Exatamente. É a mesma lógica petista do governo Lula, que para combater, p. ex., assaltos a terminais eltrônicos, fecha-os depois das 22h, ao invés de pôr mais segurança no local e mais policiamento nas ruas; e que para reduzir os acidentes por embriaguez, impõe a "leia seca" (restritiva à liberdade do indivíduo, diga-se), aplicando mais fiscalização a partir de então - por que não havia tanta fiscalização antes? Funciona assim.
Não, não é a mesma lógica. Nesse caso, o Estado não está coibindo cidadão algum, tampouco está buscando aplicar alguma solução paliativa.
Se o alvo é a educação, então estamos no caminho certo. Mas isso não significa que está tudo uma beleza. E aí entra a parte didática do problema, e que é uma coisa que parece-me estar sendo misturada por aqui.
O problema
É questão de educação, educação esta que a maioria das famílias brasileiras não é capaz de fornecer, e isso não é nenhuma falácia. Basta observar o nível educacional do brasileiro, basta ver os problemas que temos nesse sentido, basta fazer entrevistas com adolescentes e pré-adolescentes das mais diversas camadas sociais.
Uma vez que as famílias não são capazes, é papel do governo sim fornecer a educação necessária. Até aqui, acredito que isso deveria ser consenso.
Somente depois disso é que entra a questão didática, que envolve o preparo dos professores, e que é um 2º problema, que deve se seguir encadeado ao primeiro.
E o que ocorre com esse "doutrinamento sexual" que o governo quer colocar nas cabeças de crianças de 12 anos, mostrando objetos vendidos em sex-shop em uma sala de aula, também vai por aí. Concordo com você, deveria-se orientar de todas as doenças que as relações sexuais não seguras podem trazer, informar as conseqüências da gravidez precoce. Que mostrassem para essas crianças de 12 anos (que o governo parece subentender que todas fazem sexo) casos de adolescentes da idade deles grávidas com 13, 14, 15 anos, e todos os problemas que isso causou e vai causar: abandono dos estudos, DSTs, e assim por diante. E não impor um ensinamento pensando "já que vocês só fazem isso mesmo, olha aqui como se faz".
Você surtou mesmo com o fato de se usarem objetos de sex-shop. Ok, que se use uma banana então (minha professora no 1º grau fez isso, e foi muito instrutivo sim). Os problemas metodológicos podem sim melhorar, mas isso não anula o tipo de abordagem que o problema deve ter. Não se pode confundir as coisas.
Além disso, somente mostrar os prejuízos que uma gravidez na adolescência pode trazer não adiantará de nada, se não for ensinado COMO que essa gravidez pode acontecer. E é preciso explicar a coisa como ela é.
Claro, um ponto importante (e que é questão de didática também) é saber abordar o assunto sem banalizar. Se os professores não estão devidamente preparados, é função do Governo prover a capacitação necessária.
O modo como o governo age é errado. Partem do pressuposto que todos os alunos de 12 anos praticam sexo. Não é assim. Deveriam partir do pressuposto de que alguns adolescentes com essa idade podem estar iniciando a vida sexual, enquanto que alguns têm relações sexuais mais tarde.
Não existe lógica nisso. Uma vez diagnosticado que é considerável o número de indivíduos com 12 anos que praticam sexo, você tem uma situação onde todos os outros demais podem vir a praticar. Os casos não são poucos a ponto de serem a exceção de uma regra. E como não existe uma regra, deve-se diagnosticar a partir de que idade os problemas podem aparecer, e a partir daí buscar prover a educação necessária para enfrentar o problema.
E que, por isso, não deveriam doutrinar crianças de 12 anos com um pênis de borracha de 22 cm na sua frente dizendo "você vai fazer isso", não com essa idade. Deveriam abordar o tema por conceitos para alunos de 12 anos.
É a questão da didática, novamente. Mas não se pode afirmar que esse tipo de abordagem que você escreveu é pratica comum.
Tenho pena da criança, ou ela olha para aquilo e pensa que nunca terá um assim, ou que vai demorar muito.
Se alguma criança pensar isso, é somente evidência da má qualidade educacional. Em aulas de biologia aprende-se sobre o tamanho comum do membro. Quando eu tinha 12 anos, eu sabia muito bem que não teria uma arma de 22cm quando fosse adulto.
Ensinar como colocar a camisinha deve vir junto do esclarecimento de todas as doenças que podem surgir por conta de relações não seguras. Agora, partir de um pressuposto equivocado, e ensinar de uma só maneira, é errado.
Com certeza. Mas eu não vi onde estão deixando de ensinar sobre as DST para ensinar somente como colocar uma camisinha.
Essa aula com "kit" contendo o pênis, camisinha, DIU, píluas e etc, parece uma novidade. Mas as aulas de educação sexual já acontecem há uma década, pelo menos, no ensino público. E o que ocorreu nesse tempo em relação ao número de adolescentes grávidas e ao número de adolescentes contaminados por HIV? Aumentou de 1996 pra cá! Veja o quão eficiente são as aulas do governo Federal!
As aulas de educação sexual em escolas públicas sempre foram precárias. Não significa que educação sexual em escola não funciona, isso é absurdo. Significa problema de didática (sim, de novo ela)
Isso ocorre porque uma imposição ou doutrinação não mudam os valores individuais que cada ser constitui na sua formação. A escolha de fazer sexo é individual, e não deve ser forçada a ser iniciada com tal idade. Qual o argumento para dizer que sexo tão cedo, mas com camisinha ou pílula do dia seguinte, é "mais" moralmente correto do que fazer sem, com pouca idade? A escolha não muda. E o governo deveria respeitar estes indivíduos, e respeitar o que os pais destes indivíduos consideram melhor para eles. E essa falácia estereotipada de que os pais brasileiros não sabem tratar de sexo com seus filhos está longe da verdade.
Ensinar ao pré-adolescente não é incitá-lo a praticar sexo, tampouco é impor valores. Não está ocorrendo um desrespeito. A intenção é evidenciar o assunto, abordá-lo de maneira clara e realista. A escola não pode obrigar uma criança de 12 anos a não fazer sexo. Ela deve ensinar quais são os problemas relacionados, além de ensinar a respeito dos métodos contraceptivos e de prevenção ás DST.
E afirmar que a educação não pode mudar valores é negar toda a funcionalidade da mesma.
Segundo que é um absurdo dizer que o ensinamento moral e ético não deve ser dado pelos pais para seus próprios filhos, e sim pelo Estado. Isso é o que agora? O que acontece é a interferência do Estado nas escolhas morais das crianças, e nos ensinamentos morais que os pais passam para seus filhos. É inaceitável. E por isso aquele pai está certo em reclamar com a diretora, a promotoria, a secretaria resposnável, e assim por diante.
O ensino de moral e ética pela escola não exclui a possibilidade desse ensino no lar. O Estado não está tomando para si todo o ensino de um indivíduo, ele busca fornecer uma formação completa, tanto para aquele que não recebeu educação alguma em casa, quanto àquele que tem uma boa base familiar.
A escola não está interferindo nas escolhas morais da criança. Está apresentando os prós e contras das escolhas, através do ensino. Quem faz a escolha é o indivíduo.
E quem confunde os termos "pureza" com "ignorância" parece ser você. Não estamos falando de pureza, mas, novamente, do que os pais consideram melhor para os filhos e quando será a melhor época para orientá-los para tais fins. Se aquele pai considera inadequado que sua filha seja exposta dessa maneira, com esta idade, ele não está sendo puritano não, está sendo consciente e cuidando para que o Estado não interfira (e prejudique) na escolha moral da filha.
E se o pai decide que a melhor época para ensinar a filha, o problema é dele, e o governo deve cruzar os braços?
Errado.
Esse tipo de decisão é uma questão de sociedade, e desencadeira efeitos que vão muito além da cabecinha restrita desse pai.