O argumento de que é da natureza de determinada cultura tomar certas atitudes contra a mulher, enxergá-la como objeto ou como tendo uma força inferior ao homem, demonstra nitidamente uma estagnação da evolução, segundo a nossa ótica ; mas seria um grande erro generalizarmos. A cultura ocidental não passa a ser melhor só pq trata a mulher cada vez mais de forma igualitária ao homem. Nunca existirão culturas de nível superior e outras de nível inferior.
As culturas valem por si mesmas, possuem seus modos de enxergar as naturezas do homem e da mulher, de enxergar o tempo e a vida.. Algumas culturas parecem encontrar meios de avançar em pouco tempo em questões que antes eram tabus. No entanto, existem culturas que ainda preservam costumes e valores milenares, e questioná-los não me parece o correto. Temos de avaliar contextos e esmiuçar o que de melhor há em cada cultura. De minha parte, admiro bem mais a cultura oriental que a ocidental. Infelizmente, essas insanidades que vemos envolvendo várias ações coercitivas contra a mulher, têm origens históricas que não se resolvem de uma hora para outra. Cada cultura deve evoluir a seu modo. Umas passam por sucessivas revoluções e encontram melhores meios para se desenvolver. Outras culturas, seja por isolacionismo ou pela própria milenariedade, não tiveram alteradas as suas culturas, nem por interferência de ocupação colonial ou algo do tipo, pois continham raízes mais profundas que nem mesmo os interesses de países europeus conseguiriam modificar.
Podemos criticar à vontade, mas não temos o direito de interferir nessa questão, por mais que estejamos a defender o ser humano, a raça humana, cada sociedade deve tratar de seus próprios problemas. Se um país não deve invadir outro por causa dos conflitos internos (Bush no Iraque, alguém?), tbm não deve acontecer de um país interferir em outras questões, por mais que nos desagradem. Em tais países, órgãos políticos e sociais sofrem de sérios distúrbios e conflitos constantes. Não há tempo para desenvolver a questão dos direitos humanos em muitos lugares no oriente. O fundamentalismo em países islâmicos é algo cultural, sim. Desde antes do estabelecimento do monoteísmo por Maomé havia o fundamentalismo nos países árabes. Isso não seria cultura? Claro que sim. .Mas não necessariamente o fundamentalismo tinha voz dominante. A mesma coisa no Brasil com relação ao crime organizado. Pode não representar bem o que é a nossa cultura, mas está inserida num contexto social, independentemente dos valores. E o fundamentalismo do Talebã e de qualquer grupo radical islâmico, tbm faz parte de uma cultura. Não são apenas as coisas boas que caracterizam uma cultura. Mas a teia problemática de complexidade política e religiosa nos países islâmicos é algo naturalmente enraizado.
O grande problema é que lá as Leis não têm um caráter progressista como as nossas, sobre a emancipação da mulher ou mesmo quanto à modernização dos costumes. Em países islâmicos, as Leis políticas estão abaixo das leis religiosas. Se aqui no Brasil e mesmo em diversos países da Europa o homem ainda tem o domínio da política e da economia, o que diremos dos países que ainda se encontram bastante fechados a essas liberdades tão comuns do ocidente. Devemos aceitar que o ocidente (e o cristianismo como crença dominante) é bem mais avançado nas questões de igualdade em comparação a vários países islâmicos. Mas não acho racional criticarmos com base em valores que temos como exemplares e usuais, para criticar algo que, na verdade, não nos é de conhecimento aprofundado.
Muitos dos abusos de países muçulmanos que chegam através da mídia talvez tenham uma natureza sensacionalista da mesma forma que as coisas que acontecem no ocidente são distorcidas antes de chegarem aos ouvidos dos países muçulmanos. Achamos que a nossa cultura é “evoluída” em comparação às de países do oriente, mas não conseguiremos dimensionar nem sob um esboço, as principais virtudes de tais culturas. Talvez em algumas delas a mulher, que naturalmente tem uma mentalidade e modos de sentir diferenciado das mulheres ocidentais, encare com mais naturalidade as imposições masculinas (não falo deste caso em específico tratado no primeiro post do tópico!). Em todo o caso, em alguns lugares a mulher que trai o marido ou lhe nega a satisfação sexual, tem as mãos amputadas e até as partes íntimas desfiguradas. Claro que esses procedimentos são exceções, e não representam nem de longe os traços gerais nem mesmo dentro de grupos fundamentalistas, por mais “severas” e arcaicas que elas nos pareçam. É fácil estereotipar. Peguem o caso do nosso país, que é tachado de o país das selvas lá fora. Em todas as culturas há boas e más pessoas, seja entre os civilizados franceses ou entre os primitivos aborígenes australianos. Mas no fundo a mulher não é universal; o homem tbm não.
As culturas, mentalidades e valores não são homogêneos. O homem ocidental cresceu numa cultura demasiadamente frívola...enquanto os orientais, incluindo os muçulmanos, tem muito o que nos ensinar. E antes que discriminemos as comunidades tribais ainda existentes em pleno séc XXI, e defendamos as sociedades avançadas científica e politicamente, não vamos nos esquecer que os Romanos tinham um comportamento parecido com relação aos “primitivos” bárbaros invasores . Os romanos impunham suas verdades e modelos a culturas tidas como “atrasadas” , achando que estas eram inferiores à “avançada” cultura romana. E sabemos que não existem santos na história. Em todas as culturas existe o lado obscuro que tentamos ignorar, enfatizando a idéia de que cultura é tudo aquilo que faz o ser humano evoluir ou viver em justiça, cultivando bons modos e valores. Não é verdade. Cultura é um apanhado de tradições, valores, crenças e manifestações sociais.