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Instituto Royal e pesquisa em animais.

Pearl

Usuário
Acho que vários de vocês viram a reportagem do resgate de cães da raça Beagle no instituto de pesquisa Royal. Se não, vou deixar um link com uma reportagem: Ativistas resgatam cães de laboratório de testes em São Roque (SP)

Com isso, foi reacendido o debate sobre o uso de pesquisa em animais. Muitos são contra por considerarem cruel, muitos são a favor por não haver outras soluções em pesquisa de desenvolvimento farmacêutico. Bom, na minha experiência acadêmica, eu não gosto de lidar com animais de laboratório por uma questão de afeto mesmo. Sou contra alguns casos como o uso de animais no ensino ou pela indústria de cosmético. Mas, infelizmente, para desenvolvimento de drogas ou pesquisa de fisiopatologia de doenças ainda não há possibilidade de substituição dos modelos animais. Hoje no Ig saiu uma reportagem interessante sobre pesquisa com animais, muito voltada ao uso de camundongos, que é o principal e modelo utilizado hoje nos laboratórios de pesquisa.

Testar só em ratos prejudica pesquisa; cientistas pedem outros animais
Os ratos de laboratório são tão conhecidos que os criadores do famoso desenho animado Pinky e Cérebro, exibido no final dos anos 1990, chegaram a imaginar dois deles saindo de suas gaiolas noite após noite para tentar dominar o mundo. A esfera científica, pelo menos, foi realmente dominada por algumas espécies de ratos (ainda que de maneira bem menos grandiosa do que a pretendida pelo destemido Cérebro).

Mas se por um lado os camundongos nos ajudaram a resolver muitos quebra-cabeças científicos (há uma série dos transgênicos, por exemplo, que são modelos para pesquisas de doenças neurológicas), por outro, desconfia-se que esta "monocultura" das pesquisas esteja emperrando o avanço de diversos estudos. A solução apontada por cientistas renomados é expandir os modelos animais usados em pesquisa, por exemplo.

Só na União Europeia, em 2008, mais de 9 milhões de ratos (77% de um total de 12 milhões de animais usados em pesquisas) foram testados, manipulados, infectados, diagnosticados, vacinados e submetidos a toda sorte de experimentos criativos dos cientistas. Quem não se lembra daquele ratinho que ficou famoso ao receber um implante de uma orelha humana nas costas?

Desde os anos 1960, o número de ratos usados em laboratório quadriplicou, enquanto os testes em outros animais se mantiveram estáveis ou despencaram. Nos Estados Unidos, existe até um telefone de entrega de ratos de laboratório, o 1800-LAB-RATS.

Há uma lista de razões para tamanha predominância. Os ratos são mamíferos e, por isso, têm células, tecidos e órgãos semelhantes aos dos humanos; são "produzidos" em versões transgênicas para desenvolverem doenças genéticas com sintomas parecidos aos nossos; custam bem menos para serem mantidos em laboratórios do que animais maiores; e causam menos questionamentos éticos do que animais com os quais temos empatia, como cachorros ou macacos.

A cultura dos roedores - e de duas ou três outras espécies de animais como a mosca-de-fruta e alguns vermes - é tão estabelecida que é difícil que propostas de estudos com outros animais sejam aceitas.

90% das drogas testadas em ratos falham em humanos
"O risco é deixar escapar possíveis oportunidades de pesquisa se o modelo animal não for escolhido adequadamente", diz Jessica Bolker, professora-associada de zoologia do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade de New Hampshire, nos EUA.

"Concentrar as pesquisas em um número pequeno de animais comumente usados em laboratório não vai, em geral, levar a descobertas que estejam erradas no final - se bem que há um exemplo nos estudos de toxicologia com roedores da talidomida, que levou inicialmente a declará-la segura para mulheres grávidas: os efeitos teratogênicos da droga não apareciam em roedores. Mas os mesmos apareceram nos macacos rhesus", diz Bolker.

"Me preocupa que, ao focar somente em algumas espécies populares, nós possamos estar perdendo oportunidades de explorar mecanismos, ou aspectos específicos de uma determinada doença, que não são fáceis de serem observados ou estudados nessas espécies em questão."

Em 2004, a norte-americana Food and Drug Administration (FDA) publicou que nove em cada dez drogas testadas em animais - leia-se praticamente "testadas em roedores" - falhavam depois nos testes com seres humanos. Há evidências de que novos remédios para doenças como a tuberculose, que se manifesta de maneira totalmente diferente em humanos e ratos, estejam empacados há décadas pela insistência em testá-los sempre nos ratos e camundongos. Por isso, alguns laboratórios americanos estão investindo atualmente em testes com macacos.

"Disparidades entre os ratos e os humanos podem ajudar a explicar porque os milhões de dólares gastos em pesquisas básicas trouxeram poucos e frustrantes avanços clínicos", escreveu Bolker, no artigo There's more to life than rats and flies (A vida não é feita só de ratos e moscas, em tradução livre) na revista Nature, em novembro de 2012. Em entrevista ao UOL, ela explica que "a culpa não é dos animais".

"Mas acho, ainda assim, que nós precisamos pensar com mais cuidados sobre como nós escolhemos os modelos animais e

quais tipos de inferências sobre a biologia [e as doenças] humanas nós podemos justificar baseando-se em estudos de animais. Cada vez que nós chegamos a uma conclusão geral [ou a uma recomendação médica ou farmacêutica], baseada na pesquisa com animais, nós estamos fazendo algumas suposições sobre como certos resultados em animais podem prever os resultados em humanos."

No artigo da Nature, ela identifica prejuízos mesmo em casos nos quais os ratos trouxeram benefícios. Há ratos transgênicos para o estudo do mal de Parkinson, por exemplo. Mas eles não apresentam alguns sintomas significativos da doença em humanos, como o declínio da cognição – e isso pode fazer com que esse lado da doença não seja considerado pelos pesquisadores.

Além disso, uma série de doenças humanas não ocorre normalmente em roedores (como alzheimer, autismo, doença coronária arterial etc.). Para completar, nos estudos, a idade, o sexo das cobaias ou questões comportamentais raramente são levadas em consideração.

"Há uma grande quantidade de exemplos de drogas que pareciam ter efeitos benéficos excepcionais no modelo animal da doença, mas foram ineficazes quando testadas em pacientes humanos", diz Mark Mattson, chefe do National Institute of Aging nos EUA e autor de alguns estudos sobre o tema.

Mattson demonstrou que até o peso dos ratos de laboratório importa. Por serem sedentários, eles costumam ser obesos e inclusive diabéticos - como pequenas bolas de gordura. Ele estudou um remédio para derrame que havia sido testado em ratos com muito sucesso, sem que se considerasse o peso deles, mas que foi um fracasso retumbante nos testes subsequentes com humanos. Mattson refez o teste usando ratos "de regime" - e neles o remédio falhou.

Pesquisadores querem mais vertebrados em testes
Os cientistas não advogam pela interrupção dos testes em animais - pelo contrário, acreditam que a solução para estes impasses pode estar no aumento do número de vertebrados usados. "Minha recomendação é que os pesquisadores mantenham seus olhos e cabeças abertas, e procurem modelos animais que possam ser especialmente bons para uma questão particular - especialmente se os modelos tradicionais não funcionarem bem", diz Bolker.

Recentemente, cientistas decifraram o genoma do peixe-zebra (Danio rerio), e descobriram que 70% dos genes desse peixe têm equivalentes no gene humano- o que sugere que estes e outros animais poderiam ser mais pesquisados e usados - cada qual dentro das características mais próximas aos humanos que apresentar.

Grande parcela da comunidade científica defende que os avanços científicos em estudos do câncer, HIV, diabetes, alzheimer, entre outros, só foram possíveis porque foram testados em animais. E destacam que a maioria das pesquisas são para busca de tratamento de doenças e prevenção e não para cosméticos - ramo no qual muitos países já não usam animais em testes.

Hoje, segundo a associação Americans for Medical Progress, os ratos estão em 95% das pesquisas com animais. Coelhos, porcos da guinea, hamsters, animais de gado, peixes e insetos preenchem cerca de 4%. Menos de 1% das pesquisas seria, de acordo com eles, com gatos, cachorros e primatas não-humanos. Além disso, o bem-estar dos animais é regulado por órgãos de cada país.

Órgãos em microescala é solução?
Há uma outra linha promissora de pesquisas que está desenvolvendo tecidos e órgãos em microescala, como a da pesquisadora Linda Gripphit, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) - aliás, famosa cientistas justamente por ter participado daquele experimento da orelha nas costas do rato.

O incrível desses novos órgãos e tecidos, é que eles podem em alguns casos substituir completamente o teste em animais com maior precisão, já que funcionam como modelos exatos dos humanos. Podem ajudar na descoberta de remédios para doenças como câncer e reduzir o número de transplantes.

O que os órgãos em microescala ainda não vão contemplar, segundo Mattson,são estudos de "interações complexas entre células, tecidos e órgãos que só ocorrem em um animal vivo intacto". Doenças de comportamento, neurológicas, de metabolismo, do sistema imunológico, estudos que levam em conta a relação dos genes com o meio-ambiente e dos efeitos de exercícios na dieta e na saúde estão nessa lista. Em tais casos, ao que tudo indica, os ratos continuarão dominando o mundo dos laboratórios, pelo menos até que se invista em encontrar modelos de pesquisa melhores.

TESTES NO BRASIL
O Concea (Conselho Nacional de Controle da Experimentação Animal), ligado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, ainda não possui um cadastro nacional do uso de animais em pesquisas científicas. O órgão está fazendo um levantamento das instituições de pesquisas, já que, até a lei Arouca ser regulamentada em 2008, o governo não reunia informações sobre o assunto. O Concea pretende ter os dados de biotérios de universidades e centros de pesquisas brasileiras até o fim de 2013 e divulgar o 'censo animal' já no ano que vem. Segundo o pesquisador Marcelo Morales, coordenador do Concea, o Brasil deve ficar um pouco acima do uso na União Europeia, com cerca de 90% de experimentação em ratos e camundongos

COBAIAS DE LABORATÓRIO
Pro:
A pesquisa com animais mostra indícios do que pode acontecer com o organismo ao tomar certas drogas. Assim, os cientistas podem minimizar os efeitos colaterais antes de entrar na etapa dos testes com humanos






A parte genética dos roedores é muito próxima dos humanos, especialmente a imunologia e a regeneração de tecidos

Roedores têm uma ampla manipulação gênica que facilita superexpressar os genes, isto é, de modificar o gene para entender respostas imunológicas do organismo

Não é preciso de muito espaço para criar roedores, facilitando o controle do ambiente. A cobaia é tratada quase como um tubo de ensaio, tendo a temperatura, a comida e a pureza do ar controladas pelos cientistas

O uso de animais geneticamente modificados, que mimetizam doenças humanas, é considerado um grande avanço do século 21 para a ciência

Contra:

Nem todos os resultados obtidos em modelos animais podem ser transpostos diretamente nos seres humanos. É preciso fazer nova rodada de testes em animais maiores antes dos testes clínicos

Testes em laboratórios causam sofrimento, ferimentos e transtornos psicológicos nos animais, dizem os ativistas

A manutenção de biotérios é cara: para manter 3.000 roedores, uma instituição gasta 15 mil reais por mês, em média. Uma alternativa eficaz ao modelo animal seria muito mais barato do que manter as cobaias

Fazer testes em mamíferos maiores, como cachorros e primatas, no entanto, é mais difícil para criar e acompanhar os resultados. Isso obriga os pesquisadores a usarem um número reduzido de animais nos experimentos, deixando o cronograma mais lento

  • Fonte: Marimélia Porcionatto, orientadora da Pós-graduação em Biologia Molecular da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo); Marcelo Morales, coordenador do Concea (Conselho Nacional de Controle da Experimentação Animal); e Peta
Fonte
 
Última edição:
Complicado esse assunto, né?
Procuro não dar a minha opinião quando estão discutindo isso perto de mim porque não sei deixar a emoção de lado nesses casos. =/

Mas acho que o que falta mesmo é alguém explicar todo o procedimento de maneira que leigos (como eu) possam compreender melhor a coisa toda.
Esse artigo ajuda um pouco.

Nesse assunto é muito fácil descambar pra o pensamento radical-estúpido: "ah! você é contra? Quero ver quando seu filho (ou sua mãe, seu pai, sua avó, ou você mesma) estiver morrendo de uma doença incurável..."; "Ah, você é a favor? A favor de fazer operações em cérebros de macacos ainda vivos, injetar xampú nos olhos de coelhinhos e veneno em cachorro pra ver o que acontece..." .

Mas ainda torço pra que em um futuro próximo os animais não sejam mais vistos como tubos de ensaio e objetos de utilização.
Mas como seres vivos que sentem dor, medo, desamparo.
Enfim, essas coisas aí que a gente também sente.
 
Eu sou contra, visceralmente. Não reconheço nenhum argumento que possa validar essa barbárie. Nem aquele de salvar a vovozinha. Não compro nada que eu saiba que é testado em animais, acho que isso é uma coisa interessante de se fazer.
 
Eu sou contra, visceralmente. Não reconheço nenhum argumento que possa validar essa barbárie. Nem aquele de salvar a vovozinha. Não compro nada que eu saiba que é testado em animais, acho que isso é uma coisa interessante de se fazer.

mas aí entra justamente o outro lado que a clara falou, belle. não estamos falando só de cosméticos: um monte de remédios que usamos hoje em dia foram eventualmente testado em animais, assim como vacinas e afins. tem como saber quais são? tem como evitá-los? não é fácil protestar quando é só sobre abrir mão de usar avon, e aí quando você precisa de paracetamol nem pensar duas vezes nos animais testados? ontem eu li no facebook um cara dizendo "testa a vacina no teu cu" para um cara, como se os cientistas fossem vilões (ou pelo menos, todos fossem vilões). se algum cientista me garantir que tem como testar de forma segura sem animais, isso para mim nem seria um dilema: não pode testar em animais e pronto. mas vendo do outro lado, às vezes eu fico com a sensação que no momento a opção disponível é o controle para que não haja crueldade. e há um controle (embora aparentemente falho). já na década de 90 quando minha mãe cursou biologia, para fazer experiência com drosófilas (mosquinhas, não tão cutes quanto beagles e por isso ninguém dá a mínima) ela tinha que ter autorização especial de um órgão cujo nome não lembro, mas que chegava até a contar o número de drosófilas com que ela poderia trabalhar. mas yadda yadda yadda, no fim é bem como a clara mesmo disse: não consigo ter uma opinião definitiva sobre isso, até porque me falta conhecimento sobre a real necessidade dos testes em animais.
 
O interessante de movimentos assim, é que forçam os grupos a buscarem outros meios de realizar tais testes, mas acredito que, não tendo uma outra opção, tais testes devem ser feitos em animais mesmo (da forma menos agressiva possível).

Sou adepto da ideia de que os animais devem ser respeitados tanto quanto qualquer humano, porém, num caso que não há alternativas, os humanos devem ser prioridade, isto faz parte do ciclo da natureza.
 
Eu a princípio sou a favor da pesquisa com animais, da mesma forma que sou a favor da criação de animais para alimentação, é claro sempre mantendo a dignidade dos animais num padrão aceitável - a discussão para mim é a mesma. Mas acho que os vegetarianos têm um ponto importante, eu não enxergo toda essa liberdade moral que o homem tem de abrir a cabeça de um macaco, mais do que para abrir a cabeça de um ser humano qualquer que ache na rua e não tenha capacidade cognitiva para opor-se. Não enxergo toda essa distância que o homem teria de outros animais, para mim o que há é uma continuidade nos níveis de dignidade, começando do homem e do macaco, e em seguida para outros animais "superiores" (na qual eu incluiria o cachorro sem sombra de dúvidas, como também o porco e outros mamíferos), e a partir daí até animais mais simples com sistema neuronal. Óbvio que plantas, fungos, bactérias, vírus, rochas, etc são entidades completamente diferente em dignidade desse outro grupo, apesar da classificação (puramente convencional) de "ser vivo" poder ou não aplicar-se.

Então eu não teria um bom argumento a contrapor aos ativistas, para motivá-los a não resgatar os beagles. Seria o caso análogo de um anti-escravista, de uma época e sociedade que a escravidão é completamente comum - tudo bem que qualquer coisa que ele faça para sobreviver, vai acabar esbarrando no trabalho de algum escravo, mas isso não é motivo para eu convencê-lo a deixar de resgatar um escravo, se estiver disposto a tal providência.
 
Última edição:
Retirada de cães de instituto afeta teste anticâncer, diz cientista

A retirada de 178 cães da raça beagle de um laboratório em São Roque (a 66 km de São Paulo) comprometeu experimentos avançados de um medicamento para tratamento contra câncer --além de fitoterápicos para usos diversos.

A informação é do médico Marcelo Marcos Morales, um dos secretários da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e coordenador do Concea (Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

"Um trabalho que demorou anos para ser produzido, que tinha resultados promissores para o desenvolvimento do país, foi jogado no lixo", disse ele, em referência à invasão do Instituto Royal por ativistas na semana passada.

"O prejuízo é incalculável para a ciência e para o benefício das pessoas", afirmou.

O cientista não revelou o nome do medicamento desenvolvido, que é protegido por contrato, nem para qual tipo de câncer ele seria usado. Mas informou que se tratava de um tipo de remédio produzido fora do país e que teve a patente quebrada.

O Royal também não detalha os experimentos alegando restrição contratual.

Os fitoterápicos eram baseados em plantas da flora nacional e poderiam ser usados, por exemplo, para combater dor e inflamações.

Ativistas dizem que os cães sofriam maus-tratos. O instituto nega. Ontem ele disse que, quando recuperados, receberão tratamento e podem "ser colocados para doação".

Doutor em biofísica, Morales afirma que os cientistas "também não querem trabalhar com animais", mas que o método é ainda o mais eficaz para testes de tratamentos médicos e vacinas.

"Seria possível não nos alimentarmos mais com carne? Com pesquisa é a mesma relação. Deixamos de usar animais e vamos testar vacinas em nossas crianças?"

Para Morales, as pessoas estão "confundindo" animais domésticos com cães que nasceram dentro de biotérios, sob condições controladas e rígidas para o uso científico.

"O apelo do cão é muito grande, tanto é que levaram todos os beagles, mas deixaram todos os ratos."

A autoridade brasileira responsável por aprovar pesquisas com humanos, a Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa), não avaliza projetos de drogas que não tenham passado por testes de segurança em animais.

Cachorros estão em uma parcela pequena de experimentos científicos --nos quais os camundongos respondem por 74% dos animais. A maioria dos cães é usada para averiguar a toxicidade de medicamentos.

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tem um infográfico no final da matéria que vale o clique
 
"A pesquisa científica com animais é uma falácia", diz o médico Ray Greek


Médico americano afirma que a pesquisa com animais atrasa o avanço do desenvolvimento de remédios

Há 20 anos, Ray Greek abandonou o consultório para convencer a comunidade científica de que a pesquisa com animais para fins médicos não faz sentido. Greek é autor de seis livros, nos quais, sem recorrer a argumentos éticos ou morais, tenta explicar cientificamente como a sua posição se sustenta. Em 2003 escreveu Specious Science: Why Experiments on Animals Harm Humans (Ciência das Espécies: Por que Experimentos com Animais Prejudicam os Humanos, ainda não publicado no Brasil) e o mais recente em 2009: FAQs About the Use of Animals in Science: A Handbook for the Scientifically Perplexed (Perguntas e Respostas Sobre o Uso de Animais na Ciência: Um Manual Para os Cientificamente Perplexos). Ele garante que sua motivação não é salvar os animais, mas analisar dados científicos.

Além disso, Greek uniu esforços com outros médicos americanos e fundou a Americans for Medical Advancement, uma organização sem fins lucrativos que advoga métodos alternativos ao modelo animal. Em entrevista para VEJA, ele diz porque, na opinião dele, a pesquisa com animais para o desenvolvimento de remédios não é necessária.

O senhor seria cobaia de uma pesquisa que está desenvolvendo algum remédio?

Claro. Se a pesquisa estivesse sendo conduzida eticamente eu seria voluntário. Milhares de pessoas fazem isso todos os dias. Por vezes elas doam tecido para que possamos aprender mais sobre uma doença, em outros momentos ingerem novos remédios para o tratamento de doenças na esperança que a nova droga apresente alguma cura.

E se o medicamento nunca tivesse sido testado em animais?
A falácia nesse caso é de que devemos testar essas drogas primeiro em animais antes de testá-las em humanos. Testar em animais não nos dá informações sobre o que irá acontecer em humanos. Assim, você pode testar uma droga em um macaco, por exemplo, e talvez ele não sofra nenhum efeito colateral. Depois disso, o remédio é dado a seres humanos que podem morrer por causa dessa droga. Em alguns casos, macacos tomam um remédio que resultam em efeitos colaterais horríveis, mas são inofensivos em seres humanos. O meu argumento é que não interessa o que determinado remédio faz em camundongos, cães ou macacos, ele pode causar reações completamente diferentes em humanos. Então, os teste em animais não possuem valor preditivo. E se eles não têm valor preditivo, cientificamente falando, não faz sentido realizá-los.

Mas todos os remédios comercializados legalmente foram testados em animais antes de seres humanos. Este não é um caminho seguro?
Definitivamente não. As estatísticas sobre o assunto são diretas. Inclusive, muitos cientistas que experimentam com animais admitiram que eles não têm nenhum valor preditivo para humanos. Outros disseram que o valor preditivo é igual a uma disputa de cara ou coroa. A ciência médica exige um valor que seja de pelo menos 90%.

Esses remédios legalmente comercializados e que dependeram de pesquisas científicas com animais já salvaram milhões de vidas...
A indústria farmacêutica já divulgou que os remédios normalmente funcionam em 50% da população. É uma média. Algumas drogas funcionam em 10% da população, outras 80%. Mas isso tem a ver com a diferença entre os seres humanos. Então, nesse momento, não temos milhares de remédios que funcionam em todas as pessoas e são seguros. Na verdade, você tem remédios que não funcionam para algumas pessoas e ao mesmo tempo não são seguros para outras. A grande maioria dos remédios que existe no mercado são cópias de drogas que já existem, por isso já sabemos os efeitos sem precisar testar em animais. Outras drogas que foram descobertas na natureza e já são usadas por muitos anos foram testadas em animais apenas como um adendo. Além disso, muitos remédios que temos hoje foram testados em animais, falharam nos testes, mas as empresas decidiram comercializar assim mesmo e o remédio foi um sucesso. Então, a noção de que os remédios funcionam por causa de testes com animais é uma falácia.

Se isso fosse verdade os cientistas já teriam abandonado o modelo animal. Por que isso não aconteceu ainda?

Porque o trabalho deles depende disso. Nos Estados Unidos, a maior parte da pesquisa médica é financiada pelo Instituto Nacional de Saúde [NIH, em inglês]. O orçamento do NIH gira em torno de 30 bilhões de dólares por ano. Mais ou menos a metade disso é entregue a pesquisadores que realizam experimentos com animais. Eles têm centenas de comitês e cada comitê decide para onde vai o dinheiro. Nos últimos 40 anos, 50% desse dinheiro vai, anualmente, para pesquisa com animais. Isso acontece porque as próprias pessoas que decidem para onde o dinheiro vai, os cientistas que formam esses comitês, realizam pesquisas com animais. O que temos é um sistema muito corrupto que está preocupado em garantir o dinheiro de pesquisadores versus um sistema que está preocupado em encontrar curas para doenças e novos remédios.

Onde estaria a medicina se não fosse a pesquisa com animais?
No mesmo lugar em que ela está hoje. A maioria das drogas é descoberta utilizando computadores ou por meio da natureza. As drogas não são descobertas utilizando animais. Elas são testadas em animais depois que são descobertas. Essas drogas deveriam ser testadas em computadores, depois em tecido humano e daí sim, em seres humanos. Empresas farmacêuticas já admitiram que essa será a forma de testar remédios no futuro. Algumas empresas já admitiram inúmeras vezes em literatura científica que os animais não são preditivos para humanos. E essas empresas já perderam muito dinheiro porque cancelaram o desenvolvimento de remédios por causa de efeitos adversos em animais e que não necessariamente ocorreriam em seres humanos. Foram bilhões de dólares perdidos ao não desenvolver drogas que poderiam ter dado certo.

Como as pesquisas deveriam ser conduzidas?
Deveríamos estar fazendo pesquisa baseada em humanos. E com isso eu quero dizer pesquisas baseadas em tecidos e genes humanos. É daí que os grandes avanços da medicina estão vindo. Por exemplo, o Projeto Genoma, que foi concluído há 10 anos, possibilitou que muitos pesquisadores descobrissem o que genes específicos no corpo humano fazem. E agora, existem cerca de 10 drogas que não são receitadas antes que se saiba o perfil genético do paciente. É assim que a medicina deveria ser praticada. Nesse momento, tratamos todos os seres humanos como se fossem idênticos, mas eles não são. Uma droga que poderia me matar pode te ajudar. Desse modo, as diferenças não são grandes apenas entre espécies, mas também entre os humanos. Então, a única maneira de termos um suprimento seguro e eficiente de remédios é testar as drogas e desenvolvê-las baseados na composição genética de indivíduos humanos. Para se ter uma ideia, a modelagem animal corresponde a apenas 1% de todos os testes e métodos que existem. Ou seja, ela é um pedaço insignificante do todo. O estudo dos genes humanos é uma alternativa. Quando fazemos isso, estamos olhando para grandes populações de pessoas. Por exemplo, você analisa 10.000 pessoas e 100 delas sofreram de ataque cardíaco. A partir daí analisamos as diferenças entre os genes dos dois grupos e é assim que você descobre quais genes estão ligados às doenças do coração. E isso está sendo feito, porém, não o bastante. Há também a pesquisa in vitro com tecido humano. Virtualmente tudo que sabemos sobre HIV aprendemos estudando tecido de pessoas que tiveram a doença e por meio de autópsias de pacientes. A modelagem computacional de doenças e drogas é outra saída. Se quisermos saber quais efeitos uma droga terá, podemos desenvolvê-la no computador e simular a interação com a célula.

Mas ainda não temos informações suficientes para simular o corpo humano no computador...
Temos sim. Não temos informações suficientes para criar 100% do corpo humano e isso não vai acontecer nos próximos 100 anos. Mas não precisamos de toda essa informação. O que precisamos é saber como e do que um receptor celular é constituído — isso já sabemos — e a partir daí podemos desenvolver, no computador, remédios baseados nas leis da química que se encaixem nesses receptores. Depois disso, a droga é testada em tecido humano e depois em seres humanos. Antes disso acontecer, contudo, muitos testes são feitos in vitro e em tecidos humanos até chegar em um voluntário humano.

Um computador não é um sistema vivo completo. Como é possível garantir que essa droga, que nunca foi testada em animais, não será nociva aos seres humanos?
A falácia nesse argumento é que os macacos e camundongos, por exemplo, são seres vivos, mas não são seres humanos intactos. E esse argumento seria muito bom, se ele não fosse tão ruim. Drogas são testadas em macacos e camundongos intactos por quase 100 anos e não há valor preditivo no sentido de dizer quais serão os efeitos da droga no ser humano. O que essas pesquisas têm feito, na verdade, é verificar o que essas drogas causam em macacos e em seres humanos separadamente e não há relação. Por isso, o que dizem é meramente retórico, não há nenhuma base científica.

O senhor já fez experimentos com animais. O que o fez mudar de ideia?
Meu posicionamento mudou apenas uma década depois que terminei a faculdade de medicina. Minha esposa é veterinária e comecei a notar como tratávamos nossos pacientes de maneira muito diferente. Comecei a notar também que alguns remédios funcionam muito bem em animais, mas não funcionam em humanos e algumas drogas funcionam em humanos, mas não podem ser usadas em cães, mas podem ser usadas em gatos e assim por diante. Não estou dizendo que os animais e os humanos são exatamente opostos, não é isso. Eles têm muito em comum.

A semelhança genética de 90% entre humanos e camundongos não é suficiente?
Aparentemente não. Porque os dados científicos dizem que não. Não me interessa se somos suficientemente semelhantes aos animais para fazer testes neles ou não. A minha interpretação é científica. E a ciência diz que não somos. Na minha experiência clínica isso é verdade porque não conseguimos prever nem quais serão os efeitos de um remédio no seu irmão, realizando testes em você. Algumas drogas que você pode tomar, seu irmão não pode, por exemplo. Contudo, eu não sou contra todo tipo de experimento com animais. É possível recorrer aos animais para utilização de algumas partes. Por exemplo, podemos utilizar a válvula cardíaca de um porco para substituir a de seres humanos. Além disso, é possível cultivar vírus, insulina, mas isso não é pesquisa. O fracasso está em utilizar modelos animais para prever o que irá acontecer com um ser humano. Um ótimo exemplo disso é a Aids. Os animais não desenvolvem essa doença, de jeito nenhum. Eles sofrem de doenças parecidas com a Aids, mas por causa de vírus completamente diferentes. E os sintomas são muito diferentes dos manifestados em pacientes aidéticos. Por isso, não há correlação.

O senhor é contra o eventual sacrifício de animais em pesquisas científicas com o objetivo de salvar milhões de vidas humanas?
Eu não tenho nenhum problema com isso. Meu problema com pesquisa animal não é de cunho ético e sim, científico. É como dizer que estamos em um cruzeiro atravessando o oceano Atlântico e um indivíduo cai na água e está se afogando. Ele precisa é de um salva-vidas mas não temos nenhum, então vamos arremessar 1.000 cães na água. Por que arremessar os cães na água já que eles não vão salvar a vida da pessoa? Você pode construir um argumento ético dizendo que é aceitável afogar esses cães mas o que eu quero dizer é que a pessoa precisa de um salva-vidas e não 1.000 cães afogados. E é exatamente isso que estamos fazendo com a pesquisa animal. Estamos matando cães pelo bem de matar cães. Não porque matá-los irá trazer a cura para doenças como a Aids ou o Alzheimer.
 
@ Ana Lovejoy sim, eu concordo e sei que Clara esta postando isso com as melhores intenções. As dúvidas dela são consequentes, tem fundamento. Eu não como carne, mas não saio por ai agredindo as pessoas por causa disso, como muitos outros que eu vejo. No entanto, sempre que posso, procuro tentar conscientizar as pessoas. Quanto aos remédios, realmente eu não sei o que fazer, porque a gente nunca sabe o que esta por tras daquilo que nos é receitado. Agora, o sujeito falar que o cão que foi criado em laboratório é diferente dos outros cães, é brincar com a gente, afinal, tem coisa pior que criar alguém especificamente para ser usado? Só de ler isso, eu passo mal. @ Fëanor postou um artigo muito interessante, e eu já vi outros iguais, então, não há uma unanimidade quanto a isto. Se um cientista questiona, quero crer que ele sabe o que esta falando.
Precisamos levar em conta que a industria farmacêutica é um dos maiores, senão o maior poder corporativo do mundo (acho que esta pau a pau com a industria de armas), e eles fazem coisas apavorantes. Uma delas é patrocinar laboratórios, onde a ética sempre fica bem abaixo do lucro. Parece impossivel lutar contra essas industrias, que detém tanto poder, mas é claro que pode-se encontrar alternativas. Agora, o tal Morales dizer que os ativistas atrapalhaaram as pesquisas, é ridículo, uma apelação ao emocional. Ele mesmo afirma que não pode falar sobre elas, por uma questão contratual, ou seja, alguma empresa patrocina isso, e vai sair lucrando muito com o produto. O ser humano é uma tristeza e uma grande decepção.
 
agora eu lembrei daquele video da experiência russa com o cachorro de duas cabeças. foi uma das coisas mais horríveis que vi na internet. assim, de deixar mal mesmo. aí nos comentários vi gente argumentando que essa experiência foi precursora de certas cirurgias (???!!), mas caramba, não dá para parar de pensar que tem que ter um outro jeito :|

(eu não vou passar link pq sério, aquilo é horrível. quem quiser que procure por conta própria)
 

Essa entrevista vai ao encontro do artigo que a Pearl postou, se o remédio ou vacina funcionou em animais não é garantia de que funcionará também em humanos:

E se o medicamento nunca tivesse sido testado em animais?
A falácia nesse caso é de que devemos testar essas drogas primeiro em animais antes de testá-las em humanos. Testar em animais não nos dá informações sobre o que irá acontecer em humanos. Assim, você pode testar uma droga em um macaco, por exemplo, e talvez ele não sofra nenhum efeito colateral. Depois disso, o remédio é dado a seres humanos que podem morrer por causa dessa droga. Em alguns casos, macacos tomam um remédio que resultam em efeitos colaterais horríveis, mas são inofensivos em seres humanos. O meu argumento é que não interessa o que determinado remédio faz em camundongos, cães ou macacos, ele pode causar reações completamente diferentes em humanos. Então, os teste em animais não possuem valor preditivo. E se eles não têm valor preditivo, cientificamente falando, não faz sentido realizá-los.

Retirada de cães de instituto afeta teste anticâncer, diz cientista
(...)"Seria possível não nos alimentarmos mais com carne? Com pesquisa é a mesma relação. Deixamos de usar animais e vamos testar vacinas em nossas crianças?"

Para Morales, as pessoas estão "confundindo" animais domésticos com cães que nasceram dentro de biotérios, sob condições controladas e rígidas para o uso científico.

Tá vendo? Isso que é dose de ouvir. =/
E depois, como assim "confundindo"?
Animais criados em laboratórios não sentem dor e nem têm consciência?
E acho que os ratinhos tinham que ser resgatados também.

Ouvi no rádio hoje cedo uma entrevista com o deputado Tripoli que ficou com duas cadelinhas que foram abandonadas em ruas próximas ao laboratório (depois da invasão) e ele disse que elas têm entre 7 e 9 anos e eram "matrizes", as cachorrinhas que dão luz aos filhotes que servirão de cobaias.
Uma delas está com câncer de mamas, provavelmente por conta das inúmeras gestações a que foi submetida. :tsc:

Quando chegar em casa vou procurar essa entrevista/reportagem com maiores detalhes dessa história das cachorrinhas.
 
Como comentei com um usuário do fórum no facebook (preciso me livrar daquilo de novo), o mais bizarro é a histeria que tomou conta das pessoas em relação ao assunto. Isso me lembra vagamente a proibição, por parte da comunidade semita, da divulgação dos testes sobre os efeitos do frio no corpo humano realizados na II Guerra. Detalhe: dentre os autores dos testes, nosso querido Josef Mengele, nos milhares de judeus concentrados em Auschwitz-Birkenau. O assunto até hoje causa polêmica, pois os resultados podem salvar milhares de vidas. Os práticos pensam 'as pessoas vítimas dos testes teriam morrido em vão por causa de ideologias religiosas?' É algo difícil de responder.

Não que eu esteja comparando o holocausto com os testes feitos pela Royal e uma centena de outros laboratórios espalhados pelo mundo, mas a questão é semelhante: a dualidade ideológica e sentimental que as pessoas se deparam em situações como esta. A questão de até onde o benefício de milhões, em detrimento do sofrimento de outra criatura viva, merece ser visto com uma visão mais racionalista e aceitável. Há quem diga que não se pode fazer omeletes sem quebrar alguns ovos, e eu me pergunto até onde essa metáfora é correta.

Enquanto seres humanos, ficamos tocados pelo horror pelo e sofrimento os quais são sujeitos os animais usados como cobaias, sejam eles cães ou ratos. Mas qual o limite que nos faz lembrar/esquecer, diante do sofrimento próprio ou de um ente querido, que estas pesquisas são fundamentais para o desenvolvimento de novas drogas, técnicas e tratamentos? Até onde poderíamos ter chegado, em matéria de avanços na medicina, bioquímica e na farmacologia, sem usar os animais? Se fossem usados outros animais com menor apelo emocional, o assunto teria tido tanta repercussão?No final das contas, a única coisa que pode ser concluída com segurança é que nenhum ser humano, em sã consciência, consegue formular uma decisão aceitável sobre o assunto sem que tenha ao menos um princípio próprio afetado de forma negativa.

Creio que a maioria escolheu primeiro aderir a vibe histérica e entupir as redes sociais com toneladas de novas montagens de gosto duvidoso (pessoas sendo massacradas por animais de jalecos), antes de realmente pesquisar, e pensar a respeito. Que resgatassem os animais, muito justo. Mas o estado em que o laboratório foi deixado eu considero, particularmente, um ato de vandalismo.
 
Última edição:
Que resgatassem os animais, muito justo. Mas o estado em que o laboratório foi deixado eu considero, particularmente, um ato de vandalismo.

Se bem que os animais pareciam mesmo estar em condições ruins no laboratório - mas não, isso não justifica a violência da turba.
 
mas aí entra justamente o outro lado que a clara falou, belle. não estamos falando só de cosméticos: um monte de remédios que usamos hoje em dia foram eventualmente testado em animais, assim como vacinas e afins. tem como saber quais são? tem como evitá-los?

Não, não tem. Vou falar de medicamentos, mas o assunto pode ser estendido para agrotóxicos, corantes, aditivos, cosméticos, etc. Os medicamentos mais antigos, lançados até o inicio do século em parte foram testados empiricamente em humanos. Na verdade, não existiam regras a respeito de como realizar esses testes. Mas depois de 2a guerra mundial passou a ser obrigatório que qualquer coisa sem nenhum tipo de conhecimento prévio que for testada em humanos deveria antes passar por testes em animais. Como exemplo, no site do FDA tem as exigências para testes de novas drogas em humanos, e vejam, testes de eficácia e toxicidade em animais são obrigatórios. Outras agências no mundo como o EMEA e a ANVISA não são diferentes.

Mas acho que os vegetarianos têm um ponto importante, eu não enxergo toda essa liberdade moral que o homem tem de abrir a cabeça de um macaco, mais do que para abrir a cabeça de um ser humano qualquer que ache na rua e não tenha capacidade cognitiva para opor-se. Não enxergo toda essa distância que o homem teria de outros animais, para mim o que há é uma continuidade nos níveis de dignidade, começando do homem e do macaco, e em seguida para outros animais "superiores" (na qual eu incluiria o cachorro sem sombra de dúvidas, como também o porco e outros mamíferos), e a partir daí até animais mais simples com sistema neuronal. Óbvio que plantas, fungos, bactérias, vírus, rochas, etc são entidades completamente diferente em dignidade desse outro grupo, apesar da classificação (puramente convencional) de "ser vivo" poder ou não aplicar-se.

A Seiko apontou um gancho muito interessante sobre isso:

Como comentei com um usuário do fórum no facebook (preciso me livrar daquilo de novo), o mais bizarro é a histeria que tomou conta das pessoas em relação ao assunto. Isso me lembra vagamente a proibição, por parte da comunidade semita, da divulgação dos testes sobre os efeitos do frio no corpo humano realizados na II Guerra. Detalhe: dentre os autores dos testes, nosso querido Josef Mengele, nos milhares de judeus concentrados em Auschwitz-Birkenau. O assunto até hoje causa polêmica, pois os resultados podem salvar milhares de vidas. Os práticos pensam 'as pessoas vítimas dos testes teriam morrido em vão por causa de ideologias religiosas?' É algo difícil de responder.

A questão toda rumou para onde chegamos justamente por causa disso, da II Guerra. A pesquisa nazista contribuiu demais em termos de conhecimentos de fisiologia humana. Mas a que preço? Depois de julgados os crimes contra a humanidade cometidos pelos nazistas no tribunal internacional foi definido do Código de Nuremberg e um dos princípios é: "O experimento deve ser baseado em resultados de experimentação animal e no conhecimento da evolução da doença ou outros problemas em estudo, e os resultados conhecidos previamente devem justificar a experimentação."

agora eu lembrei daquele video da experiência russa com o cachorro de duas cabeças. foi uma das coisas mais horríveis que vi na internet. assim, de deixar mal mesmo. aí nos comentários vi gente argumentando que essa experiência foi precursora de certas cirurgias (???!!), mas caramba, não dá para parar de pensar que tem que ter um outro jeito :|

(eu não vou passar link pq sério, aquilo é horrível. quem quiser que procure por conta própria)

Esse é um ponto muito interessante, o valor preditivo dos modelos animais. Não existe dúvida que o melhor modelo para testar seriam os humanos. Realmente é um desafio que o autor do texto que eu postei tenta traçar uma solução, talvez numa nova abordagem drogas que falharam nos testes convencionais de eficácia e toxicidade seriam aprovados. Bom, mas da forma como é feito hoje os comitês de ética pedem para que pesquisas sejam conduzidas com o menor número de animais possíveis, e algumas coisas que existem atualmente como o uso de cultura de células ou modelos computacionais auxiliam, mas estamos longe de conseguir substituir totalmente.
 
Se bem que os animais pareciam mesmo estar em condições ruins no laboratório

As condições ruins foram por dois fatores:

1) Os reaças impediram os funcionários (incluindo os da limpeza) de entrarem no edifício.

2) Quem tem cachorro sabe que, com medo, eles urinam e evacuam no chão mesmo. Estes eram animais criados em cativeiro, acostumados à manipulação feita por poucos funcionários, sempre os mesmos... De repente chega uma horda de reaças gritando, quebrando tudo, vocês querem o que?
 
Como comentei com um usuário do fórum no facebook (preciso me livrar daquilo de novo), o mais bizarro é a histeria que tomou conta das pessoas em relação ao assunto.

Nossa Seiko, se até autoridades e cientistas apelam e falam coisas sem noção, imagina como não está naquele recanto de pirados que é o facebook.
Falo isso porque eu me recuso, em caso de notícias assim, a ler posts dessas redes sociais e comentários de internautas nos portais de notícias.
Ler essas coisas só faz a gente passar raiva de tanto histerismo.
Tanto dos que são a favor como dos que são contra.

Os que são a favor (dos experimentos) porque têm geralmente aquela empáfia de "vocês são todos hipócritas" ou, quando cientistas, o ar de "vocês não entendem nada, de que adianta eu explicar?"

Os que são contra, muitas vezes passam a impressão daquelas pessoas que defendem os animais mas compram cachorros de raça e que, logo depois de escrever algo no facebook, vão comer um sanduíche de linguiça ou se entupir de carne no rodízio mais próximo.

Bom, mas da forma como é feito hoje os comitês de ética pedem para que pesquisas sejam conduzidas com o menor número de animais possíveis, e algumas coisas que existem atualmente como o uso de cultura de células ou modelos computacionais auxiliam, mas estamos longe de conseguir substituir totalmente.

Então, é nisso que eu paro pra pensar.
Os comitês de ética "pedem", mas quantos laboratórios cumprem esse pedido?
Eles realmente utilizam o menor número possível de animais em experimentos?

Nos casos em que não é necessária a utilização de um ser vivo para testes (em que se pode utilizar células e peles artificiais ou de doadores, por exemplo) essa alternativa é realmente utilizada?
Quem fiscaliza se as normas estão realmente sendo cumpridas?

E assim, no caso específico desse laboratório, eles não revelam nada porque está tudo "protegido por contrato", diz que os animais sequestrados quando recuperados: "receberão tratamento e podem "ser colocados para doação".
Tratamento para o que, se eles não estavam sendo maltratados?
Assim fica difícil pras pessoas comuns entenderem as razões dos cientistas.

Sem falar nesse médico, secretário do Concea, argumentando: "vamos testar vacinas em nossas crianças?" . :gotinha:
Ah, me poupe, né?
Vai lá no facebook, vai secretário.
 
Última edição:
O cientista não revelou o nome do medicamento desenvolvido, que é protegido por contrato, nem para qual tipo de câncer ele seria usado. Mas informou que se tratava de um tipo de remédio produzido fora do país e que teve a patente quebrada.

O Royal também não detalha os experimentos alegando restrição contratual.

Assim é muito bom. Funciona na base do: "acredite em nós, somos os mocinhos, mas não podemos falar nada sobre o que fazíamos, mas saibam que eram coisas boas".
 
Com certeza estavam realizando testes com os animais só de zoação, né, Morfs? Ou então estava tentando criar uma centopeia canina. Se alguém tiver que investigar qual era a matéria dos testes, é a Polícia, não eu ou você.
 
Com certeza estavam realizando testes com os animais só de zoação, né, Morfs? Ou então estava tentando criar uma centopeia canina. Se alguém tiver que investigar qual era a matéria dos testes, é a Polícia, não eu ou você.

Sim, não somos nós. Mas a Polícia só consegue solucionar 3% dos assassinatos que ocorrem, eles vão poder (e querer) investigar isso? Não que seja meu ou seu trabalho, mas se é algo que afeta o público é sim de interesse público.
 

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