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Morre Nelson Mandela, ícone da luta pela igualdade racial

ricardo campos

Debochado!
In Memoriam
Presidente da África do Sul entre 1994 e 1999, ele tinha 95 anos.
Líder foi hospitalizado em dezembro para fazer exames de rotina.



O ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela morreu aos 95 anos em Pretória, segundo a presidência do país. Mandela estava internado desde o dia 8 de junho devido a uma infecção pulmonar.


Mandela vinha sofrendo do problema. Esta foi a quarta internação do ex-presidente desde dezembro. Em abril, as últimas imagens divulgadas do ex-presidente mostraram bastante fragilidade – ele foi visto sentado em uma cadeira, com um cobertor sobre as pernas. Seu rosto não expressava qualquer emoção. No início de março de 2012, o ex-presidente sul-africano havia sido hospitalizado por 24 horas, e o governo informou, na ocasião, que Mandela tinha sido internado para uma bateria de exames rotineira. Em dezembro, porém, ele permaneceu 18 dias hospitalizado, em decorrência de uma infecção pulmonar.



No fim de março de 2013, ele passou 10 dias internado, também por uma infecção pulmonar, provavelmente vinculada às sequelas de uma tuberculose que contraiu durante sua detenção na prisão de Robben Island (ilha de Robben), onde ficou 18 anos preso, de 1964 a 1982.

Conhecido como “Madiba” na África do Sul, ele foi considerado um dos maiores heróis da luta dos negros pela igualdade de direitos no país e foi um dos principais responsáveis pelo fim do regime racista do apartheid, vigente entre 1948 a 1993.

Ele ficou preso durante 27 anos e ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1993, sendo eleito em 1994 o primeiro presidente negro da África do Sul, nas primeiras eleições multirraciais do país.

Mandela é alvo de um grande culto em seu país, onde sua imagem e citações são onipresentes. Várias avenidas têm seu nome, suas antigas moradias viraram museu e seu rosto aparece em todos os tipos de recordações para turistas.

Havia algum tempo sua saúde frágil o impedia de fazer aparições públicas na África do Sul - a última foi durante a Copa do Mundo de 2010, realizada no país. Mas ele continuou a receber visitantes de grande visibilidade, incluindo o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton.

Mandela passou por uma cirurgia de próstata em 1985, quando ainda estava preso, e foi diagnosticado com tuberculose em 1988. Em 2001, foi diagnosticado com câncer de próstata e hospitalizado por problemas respiratórios, sendo liberado dois dias depois.

Biografia
Mandela nasceu em 18 de julho de 1918 no clã Madiba no vilarejo de Mvezo, no antigo território de Transkei, sudeste da África do Sul. Seu pai, Henry Gadla Mphakanyiswa, era chefe do vilarejo e teve quatro mulheres e 13 filhos - Mandela nasceu da terceira mulher, Nosekeni. Seu nome original era Rolihlahla Mandela.

Após seu pai morrer em 1927, ele foi acolhido pelo rei da tribo, Jongintaba Dalindyebo.

Ele cursou a escola primária no povoado de Qunu e recebeu o nome Nelson de uma professora, seguindo uma tradição local de dar nomes cristãos às crianças.

Conforme as tradições Xhosa, ele foi iniciado na sociedade aos 16 anos, seguindo para o Instituto Clarkebury, onde estudou cultura ocidental. Na adolescência, praticou boxe e corrida.

Mandela ingressou na Universidade de Fort Hare para cursar artes, mas foi expulso por participar de protestos estudantis. Ele completou os estudos na Universidade da África do Sul.

Após terminar os estudos, o rei Jongintaba anunciou que Mandela devia se casar, o que motivou o jovem a fugir e se mudar para Johanesburgo, em 1941.

Em Johanesburgo, ele trabalhou como segurança de uma mina e começou a se interessar por política. Na cidade, Mandela também conheceu o corretor de imóveis Walter Sisulu, que se tornou seu grande amigo pessoal e mentor no ativismo antiapartheid. Por indicação de Sisulu, Mandela começou a trabalhar como aprendiz em uma firma de advocacia e se inscreveu na faculdade de direito de Witwatersrand.

Mandela começou a frequentar informalmente as reuniões do Congresso Nacional Africano (CNA) em 1942. Em 1944, ele fundou a Liga Jovem do Congresso e se casou com a prima de Walter Sisulu, a enfermeira Evelyn Mase. Eles tiveram quatro filhos (dois meninos e duas meninas) – uma das garotas morreu ainda na infância.

Em 1948, ele se tornou secretário nacional do Congresso Nacional Africano (CNA) – no mesmo ano, o Partido Nacional ganhou as eleições do país e começou a implementar a política de apartheid (ou segregação racial). O estudante conheceu futuros colegas da política na faculdade, mas abandonou o curso em 1948, admitindo ter tido notas baixas - ele chegou a retomar a graduação na Universidade de Londres, mas só se formou em 1989 pela Universidade da África do Sul, quando estava preso.

Em 1951, Mandela se tornou presidente do CNA. Em 1952, ele abriu com o amigo Oliver Tambo o primeiro escritório de advocacia do país voltado para negros. No mesmo ano, Mandela foi escolhido como líder da campanha de oposição encabeçada pelo CNA e viajou pelo país, em protesto contra seis leis consideradas injustas. Como reação do governo, ele e 19 colegas foram presos e sentenciados a nove meses de trabalho forçado.

Em 1955, ele ajudou a articular o Congresso do Povo e citava a política pacifista de Gandhi como influência. A reunião uniu a oposição e consolidou as ideias antiapartheid em um documento chamado Carta da Liberdade. No fim do ano, Mandela foi preso juntamente com outros 155 ativistas em uma série de detenções pelo país. Todos foram absolvidos em 1961.
Em 1958, Mandela se divorciou da enfermeira Evelyn Mase e ele se casou novamente, com a assistente social Nomzamo Winnie Madikizela. Os dois tiveram dois filhos...”

Fonte: G1
 
Nossa, vi agorinha essa notícia e fiquei pasmo. Sabia que ele estava mal, mas esperava que ele fosse se recuperar. É uma grande perda! Não existem mais grandes líderes atualmente no mundo e que tenham uma visão de igualdade ampla e sem rancores por aqueles que o prenderam. Todo o seu discurso foi alicerçado sobre a tolerância e o amor.
 
Mandela era um dos poucos políticos que eu ainda admirava. Já estava com idade, de certa forma era até mesmo esperado... mas é sempre uma perda.
 
Mandela era um dos poucos políticos que eu ainda admirava.

Me permita endossar a sua frase com apenas uma leve alteração: Mandela era um dos últimos políticos que eu ainda admirava.

E acrescentando que aqui no Brasil tem ex-presidente que se acha a última bolacha do pacote por achar que nunca na história desse país aconteceu algo tal e tal no seu mandato, só que este nem chega na unha do pé do Mandela que mesmo tendo ficado apenas um breve tempo na presidência, foi estando fora dela que ele fez muita coisa num país com profundos problemas sociais, muitos deles bem mais graves que o Brasil, numa África do Sul de varias etnias e idiomas locais e que em outros tempos era muito tenso pra se viver e de se acreditar que pudesse se tornar uma nação próspera e mais justa.

E bom pros sul-africanos que Mandela viveu 95 anos, pois assim foi possível ter deixado um legado enorme. Descanse em paz grande líder.
 
Mandela: o outro lado

Rodrigo Constantino, da VEJA veja é uma merda mimimimimi força companheiro Genoino!


Morre Nelson Mandela e muitos tiram da gaveta aquele obituário escrito há anos e quase mofado (ok, sei que estamos na era da informática, mas a ideia é clara). O homem era praticamente um santo, um grande estadista, uma unanimidade! Mas, tal como Nelson Rodrigues, tenho receios com unanimidade…

Quem quiser textos glorificando o homem, esse não é o local (tem muitos outros por aí). Quem quiser um texto maniqueísta demonizando o homem, tampouco esse é o local (e haverá bem menos fonte, mas nas redes sociais você encontra). Mandela era, afinal, humano, com defeitos e virtudes, um tanto ambíguo.

Para começo de conversa, não é possível elogiar seu passado. Não foi preso do nada. O Congresso Nacional Africano (CNA) que ajudou a criar foi, sim, um grupo com viés terrorista, como Thatcher acusou, e por isso ele foi parar na cadeia. Claro que tem o contexto doapartheid e tudo. Mas é preciso cautela antes de aplaudir métodos injustos para combater injustiças.

Lênin combatia o regime condenável dos czares, Fidel combatia a ditadura condenável de Fulgêncio Batista, Robespierre combatia o regime condenável dos Bourbons, mas todos, quando venceram, trouxeram regimes ainda piores, mais sangrentos, mais opressores. Seria diferente se Mandela fosse vitorioso naquela época? Provavelmente não.

Seu grande valor, portanto, veio após a saída da prisão, quando resolveu deixar de lado o rancor e a amargura, e lutar por um país mais unido (ainda que não tenha sido como romanceado em “Invictus”). Ou seja, a maior virtude de Mandela foi ter evitado uma guerra civil. Mas vale notar que seus velhos amigos, mesmo o braço armado, não foram rechaçados ou afastados do poder.

Se a África do Sul evitou o derramamento de sangue em uma guerra contra os brancos, por um lado, não foi capaz de avançar muito rumo a um país mais civilizado com império das leis e respeito às liberdades individuais, por outro. O coletivismo racial, de ambos os lados (e isso inclui o CNA), ainda impede o foco liberal nos indivíduos.

Como colocou meu vizinho virtual Reinaldo Azevedo, será que negros não divergem de negros? Não é possível termos um negro e um branco concordando com algo importante ou mesmo essencial, e ambos discordando de outro negro ou outro branco? Claro que é! Mas tal realidade não faz parte ainda do cotidiano da África do Sul, e isso pode ser colocado na cota de fracassos de Mandela. Sem falar dos índices de violência no país, um dos mais altos do mundo.

Outro aspecto negativo em sua biografia: nunca deixou de ser amigo, até próximo, dos piores ditadores do mundo. Mandela se dava bem com todo mundo! Mas opa, isso não é um pouco como o Zelig, de Woody Allen? Então é louvável ser camarada de gente como Fidel Castro, Qaddafi, Saddam Hussein e Yasser Arafat? Mandela foi amigo de todos eles.

Seus discursos públicos atacavam com freqüência os países ocidentais, mas nunca tinham coisas muito desagradáveis para dizer sobre as ditaduras comunistas. Em 1990, Mandela chegou a afirmar que Cuba se sobressaía perante os demais países por seu amor aos direitos humanos e liberdade. Pergunto ao leitor: pode alguém que considerava Cuba um exemplo de liberdade ser visto como “herói da liberdade”? Pois é…

Alguém que escreveu um texto chamado “Como ser um bom comunista” não pode merecer minha estima. Reconheço as virtudes de Mandela, principalmente quando saiu da prisão e quis deixar para trás a visão de guerra total de “nós contra eles”. Tentou, dentro do possível, alinhar alguns interesses. Evitou uma guerra civil. Mas foi basicamente isso.

Não é o suficiente para tanta reverência, para tanto louvor, para tanta devoção. Não foi um demônio como Robert Mugabe, mas tampouco foi o santo que pintam por aí, agora que está morto.
 
Última edição:
Chora por Mandela, mas acha um absurdo pobre querer os mesmos direitos
(por Leonardo Sakamoto)

Precisamos de mais pessoas como Mandela.

Pessoas que são capazes de usar a força quando necessário e adotar uma atitude conciliadora quando preciso. Mas que não descartam qualquer uma das duas acões políticas.

Por conta da morte de Mandela, estamos sendo soterrados por reportagens que louvam apenas um desses lados e esquece o outro, como se as folhas de uma árvore existissem sem o seu tronco e os galhos. O apartheid não morreu apenas por conta do sorriso bonito e das falas carismáticas do líder sul-africano, mas por décadas de luta firme contra a segregação coordenada por uma resistência que ele ajudou a estruturar.

É fascinante como regimes execrados pelo Ocidente foram, muitas vezes, os únicos que estenderam a mão a Mandela e à luta contra o apartheid. E como, décadas depois, muitos países prestam suas homenagens a ele, sem um mísero mea culpa por seu papel covarde durante sua prisão. Ou, pior: como veículos de comunicação desse mesmo Ocidente ignoram a complexidade da luta de Mandela, defendendo que o pacifismo foi o seu caminho.

Desculpem, mas a necessária conciliação para curar feridas ou a tolerância são diferentes de injustiça. E ser pacifista não significa morrer em silêncio, em paz, de fome ou baioneta. A desobediência civil professada por Gandhi é uma saída, mas não a única e nem cabe em todas as situações em que um grupo de pessoas é aviltado por outro.

“Eu celebrei a ideia de uma sociedade livre e democrática, na qual todas as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal pelo qual espero viver e o qual espero alcançar. Mas, se for necessário, é um ideal pelo qual estou pronto para morrer'', disse ele, ao ser condenado a 27 anos de prisão.

As histórias das lutas sociais ao redor do mundo são porcamente ensinadas. Ao ler o que os jovens aprendem nas carteiras escolares ou no conteúdo trazido por nós jornalistas, fico com a impressão que a descolonização da Índia, o fim do apartheid na África do Sul ou a independência de Timor Leste foram obtidas apenas através de longas discussões regadas a chá e um pouco de desobediência. Dessa forma, a interpretação dos fatos, passada adiante, segue satisfatória aos grupos no poder.

Muitos que hoje lamentam por Mandela detestam manifestações públicas e mudanças no status quo.

Adoram um revolucionário quando este é reconhecido internacionalmente e aparece em estampas de camisetas, mas repudiam quem ocupa propriedades, por exemplo, “impedindo o progresso''.

Leio reclamações da violência de protestos quando estes vêm dos mais pobres entre os mais pobres – “um estupro à legalidade” – feitas por uma legião de pés-descalços empunhando armas de destruição em massa, como enxadas, foices e facões. Ou contra povos indígenas, cansados de passar fome e frio, reivindicando territórios que historicamente foram deles, na maioria das vezes com flechas, enxadas e paciência. Ou ainda professores que exigem melhores salários e resolvem ir às ruas para mostrar sua indignação e pressionar para que o poder público mude o comportamento. Todos eles são uns vândalos.

Daí, essa pessoa que ama Mandela, mas não sabe quem ele é, pensa: poxa, por que essa gente maltrapilha simplesmente não sofre em silêncio, né?

Muitas das leis criticadas em protestos e ocupações de terra ou mesmo no apartheid não foram criadas pelos que sofrem em decorrência de injustiça social, mas sim por aqueles que estavam ou estão na raiz do problema e defendem regras para que tudo fique como está. Nem sempre a legalidade é justa. E essa frase assusta muita gente.

Mandela é a inspiração. Com ele, é possível acreditar que manifestações populares e ocupações resultem nos pequenos vencendo os grandes. E, com o tempo, os rotos e rasgados sendo capazes de sobrepujar ricos e poderosos.

Por isso, o desespero inconsciente presente em muitas reclamações sobre a violência inerente ou involuntária desses atos. Ou na tentativa de reescrever a história editando aquilo que não interessa.

Enquanto isso, mais um indígena foi morto no Mato Grosso do Sul. Mas tudo bem. Devia ser apenas mais um vândalo, não um homem de bem como Mandela.

Enfim, precisamos de mais pessoas como Mandela. Pois os bons do século 20 estão morrendo antes que realmente entendamos suas mensagens.

FONTE: http://blogdosakamoto.blogosfera.uo...a-um-absurdo-pobre-querer-os-mesmos-direitos/
 
Quem "acha um absurdo pobre querer os mesmos direitos" ou se pergunta "por que essa gente maltrapilha simplesmente não sofre em silêncio?" Só se for o espantalho criado pela cabeça do sujeito. Haja caricatura.

E a dicotomia não é "usar a força" versus "ser conciliador", e sim envolve a favor ou contra o que (através da força ou da conciliação) lutar. Então esses "muitos que hoje lamentam por Mandela" (erroneamente, pela imagem romântica corrente do sujeito) não simplesmente "detestam manifestações públicas e mudanças no status quo", e sim detestam essas coisas quando julgam condenáveis a combinação e proporção de objetivos e métodos .

Óbvio dizer que o artigo não é ruim porque é do Sakamoto, é ruim simplesmente porque falha em analisar a realidade.
 
Precisamos de mais pessoas como Mandela.

Pessoas que são capazes de usar a força quando necessário e adotar uma atitude conciliadora quando preciso. Mas que não descartam qualquer uma das duas acões políticas.

Por conta da morte de Mandela, estamos sendo soterrados por reportagens que louvam apenas um desses lados e esquece o outro, como se as folhas de uma árvore existissem sem o seu tronco e os galhos. O apartheid não morreu apenas por conta do sorriso bonito e das falas carismáticas do líder sul-africano, mas por décadas de luta firme contra a segregação coordenada por uma resistência que ele ajudou a estruturar.

É fascinante como regimes execrados pelo Ocidente foram, muitas vezes, os únicos que estenderam a mão a Mandela e à luta contra o apartheid. E como, décadas depois, muitos países prestam suas homenagens a ele, sem um mísero mea culpa por seu papel covarde durante sua prisão. Ou, pior: como veículos de comunicação desse mesmo Ocidente ignoram a complexidade da luta de Mandela, defendendo que o pacifismo foi o seu caminho.

Desculpem, mas a necessária conciliação para curar feridas ou a tolerância são diferentes de injustiça. E ser pacifista não significa morrer em silêncio, em paz, de fome ou baioneta. A desobediência civil professada por Gandhi é uma saída, mas não a única e nem cabe em todas as situações em que um grupo de pessoas é aviltado por outro.

“Eu celebrei a ideia de uma sociedade livre e democrática, na qual todas as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal pelo qual espero viver e o qual espero alcançar. Mas, se for necessário, é um ideal pelo qual estou pronto para morrer'', disse ele, ao ser condenado a 27 anos de prisão.

As histórias das lutas sociais ao redor do mundo são porcamente ensinadas. Ao ler o que os jovens aprendem nas carteiras escolares ou no conteúdo trazido por nós jornalistas, fico com a impressão que a descolonização da Índia, o fim do apartheid na África do Sul ou a independência de Timor Leste foram obtidas apenas através de longas discussões regadas a chá e um pouco de desobediência. Dessa forma, a interpretação dos fatos, passada adiante, segue satisfatória aos grupos no poder.

Muitos que hoje lamentam por Mandela detestam manifestações públicas e mudanças no status quo.

Adoram um revolucionário quando este é reconhecido internacionalmente e aparece em estampas de camisetas, mas repudiam quem ocupa propriedades, por exemplo, “impedindo o progresso''.

Leio reclamações da violência de protestos quando estes vêm dos mais pobres entre os mais pobres – “um estupro à legalidade” – feitas por uma legião de pés-descalços empunhando armas de destruição em massa, como enxadas, foices e facões. Ou contra povos indígenas, cansados de passar fome e frio, reivindicando territórios que historicamente foram deles, na maioria das vezes com flechas, enxadas e paciência. Ou ainda professores que exigem melhores salários e resolvem ir às ruas para mostrar sua indignação e pressionar para que o poder público mude o comportamento. Todos eles são uns vândalos.

Daí, essa pessoa que ama Mandela, mas não sabe quem ele é, pensa: poxa, por que essa gente maltrapilha simplesmente não sofre em silêncio, né?

Muitas das leis criticadas em protestos e ocupações de terra ou mesmo no apartheid não foram criadas pelos que sofrem em decorrência de injustiça social, mas sim por aqueles que estavam ou estão na raiz do problema e defendem regras para que tudo fique como está. Nem sempre a legalidade é justa. E essa frase assusta muita gente.

Mandela é a inspiração. Com ele, é possível acreditar que manifestações populares e ocupações resultem nos pequenos vencendo os grandes. E, com o tempo, os rotos e rasgados sendo capazes de sobrepujar ricos e poderosos.

Por isso, o desespero inconsciente presente em muitas reclamações sobre a violência inerente ou involuntária desses atos. Ou na tentativa de reescrever a história editando aquilo que não interessa.

Enquanto isso, mais um indígena foi morto no Mato Grosso do Sul. Mas tudo bem. Devia ser apenas mais um vândalo, não um homem de bem como Mandela.

Enfim, precisamos de mais pessoas como Mandela. Pois os bons do século 20 estão morrendo antes que realmente entendamos suas mensagens.

Fonte
 
Quer caricatura melhor que as babaquices desse anti-comunismo com ares de Guerra Fria do Constantino, em sua cruzada anacrônica contra os soviets. Um babaca que em nome do combate aos vermelhos, defende até a espionagem norte-americana ao governo brasileiro. Escreveu que tem "muita dificuldade de enaltecer amigos de tiranos comunistas" para justificar o pouco relevo que deu à importância de Mandela - saído da prisão - para que ali não ocorresse uma guerra civil. E completou: "Confesso que isso, por si só, costuma apagar quase todas as demais virtudes para mim." Tão humanista! Mas tudo bem sermos amigos dos tiranos imperialistas! Constantino aprova!
Que existe uma romantização, uma mitificação em torno do Mandela, é bastante claro, Haran Alkarin. Mas as credenciais declaradas pelo seu autor tampouco são mais isentas e se situam no outro extremo: a demonização pura e simples, acompanhada por algumas concessões dadas de mau grado.

E desses "espantalhos" aí eu conheço aos montes. São os mesmos que incorrem na criminalização pura e simples dos movimentos sociais! São os mesmos que defendem o avanço sobre as terras indígenas e sobre as comunidades remanescentes de quilombos (pra que, índio e preto precisa de tanta terra, né? Vamos jogar tudo nas mãos dos figurões do agronegócio!). São os mesmos que defendem a flexibilização (leia-se precarização) das leis trabalhistas no campo e uma redefinição de "trabalho escravo". São os mesmos que deslegitimam greves de professores que não recebem o piso nacional! E por aí vai...
 
Outro aspecto negativo em sua biografia: nunca deixou de ser amigo, até próximo, dos piores ditadores do mundo. Mandela se dava bem com todo mundo! Mas opa, isso não é um pouco como o Zelig, de Woody Allen? Então é louvável ser camarada de gente como Fidel Castro, Qaddafi, Saddam Hussein e Yasser Arafat? Mandela foi amigo de todos eles.

Isso porque os defensores da liberdade nunca condenaram de fato o apartheid. Já os ditadores apoiaram o Mandela.
 
Então quer dizer que eu não posso concordar com a causa da igualdade racial e ao mesmo tempo ter a opinião de que as cotas universitárias não são uma medida eficiente no longo prazo para alcançar esse objetivo. Hm, interessante. Acho que esse é mais um dos exemplos em que um grupo se apossa da causa justa.

Pena que o tópico sobre cotas raciais não foi pra frente. Não sei pq. Vai ver é por excesso de opiniões "do contra".
 
Vai me desculpar, Haran, mas a História está repleta de pessoas assim. Mandela teve seus defeitos? Teve. Até hoje nunca vi nenhuma nação do mundo alterar um regime sem derramamento de sangue ou de algum grande estadista que não tenha sua cota de mortes, seja de forma direta ou indireta de adversários ou mesmo inocentes.

Até que ponto uma pessoa está disposta a sacrificar algo... ou alguém para mudar a sociedade como um todo? E o que Mandela fez pela África do Sul dará resultado? Só os sul-africanos e seus líderes podem responder. Madiba já fez a parte dele.
 
Quer caricatura melhor que as babaquices desse anti-comunismo com ares de Guerra Fria do Constantino, em sua cruzada anacrônica contra os soviets. Um babaca que em nome do combate aos vermelhos, defende até a espionagem norte-americana ao governo brasileiro. (...)

E desses "espantalhos" aí eu conheço aos montes. São os mesmos que incorrem na criminalização pura e simples dos movimentos sociais! São os mesmos que defendem o avanço sobre as terras indígenas e sobre as comunidades remanescentes de quilombos (pra que, índio e preto precisa de tanta terra, né? Vamos jogar tudo nas mãos dos figurões do agronegócio!). São os mesmos que defendem a flexibilização (leia-se precarização) das leis trabalhistas no campo e uma redefinição de "trabalho escravo". São os mesmos que deslegitimam greves de professores que não recebem o piso nacional! E por aí vai...

Post ao estilo "o artigo é da VEJA então falemos mal da VEJA", de forma mais elaborada. Isso é, critica não o artigo, mais opiniões externas a ele, de alguma forma associados ao autor do artigo. Assim, se o artigo é da VEJA, então falemos o quão a VEJA é ruim por causa de uma série de (supostamente) maus artigos. Se o autor é o Constantino, então também falemos o quão o Constantino é ruim por causa de uma série de (supostamente) maus artigos, onde defende espionagem norte-americana ao governo brasileiro, tem uma cruzada anacrônica com ares de Guerra Fria (será que o mero repúdio sem restrições ao comunismo já torna isso uma 'cruzada anacrônica'?) ou está associado a esses "espantalhos" aí que você conhece de monte, mas decerto não conheceu no artigo aqui postado.

Poderia falar o mesmo de Sakamoto, daquele artigo infeliz onde ele, grosso modo, coloca a responsabilidade de assaltos na ostentação, artigo que julgo ridículo até não querer mais, mas era irrelevante e mero truque retórico, já que tratava de outro artigo.

O termo "espantalho" por mim usado foi, aliás, referente ao termo "falácia do espantalho", no sentido do sujeito colocar opiniões caricatas e facilmente refutáveis na boca do adversário, isso é, inventar um adversário imaginário, o dito espantalho. Nesse sentido esses "espantalhos" que você mencionou podem ser opiniões ruins mas não são espantalhos - pelo contrário, o ato de citá-los aqui é um tremendo espantalho, afinal duvido que o Rodrigo ou boa parte dos liberais defendam a "criminalização pura e simples dos movimentos sociais", "vamos jogar tudo nas mãos dos figurões do agronegócio!", e por aí vai.

Só citou o artigo em questão levemente nesse trecho:

Escreveu que tem "muita dificuldade de enaltecer amigos de tiranos comunistas" para justificar o pouco relevo que deu à importância de Mandela - saído da prisão - para que ali não ocorresse uma guerra civil. E completou: "Confesso que isso, por si só, costuma apagar quase todas as demais virtudes para mim." Tão humanista! Mas tudo bem sermos amigos dos tiranos imperialistas! Constantino aprova!

Mas logo em seguida direciona-se novamente para opiniões externas ao artigo. Afinal, fica no ar a pergunta, que tiranos ditos imperialistas são esses, por que são tiranos e onde ele os defende?
 
Última edição:
Acho que para resistência civil e coisas afim há condições que precisam ser satisfeitas.

No caso da independência indiana (que não foi de todo de flores), o processo de revolução ocorreu num contexto onde o poder colonizador utilizava do capitalismo para explorar o povo nativo. As coisas eram mais à base de salários miseráveis, péssimas condições de trabalho, formação de relações de consumo, etc. Numa lógica dessa, uma vez que se entende as leis do mercado, faz sentido uma resistência civil.

Por outro lado, é óbvio que para os judeus do Holocausto, não havia outra opção. Sobrou o Levante do Gueto de Varsóvia.

A mesma coisa para o Império Inca, para o Império Asteca.

Mesmo para os palestinos, mesmo no viés mais pacifista possível, não havia outros contornos possíveis em 1948.

E acho que para os negros sul-africanos também. Tratava-se de uma agressão a proposta do governo do apartheid de tomar a maior parte do território para si e trancafiar 80-90% da população em bantustões, territórios minúsculos que ocupavam a proporção inversa do território do país, afim de que eles se tornassem países negros independentes no futuro.

Não havia justificativas para que eles resistissem pacificamente a um regime como o apartheid, atendessem às demandas do monopólio governamental da violência e só protestassem com cartazes.

Quando você não é considerado pelo agressor como integrante de sua sociedade, pode não haver outra saída.

É claro que eu detesto ações de terrorismo contra civis, e o braço armado do CNA as fez. Mas flores é realmente o que eu não esperava.
 
É claro que eu detesto ações de terrorismo contra civis, e o braço armado do CNA as fez. Mas flores é realmente o que eu não esperava.

Nota ao meu post: não postei os links para argumentar que o Mandela poderia/deveria ter agido pacificamente. Apenas postei para desmentir o argumento generalista do Elring.

No mais, concordo contigo, Gabriel. =]
 
Post ao estilo "o artigo é da VEJA então falemos mal da VEJA", de forma mais elaborada. Isso é, critica não o artigo, mais opiniões externas a ele, de alguma forma associados ao autor do artigo. Assim, se o artigo é da VEJA, então falemos o quão a VEJA é ruim por causa de uma série de (supostamente) maus artigos.

Vamos ser mais honestos, né?
Sequer fiz menção à Veja no meu post. Quem está criando espantalhos, afinal?

Se o autor é o Constantino, então também falemos o quão o Constantino é ruim por causa de uma série de (supostamente) maus artigos, onde defende espionagem norte-americana ao governo brasileiro, tem uma cruzada anacrônica com ares de Guerra Fria (será que o mero repúdio sem restrições ao comunismo já torna isso uma 'cruzada anacrônica'?) ou está associado a esses "espantalhos" aí que você conhece de monte, mas decerto não conheceu no artigo aqui postado.

A questão desse anti-comunismo vulgar, com ares de Guerra Fria, a que me referi diz respeito a opiniões externas do autor, óbvio. Mas não estão, de modo algum, descoladas do texto. É, aliás, a tônica que o orienta. Palavras do mesmo autor "Alguém que escreveu um texto chamado 'Como ser um bom comunista' não pode merecer minha estima." Constantino diz que Mandela foi importante por ter evitado uma guerra civil. Sua importância foi "basicamente isso". Mas era amigo de ditadores comunistas blá blá blá, o que pra ele "apaga todas as virtudes".
Naturalmente há uma dimensão mítica em torno da figura de Mandela. E aqui está situado o comentário que fiz a respeito: "as credenciais declaradas pelo seu autor tampouco são mais isentas e se situam no outro extremo: a demonização pura e simples, acompanhada por algumas concessões dadas de mau grado."

O termo "espantalho" por mim usado foi, aliás, referente ao termo "falácia do espantalho", no sentido do sujeito colocar opiniões caricatas e facilmente refutáveis na boca do adversário, isso é, inventar um adversário imaginário, o dito espantalho. Nesse sentido esses "espantalhos" que você mencionou podem ser opiniões ruins mas não são espantalhos - pelo contrário, o ato de citá-los aqui é um tremendo espantalho, afinal duvido que o Rodrigo ou boa parte dos liberais defendam a "criminalização pura e simples dos movimentos sociais", "vamos jogar tudo nas mãos dos figurões do agronegócio!", e por aí vai.

E eu usei o termo "espantalho", assim entre aspas, pra indicar que vejo como um problema - ou uma miríade de problemas - com bastante concretude. Não os imputei ao Constantino, ainda que não duvide que ele feche com algumas dessas disposições.

Só citou o artigo em questão levemente nesse trecho:
Mas logo em seguida direciona-se novamente para opiniões externas ao artigo. Afinal, fica no ar a pergunta, que tiranos ditos imperialistas são esses, por que são tiranos e onde ele os defende?

Você é bastante inteligente, então não se faça de desentendido. Você sabe de que tirano imperialista estou falando. E seja ou não referência a outras opiniões expressadas pelo autor, são pertinentes à presente discussão. Por que é condenável estabelecer boas relações com algumas "tiranias" e com outras não? Afinal, não é nem um pouco tirânico atropelar a soberania de um país com espionagem. Mas tudo bem. Esse anti-comunismo esclerosado legitima tudo.
 

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