Fala galera, esse texto foi o conto de estréia do meu blog www.contosdezumbi.wordpress.com. Escrevi ele depois de ter lido o livro On the road, de Jack Kerouac, totalmente influenciado pelos relatos alucinados das viagens do personagem principal ao lado de seu amigo. Só que o meu conto tem uma vantagem: tem zumbis! hehehe. Espero que gostem!!
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BEBIDAS, MULHERES E ZUMBIS[/size]
“Cara, nós temos que sair daqui. É isso que vamos fazer, vamos sair daqui agora mesmo!” Estávamos só nós dois naquela casa havia dias. A comida já tinha ido pro saco e a fome só piorava nossa situação. Claro que nós sabíamos que não tínhamos pra onde ir. Ali estávamos seguros, mas por quanto tempo mais aquela casa velha seria um bom esconderijo? Na verdade, as paredes nem iriam agüentar se aqueles bichos encontrassem a gente.
“Você só pode estar ficando louco”, eu falei, mas ele não estava. “Ok, vamos nessa, estou contigo, mas você tem algum plano? Mas que merda de olhar é esse cara?” É claro que ele não tinha um plano, tudo o que se consegue pensar quando se está confinado em uma casa velha, sem comida e sem televisão é em dar o fora dali a qualquer custo; e em mulheres, claro.
“Eu sei um jeito, cara, tem que confiar em mim”, mas ele não sabia merda nenhuma. Eu sim, sabia onde isso ia parar, dali a algumas horas seríamos nós que estaríamos nas ruas a procura de carne humana para devorar. “Confio em você se tiver um plano, escutou?” Claro que não, ele já estava olhando pela janela e averiguando o caminho. Me disse que iríamos para o supermercado, “você tá louco cara”. “Nós precisamos comer! Alguma outra idéia?”. Eu não tinha. Eu também só pensava em comer alguma coisa.
Partimos eu e Carlos. Ele abriu a porta sem que eu estivesse preparado. Ouvi os gritos virem da rua, aquilo era um filme de terror ao vivo. A coisa toda acontecendo ali na nossa frente e todo aquele sangue parecia o ketchup do sanduíche que não saía da minha mente. “Pelos fundos agora! Corre!” Nós corremos. O coração parecia que ia sair pela boca, mas aqueles caras mortos não cansavam nem a pau. Eu vi o supermercado, “Que merda Carlos!”
Alguém mais teve a brilhante idéia de ir pro supermercado. Todo mundo tava passando fome. As pessoas que ainda estavam vivas se escondiam há dias e já tinham acabado com todo o estoque de comida de seus abrigos. Os mortos já haviam comido todo mundo na região e ansiavam por estas refeições que escaparam quando toda a merda aconteceu. “E agora Carlos, o que a gente vai fazer? São muitos cara, devem estar todos aí e o pessoal que chegou antes não vai abrir a porta pra gente!”
Dito e feito, não abriram. Eles ainda conseguiriam resistir algum tempo, mas abrir as portas para dois desconhecidos estava fora de cogitação, sacrificariam todas as prateleiras que haviam empilhado na frente das portas. “Eu não agüento mais correr”, gritou Carlos desesperado, “eu não sei mais o que fazer, cara... eu só quero dar o fora daqui e, sei lá, viver!” Eu também queria viver. Mas que merda de vida seria essa, sem comida, sem bebida e sem garotas.
“As garotas”, falei. Carlos entendeu na hora e mudamos nosso caminho. Minha namorada morava com outras três amigas no segundo andar de um apartamento ali perto. “Cara, que loucura estamos fazendo, é claro que nenhuma delas deve estar viva agora”. Nada importava, se a gente não corresse agora era adeus para Carlos e para mim também. “Merda Carlos, corre mais rápido”.
Os mortos pararam no supermercado, acho que foram atraídos pela multidão que devia estar fazendo daquele lugar uma fortaleza, ou algo do tipo. “Eles que se danem, cara, agora somos só eu e você, entendeu? Vamos esquecer toda essa gente que está viva. Alias, se as garotas estiverem bem, vamos nos mandar daqui com elas. Essa merda deve ser só nessa cidade! Maldita cidade de interior”. O que Carlos não sabia é que tudo estava do mesmo jeito.
As meninas estavam bem. Minha namorada me recebeu com um beijo caloroso, daqueles que deixam sem fôlego e eu já estava sem fôlego depois de toda essa corrida. A tensão da situação só aumentou nosso tesão. Não posso negar que eu queria levar ela para o quarto naquele mesmo instante, mas as outras garotas choravam como crianças na porcaria do jardim de infância depois de levarem uma surra dos meninos da primeira série. Carlos tentou acalma-las, mas o caso era perdido. Parentes mortos, todo mundo morto. Aquela merda assustava, cara.
Ficamos um bom tempo conversando e logo Carlos começou a contar umas piadas sobre a situação. “Que merda, eu queria ser um deles agora, pelo menos eu teria quatro pessoas pra comer”. Mas na casa delas tinha comida, da qual a gente queria se fartar. “Vamos economizar o máximo possível, não sabemos quando vamos conseguir sair daqui para pegar mais coisas”, falei e é claro que todo mundo escutou. Mas comemos aquela merda de comida toda de qualquer jeito; duas caixas de leite, uma porção de pacotes de bolacha e macarrão (o gás encanado do prédio tinha parado de funcionar, então comemos aquela massa crua mesmo e o pior é que estava gostosa).
De noite eu levei minha garota pro quarto. O nome dela era Rosana e ela tinha seios lindos e duros. Cara, aquilo eram seios! Ficamos acordados a noite inteira, gritando mais alto que os mortos lá embaixo à procura de gente viva. A gente tava bem vivo! Eu quase me esqueci de toda aquela merda que estava acontecendo.
No dia seguinte eu fiquei sabendo que o Carlos dormiu com as três outras garotas. Que puta mulherengo que ele era! Me lembrei de quando eu ainda não namorava com a Rosana, quando saíamos por aí atrás de umas saias e de todas aquelas pernas que acabávamos acariciando no final da noite. Aqueles eram tempos loucos. Depois que eu comecei a namorar, quase não o via mais; minha namorada sabia das nossas histórias e resolveu podar essa amizade. Mas há alguns dias, ele chegou na minha casa com um papo estranho sobre pessoas correndo atrás dele! Eu não acreditei de primeira, mas aqueles monstros logo alcançaram o cheiro do Carlos e começaram a cercar minha casa!
“Que merda Carlos, você trouxe eles pra cá”, disse quando vi a expressão putrefeita e a fome aterrorizante no olhar de um deles. “Foi o único lugar que eu pensei em vir, cara, salvar tua pele”. Corremos juntos, com uma mochila com toda a comida que conseguimos pegar, até uma casa onde sabíamos que não morava mais ninguém. Era uma casa velha ali perto, rodeada de terrenos baldios. Passamos uns dias lá antes de ter a coragem (ou ser loucos o suficiente) pra correr até a casa da Rosana.
Sabe-se lá como iria ser a vida dali pra frente, mas achamos umas bebidas fortes enquanto vasculhávamos os apartamentos dos vizinhos e tínhamos quatro garotas solícitas e desamparadas (uma delas minha namorada gostosona). Ou seja, seria mais ou menos a vida que sempre pedimos a Deus, só que com zumbis cercando toda aquela merda de prédio.
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BEBIDAS, MULHERES E ZUMBIS[/size]
“Cara, nós temos que sair daqui. É isso que vamos fazer, vamos sair daqui agora mesmo!” Estávamos só nós dois naquela casa havia dias. A comida já tinha ido pro saco e a fome só piorava nossa situação. Claro que nós sabíamos que não tínhamos pra onde ir. Ali estávamos seguros, mas por quanto tempo mais aquela casa velha seria um bom esconderijo? Na verdade, as paredes nem iriam agüentar se aqueles bichos encontrassem a gente.
“Você só pode estar ficando louco”, eu falei, mas ele não estava. “Ok, vamos nessa, estou contigo, mas você tem algum plano? Mas que merda de olhar é esse cara?” É claro que ele não tinha um plano, tudo o que se consegue pensar quando se está confinado em uma casa velha, sem comida e sem televisão é em dar o fora dali a qualquer custo; e em mulheres, claro.
“Eu sei um jeito, cara, tem que confiar em mim”, mas ele não sabia merda nenhuma. Eu sim, sabia onde isso ia parar, dali a algumas horas seríamos nós que estaríamos nas ruas a procura de carne humana para devorar. “Confio em você se tiver um plano, escutou?” Claro que não, ele já estava olhando pela janela e averiguando o caminho. Me disse que iríamos para o supermercado, “você tá louco cara”. “Nós precisamos comer! Alguma outra idéia?”. Eu não tinha. Eu também só pensava em comer alguma coisa.
Partimos eu e Carlos. Ele abriu a porta sem que eu estivesse preparado. Ouvi os gritos virem da rua, aquilo era um filme de terror ao vivo. A coisa toda acontecendo ali na nossa frente e todo aquele sangue parecia o ketchup do sanduíche que não saía da minha mente. “Pelos fundos agora! Corre!” Nós corremos. O coração parecia que ia sair pela boca, mas aqueles caras mortos não cansavam nem a pau. Eu vi o supermercado, “Que merda Carlos!”
Alguém mais teve a brilhante idéia de ir pro supermercado. Todo mundo tava passando fome. As pessoas que ainda estavam vivas se escondiam há dias e já tinham acabado com todo o estoque de comida de seus abrigos. Os mortos já haviam comido todo mundo na região e ansiavam por estas refeições que escaparam quando toda a merda aconteceu. “E agora Carlos, o que a gente vai fazer? São muitos cara, devem estar todos aí e o pessoal que chegou antes não vai abrir a porta pra gente!”
Dito e feito, não abriram. Eles ainda conseguiriam resistir algum tempo, mas abrir as portas para dois desconhecidos estava fora de cogitação, sacrificariam todas as prateleiras que haviam empilhado na frente das portas. “Eu não agüento mais correr”, gritou Carlos desesperado, “eu não sei mais o que fazer, cara... eu só quero dar o fora daqui e, sei lá, viver!” Eu também queria viver. Mas que merda de vida seria essa, sem comida, sem bebida e sem garotas.
“As garotas”, falei. Carlos entendeu na hora e mudamos nosso caminho. Minha namorada morava com outras três amigas no segundo andar de um apartamento ali perto. “Cara, que loucura estamos fazendo, é claro que nenhuma delas deve estar viva agora”. Nada importava, se a gente não corresse agora era adeus para Carlos e para mim também. “Merda Carlos, corre mais rápido”.
Os mortos pararam no supermercado, acho que foram atraídos pela multidão que devia estar fazendo daquele lugar uma fortaleza, ou algo do tipo. “Eles que se danem, cara, agora somos só eu e você, entendeu? Vamos esquecer toda essa gente que está viva. Alias, se as garotas estiverem bem, vamos nos mandar daqui com elas. Essa merda deve ser só nessa cidade! Maldita cidade de interior”. O que Carlos não sabia é que tudo estava do mesmo jeito.
As meninas estavam bem. Minha namorada me recebeu com um beijo caloroso, daqueles que deixam sem fôlego e eu já estava sem fôlego depois de toda essa corrida. A tensão da situação só aumentou nosso tesão. Não posso negar que eu queria levar ela para o quarto naquele mesmo instante, mas as outras garotas choravam como crianças na porcaria do jardim de infância depois de levarem uma surra dos meninos da primeira série. Carlos tentou acalma-las, mas o caso era perdido. Parentes mortos, todo mundo morto. Aquela merda assustava, cara.
Ficamos um bom tempo conversando e logo Carlos começou a contar umas piadas sobre a situação. “Que merda, eu queria ser um deles agora, pelo menos eu teria quatro pessoas pra comer”. Mas na casa delas tinha comida, da qual a gente queria se fartar. “Vamos economizar o máximo possível, não sabemos quando vamos conseguir sair daqui para pegar mais coisas”, falei e é claro que todo mundo escutou. Mas comemos aquela merda de comida toda de qualquer jeito; duas caixas de leite, uma porção de pacotes de bolacha e macarrão (o gás encanado do prédio tinha parado de funcionar, então comemos aquela massa crua mesmo e o pior é que estava gostosa).
De noite eu levei minha garota pro quarto. O nome dela era Rosana e ela tinha seios lindos e duros. Cara, aquilo eram seios! Ficamos acordados a noite inteira, gritando mais alto que os mortos lá embaixo à procura de gente viva. A gente tava bem vivo! Eu quase me esqueci de toda aquela merda que estava acontecendo.
No dia seguinte eu fiquei sabendo que o Carlos dormiu com as três outras garotas. Que puta mulherengo que ele era! Me lembrei de quando eu ainda não namorava com a Rosana, quando saíamos por aí atrás de umas saias e de todas aquelas pernas que acabávamos acariciando no final da noite. Aqueles eram tempos loucos. Depois que eu comecei a namorar, quase não o via mais; minha namorada sabia das nossas histórias e resolveu podar essa amizade. Mas há alguns dias, ele chegou na minha casa com um papo estranho sobre pessoas correndo atrás dele! Eu não acreditei de primeira, mas aqueles monstros logo alcançaram o cheiro do Carlos e começaram a cercar minha casa!
“Que merda Carlos, você trouxe eles pra cá”, disse quando vi a expressão putrefeita e a fome aterrorizante no olhar de um deles. “Foi o único lugar que eu pensei em vir, cara, salvar tua pele”. Corremos juntos, com uma mochila com toda a comida que conseguimos pegar, até uma casa onde sabíamos que não morava mais ninguém. Era uma casa velha ali perto, rodeada de terrenos baldios. Passamos uns dias lá antes de ter a coragem (ou ser loucos o suficiente) pra correr até a casa da Rosana.
Sabe-se lá como iria ser a vida dali pra frente, mas achamos umas bebidas fortes enquanto vasculhávamos os apartamentos dos vizinhos e tínhamos quatro garotas solícitas e desamparadas (uma delas minha namorada gostosona). Ou seja, seria mais ou menos a vida que sempre pedimos a Deus, só que com zumbis cercando toda aquela merda de prédio.