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Contos Misteriosos da Terra-média

Não ouvimos falar com freqüência sobre as histórias de fantasmas que as pessoas deviam contar umas às outras na Terra-média. O trabalho de Tolkien é permeado por lendas bem trabalhadas que possuem, geralmente, de fato um embasamento (dentro do escopo de sua pseudo-história), mas quando paramos para considerar as imensas expansões de tempo que a pseudo-história da Terra-média cobre, devemos nos perguntar quão artificiais essas lendas se tornaram.

Todos já ouviram falar da história sobre o louco que escapa de um sanatório e quase mata um casal jovem em uma estrada escura, deixando sua garra pendurada na porta do carro (este seria, é claro, um carro bastante antigo). Talvez essa história deva um pouco ao mito nórdico do deus da guerra Tyr, que colocou sua mão na boca de Fenris, deixando o lobo arrancá-la, enquanto os Aesir acorrentavam o lobo. Tyr deveria ser um tanto quanto louco para fazer isso.

As primeiras histórias de fantasmas da Terra-média provavelmente foram os contos há muito tempo esquecidos que os Elfos criaram sobre os monstros de Melkor antes de Oromë descobrir sua morada em Cuiviénen. "E, de fato, as canções mais antigas dos Elfos, cujos ecos ainda são lembrados no Oeste, falam sobre formas sombrias que caminhavam nas montanhas acima de Cuiviénen, ou passavam de repente pelas estrelas, e do Cavaleiro Negro sobre seu cavalo selvagem, que perseguia aqueles que vagavam, para tomá-los e devorá-los."

Os primeiros Elfos eram um tanto ingênuos, em comparação aos seus sucessores Eldarin. Eles não sabiam nada sobre quem eram os Valar, como o mundo se tornou o que é, ou que monstros existiam (originados das criaturas inocentes de Yavanna, ou Maiar corrompidos que assumiram formas de terror). Nem seus poderes de mente e corpo estavam desenvolvidos. Será que os Elfos sabiam, antes de encontrar os Valar, como utilizar suas faculdades subcriacionais? Seria interessante se os primeiros menestréis Élficos, que, em eras posteriores podiam "fazer com que as coisas sobre as quais eles cantavam aparecessem em frente aos olhos daqueles que estivessem escutando", tenham feito canções de poder, onde suas audiências veriam novamente as terríveis e místicas formas sombrias que rastejavam em seu mundo outrora agradável.

Oromë levou os Eldar para o Oeste, através de um mundo assustador, grande e desconhecido, para as margens ocidentais da Terra-média, e a partir dali a maioria dos Eldar partiu para uma terra de luz. É difícil imaginar os Altos-Elfos de Aman vivendo sobre os fantasmas e demônios de seu passado. Eles seguiram o estudo de alta civilização e arte e construíram grandes cidades e artefatos poderosos. Mas os Eldar que permaneceram na Terra-média, os Sindar, foram deixados na escuridão (ou na fraca luz das estrelas), e apesar de por longas eras eles não terem sido perturbados pelas criaturas de Melkor, ainda tinham razão para conhecer o medo.

Pois os Sindar eram perturbados pelos Noegyth Nibin, os Anões inferiores, exilados das grandes cidades dos Anões do Leste, que encontraram seus caminhos para Beleriand. Ali, nas Terras Selvagens antes da vinda dos Elfos, eles estabeleceram sua própria cultura, da qual não conhecemos praticamente nada, além do fato que eles eram reservados e rancorosos. Os Noegyth Nibin atacaram os Elfos, que revidaram ao caçá-los, sem saber de fato que os Noegyth Nibin eram decaídos de um estado mais alto de civilização, tomando-os por animais ou pequenos monstros da escuridão.

Com o tempo, os Sindar se tornaram amigos dos Anões de Nogrod e Belegost, e eles aprenderam sobre a verdadeira natureza dos Noegyth Nibin, e os povos deixaram cada um em paz. Mas os Sindar eram de vez em quando avisados pelos Anões do Leste que criaturas malignas estavam se multiplicando nas terras além de Ered Luin. Se os Sindar tivessem tido tempo para esquecer os antigos monstros, eles eram eventualmente lembrados, quando as criaturas de Melkor começaram a se rastejar por Beleriand, "lobos... ou criaturas que andavam em forma de lobos, e outros seres sombrios cruéis".

Os Sindar se dividiram em dois grupos: Elfos das Florestas que se espalharam para o Norte e Oeste a partir de Doriath e os Elfos navegantes, que moravam nas terras costeiras ocidentais e se espalharam pelo Norte. Muitos destes Elfos viviam fora das cidades, mais provavelmente em cidadelas ou vilarejos que nunca apareceram em nenhum mapa. Mas estando longe dos centros de poder e sabedoria, eles estavam menos seguros em suas casas e talvez mais propensos para se perguntar sobre as coisas misteriosas que se rastejavam ao redor deles. Será que estes Elfos, talvez, cantavam sobre as coisas sombrias que assombravam Beleriand?

Após o retorno dos Noldor e o começo da Guerra das Gemas, criaturas sombrias e terríveis teriam se tornado bem conhecidas através de Beleriand. Imagine se um exército de goblins, vampiros e lobisomens estivesse prestes a invadir sua terra natal e permanecer próximo por muitos anos. Você estaria propenso a contar "histórias de fantasmas", sabendo que os fantasmas estavam logo além da montanha? Os contos seriam histórias reais, não lendas. As criaturas seriam inimigos conhecidos, e não terrores maléficos misteriosos.

Não seria até após o colapso dos grandes reinos que de fato se tornaram lenda novamente. Homens mortais se lembrariam das histórias e passariam as mesmas para a frente, mas a cada geração, as histórias se tornaram menos reais. Será que Dirhavel de Arvenien entendia sobre o que estava cantando, se ele cantou sobre o conto de Barahir e seus fora-da-lei 70 anos após os eventos terem se desenvolvido? Quantos dos Elfos que sobreviveram à destruição dos reinos em Arvenien e Ilha de Balar eram velhos o suficiente para se lembrar das grandes batalhas ou do passado antigo? Mesmo Elrond, que já era antigo na época da Guerra do Anel, teria crescido nos dias em que Húrin e Túrin eram apenas memórias dos homens e mulheres idosas, Hador era um ancestral distante e Cuiviénen estava há gerações além de sua experiência.

Quão reais os contos do Lobo-Sauron e Drauglin, pai dos lobisomens, e Thuringwethil, a mensageira de Sauron em forma de morcego, e Gorlim, o fantasma infeliz, teriam parecido às gerações de Homens e Elfos que cresceram no início da Segunda Era? Seu mundo havia mudado. A maior parte de Beleriand havia sumido. Os grandes reis, que lideraram os Elfos e Edain na guerra contra Morgoth estavam todos mortos. Os Edain do Oeste navegaram para construir uma grande civilização e os Edain do Leste retrocederam às planícies e bosques onde eles lentamente esqueceram que uma vez alguns de seu povo partiram para o outro lado das montanhas.

E ainda após Sauron ter começado a tumultuar novamente na Segunda Era, reunindo mais uma vez criaturas maléficas sob seu controle, como evidência do retorno do mal que se movia através das Terras Élficas, os Homens devem ter apagado as antigas lendas sobre lobisomens, vampiros, Orcs e demônios, e recontaram como havia uma vez um senhor do escuro contra quem somente alguns Elfos e Homens se defenderam valentemente.

E ainda o mal, conseqüentemente, adquiriu um aspecto mais claro, e a Guerra dos Elfos e Sauron trouxe um fim a muitos reinos Élficos e Humanos, e muitos séculos de combate existiriam subseqüentemente. A Segunda Era deve ter originado novas lendas de terror, principalmente quando os Nazgûl apareceram na Terra-média, mas também pode ser, como na Primeira Era, que a Segunda Era tenha trazido o mal para muito perto de casa para as pessoas desenvolverem uma estranha fascinação por ele. Somente sonhamos com vampiros e lobisomens quando sabemos que eles não são reais e não podem nos machucar.

Mas a guerra final da Segunda Era contribuiu para a fundação de uma das maiores lendas de terror na Terceira Era. Isildur convocou um povo das montanhas para marchar contra Sauron, e eles recusaram, uma vez que eles outrora adoravam Sauron como um deus. A esses homens sem fé, Isildur condenou a desaparecerem como um povo. Eles definharam e morreram, perdidos e sozinhos nas terras altas, condenados a assombrar suas terras antigas até o dia em que eles pudessem redimir seus juramentos para um Herdeiro de Isildur.

O audacioso povo das montanhas de Gondor vivia ao lado dos Mortos do Templo da Colina, e deve-se imaginar se eles não passaram longas noites de inverno trocando contos de viajantes imprudentes que se perderam nos caminhos dos Mortos, ou que encontraram uma reunião de fantasmas à grande pedra de Erech em tempos problemáticos. Ninguém sabe como a dama Élfica Nimrodel se perdeu nas montanhas, mas será que o povo local a adotou como uma vítima de suas lendas? Será que eles a imaginavam perdida e assustada, possuída pelos antigos fantasmas?

Os caminhos dos Mortos eram famosos através das terras dos Dúnedain, ao que parece. Malbeth, o vidente, que vivia em Arnor, previu que um dia um Herdeiro de Isildur caminharia naqueles caminhos e acordaria os Mortos. Séculos depois, quando os Rohirrim se estabeleceram em Calenardhon e Brego, seu segundo rei, terminou a construção do salão de Meduseld, ele e seus filhos passaram pelas montanhas e encontraram um homem idoso sentado na entrada do caminho dos Mortos.

"O caminho está fechado", ele disse a eles. "O caminho está fechado. Foi feito por aqueles que estão Mortos, e os Mortos o guardam, até a hora chegar. O caminho está fechado." E então ele morreu, e o príncipe Baldor resolveu entrar no caminho dos Mortos e ver por si mesmo que segredos existiam ali. Ele nunca retornou, e toda Rohan se questionou sobre o que se tornou dele.

Provavelmente os ossos que Aragorn encontrou dentro da passagem eram de Baldor: "Diante dele estavam os ossos de um homem forte. Estivera vestido de malha metálica, e sua armadura jazia ainda inteira, pois o ar da caverna era seco como pó; sua cota era dourada. O cinto era de ouro e granadas, e rico em ouro era o elmo sobre os ossos de sua cabeça, caída com o rosto contra o chão. O homem tombara perto da parede oposta da caverna, pelo que se podia presumir, e diante dele havia uma porta de pedra hermeticamente fechada: os ossos de seus dedos ainda agarravam as fendas. Uma espada quebrada e chanfrada jazia ao seu lado, como se ele tivesse golpeado a rocha em seu último desespero".

O que poderia ter acontecido dentro daquela caverna escura e solitária é que um dos mais bravos guerreiros de Rohan teria ficado louco e rachado a rocha em desespero? Ele deve ter sido atacado por um exército dos Mortos, e procurando uma maneira de escapar e se desviou. Ou talvez ele meramente sucumbiu ao medo e temor, estremecido a sua própria alma, e irracionalmente, fugiu impetuosamente na escuridão até não poder mais encontrar seu caminho, e lentamente, tristemente, passou seus últimos dias ou horas em vão, procurando admissão em algum refúgio de natureza duvidosa.

Os Mortos do Templo da Colina não eram as únicas assombrações a habitar a Terra-média na Terceira Era. Os Nazgûl surgiram de Mordor no ano 2000 e sitiaram a cidade montanhosa de Minas Ithil. Após 2 anos eles tomaram a cidade e a transformaram em um lugar de terror existente, e dizia-se que era a residência de fantasmas e outros monstros. Até mesmo os Orcs que estavam posicionados ali estavam enervados pelas criaturas terríveis com as quais os Nazgûl haviam ocupado a cidade. Todas as terras vizinhas se tornaram desertas, conforme as pessoas fugiam para o outro lado do Anduin, e com o tempo somente as pessoas mais audaciosas de Gondor ousavam viver em Ithilien, que uma vez havia sido uma terra muito agradável e bela.

Os Nazgûl eram especialmente bons em acabar com as vizinhanças. Séculos antes o Senhor dos Nazgûl havia rumado para o Norte para estabelecer o reino de Angmar. Homens serviam a ele, mas também Orcs, Trolls, e outras criaturas, incluindo espectros. Ele ensinou ou encorajou o povo das colinas de Rhudaur a praticar feitiçaria, principalmente necromancia, e na guerra com Cardolan e Arthedain no ano 1409, o Senhor dos Nazgûl enviou espectros para habitar os antigos túmulos em Tyrn Gorthad, próxima a Bri. Estes espíritos se tornaram as Criaturas Tumulares. Eles animaram antigos ossos e ocuparam a terra com pavor e medo. Seu poder era tão grande que, muitas gerações depois, os esforços do Rei Araval para recolonizar Cardolan falharam, porque as pessoas não poderiam viver perto de Tyrn Gorthad.

Quando os últimos remanescentes do Reino do Norte foram arruinados, criaturas maléficas ocuparam sua última capital, Fornost Erain, apesar de que depois de apenas alguns meses elas foram destruídas ou expulsas por um grande exército de Gondor e Lindon. Muito da terra estava limpa quando a própria Angmar foi destruída, mas as Criaturas tumulares permaneceram, e os Homens de Bri ficaram amedrontados em relação às ruínas de Fornost Erain, conseqüentemente, denominando-as de Dique dos Mortos, porque eles apenas podiam se lembrar do terror que brevemente havia governado ali.

Arnor estava quase esvaziada de pessoas, e ruínas foram deixadas por todos os lugares: Annúminas, Fornost, Tyrn Gorthad, as colinas de Rhudaur, Topo do Vento. Tharbad, a última cidade de Arnor, declinou e se tornou uma cidade ribeirinha, e conseqüentemente foi abandonada após ter sido destruída por severas inundações. Quase toda Eriador era uma terra vazia e desolada, com cidades esquecidas e túmulos assombrados.

É um pouco estranho que os Hobbits que partiram do Condado em 3018 não eram muito mais amedrontados em relação ao mundo ao redor deles. Eles tinham lendas sobre a Floresta Velha, que ficava nas fronteiras da Terra dos Buques, uma terra estranha onde as árvores podiam se mover conforme queriam e que abrigavam um antigo ódio pelos seres que caminhavam em duas pernas. Tolkien observa que "mesmo no Condado, o rumor sobre as Criaturas Tumulares das Colinas dos Túmulos além da Floresta foi ouvido. Mas não era um conto que qualquer Hobbit gostaria de ouvir, mesmo em frente a uma confortável lareira bem longe de tudo isso".

Mas Frodo e seus amigos não sabiam nada sobre os terrores que existiam além das Colinas dos Túmulos e suas criaturas, ou as lendas que ainda assombravam as terras, apesar das criaturas que geraram terror aos contos terem desaparecido há muito tempo. Se eles tivessem ido em busca de antigas histórias de fantasmas, ao invés de buscar uma maneira de destruir o Um Anel, eles teriam encontrado lendas suficientes para encher um livro. Havia o velho monstro vivendo no alto das montanhas sobre Minas Morgul, as estranhas e agourentas árvores da Floresta de Fangorn, o escuro e repugnante Guardião na Água, o espírito de fogo e sombras que assombrava as cavernas perdidas de Moria, a fria e cruel Caradhras, e coisas escuras voadoras que bloqueavam as estrelas à noite, e os próprios Nazgûl.

A pobre e perdida Eregion se tornou a morada de lobos enfeitiçados e tropas ameaçadoras de Crebain, e a terra esqueceu que uma vez fora lar a um povo Élfico que ousara mexer com a força do Tempo na própria Terra-média. Mas quando tudo estava feito e o Senhor dos Anéis destruído, os Hobbits e seus aliados foram mais uma vez lembrados de todos os grandes e antigos temores, e eles devem ter passado muitas noites felizes trocando contos em frente à lareira, mantendo vivas as estórias de fantasmas da Terra-média.

Tradução: Helena "Aredhel" Felts
 
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