Re: Tropa de Elite (Brasil, 2007)
A única coisa que me incomodou na narração foi a quantidade. Eles não precisavam explicar tudo que acontecia, você pode entender só pelo que está acontecendo mesmo. Mas foi coisa pouca, nada muito exagerado que atrapalhasse a sessão.
Olha, Dragãozito, mesmo assim tem gente que só trabalha com fatos e palavras (jornalista e intelectualóides) que não entendeu o filme!
O que eu achei chato (denovo) é a quantidade de cenas com a câmera tremida. É algum tipo de moda ou o que? Todos os câmeras tem mal de parkinson? Chega a ser chato em alguns momentos.
talvez eles não quisessem levar bala, só isso. Vai que de repente começa tiroteio de verdade, sabe como é...
Bem, agora minhas impressões.
O filme não é sobre um Padilha farto, sobre o autor do livro farto, sobre sociedade farta. Aquela frase "toda guerra tem várias versões, esta é a verdadeira", não mente: é verdadeira porque o protagonista não enfeita a realidade, não justifica seus atos (NÓS justificamos o protagonista, pois entendemos que qualquer um com filho por nascer fica daquele jeito... isto é algo que Nascimento CONDENA, diga-se de passagem, pois isso é coisa de corrupto e de fraco). Perguntemos ao Fábio onde foram parar todos os "amigos"? Esse é um personagem trágico, "coitado" diz Nascimento, "porque o comandante perto de mim é mocinha", pois percebe que fez a escolha errada e tenta sair de lá. Mas não dá mais... não dá para curar cancer de pulmão quando seu pulmão tá 99% comprometido.
Ele não retrata polícia como mocinho, nem traficante como o vilão, e a reportagem da Veja raspou um pouco na interpretação mais correta ao falar que os usuários são sócios no crime. Ele retratou tudo o que acontece tão somente, nada de justificativas para fazer o que faz.
A frase RESPONSABILIDADE SOCIAL é dita com ironia, porque na verdade é a dor na consciência por ser tão burro e não enxergar o que tá fazendo com o próprio povo/país. Porque antes dessa responsabilidade social, vem a responsabilidade PESSOAL: e nessa todo mundo culpa o outro: o governo, os corruptos, os pleibas, os traficas.
Por isso que as coisas são como um tapa na cara das pessoas, apesar delas ainda não terem percebido.
Ives Otta: morto pelo segurança pessoal de papai. Sistema.
Suzanne von Richtoffen: matou papai que tem um processo engavetado por desvio de dinheiro da DERSA. Oras, aprendeu com papai direitinho. Eu entendo ela, e acho hipocrisia chamá-la de monstro, mas não alivio porque anjinho não é. Resultado do sistema.
Dentro do filme: os traficas as polícias, os playboys (adoro que não usou o termo mauricinho), todos em uma rede de alianças TÊNUE. Mas em uma guerra, você percebe que essas alianças não valem nada.
A mãe do fogueteiro culpa a polícia. Mas o moleque aliou-se a amigos perigosos, droga! Quem matou então?
Na polícia, você se corrompe senão não sobrevive? Tudo bem, mas mesmo assim todos terminam como o capitão Fábio, corrupto em fim de carreira vira "estatística" e os companheiros riem dele porque são mais espertos que o Fábio e não vão terminar assim. Engraçado, acho que Fábio também pensou assim...
As ongs aliando-se aos traficas e culpando a polícia pela truculência, mas então a aliança profana mostra que não eram amiguinhos como ela pensava.
A canção do Bope, de uma época totalmente militar e lavagem cerebral, toma uma conotação lívidamente mais lúcida que o resto da aula de filosofia da faculdade de direito: "lutar pelo Brasil" toma uma conotação mais real apesar de nascida diretamente dos anos da ditadura!
Mas aqui novamente CABE a ironia, quando todos pediam pelo Exército no Rio. Tem treinamento para ser como o Bope? Ou vão aumentar as fileiras dos convencionais corruptos?
Estratégia e hierarquia tem de ter sua validade por mérito real, não por puxa-saquismo. O comandante original dos aspirantes suspirou aliviado por se livrar dos dois caxias. Idiota a meu ver: todo o resto é incompetente que quando a coisa apertar não vai saber como tirar o do comandante da reta. Porque exatamente os únicos com caráter foram os que salvaram a pele do superior direto Fábio (mas não se enganem: eles fizeram isso porque sentem responsabilidade PESSOAL pelo que ia acontecer com Fábio. Não tem culpa do cara ser corrupto, mas tem culpa do comandante pensar que ele foi o cabeça)
Sobrou só o Paulo de gente de bem, e onde o cara coloca os seus melhores funcionários?
Mas se hierarquia for obtida por mérito e capacidade, ele ganha o respeito de seus subordinados. E principalmente usam a cabeça para não perder a cabeça. Senão vira a palhaçada do comando da polícia querer prender Padilha, ou os brigadeiros querendo a cabeça dos controladores, em insubordinação DIRETA ao presidente da república (chefe de estado maior, nunca pensaria numa coisa dessas nos EUA, por mais que o Bush seja um idiota... pensando bem, o Lula é bem mais inteligente que o Bush)
As sacadas e mensagens que o diretor foi colocando dependem da memória do povo brasileiro. Dependem dele lembrar de Ives, Suzanne, Tim Lopes e bala perdida na Estácio de Sá pegando estudante, além claro de inúmeras outras coisitas que o brasileiro insiste em esquecer porque senão o dele também pega.
Começando com o 1) menino de rua pobrezinho, aliviamos para ele, e
2) para o mendigo, depois para
3) o cara saudável que teve azar na vida,
4) depois para o camelo humilde que tem de garantir o dele no final do mes, depois para
5) o comerciante sonegador, junto com o estudante que cola para conseguir diploma passando pelo
6) fiscal da prefeitura, e professor universitário que fazem vista grossa para plágio de colega em artigo cientificoindo para o
7) vereador, prefeito, deputado, senador...
Aí Renan se tornou o símbolo de vista grossa dos companheiros, porque fazemos isso desde o menino de rua!
Aí passam 5 ou 10 anos, e o menino de rua vira vagabundo e pedimos pena de morte. Faça simulações de progressão de crime para os outros. Temos o Brasil.
Não é sobre USUÁRIOS de droga, mas de nossa cegueira em enxergar direito quando estamos sob forte emoção. Nascimento aceitou o conselho (errado) da mulher quando estava todo nervoso. Deu merda. Parou de tomar os remédios e retomou o controle. Se é para dar merda, que seja consciente, sem depois dar desculpa esfarrapada. Porque consciente e no controle, a merda vai ser menor.
Agora a classe burguesa amedrontada, só faz merda. Fica com pena do menino e faz ação social pão-circo, carinho, mas não conseguem distanciamento o suficiente para perceber um problema bem na frente deles. Pode ser apenas vista fraca, audição ruim, ou pai batendo em casa. E no outro lado do espectro, quando amigo morre, fica cego pensando que a culpa é do traficante, mas quem matou foi aquele rapaz amiguinho que também está na passeata. Aliás, não foi o mesmo que Nascimento gritou dizendo que foi ele quem matou o anterior?
E quando o policial vem e dá um murro no verdadeiro culpado, a sociedade "pega leve" porque é um deles, afinal de contas. Ou insiste em não querer enxergar, porque é o próprio filho, etc.. Tudo bem, vira estatística mais para frente.
Tudo que insiste em ser fraco e não ver o real problema vira estatística. A reunião antes do curso não serve apenas para dizer que os oficiais estudam seus soldados: serve para dizer que quem insiste nessa cegueira, eles não vão tentar como o cara da caverna que achava que a realidade eram sombras, tentar curar seus amigos da cegueira. Querem morrer aí? Tudo bem, já disse o que tinha de avisar. Morram aí de forma miserável, sim? "estudou comigo corrupto até o osso" diz um oficial, o colega retruca "vai virar estatística"
A guria virou estatística. A ex-namorada burguesa do Matias vai também virar estatística. Ele não se importa? Isso importa? Mesmo que ele seja paciente e escute e ensine, ela não quer ouvir. Ela quer virar vítima, porque não pode aceitar o fato de que é vilã (parte do problema... afinal, madrinha e nunca pensou em mandar pro oculista?)