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[Paganus] Olhos e pernas e mãos... [L]

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Paganus

Visitante
Eu tenho uma dessas coisas coméquechama, que você tem quando fica vermelho, vermelho-maçã, daquela maçã-da-argentina ou de um outro aí nos estrangeiros, você envermelha assim, fica todo retraidinho feito concha, conchinha mesmo, sabe. Vermelho. Mas deve ficar doutra cor porque minha cara é cor-de-tijolo, meio feia e gorda. Mas eu sei que ela fica vermelha que eu sinto a vermelhidão, vermelho que se sente, o sentir vermelho, que sua cara se retrai e fica quente, um quente que sobe e desce pelo sangue. comoquechama, é sangue, ah mesmo, sangue desce e sobe, ficando quente. Coisa que me dá, me dá sempre, no ônibus, na rua, vendo aqueles olhos bonitos, olhos-chama, olho-ardência-no-peito, olho-luz, olho-sol, olho-pedra-preciosa. Tem coisa que aprendi na vida, vida breve, que um olhar é assim, coisa que passa e não passa, fica e tem brilho como que de pedra preciosa, brilhante e bonita, pedra que não se vende nem se toca. Olho. Olhar. Ardência. Fogo, fogo tanto e calma, serenidade, alguns olhos mais negros, azeviche, ébano, qualquer coisa preta, negra, escura com um brilho ínfimo que atrai e mantém meu olho, meu olho no teu. E olhos.

Como as barras do teu vestido se mesclavam, no meu sonho sonhado, repetido, comido, mastigado e vomitado, com a cor das flores e das belas paisagens em belos quadros que se fogem de si mesmos e de ti e de mim, como aquelas cores, aquelas formas, aqueles dias e luzes e bebidas e poucas comidas que se comem, se devora, cospe e arrota, eram coisas mas coisas que me afastavam do teu olhar mas não conseguiam, não conseguiam, que... divago outra vez, pensando em como o destino se afastaria de mim e ti com o fim da escola. É engraçado como morrem as eternidades por conta de coisas tão triviais como uma formatura. Mas era engraçado também ver o pai do Eduardo dançando contigo e dançando e valsando gordamente de forma gorda e ainda levando o dedo no nariz, dedo gordo e nariz gordo, engraçado, haha, era engraçado e hilário tua cara de quem chupa limão azedo e não gosta, ha, cara azeda e eu ria, ainda assim era lindo a tua cara. Amava muito. Amo ainda.

Ah, mas eu falava, falava aqui comigo que tuas pernas eram bem bonitas, desde aquela época. Baixinha mas tinha umas belas pernas meio longas e bem torneadas e desde aquela época passei a olhar com outros olhos as muitas pernas com quem cruzei. Pernas roliças e mais ou menos gordas, pernas finas e elegantes em sapatos finos agulhados, sapatos mais rasos e outros mais folgados em pés bonitos, magros e que se encaixavam em caixas bonitas, outras feias; e lembro de pés feios, muitos pés feios, meio inchados e outros pés sofridos olhando verdadeiramente o chão e os pés que o maltratam e se maltratam, pés muitos, em pernas, pernas bonitas, pernas esfuziantes, pernas que se movem, pernas que vão e vem, que se atropelam, correm ritmicamente, andam e caminham, conversam e se esticam e dobram e se enrijecem, pernas durinhas, outras mais molinhas, perninhas, pernocas, pernas lindas, suadas e oleosas, pernas e músculos e alguma forma mais esquelética, porém, tão elegantes e finas e morosas e cambaleantes.

Era assim que ia e eu caminhava e andava, vendo essas pernas mas sabia que não se pode sempre caminhar? Às vezes você tem de parar e mesmo levantando parado está e o máximo que pode fazer é roçar aqui e ali, entre pernas e entre braços, braços firmes e suaves ao mesmo tempo, braços montanhosos, declívicos, braços onde descansam belos vales onde poderia jorrar leite e mel mas onde só jorra o meu olhar, meu olhar que se não é incandescente é indecente. Mas nada faço que os braços rejeitem, braços que se abrem, vales que se descortinam, terras que se abrem e me permitem derramar mais que meu olhar. Pedras sobre pedras, vales se encontrando sobre vales mas o que gosto de pensar mesmo, nessas divagações, são nesses presentes de Deus aos homens: mãos de mulher... mãos de palmas com tão diferentes desenhos, símbolos tão díspares e reveladores de realidades transcendentais, mãos com costas tão absurdamente delirantes e estremecedoras ao olhar e tocar, costas seguidas de dedos, dedos finos, outros mais grossos, dedos trêmulos, dedos firmes, dedos que se entrelaçam e aos meus casam, dedos dançando como armações de guarda-chuvas se abrindo e fechando em mim, nas minhas mãos e tocando, esquentando, ficando quente, queimando, temperatura alta, as mãos que se encontram e se beijam, mãos, mãos, mãos que principiam o tremor, a fadiga, o suor, a pulsão nervosa, febril, caótica, o caos que principia e só terminará... em mãos cansadas, exaustas, trêmulas, cansadas, suadas, nervosas e febris.
 
Última edição por um moderador:
Esses anos de aluno me fazem lembrar de um episódio que ocorreu na escola...

Na época, uma menina linda (a mais bonita da turma) que eu nunca tinha conversado na vida de repente aparece na minha frente e me pede uma foto minha porque segundo ela eu parecia o namorado dela.

Daí, apesar de ficar um pouco surpreso decidi continuar conversando com ela e vi que ela escrevia um monte de palavras em códigos na mesa dela e perguntei para ela se eu podia decifrar uma daquelas frases.

E ela respondeu que sim (ela duvidava que eu pudesse traduzir), de modo que uma semana depois eu lhe trouxe a tradução com o conteúdo da frase.

Sabendo disso ela pediu que eu guardasse segredo com relação ao conteúdo descoberto, no que eu cumpri e até mesmo não me recordo do que era mas nos tornamos bons amigos de um jeito pitoresco. E dessa experiência eu descobria pela primeira vez duas coisas:

-Um casal possui uma linguagem de códigos secreta que usam entre si.
-Que ela me havia pedido a foto porque de alguma forma, a impressão que eu passava era de alguém que usava uma linguagem de códigos que divida semelhanças com o mundo dela, especificamente com a do namorado dela.

E talvez uma terceira coisa... Que as vezes uma garota bonita pode fundir a cuca de um sujeito com uma simples frase.Toda vez que eu sentava com os colegas eles riam do episódio do código "fulana de tal".
 
Esse texto não teria saído sem James Joyce, mas mais do que pegar emprestado um estilo isso é mais uma deformação usada na tentativa de tentar reproduzir diretamente o efeito da sexualidade em mim enquanto ser-sexual.

Parece loucura isso, mas é que parece que nada tem mais que a sexualidade, na transmissão de experiências pelo texto escrito, a necessidade de ser iconoclasta, demolidora, de se traduzir em códigos e 'hermetismos', se não a coisa não rola. O texto destroi a experiência.

Assim como na vida.
 
Com certeza um texto simplifica e diminui a experiência. É igual uma teoria (uma simplificação).

No Japão costumavam dizer que um espadachim de primeira linha conseguia dizer o que estava na alma da espada do outro espadachim.

Foi algo que senti na pele na época em que entrei no Judô. Que o combate começava antes de entrar no ringue de luta, antes de sair de casa e durante mesmo do trajeto até a escola.

Na época a pessoa que me levava era minha tia e ela era muito bonita. Quando entrava na sala provocava um desequilíbrio na disciplina dos alunos que o professor precisava chamar a atenção diante das disputas que emergiam (um monte de lutadores com hormônios a flor da pele).

Dentro de mim o efeito era uma sobrecarga de responsabilidade porque me preocupava com ela e com a luta (o meu combate estava sendo mais duro que dos outros) e era travado antes mesmo de sair de casa.

Se na teoria a sensualidade já é difícil de descrever, a prática alcança um novo nível... Uma coisa é estarmos conversando aqui sobre a linguagem das palavras e da sensualidade e outra é na prática a garota chegar e dizer "Durma essa noite aqui", e depois analisar um mistério através de perguntas "Será que ela está dividida entre aquilo que ela deixou e o momento presente? Será que a pessoa está totalmente aqui?".

Para um escritor desenvolver esses detalhes à altura ele precisa ter um grande domínio da caneta (espada do espadachim de primeira).
 

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