Bom, eu tô escrevendo meu pequeno testinho... Daqui a pouco eu posto....
Voltei, e taí... Num liga não, é meu primeiro testinho aki !...
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“I love you baby, and if I had a chance I need you baby...”
Acordou sobressaltado. Uma das coisas que não conseguia entender era como ainda se sujeitava a acordar com esse despertador esdrúxulo, totalmente avesso à sua personalidade. E ainda aquela música. Aquela música o havia perseguido durante toda a semana. Por considerar todo e qualquer tipo de barulho insuportavelmente ignóbil corria dos sons como se corresse de seu passado. Mas aquela música...
Passou as mãos pelos cabelos: sedosos, macios, de um preto profundo e abismalmente belo. Tinha uma beleza fria, constantemente gélida, que, para observadores mais atentos, lembrava vagamente a beleza de animas empalhados. Belo, mas estranhamente longe da vida.
Era um dia comum. Bebeu seu café preto como num dia comum, leu as notas policiais do jornal como num dia comum, tomou seu banho como num dia comum, se vestiu como num dia comum, trancou o apartamento como num dia comum, saiu de casa como num dia comum.
Andava pelas ruas da cidade como se alheio a tudo. Um transeunte despercebido poderia tomá-lo como obra de sua imaginação, tal a falta de interação com que seguia. Diria-se inane, fora de alcance, um ser sem rastros, um ser sem identidade, um ser que não exprime mudança nenhuma ao ambiente em que transita. Era como se ele não estivesse ali, e era como ele desejava que fosse. Não fazer parte da vida era o que ansiava, como quereria o contrário?
Diminuiu o passo e adentrou em um Shopping. Ainda tinha muito tempo de sobra. Ajustara o despertador para ter no mínimo 2 horas a mais. Numa loja de conveniências comprou pasta de dentes, ração para seu hamister Dobby, cola “Super Bonder”, biscoitos amanteigados, Trident e um picolé. Desde criança amava coisas geladas. Morria por um sorvete, brigava por um cubo de gelo, matava por um picolé. Picolé, sim. Se deleitava com cada mordida, cada azedo provocado pelo sabor, cada gotinha com uma paixão e devoção incríveis. Nada tomava tanto dele como o ato de chupar um picolé.
Parou em uma farmácia. Gostar de gelado não era algo sem preço. Estava a muito com aquela gripe chata, arrastada, que insistia em incomodar por mais algum tempo indeterminado. Era o terceiro charope que comprava essa semana. “Charope”, dizia o vendedor, “Não deveria experimentar algo mais forte?”. Se precisasse de algo mais forte, pediria por. Mas não dizia nada. Nunca dizia nada. Simplesmente conservava sua imparcialidade.
O tempo passa devagar quando se está fora do mundo. Todo o que reservara duas horas para fazer não tinha lhe tomado mais que 40 minutos. Já estava acostumado com isso mas nunca mudava seus hábitos. Até apreciava certo tempo diário sem planejamento algum. Fazia coisa não usuais, fora de sua rotina. E hoje, iria tomar um suco. Em uma pequena lanchonete natural pediu um suco de açaí. Em pé (nunca se sentava), olhava o vaivém das pessoas. Olhava mas não via. Tudo aquilo era tão pequeno e insignificante que não absorvia nem um minuto de sua atenção. Olhava para o nada e pensava em nada. Talvez se fosse ao cinema hoje...
Transcorridos alguns minutos foi ao estacionamento. Não demorou muito a encontrar o carro que desejava. Eram tão previsíveis os idiotas. Não sabia quem era, só sabia a placa do carro. E lá, encostado ao carro ao lado esperava o desafortunado dono. Dali a não mais que 2 minutos uma mulher ruiva e espetacularmente bonita se aproxima do carro. “Me desculpe, seu carro está muito próximo ao meu, estava esperando para que você saísse primeiro.”, “Claro, só um minut...” Mas já era tarde. Ela nunca mais deixaria aquela garagem com vida. Com um fio de náilon extremamente fino enforcara quase até a degola aquele pescoço tão branco e tão imaculado... Agora a beleza jazia no chão. Fria como a dele, morta como a dele. Mas ele não via isso. Não via porque beleza era algo que não conseguia enxergar.
Voltou para casa como viera. O cinema não mais parecia atraente, seu estômago agora revirava. “Maldito suco de açaí!”.
Era um dia comum. Abriu a porta como num dia comum, tirou os sapatos como num dia comum, deitou na cama como num dia comum.
Matara. Matara com a consciência limpa de uma criança, matara com o desinteresse de quem toma um café, matara como quem respira! E agora, com o rádio ligado e aquela estranha música tocando, dormia de novo.
“I love you baby, and if I had a chance I need you baby...”
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Bem, até a próxima!
Obs, olha que bunitinhu! Mensagem 1001!