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[L] Fui no shopping, tomei um suco e voltei pra casa.

Qual o melhor?


  • Total de votantes
    549

Vela- o Rousoku

Sirius Black
Fui no shopping, tomei um suco e voltei pra casa.

Kabral, Knolex e eu (Vela) fizemos uma aposta:
Dado o tema extremamente estúpido e vazio de "fui no shopping, tomei um suco e voltei pra casa", temos como objetivo escrever a história mais interessante dos três.

Caso eu não seja o primeiro a postar a história, o tópico já está aqui esperando a deles.
 
hmm... Adorei! Queria ter participado dessa, hahahaha... Quero ver as pérolas que vão sair, haha. A partir do momento em que o Vela, o Kabralzinho e o Knolex estão na jogada, vai sair uma bizonhice total! =)

Postem logo! ^^
 
O Vela tinha postado... eu li mas não comentei porque estava esperando as outras duas..

Que aconteceu Vela? Não gostou do seu texto?
 
Ah sim, não pensem que a aposta está limitada a só nós 3. Todos que quiserem podem se sentir à vontade pra entrar na brincadeira. :obiggraz:
 
Eu gostei dessa idéia... Está bem! Gostei tanto, que quando vi que outros podiam entrar fui logo escrevendo meu texto. Então só estou confirmando: Qualquer um pode entrar mesmo? Posso colocar meu texto (pelo visto vai ser o primeiro)?
 
Para julgar o texto poderia abrir uma enquete pro pessoal que leu votar... eu até participaria, mas ultimamente estou sem inspiração pra coisas assim. :?
 
Bem, resolvi não esperar a resposta. Afinal, era só dúvida mesmo, pq vcs ja tinham dito que podia. Bem lá vai. No final farei as considerações
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Quanta gente esquisita se acha em um shopping! Primeiramente porque EU estou em um shopping. Mas não sou tão estranho assim... Tenho a mente estranha. Mas, em aparência, sou normal. Bem, talvez isso não me livre do rótulo de estranho, mas, pelo menos, uma pessoa que olhe para mim nunca imaginaria o que se passa nessa minha cabeça. Aquele menininho de 5 anos que corre por entre as mesas derrubando bandejas e sorrindo nunca imaginaria que, agora, estou pensando que... estou pensando que ele nunca imaginaria como minha mente é estranha. Bem, talvez eu pudesse pensar em algo mais profundo que isto. Quem sabe, eu poderia estar fazendo alguma reflexão existencial ou social, ou política? Mas, só de eu ter pensando se o menino imaginaria o que eu estaria pensando, e que era justamente se ele imaginaria se eu estava pensando no que ele imaginaria se visse o que eu estava pensando, é uma coisa bem estranha. Talvez eu seja louco. Não, mas não sou. Gosto de me imaginar sendo louco. As pessoas têm mania de querer ser diferentes, e acho que ser louco é uma das coisas mais diferentes que alguém poderia ser.

Mas, imagine o quanto seria legal se eu fosse louco. Logo ali, encostado na pilastra, há uma menina de uns... 16? 17? Vocês não imaginam como ela é bonita. Linda! É raro encontrar uma menina assim. Mas, imagine o quanto seria legal se ela, por acaso, viesse puxar assunto comigo... assim, do nada. Seria estranho de início, (daí ela seria estranha, e não eu) porque não sou feio nem bonito, mas não me comparo com a beleza dela. Se ela puxasse, porventura, assunto comigo, e eu, de repente, sem ela ao menos esperar, dissesse: ........ Bem, creio que não é um bom exemplo esse meu. Seria muito legal ser louco, mas, mais legal ainda, seria conversar com aquela menina... Bem, esqueça esse assunto de loucura. E também o de estranheza. Quero comentar outra coisa agora.

Não tenho nada a comentar. Estou no shopping em plena tarde de meio de semana, e ele está muito vazio. Poucas pessoas além do menininho e da modelo. (Com certeza ela deve ser modelo, veja que olhos!) Estou ocioso. Esperando o tempo passar tranquilamente... Se bem, que ultimamente, para mim, esperar o tempo passar tranquilamente é um perigo. Já faz algum tempo que estou com a mania de perguntar porque certa coisa é assim, ou outra é assim, e por aí vai. Vou dar um exemplo para explicar melhor: Eu gosto de um autor. E me pergunto: Por quê gosto desse autor? E, com essa pergunta, fico horas, talvez até dias, tentando achar uma explicação. Acho inúmeras explicações, tantas que convenceria um analfabeto a ler esse autor e gostar da forma como as letras são dispostas. Mas, a pergunta sempre volta, incomodando, e ,enquanto não resolvo-a, fico sem energias para fazer qualquer outra coisa. Só soluciono a questão quando faço um trabalho de ignorar a pergunta. Eu penso: “Gosto porque gosto, é assim que tem que ser.” E, a partir daí tento esquecer a pergunta. Uma semana depois ela volta, e lá se vão um dia de atribulações por conta da pergunta mais simples, mais inútil, que qualquer um poderia resolver. Maldita Pergunta! Por quê gosto desse autor?! Porque sim... e é assim que deve ser...

Não estou mais sentado.(Alguma hora disse que estava sentado?) Estou dando voltas por entre as mesas, tal como o menininho estava fazendo. Mas não derrubo bandejas. Estou observando o shopping. As cores predominantes são o dourado. Aumenta a imponência do estabelecimento. É um shopping muito bonito esse aqui. São quatro andares; três de lojas e no último a administração. Acho que a administração de um shopping é um mistério para mim. Nunca fui lá em cima. Não tenho a menor idéia de como seja. Agora, por exemplo, estou com uma curiosidade absurda de conhecer a administração, lá, onde lojas são aceitas, e outras fechadas, lá onde deve existir um homenzinho gordo de terno controlando tudo que acontece aqui dentro. Controlando as aparências do shopping, controlando as promoções, as propagandas, tudo tudo! Acho que quero ir lá. O shopping está vazio, não tenho nada para fazer, não quero ficar sozinho com minha mente. Vou lá, enfim conhecer o que existe nesse quarto andar do shopping! Quem sabe, poderei fingir que perdi um amigo e mandar chamá-lo no alto-falante? Não, isso não. Quero ir sem que ninguém me note, quero entrar no escritório principal desse shopping, e conhecer os mistério acerca desse lugar. Uma aventura! Quero saber todas as leis que regem o comportamento das pessoas aqui, quero ver tudo! Então lá vou eu...



Acabei de voltar lá de cima, do quarto andar. Muitas coisas aconteceram. Vou contar:

Primeiramente subi a escada rolante até o terceiro andar. Fiquei dando algumas voltas, vendo se havia algum segurança me observando. Quando certifiquei de que estava limpa a área, me dirigi em direção à escada que leva ao quarto andar. Não era uma escada rolante, mas era muito chamativa, bonita. Corrimão dourado, piso de mármore brilhando, em um tom vermelho-preto. Enfim, subi a escada e me deparei numa sala quadrada e ampla. Não havia ninguém, nenhum móvel, nada! As paredes eram de vidro. Era um paisagem muito bonita a que eu via. O shopping, afastado da cidade, ficava totalmente isolado de tudo. Ao redor dele, havia muita luz, algumas estátua gregas, pilares. E, lá adiante, muito longe mesmo, uma serra. E, na base desta serra, muito pontinhos laranjas. Pareciam estar se movendo, em direção ao shopping, para destruí-lo e roubar toda a riqueza dele. Eram pontinhos medíocres e feios, e queriam compartilhar da beleza e majestade do shopping. Mas através da violência. Depois dessa assustadora visão (assustadora, mas tinha algo de magnífico), percebi que havia uma porta no final da sala. Abri a porta e entrei em um corredor. Fui caminhando lentamente. Ao redor, haviam outras portas, com placas escritas: Atendimento ao Consumidor, ou Finanças, ou Controle de Peças ( essa era bem estranha). Mas a que eu queria não estava lá; a de Direção Geral. Talvez não fosse exatamente assim que estaria escrita, mas devia ser algo parecido. Fui seguindo pelo corredor, e cheguei a uma outra porta. Estava escrito em sua placa: Direção. Finalmente havia achado, iria adentrar no desconhecido, desvendar os mistérios, descobrir o porque de tanta imponência e tanto charme. Abri a porta. Era uma salinha com paredes verdes claras. E havia uma escada de mármore branco, subindo em espiral. Uma escada magnífica! E, pregado na parede, a placa: Direção Geral, com uma seta indicando a escada. Cheguei perto, havia luz vindo lá de cima. Mas um vulto apareceu ao meu lado. Veio deslizando pelo chão, era um guardião, tinha um uniforme estranho, preto, era...



Desculpe-me, fiz um certo suspense com vocês. Eu não estava mentindo quando disse que fui ao quarto andar. Fui sim. E subiria a escada se um segurança não viesse me acordar para eu desocupar a mesa. Vejam só! Nem cheguei a me levantar; caí no sono! Agora que o segurança já saiu, voltei a sentar novamente, em outra mesa. Mas, que sonho esquisito esse meu! A administração pareceu mais uma espécie de... administração. Sim, nada mais que uma administração. Mas de um lugar especial, um lugar magnífico. E essa administração teria que ser magnífica para cuidar de um lugar magnífico. Mas que lugar seria esse, tão magnífico assim? O Paraíso? Se bem, que esse shopping é tão bonito que parece um paraíso. O paraíso do mundo... Estou com sede. Vou tomar um suco. Gosto muito de suco de limão, é o meu favorito. Vejamos quanto custa o suco de limão... Tem um anúncio de um novo suco. Bem grande: Suco de Graviola. Vou experimentar esse então.

_Com licença...

Safado. Esse cara passa trombando em mim, furando fila, e ainda pede licença... Safado. É um gordinho de terno. Está conversando com a atendente. Parece que se conhecem. Quem sabe... Não, não deve ser. Mas é! É o administrador do shopping! É o cara que controla tudo por aqui! Pediu um suco de laranja! Sim, não quero suco de graviola; quero de laranja. Vamos lá. – Moça, um suco de laranja! Rápido, lerda! Vamos!

Vou sentar na mesa ao lado do Administrador. Já escolhi minha profissão: Administrador de Shopping Center. Ele começou a tomar o suco. Deu dois goles. Vou dar dois goles também. Ele segura o copo somente com três dedos! Mas esse cara é muito estranho! Mas ele é o Administrador, ele pode. Quer saber... Também vou segurar com três dedos meu copo. Será que esse cara pode expulsar alguém do shopping? Aliás, ele que comanda tudo aqui. E esse lugar é o paraíso de nosso mundo... Ele tomou mais um gole, eu também. Mas será que ele manda em tudo aqui mesmo? Será que eu não sou livre para fazer tudo o que quiser aqui dentro? Não, não deve chegar a tanto... Eu posso fazer o que quiser sim, só não posso abusar das circunstâncias. (o que significa essa expressão “abusar das circunstâncias” nesse contexto? Acho que nessas circunstâncias ela não serve. Devo ter ouvido em algum lugar) Mas, olhe para ele. Pode mandar em todo mundo, fazer o que quer. Engraçado... No início achei que estava gostando dele. Agora ele me aborrece. Não consigo conceber a idéia de que ele manda em tudo aqui. De que aqui dentro não sou tão livre como lá fora. Ele está chamando uma garçonete.

_ Fernandinha, limpa essa mesa aqui para mim, gracinha? Derrubei suco sem querer...

Oh! Que safado! Espertalhão! Só porque é o dono daqui acha que pode mandar todos fazerem o que ele quer? Mas pensando bem... Essa é a profissão da moça, ela é paga para isso... Mas ele chamou ela de gracinha! Aposto que nos batidores, nos corredores aqui do shopping, ele deve abusar de suas funcionárias! Crápula! Talvez naquele mesmo corredor que fui hoje lá em cima. Bem, não fui, era sonho. Mas... Ah! Crápula! Manda-chuva! Ele acha que manda em todos, mas em mim não manda. Vai ver só o que vou fazer agora! Vejamos se isso que vou fazer não é ser livre! Haha! Vamos! Mande eu não fazer isso. Primeiro vou falar algo com ele, chamar a sua atenção.

_ Ei, gordinho! Gordinho de terno!
_ O que? Você está falando comigo!?
_ Sim, eu estou! Estou! Gordinho! Olha só!



Estou ficando cansado. Esses seguranças correm muito! Estão chegando perto! Meu Deus, não sei se vou escapar! E esse chão escorrega que é um absurdo! Mas bem feito para o gordinho! Aposto que ninguém nunca jogou suco de laranja em seu lindo terninho. Pena que ele não era o administrador de verdade... Opa! Os seguranças estão bem perto! Mas a saída já está logo ali. Vamos, porta automática! Abra-te! Vamos rápido! Eles estão chegando. Será que vou escorregar nessas escadas? Passei! Se eu atravessar a rua, escapo...


Estou pelado! Ou seminu, como eles definem aquelas mulheres no carnaval. Para minha mãe elas estão peladas. Então, estou pelado. Só de cueca. Como isso aconteceu? Bem, fugi dos seguranças, mas dois quarteirões depois, apareceram uns indivíduos mal vestidos. Me abordaram; percebi que queriam me assaltar. Eles falavam: “É rapaz, estava se divertindo no shopping... Aposto que encheu o bolso dos vendedores de dinheiro...” Eu respondi: “Não parceiro, só fui lá, fiquei um tempo, tomei um suco, e voltei... vou para casa.” Mas eles não deixaram, evidente. Levaram o tênis, a camisa, a bermuda. Me deixaram de cueca. Safados! Ordinários! Vão assaltar gordinhos de ternos! Eu sou boa gente! Safados! Agora, tenho que arranjar um jeito de voltar para casa...
 
Eu reli duas vezes para consertar erros de coerência, ou gramaticais. Mas sempre acontece de passar alguns. E, em algumas passagens, há uso repetido de expressoes ou palavras, mas era a intenção, se tratanto que o texto é mais um raciocinio do personagem...

E acrescentando tbm: É um tema difícil. Eu tratei de assuntos variados, mas, se o texto se enquadra na proposta do tema ou não, o juiz irá julgar! :)
 
:roll: Não li o texto aí em cima para não "perder" a idéia, po risso qqr coincidência não é proposital :mrgreen:

Ah, o texto que escrevi é o "pensamento" de alguém, razão pela qual ele pode não atender à certas ordens gramaticais.
Não reli o texto antes de postar, está exatamente do modo como esrevi, como pensei na hora.

"Fui no Shopping, tomei um suco e voltei pra casa."

"Droga. Mais um dia.
Igual aos outros. Acordo e é a mesma merda.
Droga.
Levanto e vou escovar os dentes após tomar o café da manhã, igual ao de todo dia, sem tirar nem por.
Droga.
Jornal, jornal, jornal, onde está ele? Ah, sim, na mesa, onde mais...
Acabo de ler o que interessa, e agora? Que vou fazer? Não há nada mais para ser feito. Moro sozinho, não há nada para arrumar, hunf...
Droga.
Dá tudo na mesma. Já não sei há quantas semanas faço isso, perdi a noção de tempo... Sinto-me inútil, inútil. Todo dia, pensar as mesmas coisas, nada de diferente para fazer, nada. Nada, nada, nada, nada... inferno. Será que isso nunca vai mudar?
Quem sabe. Abriu um shopping novo aqui perto de casa.
Eu...podia ir até lá, por que não? Sim, talvez, uma chance de mudar ao menos um dia na vida... um sorvete, de baunilha, chocolate... misto.

Ando na rua, lá vão as pombinhas, voando. Os carros passando, as pessoas andando. Igual a mim.
De um lado para o outro, e a maioria não sorri. Não, a grande maioria não sorri. Culpa do céu. Está nublado.
Que estou fazendo eu? Andando para tomar um sorvete. Um sorvete, ou seria apenas um sorvete? Que importa?
Quase chegando no shopping, ..
Minha vida é tão vazia assim? Vazia o suficiente para que eu não tenha nada mais para fazer do que ir ao shopping tomar sorvete? Ou seria a pergunta certa: minha vida é completa o suficiente para que não haja nada para fazer e possa ir até o shopping tomar um sorvete? Seria ela complexa ou simples demais?
Oras, cada um com seu ponto de vista, ainda não descobri o mais apropriado para mim. Só sei que não há graça em mais nada, droga. Sempre a mesma coisa, de um tempo para cá, as coisas perderam o sentido.
Entro nop shopping, e lá vêm aqueles estudantes dando gargalhadas, dois deles se beijando, provavelmente um casal de namorados, ou só ficantes mesmo. Devem ter acabado de almoçar. Vão ao cinema. Bom pra eles. Eu vou tomar meu sorvete.
Hmm, onde estará a cabine dos sorvetes? Não, não... aqui não... lá. Lá na frente, e deve ser mesmo, pelo tamnaho da fila.
Que é que leva os seres humanos a ficarem em filas? Esperando um sorvete?!! É a concorrência, chegou primeiro, é atendido primeiro. E agora essa, a máquina do caixa quebra, tsc tsc... que bosta. Tem que esperar não sei quem vir e arrumar a talzinha... saco.
Pronto, agora essa fila anda...

-Que? Não tem sorvete de baunilha?
-Sinto muito, senhora, acabou.

Fico com o de chocolate mesmo. Vou voltar pra casa...que animador, bah...
E vai chover, o céu está pior do qque quando cheguei. Droga de dia.
Sei, sei, sou meio louca, não tenho ninguém... Ei! Minha blusa azul! Que porcaria de sorvete, se fosse de baunilha não teriaanchado tanto... hunf, que é que pensava? ah, sim... ninguém pra conversar, então converso comigo. É essa vida doida e solitária, chega a ser irritante... não, é triste. Não ter nada para fazer nem ter ânimo para fazer algo, tenho uma vontade estúpida de chorar, chorar, chorar, chorar... mas não adianta, não vai resolver... mas tenho vontade sim, que droga.
*Cai uma lágrima*
Chega, chega, acaba esse sorvete logo, oras, e pára de pensar assim. Daqui a pouco vc estará em casa novamente, e vai pensar igual a todo dia, pensar no nada, pensar bobagens... não adianta dormir, uma hora eu acordo e ficarei acorada de noite, pior. Ou seria melhor? Sei lá, sei lá... não sei mais nada.
É deplorável, triste, chato... não sei bem, hunf. Fazer o que, o que...
Se apenas soubesse...

-Ahhhh!!!!

*Um carro acaba de atropelar uma senhora que estava atravessando a rua*

Podia ser eu. Podia ser eu. Podia ser eu. Podia ser eu... repito isso várias vezes, até me dar conta do que isso significa
Fui ao shopping, tomei meu sorvete -que provavelmente estava gostos, mas nem notei devido à amargura de meu ser- e voltei pra casa, essa qui na minha frente. E estou viva, viva. Podia ter sido eu. Mas não.
Estou viva.
Viva... vida.... de repente essas palavras significam algo mais para mim. Estou aqui, viva! Apesar da cena terrível que acabei de presenciar, não posso deixar de me sentir um tanto mais feliz. Minha vida tem sentido.
Não sei mais explicar, estou melhor, com vontade de fazer coisas, ver pessoas... voltar no shopping e tomar outro sorvete, memso que me custe outra mancha na blusa.

É manhã. Acabei de acordar e o sol entra pela janela... hoje, graças à Deus, é outro dia. Vou tomar meu café da manhã, ler o jornal, dar uma volta... hoje, amanhã e enquanto puder, vou... viver. Vivar, viver, viver."
 
Hmmmm... pensei que passado um dia ia aparecer os textos de pelos menos um dos moçoilos... :mrgreen:

Gostei do tema... resolvi improvisar um garrancho... taí!

Onisciência

Encontrei o menino ali no ponto de ônibus furioso... meio maluco também, falando sozinho. Tadinho.

- Fui no shopping, tomei um suco e voltei pra casa!

Era um rapaz ainda nos seus quatorze anos. Não parecia um lunático: vestia camiseta de um grupo chamado Dreamu Teatro, calças com algumas correntes e um tênis. Não entendo muito de moda dos jovens de hoje, mas se minha netinha anda com roupas rasgadas e está na moda, e como o rapaz não cheirava a urina ou falta de banho, posso concluir que não era um pobre coitado. Mas ainda acho que deviam se vestir melhor.

E ele repetia a mesma frase sem parar... e às vezes completava com "essa é boa!".

Olhei para o meu lado e uma menininha sorriu para mim concordando que era divertido, apesar de ser uma pena.

Não me tomem a mal... já vivi os meus anos e hoje em dia posso me dar ao luxo de matar minhas curiosidades.

O rapaz em questão tomou um ônibus e desapareceu. Ainda pude ver que ele balbuciava as mesmas palavras lá no último assento do coletivo.

E o vi desaparecer na vastidão da cidade grande.

Olhei para trás... e fui na direção do tal xoping. Que na verdade me lembra muito do Mappin lá do praça Ramos. Ah, que saudades das liquidações. Hoje em dia não tem mais, né? E acho muito estranho, porque volta e meia vejo a minha nora correndo (como eu corria) para uns negócios chamado ofe.

Faço o sinal da cruz, pois esse lugar me causa aflição. Acho tão triste que as portas abram-se sozinhas, me dá uma solidão danada quando estou dentro dessas coisas. Lá dentro é frio sempre, e acho que por isso fico afastada desses lugares. Mas desta vez fiquei curiosa e quis bancar a Senhorita Marple.

Andei andei e andei... nossa senhora, como precisa-se andar para tomar suco... quem vem calorento lá de fora acho que perde sede até chegar na tal praça de alimentação, que é praça só na cabeça dessas crianças mesmo. Praça de verdade tem árvore, tem passarinho, tem fonte e tem sol. Tá, tem árvore falsa, tem fonte falsa, e tem luz falsa. Mais coisa para me lembrar do frio que é isto aqui.

Deixa eu explicar minha aflição... eu tenho aflição com muita gente, mas ao mesmo tempo, num lugar desses, a falta de gente - como hoje pois todo mundo tem de trabalhar - me deixa ainda mais aflita. Mas sou curiosa, minha filha. Ah, como isso me deu dor de cabeça na minha mocidade.

Mesmo com a aflição aumentando, eu encontro a tal da praça e vejo uns lugares que vendem suco. Tem muitas pessoas comendo e bebendo essas coisas frias e sem gosto e sem carinho. Onde estão as mães dessas criaturas, meu Deus?

Entre elas vejo uma menina mais ou menos da idade do menino maluquinho. Ela também me parece meio maluquinha, olhando de um lado para o outro, como se procurasse sua mãe. Fica apertando uns botão num pacotinho e põe no ouvido. Tira do ouvido. Corre para um balcão. Fica atenta a alguma coisa do ar... ah, está escutando.

"Senhor Renato Gouveia, por favor sua amiga Sueli da Costa o aguarda na praça de alimentação"

Depois volta a olhar para os lados, aflita. Olha o relógio e para os lados, e sai correndo. Vai até um balcão, volta correndo e fica a olhar para os lados. E de novo vem aquela voz do ar.

"Senhor Renato Gouveia, por favor sua amiga Sueli da Costa o aguarda na praça de alimentação"

Decifrei meu pequeno mistério. Os dois combinaram de se encontrar, mas se desencontraram. Por algum motivo misterioso, todas essas coisinhas mecânicas e tecnológicas não ajudaram em nada os pombinhos a se encontrarem.

Ah, queridos... vocês podem se perguntar: porque eu não vou até ela e aviso sobre tudo? Por que uma velha folgada que tem tempo para ficar fuxicando a vida dos outros não dá um empurrãozinho para ajudar esses meninos?

Porque não posso, meus queridos...

Saio deste lugar frio e sem vida... pois para quem não tem mais corpo é difícil manter seu calor num lugar assim...

Mas há muitos parecidos comigo lá fora, no calor do sol, e na liberdade das nuvens.

E posso ouvir lá no fundo de minha cabeça, uma voz de menina-moça brava: - Fui no shopping, tomei um suco e voltei pra casa. Essa é boa!

******

Notas mentais para referência futura (de Primula para primula): pensei em fazer playback... virou fantasma. A idéia original surgiu há quinze minutos atrás... foi modificada cinco minutos após o início das marteladas no teclado.
 
Adorei a idéia! :D

Aqui vai a minha contribuição empolgada:

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Uma em ponto.

Sete horas em ponto, denunciavam os ponteiros do meu relógio de corda, denunciando a minha meia-idade.
Passo a mão pelos cabelos repuxados para trás e checo se o perfume não venceu.
Será que eu fiz a coisa certa? Ela é tão jovem. Se bem que eu estou cercado de jovens.
Olhei em volta procurando seu rosto. Queria vê-lo uma última vez. Procurei a melodia de sua voz em meio a balbúrdia daquele povo moderno, que se confinava em paredes melancólicas com suas carteiras de couro, fazendo morrer os bois de seus hambúrgueres. Ah, o seu cheiro. Já o havia encontrado no segundo andar, numa daquelas lojas cheias de aromas diferentes. Mas seu rosto de Madona não estava em nenhuma das pinturas da Galeria, que eu visitei às três, adiando o encontro das duas.
Queria poder ver o Sol se pondo, sentir que o tempo havia se esgotado. E a cada vez que a porta se abria eu via esplendorosa fazenda azulada compondo o vestido que definia seu corpo, e meu peito doía, e eu me sentava. Minhas mãos suavam frio, e eu li e reli dezenas de vezes o nome da Farmácia a minha frente, e suas sílabas ressoavam no meu crânio. Far-ma-heal-th. Não sabia a dicção certa para essas palavras difíceis que invadiram o meu jardim de flores incultas e belas. Mas aquelas sílabas me invadiram quando seus lábios a pronunciaram, sob aquela luz escarlate do crepúsculo sem Lua. E não me virei até que sua silhueta tivesse desaparecido no horizonte; e ela não olhou pra trás.
Por que agoniava o meu coração aquela dríade angelical?
Tossi, minha garganta estava seca. Minhas pernas tremiam, como as de um fraco.
Boto a mão no bolso e tiro dele uma caixinha de veludo. Um grupo de meninas passa por mim, uma delas com celular em mãos esbarra com o quadril na cadeira onde eu estou sentado. A caixinha caiu no chão, e uma senhora gorda com sacolas enormes em ambas as mãos chuta-a pra longe. Sigo afobado seus movimentos, e por fim resgato a pequenina caixa de quinas arredondadas ao lado de uma enorme caixa de quinas agudas com uma alavanca e relevos baratos.
Levanto quase que num colapso. Ajeito os óculos de bordas grossas e esfrego com o dedo o olho direito.
Guardo a caixinha no bolso.
Tossi ainda algumas vezes algumas vezes, e olhei à minha volta.
Toda aquela multidão parecia me sufocar. Seus olhos me condenavam, seus passos vinham em minha direção. Seus urros zumbiam em meus ouvidos, e aquele cheiro se impregnou em meu perfume. Todos eles, me culpando. Minha dúvida era maligna.
E ainda assim, mais do que nunca, eu a queria.
Tossi pensando em seus cabelos, em seus olhos escuros e profundos, nos movimentos oníricos de suas mãos.
Minha garganta estava seca.
Caminho como um condenado em meio aos justos e corretos. Procuro com as minhas mãos epiléticas no bolso interno do meu terno antiquado cheio de fichas por moedas.
Pego o copo no balcão, e tomo um gole longo procurando me acalmar. Minha mão treme, e o líquido escorre pelos cantos da boca, e o gosto é terrível. Ajeito os óculos fundos, e olho para o copo. Bebi de um líquido amarelo com partículas suspeitas em suspensão. Fechei os olhos e tomei mais alguns goles pensando no vento.
Olho em volta. As pessoas ainda gritam em meus ouvidos, e eu posso sentir o seu calor. Eu quero ver o Sol, mas o teto não deixa.
Tomo mais dois goles, o terceiro é interrompido pois o suco findou.
Ela não vem.
Ela não veio.
Tomei um táxi.
Fui no shopping, tomei um suco e voltei pra casa.
Morri no caminho.


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