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Zona de Interesse (The Zone of Interest, 2023)

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Bartleby

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Sinopse:
Zona de Interesse, longa-metragem britânico dirigido pelo cineasta Jonathan Glazer, é um drama histórico que se passa durante a Segunda Guerra Mundial. Adaptado do romance homônimo escrito pelo autor Martin Amis, no ano de 2014, em Zona de Interesse, Rudolf Höss (Christian Friedel), o comandante de Auschwitz, e sua esposa Hedwig (Sandra Hüller), desfrutam de uma vida aparentemente comum e bucólica, em uma casa com jardim. Mas, por trás da fachada de tranquilidade, a família feliz vive, na verdade, ao lado do campo de concentração de Auschwitz. O dia-a dia destes personagens se desenrola entre os gritos abafados de desespero, de um genocídio em curso, do qual, eles também são diretamente responsáveis. O longa ficcional, premiado em Cannes e indicado ao Oscar em cinco categorias, entre elas a de Melhor Filme, mistura drama, guerra e história, abordando o horror do nazismo, a partir de uma perspectiva singular e perturbadora.

Trailer:


E um pouquinho dos bastidores:

 
Vi ontem - ou melhor, anteontem, já passou da meia-noite - (a estreia mesmo é o próximo dia 15, mas anteciparam algumas exibições). Antes de tudo, o que mais vale falar é: está na dúvida se vai gostar ou não? Não importa, veja este filme no cinema! É uma experiência de imersão audio-visual que só nas telonas, e através dos muitos alto-falantes, se consegue ter, tanto que uma mixagem de som única foi feita para streaming e mídias físicas (mais sobre isso aqui). Então, é isso, vão ver!

É um filme bem difícil de dar spoiler, pq embora muitas coisas aconteçam, não é uma narrativa tão tradicional em que um evento chave necessariamente determine tudo o que veio antes. Antes, vemos vários episódios na vida desse casal de alto poder na Alemanha nazista, indiferentes aos horrores de Auschwitz literalmente do outro lado do muro... dito isso, deixo alguns comentários que consigo pensar agora (sem
revelar a cena final) marcados como spoiler pra não estragar a experiência de ninguém ;) :

- de cara a trilha da sempre brilhante Mica Levi no início, durante alguns minutos, antes de tudo começar de fato, contra a tela preta, dando o tom do que vem a seguir, e já sabemos que vamos adentrar alguns dos mais baixos círculos do inferno...

- a fotografia tão meticulosamente planejada, com câmeras escondidas no set para dar a maior naturalidade aos atores (dá pra ver um pouco disso no segundo vídeo no post acima), e de cores vibrantes, que contrastam duramente com o espírito apodrecido de tudo que elas expressam...

- é um filme lento? sim, talvez - não arrastado! -, principalmente para quem não está acostumado (levei meu pai junto, rs, e ele achou interessante e tudo mais, mas tudo muito parado hehe), mas para mim a exatidão de cada corte, cada cena tendo a duração necessária, para mim foi tudo tão enxuto, e hipnótico! eu não estava acreditando quando vi que o filme estava na cena final (e vcs vão reconhecê-la), pareceu que tinha passado nada, eu queria que tivesse umas quatro horas de filme; você realmente acaba como que pego numa correnteza em espiral decrescente, como que dentro de um sonho vertiginoso que vai aos poucos sendo reduzido a uma única, e definidora, imagem...

- e sim, como disse antes dos spoilers, não é uma narrativa tradicional no sentido em que vemos várias cenas ilustrativas de uma realidade fria e cruelmente indiferente, mas não acho que seja estática; um pouco se falou (lembro da voz crítica de Paul Schrader) que o filme é um experimento vazio, que se encerra no único ponto de mostrar a ideia de que muitos usufruem cegamente do infortúnio dos outros, não raro, como neste caso, estando bem ao lado dos que sofrem, e até se vangloriando da desgraça alheia; eu até concordaria se realmente nada sucedesse no decorrer de Zona...; ao contrário, para mim, no filme não paravam de acontecer coisas, há sim uma narrativa que move o filme adiante, seja ao sermos informados verbal ou não-verbalmente de detalhes dessas vidas, por ex. através de conversas entre a esposa do comandante Höss, interpretada, não, encarnada, pela maravilhosa Sandra Hüller de Anatomia de uma Queda (e, antes disso, o perfeito Toni Erdmann), conversas estas aprofundando a sociopatia dessas pessoas para quem o sofrimento alheio pode até significar ganho próprio (uma cena chave é a visita da mãe da personagem de Hüller, em que esta mostro com orgulho sua casa, e aquela, depois de um tempo, ao ouvir e enxergar, mesmo de certa distância, o que acontece no outro lado do muro, vai embora sorrateiramente, deixando apenas um bilhete à filha, cujo conteúdo podemos apenas supor pela expressão desta) (outra cena também em que uma das crianças filhas do comandante olha para fora da janela e diz "nunca mais vou fazer isso de novo", amendrontado pela cena - que nós, novamente, não presenciamos); os detalhes da operação nos campos de concentração, em que todos os procedimentos do extermínio dos judeus são descritos em pormenores, para que tudo ocorra da forma mais eficaz possível, nas palavras de um dos oficiais de maneira a permitir uma execução ainda mais rápida: há um método no mal; uma certa trama é tecida também através da promoção de Höss, tendo que deixar a casa em que a esposa gerou um lar, e...

-... e a esposa, que serzinho diabólico! que em certo momento conta a uma outra pessoa, rindo com um sorriso que transforma sua cara numa carranca grotesca, nauseante, e cheia de orgulho relembra do marido a chamar de "A Rainha de Auschwitz"; que com essa mesma risada de escárnio conta suas vitórias enquanto reduz o povo judeu a algo menos que um ser vivente; que constrói seu jardim suntuoso, seu lar, que, embora localizado no lugar mais desagradável imaginável, lá ergueu seu reino, e bate pé firme contra a decisão superior de realocá-la a ela e sua família em outra residência quando preciso, e consegue manter residência onde fez de tudo para que, na sua visão, pudesse ter uma vida de qualidade, dando o de melhor para si, seu marido, e seus filhos, antes de tudo para si, o egoísmo parece falar mais alto aqui, o esposo vai para outra parte da alemanha conduzir as operações contra os judeus da Hungria, enquanto ela retém seu paraíso na terra, quase como uma lady macbeth de auschwitz...

-há todo um trabalho físico na atuação de Hüller também que eleva à perfeição o que ela faz aqui; sua personagem não parece ter vindo de uma posição abastada, uma que lhe garantiria certos modos; como dito, pelo exemplo dos risos grotescos e desinibidos dela, essa mulher não se porta com a elegância que em tese adviria de uma família rica (o que põe ainda mais em evidencia o quanto ela herdou, injustamente, de um povo que ela é conivente em extinguir); além disso, e aqui é o detalhe principal, a forma como ela anda, meio que mancando, meio torto, meio que aos solavancos, trazem à memória a locomoção de um animal selvagem, e, junto dessa imagem, a existência instintiva destes animais. Difícil escolher uma atuação melhor de Hüller num ano em que ela também brilhou, de outra forma, em Anatomia..., mas aqui ela se transformou quase que num ser de outra espécie, mais "baixa", por assim dizer, do que a humana, não de uma forma maximalista a la Hollywood, mas sutil... é minha atuação preferida dela entre os dois filmes.

-voltando um pouquinho sobre a fotografia, e edição. Não só os ângulos amplos e o "truque" das câmeras escondidas dentro da casa principal, e nos arredores, dão uma naturalidade maior aos atores, mas também a forma como uma cena pula de uma para outra, às vezes seguindo (estaticamente) um personagem de um cômodo a outro, outras vezes alternando entre diferentes personagens em tempo real, quase que dando uma sensação de estarmos assistindo a um BBA (Big Brother Auschwitz)...

-aqui, para quem estiver lendo antes de assistir ao filme, recomendo abaixar um pouco as expectativas em relação ao (sim, excelente) trabalho de som; talvez mais por ter sido hypado demais, é possível, como no meu caso, que se espere ouvir mais alto e em mais momentos os sons vindos do lado do campo de concentração sobrepondo-se à realidade isolada dos Höss; está tudo lá, mas é uma coisa sutil, o som do campo de concentração de forma alguma age em relação ao que ocorre no nosso campo de visão, e em muitos momentos se mistura com os sons deste (o bebê da personagem de Hüller constantemente chora alto, por ex, podendo esses gritos ser confundidos com gritos de lamúria e vice-versa): e aqui, e em relação a tudo no filme, fica a dica para ser o mais atento possível, ter os sentidos completamente receptivos a estímulos sonoros, e ser ativo em captar cada ação dos personagens, cada palavra dita, e tentar ao máximo retirar significados (muitos dúbios, daí parte do desconforto) vindos da tela e dos alto-falantes; como numa cena bem cedo em que a esposa do comandante Höss recebe umas roupas, distribui alguns vestidos entre as criadas, e fica para ela um belo casaco de peles, ainda com um batom dentro, que ela usa - claramente pertencidos a prisioneiros recém chegados...


-eu poderia ficar falando e falando sobre vários outros detalhes, muitos dos quais me escapam agora, ainda mais com sono já; só sei que quero rever já, se possível algumas vezes mais no cinema - onde, novamente, eu super recomendo que vocês vejam esse filme, mesmo que ao final odeiem; pelo menos terá sido disposto todo o ambiente ideal para que o mecanismo desse filme, potencialmente, surja efeito.

P.S.: está tarde, e fiz várias edições ao que escrevia enquanto escrevia, então foi mal, desde já, por eventuais erros...
 
Última edição:
Assisti hoje. Descobri agora (por aqui e pela crítica da Boscov) que o filme ainda não tinha sido oficialmente lançado, sendo que o Cinemark daqui tá com duas sessões diárias há uma semana...

Não tenho muito o que acrescentar às palavras do xará, até porque ele escreve muito melhor que eu. Durante a exibição, me peguei pensando o que uma pessoa que nunca ouviu falar da IIGM e de Auschwitz acharia que é o enredo do filme...

O mal está nos detalhes.
 
Pesquisando, verifiquei que, além do livro homônimo de autoria de Martin Amis, que serviu de base para o roteiro, tem o romance histórico A morte é meu ofício, de Robert Merle, que narra a história do oficial SS de Rudolf Höss, artífice do assassinato em massa de judeus em Auschwitz, e personagem principal do filme, que foi escrito com base nos prontuários do psicólogo que atendeu o réu na prisão, enquanto aguardava o seu julgamento no tribunal de Nuremberg.

Alguém já leu algum desses livros?
 
que filme perturbador. o negócio que gabriel falou sobre o som é real, pessoal comentou tanto que você fica pensando que a história se sustentará na experiência do áudio, mas não é SÓ ISSO. sim, é óbvio que é revoltante ver a família se divertindo no jardim quando ao fundo você escuta barulhos de tiros e gritos, mas tem muito mais ali, não só nos esforços da família para ignorar o horror, mas de como sentem prazer em explorar o horror (aquela cena do batom, por exemplo, eu fiquei com uma raiva tremenda).

gostei bastante e achei que o ritmo do filme é importante justamente porque a proposta é retratar a vida da família, que tocava a vida ali com a maior tranquilidade. natural que o maior conflito para eles fosse

a transferência do pai.

***

o lula postou review no letterboxd:

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Peffoas, desculpa mendingar likes, mas tô começando a escrever no Medium (uma plataforma de blog), e refleti um pouquinho sobre o filme lá.

Se puderem, deixem um like (lá se chama Clap - é um botão de palmas no final do post).

e mesmo que não leiam, se ficarem com a página aberta por pelo menos 30 segundos conta como lido :dente:

é isso, obrigado 🤗🥰

se quiserem me seguir lá, também, sejam bem-vindos :)

 
Fui lá, deixei o trem aberto para contar a visualização, mas não li, porque tá em inglês. E, mesmo que estivesse em português, ainda não terminei de ver o filme. Vi só vinte minutos. (Sim, sou uma idosinha e vejo filmes como vejo séries. Tô passando pelo streaming e me surpreendo: "Ah, eu tava vendo isso!")​
 
E, mesmo que estivesse em português, ainda não terminei de ver o filme. Vi só vinte minutos. (Sim, sou uma idosinha e vejo filmes como vejo séries. Tô passando pelo streaming e me surpreendo: "Ah, eu tava vendo isso!")​
Agora está. Publiquei uma versão no meu antigo blog, que eu vinha negligenciando desde 2018, só agora, para vocês clicarem primeiro no mais novo, hehe.

E te entendo nisso. Ultimamente, com o estímulos cada vez mais fragmentados, não consigo ver um filme em casa mais, o que dirá ler... O que me ajuda às vezes é meditar um pouco, tomar algum chá, às vezes café, mas nada é certo...

enfim, o texto em PT:

 
Terminei de ver o filme. Eu posso ouvir um "Amém!", igreja? Li a análise do Biel e amei. O parágrafo final é primoroso:

Portanto, mais do que a mensagem mais óbvia, uma que poderia facilmente apenas nos deixar aterrorizados pelo que experimentamos, jurando para nós mesmos que nunca fomos nem seríamos como aquelas pessoas horríveis na tela, Glazer entrega uma mensagem mais astuta, mais radical. Ele nos faz perceber que, dadas as circunstâncias, poderíamos ser como os Höss, prosperando às custas dos outros; normalizando a divisão entre um povo supostamente mais forte e um mais fraco, quem quer que sejam; perpetrando violência com ações, assim como palavras. Ele nos traz um aviso não apenas sobre o quão fácil é fechar os olhos para qualquer tipo de injustiça, mas também, assim como a família Höss, o quão conveniente é usar o poder para se alimentar da desgraça das pessoas se deixarmos nossos interesses falarem mais alto do que os de qualquer outra pessoa.
 
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Quero aproveitar este tópico para mencionar um filme que, creio, estar relacionado com o filme Zona de Interesse. Trata-se de A Conferência (Die Wannseekonferenz).

O filme aborda a reunião de representantes do alto escalão do nazismo, cujo principal tema desse encontro, que ficaria conhecido como Conferência de Wannsee, é a chamada "Solução Final da Questão Judaica". Trata-se de um evento histórico que aconteceu no subúrbio de Berlim em 20 de janeiro de 1942, para definir o que seria feito com os judeus situados na Europa, momento crucial para o desenho dos planos que resultaram no Holocausto.

Trabalhando a partir do roteiro assinado por Magnus Vattrodt e Paul Mommertz, o cineasta Matti Geschonneck se aproxima bastante da proposta de Sidney Lumet em 12 Homens e uma Sentença (1957) ao colocar os vários personagens ao redor de uma mesa negociando os termos de algo controverso e de extrema relevância.

Ele pode ser assistido na Prime Vídeo.
 

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