes. Usar modelos alternativos para o que é possível e desenvolver mais destes? Isso já é feito. Estabelecer comitês que avaliem os projetos que pretendem utilizar animais? Isso já existe e são os duríssimos comitês de ética em pesquisa animal. Em post anterior eu já expliquei que há testes que podem e devem ser feitos in vitro e testes que só podem ser feitos em animais. Também já expliquei que dada a complexidade dos seres vivos, nunca chegaremos a substituir por completo a experimentação em animais. Está lá, com exemplos, mas as pessoas continuam preocupadas com o que fazer com os beagles roubados, ou com a vitrine da loja de Londres que fez uma exposição chocante e ridícula sobre pesquisas em animais, dizendo que eles não fazem. Massa de manobra....é isso que vocês são e vão continuar sendo. Eu NUNCA vi ao longo destes meus quase 20 anos na pesquisa, nada semelhante ao que vocês estão dizendo que acontece e usando para trazer mais gente para este movimento burro e ignorante.

Agora indo para um lado mais pessoal, informo que estou colocando todos vocês que estão bravamente levantando esta bandeira da ignorância contra a ciência e a medicina em um grupo seleto. Um grupo seleto de pessoas pra quem não preciso mais informar sobre medicamentos, especialistas, tratamentos quando me pedem. Frequentemente me perguntam coisas sobre tratamentos próprios e de seus parentes. De agora em diante, não posso mais dizer nada para estes, porque tudo que sei é baseado em estudos com animais, todos os especialistas que conheço e para quem poderia referí-los, executam procedimentos desenvolvidos com base em pesquisas em animais e as instituições todas por onde já passei, seguem a ciência correta como deve ser e leva em consideração as pesquisas feitas em animais.
Na minha opinião, a humanização dos animais, tornando-os parte da família, com direito a festas, vontades e “opiniões” e ao mesmo tempo a animalização do ser humano, sendo proposto que criminosos sejam usados para “qualquer coisa” é assunto que merece muita atenção. Não sou da área da psiquiatria, mas me parece que há uma inversão de valores ai digna de estudos, digna de tratamento. Mas como disse, não é minha área, portanto não quero opinar. R E F L I T A M O S !!!"
 
Sim, não somos nós. Mas a Polícia só consegue solucionar 3% dos assassinatos que ocorrem, eles vão poder (e querer) investigar isso? Não que seja meu ou seu trabalho, mas se é algo que afeta o público é sim de interesse público.

Nisso eu concordo com você, Morfs, principalmente porque o ocorrido chamou a atenção do grande público para a realização desses testes. Contudo, se é pra observar de um ponto de vista leigo, é bom que consideremos todas as variáveis e circunstâncias da referida invasão e da acusação de maus tratos realizada pelos ativistas.
 
Esse post do sujeito é uma coisa que eu vejo muito: cientistas que tentam apelar ao emocional para justificar qualquer coisa. Desculpem, mas não acredito numa só palavra. A indústria farmacêutica não tem regras que não possa burlar, não tem freios que o capital não possa roer. Esse mimimi do cientista aponta os mesmos vícios comparativos de sempre e ainda tem a cara de pau de dizer que os animais são bem tratados. Uau! Ele quer que a gente deite pra ele passar? Eu sou contra a violência, acho que a invasão do laboratório foi errada, mas o direito de protestar é livre. Se havia animais lá dentro, tinham que insistir no protesto, até que se obtivesse a libertação dos mesmos. Cientistas e seu pedantismo intelectual, médicos que se acham a ultima coca cola do sertão... o post transpira elitismo, preconceito, e ainda por cima, tenta justificar o injustificável. Se voce se acha tanto, apresente algum resultado do seu trabalho que lhe renda os elogios e o salamaleques dos quais sente tanta falta, mas deixe os animais de lado, não insista em algo que ja foi contestado pelos seus proprios colegas cientistas. Já refleti, e cara, voce não é nenhuma novidade, infelizmente.
Desculpem, mas minha postura nesse assunto é essa. Radical e sem apelação.
 
  • Grr
Reactions: Pim
texto do @Imrahil sobre o assunto:

A esta altura do campeonato, você só não ouviu falar do célebre resgate dos beagles do Instituto Royal, em São Roque (SP), se andou passando uma temporada em Marte. É o tipo de assunto facilmente polarizador, que deixa as pessoas à mercê de emoções fortes e simplificações grosseiras. E, como está na interface complicadíssima entre bioética, ética de modo mais geral, comportamento animal e até crenças quase religiosas na posição especial (ou não especial, dependendo de quem fala) do homem na natureza, acho que se encaixa bem no escopo do blog, então aqui vou eu chafurdar nesse atoleiro. Peço a paciência do gentil leitor.

Primeiro, tirando da frente o óbvio: maus-tratos a animais, se estavam mesmo ocorrendo, precisam ser punidos com todo o rigor da lei. Existem protocolos éticos para experimentos com animais aceitos pela comunidade de pesquisa biomédica no mundo todo, os quais envolvem, entre outras coisas, a garantia do uso de anestésicos em todas as intervenções invasivas e uma eutanásia digna para bichos que estejam sofrendo ou precisem ser sacrificados para o andamento dos estudos. Ao menos no papel, cobaias só não são anestesiadas se o protocolo de pesquisa o exigir — em estudos sobre dor, por exemplo, infelizmente. Se existem pesquisadores que ficaram insensibilizados pelo longo trabalho com animais de laboratório e não se importam com o bem-estar dos bichos ou até têm algo de sadismo, que sejam denunciados e punidos severamente, porque isso não é atitude… bem, “de gente”, como se diz aqui em São Carlos.

Mas é claro que o mais complicado é lidar com a questão mais geral: é lícito, afinal de contas, injetar patógenos humanos em camundongos, testar produtos potencialmente cancerígenos em cães? E, no limite, criar animais para abatê-los e comer sua carne?

O QUE FUNCIONA

Veja bem, estou falando do que é lícito, não do que funciona. Por mais que se fale em culturas de células e simulações computacionais como substitutos para o modelo atual de pesquisa biomédica, o fato é que estamos longe, muuuuito longe de fazer com que essas alternativas tornem indispensáveis os experimentos com animais, pelo simples fato de que é preciso, com frequência, estudar como um organismo semelhante ao nosso reage de forma global a determinado fármaco ou intervenção. É claro que as alternativas têm de ser estudadas e, na minha opinião, receber bom financiamento, até porque elas poderiam aumentar a própria confiabilidade da pesquisa biomédica. E, claro, parece desejável, no mínimo, não testar mais cosméticos em bichos. Mas, pelos próximos muitos anos, tudo indica que novos remédios precisarão passar pelos testes pré-clínicos em animais.

(Um rápido e tristemente necessário parêntese: sou obrigado a dizer que quem aqui propõe que esses testes deveriam ser feitos em “criminosos irrecuperáveis” sofre de um tipo severo de idiotia moral. “Irrecuperáveis” pra quem, cara-pálida? Quem se acha qualificado para decidir quem “presta” e quem “não presta” entre seus semelhantes me parece um bom candidato a passar um tempinho trancafiado. Mas, graças a Deus, não sou eu quem decide. Ademais, por pior que um criminoso seja, ele ainda tem capacidades semelhantes às de qualquer outra pessoa de sentir dor, ter consciência de sua mortalidade, ter desejos e planos. Pode-se até discutir se alguém é perigoso demais para continuar vivo, mas usar uma pessoa, qualquer pessoa, como bucha de canhão de laboratório não me parece um avanço moral.)

O QUE É CERTO

Em texto de análise nesta Folha, discuti algumas das premissas do chamado movimento de libertação animal, para o qual, em praticamente nenhuma circunstância, seria lícito ferir animais ou tirar suas vidas em benefício humano.

Os argumentos filosóficos por trás dessa posição são fortes e merecem ser levados a sério. Não é só “coisa de ambientalista doido”. Em especial quando estamos falando de vertebrados, e principalmente de mamíferos e aves, está cada vez mais claro que as bases mais profundas das emoções humanas também estão presentes nesses bichos. No mínimo, os últimos 30 anos de pesquisas deixaram claro que as diferenças emocionais e cognitivas entre pessoas e mamíferos de vida social complexa e vida longa, como grandes macacos, cetáceos e elefantes, é muito menor do que muita gente desejaria que elas fossem. Já usei essa metáfora antes, ela é meio dura, mas tanto faz: criar um bebê chimpanzé em isolamento, apenas como cobaia, é a mesma coisa que criar uma criança numa solitária e torturá-la — embora, no caso do nosso pobre chimpa, as capacidades mentais continuem no nível das de uma criança pelo resto da vida.

A questão mais complicada, no entanto, é se isso vale para todos os demais animais. Nesse ponto, não me parece que a pesquisa biomédica seja, no fundo, mais desrespeitosa ou desumana do que o uso de animais como alimento. (A coerência completa, nesse caso, exigiria que todos os que se opõem ao uso de beagles para experimentos também sejam veganos, ou seja, só comerem produtos de origem vegetal, ou no mínimo vegetarianos, o que permitiria a inclusão de ovos e leite na dieta.)

É aí que a porca torce o rabo, com o perdão do trocadilho. É difícil dizer se o imperativo ético de não devorar nenhum animal é realmente impossível de rejeitar ou apenas reflexo de um desejo humano, muito compreensível, de “sanear” o mundo. Digo isso pelo seguinte: a predação, para o bem ou para o mal, faz parte da teia dos ecossistemas e da maneira como a vida funciona. Sem predadores, herbívoros seriam uma praga incontrolável — e, se não fossem mais criados por humanos, certamente seria esse o destino deles, até que fossem devidamente predados.

Sim, eu sei perfeitamente que nem tudo o que é “natural” é “certo” — muito pelo contrário, aliás. Mas um “caminho do meio”, ou seja, a criação de animais não industrializada, com respeito ao comportamento natural de cada espécie e um sacrifício respeitoso no final, não seria igualmente digno? O único caminho ético é mesmo a transformação de todo ser humano em vegetariano e, de preferência, vegano? É de se pensar.

FONTE
 
Texto da Pim é bem fraquinho e de tom afetado. Não estou a fim de discuti-lo a fundo, mas daria pra apontar dois pontos:

- A discussão que se dá é uma discussão que envolve ética no tratamento de animais. Então não se trata de desvalorizar a ciência, e nem sequer discutir ciência propriamente dita, esse não é um tema científico e o cientista não é especialmente capacitado para discutir esse assunto. Então esse negócio de "os cientistas sabem o que estão fazendo", "deveriam ouvir mais os cientistas", etc, não tem nada a ver. É só ver no decorrer da história o que foi feito em nome de uma suposta "ciência médica".

- Ninguém aponta que os beagles são mal tratados por causa das condições de temperatura, umidade, etc. Insinuar que por causa desse tipo de vantagem um beagle de laboratório médio tem uma vida comparável ao de um cão doméstico médio, só porque este último enfrenta as vezes temperaturas ou outras condições menos favoráveis (até humanos enfrentam, haja o calor que quase todos aqui passamos) é absurdo. O problema é o sofrimento e o dilema moral decorrente do experimento científico em si. É só fazer um experimento mental simples: se você tivesse beagle e só pudesse escolher entre dá-lo ao laboratório, e dá-lo para uso como animal de estimação, sem poder determinar quaisquer segundas condições, o que você faria? É claro que poderia ter azar e dar para um sujeito que o tratasse mal, mas a melhor opção a se tomar saltaria aos olhos, não haveria nem o que pensar a respeito.
 
O interessante de movimentos assim, é que forçam os grupos a buscarem outros meios de realizar tais testes, mas acredito que, não tendo uma outra opção, tais testes devem ser feitos em animais mesmo (da forma menos agressiva possível).

Quando o uso de animais vivos for totalmente dispensável sim. O problema é que há muitos leigos dando pitaco em assuntos extremamente técnicos.

Muitos dizem, "mas ah, já existem técnicas de cultivo celular que poderiam dispensar o uso de animais, podem se usar cadáveres ou peças anatômicas artificiais". Depende. Eu posso testar a toxicidade de certos medicamentos em células de cultivo, mas se eu preciso testar a funcionalidade de determinado órgão depois de nova técnica cirúrgica eu preciso de um animal que tenha esse órgão anatomicamente funcional. Isso já descarta um cadáver, cultivo celular e peças anatômicas.


O argumento desse médico que o Feanor citou me parece bizarro. Nós compartilhamos uma série de hormônios e diversos outros mediadores químicos, tais como enzimas e outras proteínas com os animais. Boa parte das doenças humanas são de ocorrência comum nos animais, isso quando não são zoonoses, tendo participação obrigatória ou facultativa do animal como hospedeiro intermediário. Então dizer que resultados com pesquisas em animais atrapalhariam o avanço da ciência para mim é forçar a verdade a um nível absurdo.

Outra coisa que canalhamente as pessoas que são totalmente contrárias ao uso de animais em experimentos parecem se esquecer é que se realizam testes em animais não só para o benefício de humanos, mas também para o benefício de outros animais.
 
Última edição:
Para trazer a paz e o amor a este tópico e inserir um novo contexto a ser observado, citarei esta música:


"Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver."
Dalai lama
 
Pensando aqui comigo nessa hipótese do laboratório e da criação doméstica. Esses animais só sobrevivem por conta dessa domesticação. Solte-os na Natureza e nenhum irá sobreviver - ou então irá alterar o ambiente de forma bem drástica. Não achem que com isso defendo o uso indiscriminado de animais em pesquisas - pelo contrário, maus tratos têm de ser punidos. Contudo, como já disseram várias vezes, formas alternativas de pesquisa ainda não podem ser aplicadas em larga escala. Minha posição é que essas cobaias devem ser bem tratadas o máximo possível concomitante a natureza da pesquisa realizada. (Aliás, sou contra baby beef, foie gras e testes de cosméticos em animais - tudo pesquisa e tratamento inútil.) Não podemos viver de sonho, achando que as coisas vão se ajeitar magicamente da noite pro dia. Quem lê sobre a História da Medicina - quem lê História, aliás - sabe que para atingir as melhores condições de vida hoje foi preciso atravessar um caminho de pedras. O apelo à radicalidade nessa questão é um caminho fácil, para ambos os extremos - contudo, confrontada com uma ideia de possibilidade de uma realidade pautada por tais ideais radicais, vemos que ninguém em sã consciência ousaria viver nesse extremo. Pense numa realidade alternativa que envolva uma dessas posições antagônicas e você vai ver quão insustentável seria viver de tal e tal maneira. Infelizmente, esses testes ainda são um "mal necessário". Eu mesmo espero que um dia eles não sejam mais necessários, mas isso ainda vai levar um tempo.
 
Aliás, sou contra baby beef, foie gras

São coisas cruéis, mas pegar um animal como a vaca, que em natureza produz no máximo uns 10 l de leite e transformar em uma máquina que produz às vezes quase 10 x mais, isso a um custo de um monte de transtornos metabólicos, doenças e estresse me parece tão cruel quanto, ou pegar uma porca, enfiar ela em uma gaiola com espaço nem para se virar e explorá-la até que ela produza o último leitão.

Pare agora de comer queijo e beber leite, Bruce :dente:
 
Última edição:
São coisas cruéis, mas pegar um animal como a vaca, que em natureza produz no máximo uns 10 l de leite e transformar em uma máquina que produz às vezes quase 10 x mais, isso a um custo de um monte de transtornos metabólicos, doenças e estresse me parece tão cruel quanto, ou pegar uma porca, enfiar ela em uma gaiola com espaço nem para se virar e explorá-la até que ela produza o último leitão.

Pare agora de comer queijo e beber leite, Bruce :dente:

Só se você parar de comer bacon ou feijoada, Éomer. :lol:

EDIT: Ah, e elas causam danos à camada de Ozônio, além de matarem mais que os tubarões.
 
Última edição:
O porco só atinge o climax de sua vida quando é transformado em alimento (Eu afirmei isto a vários porcos e eles não discordaram)

Qualidade de vida:
comida%20mineira.jpg
 
Como argumentei no Face, é uma "vidassequização" da realidade. :osigh:
E eu pergunto quem é mais cruel? O cientista que se utiliza de animais visando o benefício da sua ou de outra espécie ou quem quer estender o seu desejo de vingança tratando um ser da mesma espécie com uma crueldade maior do que aquela que ele condena?

Sou adepto da ideia de que os animais devem ser respeitados tanto quanto qualquer humano, porém, num caso que não há alternativas, os humanos devem ser prioridade, isto faz parte do ciclo da natureza.

Não entendi. Tu está assumindo que, no caso de não haver alternativas, a vida humana vale mais que a animal? Mas daí ela não seria respeitada tanto quanto a do ser humano, pois estaríamos assumindo que ela é inferior se colocarmos essa ressalva. :think: Fiquei confuso.
 
Última edição:

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.434,79
Termina em:
Back
Topo