Tô ressucitando esse tópico por um bom motivo.
Pra começar, por causa dessa disputa ridícula entra Flamengo e São Paulo.
E depois, por causa de uma série de posts dessa semana do
Juca Kfouri no blog dele, defendendo o penta do Flamengo (que, apesar de torcedor do Fluminense, eu também sempre defendi).
Mas que acabaram servindo pra eu mudar (em parte) de opinião.
Pra mim, o grande problema era uma questão de birra da CBF. "Tentaram mudar as regras e depois encrencaram pra Flamengo e Inter".
Mas o Juca postou uma entrevista de 4 meses atrás com o cara que em 87 era presidente e fundador do Clube dos 13 e
presidente do São Paulo (e na época
assessorado pelo Juvenal Juvêncio).
Nessa entrevista, acabou ficando bem claro
duas coisas:
1 - O São Paulo está sendo sim hipócrita e oportunista. O clube sempre defendeu a posição de que o Flamengo é penta, e agora tá tentando arrumar confusão só pra aparecer. O que fazer com a taça? Sinceramente não sei, mas fica provocando é idiota.
2 - Apesar da hipocrisia atual do São Paulo e do
Flamengo poder até ser o campeão moral de 87, tive que mudar de opinião.
O campeão de fato (e que já era o campeão de direito, vide CBF)
é o Sport SIM.
E o grande responsável pela legalidade do título do Sport é ninguém menos que
EURICO MIRANDA.
Veja o porquê na tal entrevista do Juca com o
Carlos Miguel Aidar, 4 meses atrás:
Meu maior argumento contra o Sport era o fato da CBF ter aproveitado o embalo da Copa União pra forçar um novo módulo, com o qual os clubes do Clube dos 13 não concordava.
No entanto, essa entrevista prova que o Eurico se reuniu com a CBF tendo sido designado pelo clube dos 13 como seu representante (ou seja, representando Flamengo, Inter, São Paulo e todos os outros envolvidos nessa confusão,
com o consentimento deles!).
E ele "traiu" eles assinando a concordância com o cruzamento entre módulos.
O cruzamento é um absurdo? É.
Mas no momento em que os 13 clubes deram ao Eurico o poder de ir lá na CBF negociar e assinar por eles, se tornou
legal.
O título é do Sport, sem discussão.
E o primeiro penta brasileiro é o São Paulo, embora a postura deles quanto a essa pendenga hoje seja completamente incoerente com o que sempre defenderam.
Seguem abaixo dois posts do Juca. Um mencionando a tal hipocrisia do Aidar nas declarações que deu essa semana.
A outra um editorial sobre todo esse caso:
Até tu, Brutus?
Quase não acredito no que leio no diário "Lance!" de hoje que traz declarações jamais feitas por Carlos Miguel Aidar, o primeiro presidente do Clube dos 13.
O ex-presidente também do São Paulo à época em que se disputou a Copa União, em 1987, disse que o Clube dos 13 "abdicou" do Campeonato Brasilileiro daquele ano e que o Flamengo deveria ter reclamado a posse da "taça de bolinhas", da Caixa Econômica Federal, em 1992, não agora.
Ora, meu Deus!
O Flamengo não só a reclama desde então como, em 1987, o Clube dos 13 acionou o Conselho Nacional dos Desportos que reconheceu, por unanimidade, o título rubro-negro como o verdadeiro título brasileiro.
CND que era presidido pelo vascaíno Manoel Tubino.
Depois, é verdade, na Justiça comum, o Sport teve o reconhecimento do título como seu, mas, lembremos, a CBF, e a Fifa, repelem decisões deste tipo fora da esfera esportiva.
Não se discute, aqui, que o Sport defenda até a morte a legalidade de sua conquista, fique bem sublinhado, embora o legítimo campeão tenha sido mesmo o Flamengo.
Mas o ponto estarrecedor é a nova postura de Aidar, tão falsa como a declaração do presidente do Flamengo, Márcio Braga, ao dizer que seu clube, em situação idêntica, entregaria a taça ao São Paulo.
Porque, embora não possamos provar já que não aconteceu nada parecido, nós sabemos que não entregaria.
Pois são todos tão espertos que acabam comidos pela esperteza e por isso não têm nenhuma credibilidade.
Uma lástima!
PS - Em 1987, testemunha de tudo que cercou a fundação do Clube dos 13 e a organização da Copa União, era o braço direito de Aidar o atual presidente tricolor, Juvenal Juvêncio.
PS 2 - Lembremos que Flamengo e Inter, ao se recusarem a jogar o cruzamento pornográfico proposto pela CBF, apenas cumpriram a decisão tomada por unanimidade pelos integrantes do Clube dos 13.
Tivessem adotado a postura mais fácil e topado disputar o cruzamento, seriam justamente acusados de traição.
A traição que, agora, é perpetrada pelo São Paulo.
PS 3 - A CBF, que havia anunciado não ter dinheiro para bancar o Campeonato Brasileiro de 1987 e voltado atrás depois de ver a expectativa de sucesso da Copa União, confirmada por uma das maiores médias de público de nossa história, mais de 21 mil pagantes por jogo, apenas, como sempre, jogou de bandida, Casa Bandida do Futebol.
Só um comentário acerca do PS 2: a decisão do Clube dos 13 em não jogar o cruzamento seria absolutamente legal e o título do Flamengo completamente incontestável caso não tivesse ocorrido a tal assinatura do novo regulamento pelo Eurico. Mas não foi caso.
Editorial pessoal
Que o Sport não reconheça o título do Flamengo de 1987 não é apenas compreensível, é obrigatório e óbvio.
Afinal, foi alijado, então, do banquete dos 16 clubes mais populares do país, além dos primeiros do ranking nacional.
É também aceitável que qualquer outro clube que não tenha participado do Clube dos 13 rejeite o pentacampeonato do Flamengo.
O Atlético Paranaense, por exemplo, se estivesse no lugar do São Paulo, teria absoluta razão em se dizer o único pentacampeão.
Mas o São Paulo, não.
Assim como todos os outros 15 clubes que firmaram o acordo de não realizar o cruzamento que a CBF pretendia.
O Flamengo foi, de fato, o campeão brasileiro de 1987.
De fato, não necessariamente de direito.
E o direito, já disse um grande jurista uruguaio, deve ser seguido sempre, a menos que se sobreponha ao justo.
Este blogueiro sempre optou pelo que considerou justo.
Por isso, aos 17 anos, foi ser militante político de grupo clandestino no enfrentamento da ditadura militar que considerava legal apenas a atiidade política nos partidos que consentia, a Arena e o MDB.
Tinha, então, plena consciência de que fazia algo justo, porém ilegal, e não importa aqui discutir no que deu tudo aquilo, embora, pessoalmente não me arrependa e tenha valido uma prisão nos porões do DOI-CODI, aos 21 anos de idade.
Pois guardadas as devidas proporções, a CBF fez com o Clube dos 13 o que a ditadura fez no golpe de 1964, uma arbitrariedade diante de um governo, atrapalhado, mas eleito pelo povo.
É disso que se trata.
De uma questão de princípios.
E não é possível que tanta gente inteligente não se dê conta disso, a menos que esteja apenas polemizando por polemizar.
Pouco importa a taça de bolinhas, afinal.
É público que considero a direção são paulina com mais virtudes que defeitos, razão pela qual só dela esperaria uma atitude que fosse coerente, ética e revelasse grandeza.
Além do mais, uma atitude que revelaria, também, inteligência, porque a distinguiria para sempre neste país de oportunistas, de impunes, do jeitinho e do levar vantagem em tudo.
No fundo, no fundo, azar do São Paulo, que perde uma ótima chance de se mostrar generoso e leal não apenas a um parceiro de empreitada, mas a si mesmo.