Eu tenho a impressão que a Terra-Média é um tanto quanto erma se comparada a Westeros, ainda que ambas sejam cheia de ruínas - em Westeros senti mais a atividade e movimentação da população como um todo... Aliás, melhor dizendo, senti a população. Isso não ocorre tanto em Tolkien. Comparando com a Terra-Média conforme apresentada em O Hobbit e O Senhor dos Anéis apenas, penso que Martin apresentou sim um mundo bastante comparável em realismo - mesmo porque ele tem a vantagem da narração POV, de espalhar os personagens pelo mundo todo e de dispender inúmeras páginas. Muitos capítulos se dedicam a descrever a atividade de um personagem em certa região e dá uma informação mínima que será útil para a narrativa como um todo, o que é algo bom em worldbuilding mas é algo menos vantajoso em termos narrativos. Tolkien parece não se dar ao luxo desse tipo de coisa, todos capítulos tem importância considerável na história como um todo.
Tolkien dispende mais esforços em coisas como linguística, calendários, datas, etc, mas penso que (pelo menos para mim que não sou dado à línguas) esses detalhes não aumentam tanto assim a experiência de vivenciar um mundo imaginário durante a leitura. São coisas que em geral agradam pessoas que procuram por mais detalhes após já se afeiçoarem àquele mundo.
Somando os demais textos de Tolkien, não sei se em questão de worldbuilding eles acrescentam tanto assim a ponto de disparar Tolkien na frente da comparação (embora em termos literários acrescentem profundamente). Temos muitas locações e histórias novas, mas o nível de detalhe também é bem menor se comparado a narração do tipo de George Martin ou de O Senhor dos Anéis... afinal, o que sabemos de Doriath, de Dór-lómin, dos portos de Círdan em Beleriand, de Valinor, etc? Pouquíssimo. De Gondolin sabemos mais, mas enfim... Sinto que sabe-se e vive-se mais as cidades de Bravos ou Ninho da Águia, por exemplo (que são um tanto quanto marginais na história de George Martin), do que todas cidades de Beleriand.
Há ainda os textos investigativos e filosóficos de Tolkien, em geral como autor onisciente ou assumindo a pele de personagens eruditos, que querendo ou não também são worldbuilding, aí sim acho que dão uma vantagem considerável frente ao Martin.