P
Paganus
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Revisão por Juliane Fernandes
Atualmente, há uma certa movimentação de diversos grupos religiosos em torno de um suposto “ideal comum” que, no caso, é o combate ao que tais grupos chamam de diversos nomes, como “Revolução Cultural”, “Marxismo” ou mesmo “Secularismo”. Entretanto, aquele que tem consciência dos aspectos fundamentais da Sociedade Tradicional como também de sua própria Tradição, deve ter em mente que tais grupos são tão degenerados quanto aquilo que combatem.
De fato, sabemos que o Lobby feito por grupos de pressão são perniciosos e buscam exterminar não somente a influência das Tradições, como também fazer escárnio das religiões e dos valores tradicionais.Isso posto, precisamos antes tomar ciência que, quando tais grupos atacam, por exemplo, os resquícios dos valores tradicionais no Ocidente, se tais ataques são dirigidos a uma Tradição viva ou apenas uma disputa de hienas por carniça. Sabemos do processo de degeneração que ocorre no Ocidente há séculos, quando não só a Tradição perdeu seu papel como centro da civilização, mas também a própria Tradição perdeu todo seu sentido interno, seu aspecto interior e oculto que era o regulador do exterior, que era o sustento da manifestação externa da Tradição e que possibilitava sua forma organizadora da civilização a sua volta.Quando vemos grupos secularistas e liberais varrendo os resquícios da civilização tradicional na Holanda, não devemos tomar tal ação como um choque, mas sim como uma mera consequência da degeneração iniciada naquele local pelo protestantismo. Quando vemos o que ocorre nos E.U.A, não devemos nos chocar, mas sim olhar como algo natural, pois a própria nação americana foi fundada em ideais degenerados econtra-iniciáticos, por homens que não possuíam qualquer qualificação iniciáticapara formar uma “civilização”, como pretenderam.
O homem tradicional jamais poderá colaborar com o sustento da ordem das coisas nos E.U.A, até mesmo com alguns de seus elementos tradicionais, pois estará colaborando com a exibição de um natimorto insepulto. A civilização americana, com sua mistura de moralismos sem qualquer fim interior, mas sim como fins absolutos, sua religiosidade misturada ao humanismo, seu puritanismo, hoje antagonizado pela mais absoluta libertinagem - tudo isso não passa de um processo inevitável. Imaginar que, por exemplo, ao se colaborar com grupos pró-vida ou pró-família, se está colaborando com algum fim tradicional, ou mesmo com as Igrejas Tradicionais, não passa de uma tentativa frustrada em mascarar o cheiro do cadáver com um simples aromatizador de ambientes. O cadáver continuará seu processo de putrefação.
Não por acaso, movimentos ecumenistas(que na verdade não passam de movimentos financiados por figuras obscuras ligadas à contra-iniciação) muitas vezes fundamentam a defesa de tais “valores comuns” entre as religiões como seus principais objetivos. Entretanto, é curioso notar que os principais defensores do ecumenismo no Oriente, como o ditador Venizelos e o Patriarca de ConstantinoplaMelécio, responsáveis pelo golpe que alterou de forma acanônica o calendário da Igreja Ortodoxa Grega, para adotar um calendário em comum com as outras Igrejas do Ocidente, eram profundos admiradores da Igreja Anglicana. Um dos principais objetivos de Venizelos era alterar os ofícios litúrgicos da Igreja Ortodoxa Grega para uma forma semelhante aos ritos anglicanos, além do próprio Patriarca Melécio ter proibido os longos ofícios de vésperas nas paróquias da Grécia, para não causar “escândalo” entre os ocidentais, o que obviamente não foi obedecido pelos fiéis[1]. Ambos conseguiram atenção e apoio da sociedade grega com o sonho de uma “Grande Grécia”, com promessas de recuperação da Trácia, Anatólia e Constantinopla, sonhavam com a construção de uma nova Grécia, com seus antigos territórios – mas não com seu antigo modo de vida, não com a Grécia semelhante à Grécia da Tradição, mas sim uma Grécia semelhante aos E.U.A. e outras potências ocidentais. Portanto, a tal “união” dos cristãos, tanto contra secularistas como contra as outras religiões, não passa de um perigoso golpe ao Cristianismo Tradicional, já que, para ser possível, é preciso que toda a Tradição do Cristianismo seja jogada fora ou relevada, através dos chavões e bordões que pregam exclusivamente a pessoa de Cristo, sem a necessidade de uma Igreja enquanto corpo místico e de uma doutrina cristã que vai além dos valores morais e dogmas de fé, ignorando os aspectos ocultos do Cristianismo, justamente aqueles que ligam o Cristianismo à Tradição.
No mundo católico, o mesmo pode ser dito sobre aqueles que defendem a união dos “cristãos” contra valores anti-católicos como o aborto, abusos dos movimentos GLS e outros, mas que se esqueceram que, quando participam do sustento ou da volta de uma sociedade de valores contrários à Tradição, estão contrariando diversas Encíclicas e ensinamentos Papais, todos contrários à noção de uma sociedade que não busca como fim a salvação das almas através da Igreja Católica.
Em relação ao Islam, vemos que, felizmente, muçulmanos não foram e não são facilmente enganados como os cristãos – um muçulmano mesmo com pouca formação sabe que é seu dever buscar a instituição da Sharia. Embora alguns poucos muçulmanos nos EUA defendam os valores americanos, tais figuras são tão poucas que podemos muito bem chamá-las de idiossincráticas. Muçulmanos sabem muito bem que a civilização ocidental moderna não passa de uma degeneração e de um perigo à religião. Estabelecer, portanto, uma sociedade que mescle valores islâmicos e seculares, como no Ocidente, jamais será objetivo de um grande número de muçulmanos e tais reivindicações no Oriente não passam de falta de informação ou de pessoas financiadas pelos E.U.A para defender tais valores. Podemos tomar como exemplo a questão atual da Síria: após diversas revoltas no mundo muçulmano contra ditadores secularistas, cunhou-se o termo “primavera árabe”, criando no Ocidente a ideia de que os árabes estavam lutando por modelos democráticos ocidentais. Felizmente, notamos que atualmente os grupos de resistência, antes infiltrados entre as manifestações por democracia, hoje lutam abertamente para a instituição da Sharia.
Só se faz sentido em falar de união das Tradições no movimento Eurasiano. A Eurásia não busca formar um bloco de religiões em torno de ideais comuns – suas motivações são bem mais profundas. Quando lemos, por exemplo, as obras do Professor Alexander Dugin, vemos que ele não é um mero defensor de valores, mas sim um estudioso e praticante de uma Tradição viva, que tem como objetivo a ordem Tradicional, não apenas na sua forma externa, mas sim como parte de um complexo metafísico, onde o mundo está inserido num complexo simbolismo e sujeito a todas as leis do mundo superior. Desta forma, o verdadeiro ideal Eurasiano não pode ser alinhado a um ideal meramente conservador, que busca conservar valores morais ou religiosos, ignorando o simbolismo do Kristoshiperbórico, da manifestação cíclica, da dissolução e renascimento. Da mesma forma que a Alquimia, que é uma ciência de auto-realização fundamentada nas leis da Sabedoria Perene, a realização da civilização também leva em conta os mitos da Tradição, portanto, quando falamos da sociedade Tradicional, podemos levar em conta todos os processos utilizados na realização alquímica, inclusive da morte e renascimento, na fecundação e geração do novo homem. Conforme disseCodreanu, o mártir romeno e líder da Guarda de Ferro, um dos últimos movimentos tradicionais a obter grande poder: “Mataremos em nós mesmos o mundo, para construir outro, mais elevado, que alcançará os céus”. Tal ideal é muito semelhante ao processo alquímico da morte do corpo e sua vegetação durante a primavera, para ressuscitar e ser dissolvido novamente, durante o diverso de diversas conversões entre corpo e espírito[2].
A referida ideia também se repete nas diversas escatologias tradicionais: no Islam, o Mahdi voltará para combater contra Mecca, justamente o centro do mundo e o lugar mais sagrado para o Islam, que no fim dos tempos será tomado por falsos governantes. O Ragnarok, que é a batalha definitiva e a submersão do mundo nas águas, deixará apenas dois sobreviventes, que farão nascer uma nova humanidade. É curioso notar que o processo alquímico relatado acima, da vegetação do corpo, ocorre nas águas, além do dilúvio ser símbolo de uma passagem de estado em diversas tradições. Na Tradição Hindu, a aniquilação ocasional, chamadanaimittika, ocorre quando os três sistemas planetários são destruídos na noite de Brahma, quando Narayana, sob o leito de Ananta Sesa, absorve todo universo em si mesmo. Durante este processo, há antes uma profunda seca, o fogo se espalha pelos sistemas planetários, a seca consumirá tudo; mas, após este processo, surge novamente a figura das águas, quando nuvens de diversas cores[3] despejam um dilúvio por a anos. Curiosamente, neste processo de dilúvio a terra será dissolvida pelo oceano cósmico. As três formas de natureza material são então destruídas pela forma imanifestada do supremo. A causa da manifestação continua alheia àtodas transformações e modificações, enquanto os três modos estão todos dentro deste ciclo implacável do tempo, que submete até mesmo a Brahma[4]. O aparecimento de uma grande destruição, tanto cósmica como a partir do centro do mundo, para que ocorra o renascimento de uma nova forma, é uma lei cósmica e universal, pois representa o próprio processo da manifestação em torno doImanifestado.
Qualquer civilização ou projeto político que ignore este processo não faz parte da Tradição, e não faz qualquer sentido a participação de um tradicionalista em tais projetos, já que conservar ou sustentar uma ordem que ignore o processo cósmico de criação-morte-dissolução-renascimento não passa da mera apreciação de simulacros civilizacionais, sociedades que perderam qualquer sentido interno e só podemos chama-las de sociedade no sentido sociológico, já que não possuem qualquer ligação com o Centro Primordial e com os princípios tradicionais de civilização.
No caso dos choques de civilizações, há algo óbvio: Oriente e Ocidente não estãoseparados apenas geograficamente, estão separados por uma mentalidade, pela eterna batalha entre Miguel e Lúcifer. No Oriente há formas contra-iniciáticas e mentes modernas tentando agir no caminho da civilização, com grupos secularistas e pró-Ocidente, que entram em conflito com aqueles que buscam uma Sociedade Tradicional; já no Ocidente vemos grupos que desejam restaurar a ordem, como oPamyat na Rússia, a Golden Dawn na Grécia, os diversos grupos de restauração da Tradição nórdica nos países nórdicos, sufocados pela modernidade. Podemos citar, como exemplo, o trabalho feito por Varg Vikernes, que muito longe dos conceitos do neopaganismo moderno, que não passa de um emaranhado de conceitos modernos brincando com antigas divindades pagãs, faz um trabalho pelo resgate da verdadeira sociedade nórdica. Tais movimentos possuem uma clara noção do profundo significado da Tradição, ao contrário dos movimentos ditoconservadores, que buscam apenas a preservação de valores morais, sem qualquer fim absoluto, ignorando a marcha do ciclo e a necessidade em se fazer um novo homem.
Na Eurásia, o sistema Russo, que está de acordo com toda a Tradição, faz contraponto ao sistema Ocidental que, com exceção de algumas correntes germânicas, não passa de um esquema da marcha da decadência, aquela que, embora pareça lutar contra alguns efeitos dos sintomas de Kali Yuga, é um de seus sintomas fundamentais – portanto, esse tipo de conservadorismo não é apenas um inimigo político da Tradição, como também uma ameaça grave à toda a Ordem Tradicional.
[1] GOMATELLI, Monge Benjamin. Летопись церковных событий. 1917 год. Online em http://russned.ru/istoriya/letopis-cerkovnyh-sobytii-1917-god
[2]EUDOXUS, The Six Keys of Eudoxus. Kindle Edition
[3] O arco-íris após o dilúvio, as cores no processo alquímico, as cores litúrgicas, o simbolismo das cores no Islam – podemospassar diversos exemplos da importância do simbolismo das cores nas Tradições
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[4] Srīmad Bhāgavatam 12.4.39
Rafael Daher
Fonte
Atualmente, há uma certa movimentação de diversos grupos religiosos em torno de um suposto “ideal comum” que, no caso, é o combate ao que tais grupos chamam de diversos nomes, como “Revolução Cultural”, “Marxismo” ou mesmo “Secularismo”. Entretanto, aquele que tem consciência dos aspectos fundamentais da Sociedade Tradicional como também de sua própria Tradição, deve ter em mente que tais grupos são tão degenerados quanto aquilo que combatem.
De fato, sabemos que o Lobby feito por grupos de pressão são perniciosos e buscam exterminar não somente a influência das Tradições, como também fazer escárnio das religiões e dos valores tradicionais.Isso posto, precisamos antes tomar ciência que, quando tais grupos atacam, por exemplo, os resquícios dos valores tradicionais no Ocidente, se tais ataques são dirigidos a uma Tradição viva ou apenas uma disputa de hienas por carniça. Sabemos do processo de degeneração que ocorre no Ocidente há séculos, quando não só a Tradição perdeu seu papel como centro da civilização, mas também a própria Tradição perdeu todo seu sentido interno, seu aspecto interior e oculto que era o regulador do exterior, que era o sustento da manifestação externa da Tradição e que possibilitava sua forma organizadora da civilização a sua volta.Quando vemos grupos secularistas e liberais varrendo os resquícios da civilização tradicional na Holanda, não devemos tomar tal ação como um choque, mas sim como uma mera consequência da degeneração iniciada naquele local pelo protestantismo. Quando vemos o que ocorre nos E.U.A, não devemos nos chocar, mas sim olhar como algo natural, pois a própria nação americana foi fundada em ideais degenerados econtra-iniciáticos, por homens que não possuíam qualquer qualificação iniciáticapara formar uma “civilização”, como pretenderam.
O homem tradicional jamais poderá colaborar com o sustento da ordem das coisas nos E.U.A, até mesmo com alguns de seus elementos tradicionais, pois estará colaborando com a exibição de um natimorto insepulto. A civilização americana, com sua mistura de moralismos sem qualquer fim interior, mas sim como fins absolutos, sua religiosidade misturada ao humanismo, seu puritanismo, hoje antagonizado pela mais absoluta libertinagem - tudo isso não passa de um processo inevitável. Imaginar que, por exemplo, ao se colaborar com grupos pró-vida ou pró-família, se está colaborando com algum fim tradicional, ou mesmo com as Igrejas Tradicionais, não passa de uma tentativa frustrada em mascarar o cheiro do cadáver com um simples aromatizador de ambientes. O cadáver continuará seu processo de putrefação.
Não por acaso, movimentos ecumenistas(que na verdade não passam de movimentos financiados por figuras obscuras ligadas à contra-iniciação) muitas vezes fundamentam a defesa de tais “valores comuns” entre as religiões como seus principais objetivos. Entretanto, é curioso notar que os principais defensores do ecumenismo no Oriente, como o ditador Venizelos e o Patriarca de ConstantinoplaMelécio, responsáveis pelo golpe que alterou de forma acanônica o calendário da Igreja Ortodoxa Grega, para adotar um calendário em comum com as outras Igrejas do Ocidente, eram profundos admiradores da Igreja Anglicana. Um dos principais objetivos de Venizelos era alterar os ofícios litúrgicos da Igreja Ortodoxa Grega para uma forma semelhante aos ritos anglicanos, além do próprio Patriarca Melécio ter proibido os longos ofícios de vésperas nas paróquias da Grécia, para não causar “escândalo” entre os ocidentais, o que obviamente não foi obedecido pelos fiéis[1]. Ambos conseguiram atenção e apoio da sociedade grega com o sonho de uma “Grande Grécia”, com promessas de recuperação da Trácia, Anatólia e Constantinopla, sonhavam com a construção de uma nova Grécia, com seus antigos territórios – mas não com seu antigo modo de vida, não com a Grécia semelhante à Grécia da Tradição, mas sim uma Grécia semelhante aos E.U.A. e outras potências ocidentais. Portanto, a tal “união” dos cristãos, tanto contra secularistas como contra as outras religiões, não passa de um perigoso golpe ao Cristianismo Tradicional, já que, para ser possível, é preciso que toda a Tradição do Cristianismo seja jogada fora ou relevada, através dos chavões e bordões que pregam exclusivamente a pessoa de Cristo, sem a necessidade de uma Igreja enquanto corpo místico e de uma doutrina cristã que vai além dos valores morais e dogmas de fé, ignorando os aspectos ocultos do Cristianismo, justamente aqueles que ligam o Cristianismo à Tradição.
No mundo católico, o mesmo pode ser dito sobre aqueles que defendem a união dos “cristãos” contra valores anti-católicos como o aborto, abusos dos movimentos GLS e outros, mas que se esqueceram que, quando participam do sustento ou da volta de uma sociedade de valores contrários à Tradição, estão contrariando diversas Encíclicas e ensinamentos Papais, todos contrários à noção de uma sociedade que não busca como fim a salvação das almas através da Igreja Católica.
Em relação ao Islam, vemos que, felizmente, muçulmanos não foram e não são facilmente enganados como os cristãos – um muçulmano mesmo com pouca formação sabe que é seu dever buscar a instituição da Sharia. Embora alguns poucos muçulmanos nos EUA defendam os valores americanos, tais figuras são tão poucas que podemos muito bem chamá-las de idiossincráticas. Muçulmanos sabem muito bem que a civilização ocidental moderna não passa de uma degeneração e de um perigo à religião. Estabelecer, portanto, uma sociedade que mescle valores islâmicos e seculares, como no Ocidente, jamais será objetivo de um grande número de muçulmanos e tais reivindicações no Oriente não passam de falta de informação ou de pessoas financiadas pelos E.U.A para defender tais valores. Podemos tomar como exemplo a questão atual da Síria: após diversas revoltas no mundo muçulmano contra ditadores secularistas, cunhou-se o termo “primavera árabe”, criando no Ocidente a ideia de que os árabes estavam lutando por modelos democráticos ocidentais. Felizmente, notamos que atualmente os grupos de resistência, antes infiltrados entre as manifestações por democracia, hoje lutam abertamente para a instituição da Sharia.
Só se faz sentido em falar de união das Tradições no movimento Eurasiano. A Eurásia não busca formar um bloco de religiões em torno de ideais comuns – suas motivações são bem mais profundas. Quando lemos, por exemplo, as obras do Professor Alexander Dugin, vemos que ele não é um mero defensor de valores, mas sim um estudioso e praticante de uma Tradição viva, que tem como objetivo a ordem Tradicional, não apenas na sua forma externa, mas sim como parte de um complexo metafísico, onde o mundo está inserido num complexo simbolismo e sujeito a todas as leis do mundo superior. Desta forma, o verdadeiro ideal Eurasiano não pode ser alinhado a um ideal meramente conservador, que busca conservar valores morais ou religiosos, ignorando o simbolismo do Kristoshiperbórico, da manifestação cíclica, da dissolução e renascimento. Da mesma forma que a Alquimia, que é uma ciência de auto-realização fundamentada nas leis da Sabedoria Perene, a realização da civilização também leva em conta os mitos da Tradição, portanto, quando falamos da sociedade Tradicional, podemos levar em conta todos os processos utilizados na realização alquímica, inclusive da morte e renascimento, na fecundação e geração do novo homem. Conforme disseCodreanu, o mártir romeno e líder da Guarda de Ferro, um dos últimos movimentos tradicionais a obter grande poder: “Mataremos em nós mesmos o mundo, para construir outro, mais elevado, que alcançará os céus”. Tal ideal é muito semelhante ao processo alquímico da morte do corpo e sua vegetação durante a primavera, para ressuscitar e ser dissolvido novamente, durante o diverso de diversas conversões entre corpo e espírito[2].
A referida ideia também se repete nas diversas escatologias tradicionais: no Islam, o Mahdi voltará para combater contra Mecca, justamente o centro do mundo e o lugar mais sagrado para o Islam, que no fim dos tempos será tomado por falsos governantes. O Ragnarok, que é a batalha definitiva e a submersão do mundo nas águas, deixará apenas dois sobreviventes, que farão nascer uma nova humanidade. É curioso notar que o processo alquímico relatado acima, da vegetação do corpo, ocorre nas águas, além do dilúvio ser símbolo de uma passagem de estado em diversas tradições. Na Tradição Hindu, a aniquilação ocasional, chamadanaimittika, ocorre quando os três sistemas planetários são destruídos na noite de Brahma, quando Narayana, sob o leito de Ananta Sesa, absorve todo universo em si mesmo. Durante este processo, há antes uma profunda seca, o fogo se espalha pelos sistemas planetários, a seca consumirá tudo; mas, após este processo, surge novamente a figura das águas, quando nuvens de diversas cores[3] despejam um dilúvio por a anos. Curiosamente, neste processo de dilúvio a terra será dissolvida pelo oceano cósmico. As três formas de natureza material são então destruídas pela forma imanifestada do supremo. A causa da manifestação continua alheia àtodas transformações e modificações, enquanto os três modos estão todos dentro deste ciclo implacável do tempo, que submete até mesmo a Brahma[4]. O aparecimento de uma grande destruição, tanto cósmica como a partir do centro do mundo, para que ocorra o renascimento de uma nova forma, é uma lei cósmica e universal, pois representa o próprio processo da manifestação em torno doImanifestado.
Qualquer civilização ou projeto político que ignore este processo não faz parte da Tradição, e não faz qualquer sentido a participação de um tradicionalista em tais projetos, já que conservar ou sustentar uma ordem que ignore o processo cósmico de criação-morte-dissolução-renascimento não passa da mera apreciação de simulacros civilizacionais, sociedades que perderam qualquer sentido interno e só podemos chama-las de sociedade no sentido sociológico, já que não possuem qualquer ligação com o Centro Primordial e com os princípios tradicionais de civilização.
No caso dos choques de civilizações, há algo óbvio: Oriente e Ocidente não estãoseparados apenas geograficamente, estão separados por uma mentalidade, pela eterna batalha entre Miguel e Lúcifer. No Oriente há formas contra-iniciáticas e mentes modernas tentando agir no caminho da civilização, com grupos secularistas e pró-Ocidente, que entram em conflito com aqueles que buscam uma Sociedade Tradicional; já no Ocidente vemos grupos que desejam restaurar a ordem, como oPamyat na Rússia, a Golden Dawn na Grécia, os diversos grupos de restauração da Tradição nórdica nos países nórdicos, sufocados pela modernidade. Podemos citar, como exemplo, o trabalho feito por Varg Vikernes, que muito longe dos conceitos do neopaganismo moderno, que não passa de um emaranhado de conceitos modernos brincando com antigas divindades pagãs, faz um trabalho pelo resgate da verdadeira sociedade nórdica. Tais movimentos possuem uma clara noção do profundo significado da Tradição, ao contrário dos movimentos ditoconservadores, que buscam apenas a preservação de valores morais, sem qualquer fim absoluto, ignorando a marcha do ciclo e a necessidade em se fazer um novo homem.
Na Eurásia, o sistema Russo, que está de acordo com toda a Tradição, faz contraponto ao sistema Ocidental que, com exceção de algumas correntes germânicas, não passa de um esquema da marcha da decadência, aquela que, embora pareça lutar contra alguns efeitos dos sintomas de Kali Yuga, é um de seus sintomas fundamentais – portanto, esse tipo de conservadorismo não é apenas um inimigo político da Tradição, como também uma ameaça grave à toda a Ordem Tradicional.
[1] GOMATELLI, Monge Benjamin. Летопись церковных событий. 1917 год. Online em http://russned.ru/istoriya/letopis-cerkovnyh-sobytii-1917-god
[2]EUDOXUS, The Six Keys of Eudoxus. Kindle Edition
[3] O arco-íris após o dilúvio, as cores no processo alquímico, as cores litúrgicas, o simbolismo das cores no Islam – podemospassar diversos exemplos da importância do simbolismo das cores nas Tradições
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[4] Srīmad Bhāgavatam 12.4.39
Rafael Daher
Fonte