imported_Wilson
Please understand...
Um conto que eu fiz inspirado em uma nostálgica do Nirvana (não sou mto fã deles, mas dessa música eu gosto), "Where did you sleep last night". É um conto pequeno, eu fiz pra mandar pro Mojo Books. Sugestões são bem vindas e encorajadas!
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[align=justify]Toda garota devia ter o nome de uma flor, era o pouco que Daisy lembrava da vó. Do asilo em que a visitava lembrava-se do cheiro. Cheiro de gente velha: urina e desinfetante barato. Vidas abandonadas e enrugadas desgastando-se com o tempo. Lembranças que ninguém tinha coragem ou disposição para tratar de outra maneira.
A vó as recebia sempre com um sorriso largo e infantil no rosto. Com o mesmo vestido de sempre. Derrames se passaram e a velha senhora resistia. No lugar da memória varrida, vagas lembranças de tempos antigos.
Abraçavam-se, elogiavam as roupas, sentavam e bebiam da limonada com água de torneira. A vó perguntava quem era a garota. Sua neta. Daisy.
- Todas deviam ter o nome de uma flor - a velha sorria.
E então vinham as mesmas conversas, de novo e de novo. As filhas e filhos que nunca mais vira, o esposo perdido. Daisy a seguir moscas com as pontas dos olhos.
- E minha caçula?
A mãe mentia. Daisy assustava-se, mas nada dizia por vergonha, fitava os próprios pés e ouvia a mãe contar sobre uma vida que não tinha. O casamento de mentira, o emprego de mentira, a casa de mentira.
Quando iam embora, davam as costas e não olhavam para trás. A vó de novo na poltrona, as mãos nos joelhos, a indagar onde estava.
Daisy nunca perguntou à mãe por que mentia. Talvez não quisesse decepcionar a vó, não àquela altura, não tão perto do final. Ou talvez não fosse pela mãe senil, talvez mentisse por si mesma.
No carro, voltavam em silêncio, ao som de propagandas e canções baratas. A mãe com cigarros de menta, os olhos inchados e vermelhos. Daisy olhando para fora, o vento gelado nos cabelos, o começo de chuva na janela. Postos de gasolina e parquinhos abandonados, bosques frios e escuros. Uma sequência de fotos descartáveis que não significavam nada, nem queriam ser nada mais que uma paisagem triste e deserta.
Desde cedo, ela pôs na cabeça, o mundo não podia ser só aquilo. Um dia deixaria tudo para trás.
Dormiria ao relento.
Os anos se passaram e Daisy jamais foi encontrada.
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[align=justify]Toda garota devia ter o nome de uma flor, era o pouco que Daisy lembrava da vó. Do asilo em que a visitava lembrava-se do cheiro. Cheiro de gente velha: urina e desinfetante barato. Vidas abandonadas e enrugadas desgastando-se com o tempo. Lembranças que ninguém tinha coragem ou disposição para tratar de outra maneira.
A vó as recebia sempre com um sorriso largo e infantil no rosto. Com o mesmo vestido de sempre. Derrames se passaram e a velha senhora resistia. No lugar da memória varrida, vagas lembranças de tempos antigos.
Abraçavam-se, elogiavam as roupas, sentavam e bebiam da limonada com água de torneira. A vó perguntava quem era a garota. Sua neta. Daisy.
- Todas deviam ter o nome de uma flor - a velha sorria.
E então vinham as mesmas conversas, de novo e de novo. As filhas e filhos que nunca mais vira, o esposo perdido. Daisy a seguir moscas com as pontas dos olhos.
- E minha caçula?
A mãe mentia. Daisy assustava-se, mas nada dizia por vergonha, fitava os próprios pés e ouvia a mãe contar sobre uma vida que não tinha. O casamento de mentira, o emprego de mentira, a casa de mentira.
Quando iam embora, davam as costas e não olhavam para trás. A vó de novo na poltrona, as mãos nos joelhos, a indagar onde estava.
Daisy nunca perguntou à mãe por que mentia. Talvez não quisesse decepcionar a vó, não àquela altura, não tão perto do final. Ou talvez não fosse pela mãe senil, talvez mentisse por si mesma.
No carro, voltavam em silêncio, ao som de propagandas e canções baratas. A mãe com cigarros de menta, os olhos inchados e vermelhos. Daisy olhando para fora, o vento gelado nos cabelos, o começo de chuva na janela. Postos de gasolina e parquinhos abandonados, bosques frios e escuros. Uma sequência de fotos descartáveis que não significavam nada, nem queriam ser nada mais que uma paisagem triste e deserta.
Desde cedo, ela pôs na cabeça, o mundo não podia ser só aquilo. Um dia deixaria tudo para trás.
Dormiria ao relento.
Os anos se passaram e Daisy jamais foi encontrada.
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